segunda-feira, 27 de junho de 2011

Aula 01 - O PROJETO ORIGINAL DO REINO DE DEUS

Texto Base: Marcos 4:1-3,10-12; Lucas 17:20,21
"Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas" (Mt 6.33).

INTRODUÇÃO
Nesta aula estudaremos sobre o Reino de Deus nas Escrituras e sua manifestação no presente e futuro. No presente, esse Reino é visto no dia a dia dos salvos, que se submetem aos mandamentos do Senhor e pautam por andar de acordo com as Escrituras. No futuro, este Reino será manifesto por ocasião do Milênio, quando a paz e a justiça tão aguardada será vista por todos. Ressaltamos que o Reino de Deus foi o tema central da mensagem de Jesus Cristo. Ora, se este tema é central na mensagem de Cristo e a Sua mensagem é o Evangelho, tem-se como consequência inevitável que o tema do Reino de Deus deve, também, ser um assunto a ser anunciado e ensinado pela Igreja, que continua a obra do Senhor. No entanto, vemos que não é este um assunto presente nos ensinos e pregações da Igreja, tanto que nem sequer tem sido considerada como uma doutrina bíblica fundamental. A Igreja precisa entender o que é o Reino de Deus, até mesmo porque temos um mandamento que diz: “buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça”(Mt 6:33). Portanto, é bastante oportuno estudarmos, neste trimestre, sobre este importante tema. Só relembrando, o tema do trimestre é: “A MISSÃO INTEGRAL DA IGREJA (porque o reino de Deus está entre vós)”. Missão integral é o próprio Evangelho; é a proclamação de que Jesus é o Senhor, seguida da convocação ao arrependimento e à fé, para acesso ao Reino de Deus.
I. CONCEITO BÍBLICO DE REINO DE DEUS
1. O que é um reino?
Basicamente, trata-se de um território governado por um rei; nesse território, certamente, existe um povo. O governo de um rei é o cumprimento da sua vontade expressa através das leis e decretos reais. Assim sendo, pode-se dizer que o Reino de Deus só pode ser um povo cujo rei é Deus, que, além de governar este povo, obtém dele o cumprimento de Sua vontade, que é expressa através de regras. Diante desta realidade, vemos que o Reino de Deus é o conjunto de pessoas que cumpre a vontade do Senhor, expressa nas Escrituras Sagradas, povo este formado por pessoas de todas as nações da face da Terra.
O “Reino de Deus” sempre nos é apresentado pelo Senhor Jesus como uma dupla realidade, ou seja, como algo presente e algo futuro. De pronto, portanto, podemos entender que o reino de Deus não é algo passado, algo que pudesse ter ocorrido antes da manifestação do Verbo Divino. Assim, não tem cabimento o pensamento de que o reino de Deus significa a soberania divina sobre todas as coisas criadas. Deus é Senhor de todas as coisas desde antes que elas existissem, pois Ele é Eterno. Portanto, o Reino de Deus não se confunde com a soberania de Deus, pois é uma realidade que surgiu com a encarnação do Senhor Jesus.
O “Reino de Deus” é o pleno senhorio de Deus na vida de cada ser humano que aceita submeter-se a Ele. Não é algo que tenha aparência exterior, pois a submissão é uma decisão interior de cada ser humano. Por isso, o “Reino de Deus” não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm 14:17).
O “Reino de Deus” mostra-nos o propósito de Deus para o homem (daí porque devemos buscá-lo), que é o de termos uma comunhão plena onde nada poderá nos separar da presença e da glória do Senhor, visto que, hoje em dia, isto ainda se dá apenas em parte (1Co 13:12; 1João 3:2).
O “Reino de Deus” não se confunde com a Igreja. Esta é uma realidade presente, é uma nação santa, mas está a buscar o reino de Deus (Mt 6:33). Se a Igreja busca o reino de Deus é porque com Ele não se confunde. Os patriarcas, os profetas, o ladrão arrependido da cruz pertencem ao Reino de Deus, mas nunca pertenceram à Igreja. No reino, estarão tanto a esposa quanto os amigos do esposo (João 3:29). Temos, portanto, que a Igreja, embora já seja existente, é ainda apenas a noiva, mas na plenitude do “reino de Deus”, será a esposa. Enquanto o “reino de Deus” é o propósito, a Igreja é um instrumento, é o meio pelo qual o Senhor proclama e anuncia o “Reino de Deus”.
O “Reino de Deus” não é um lugar, nem mesmo é o Céu. Se fosse o céu, não faria sentido a afirmação de Paulo de que nós já saímos do império das trevas e fomos transportados para esse Reino (Cl 1:13). Se o Reino é o céu, também não faria sentido a declaração de Jesus em Lc 17:20,21: “Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós”.
Assim sendo, buscar o Reino de Deus não é viver esperando o céu, mas é fazer a vontade de Deus aqui. Até mesmo porque, como disse Jesus, “nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7:21).
2. Os aspectos do Reino de Deus. Conforme as Escrituras, o Reino de Deus apresenta dois aspectos: o Reino secreto, que teve início com a ressurreição de Cristo, representado pela Igreja – o Reino presente; o Reino institucional, visível, que será iniciado com a Volta de Cristo – o Reino futuro.
a) O Reino de Deus presente.E, interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o Reino de Deus, respondeu-lhes e disse: O Reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali! Porque eis que o Reino de Deus está entre vós”(Lc 17:20,21).
Os fariseus perguntaram sobre o momento em que chegaria o Reino de Deus. Bem entendido, por trás dessa pergunta eles queriam saber quais seriam os sinais que indicariam a chegada do Reino. Assim como nós, eles também fantasiavam muito. Mas a resposta de Jesus, até certo ponto, foi decepcionante: “Não vem o Reino de Deus com aparência exterior”(ou visível aparência).
Quando Jesus disse que o Reino já estava presente, “dentro de vós” ou “entre vós”, certamente dirigindo-se aos fariseus que não aceitavam a sua mensagem, quis demonstrar que nele a presença do Reino de Deus devia ser reconhecida. Jesus quer que o mundo saiba, através da vida dos seus seguidores, daqueles que são seus súditos, que o Reino de Deus já está presente. O papel de um cristão, o papel de um cidadão do Reino de Deus é sinalizar a presença do Reino entre os homens e dentro daqueles que tem Jesus como seu Rei e Senhor.
Porém, temos que admitir, por outro lado, que o Reino de Deus não é apenas uma realidade interior. Jesus quis dizer que Ele próprio é o reinado de Deus entre os homens. Através dele, Deus está realizando seu projeto. Mas qual projeto? O de salvar, libertar e restaurar. Essa é a presença do Reino de Deus. Dessa forma, o Reino de Deus, em Jesus, se torna presente e manifesto. E isso acontece sempre que alguém abre a sua vida para receber o Rei Jesus como Senhor! Que possamos orar sinceramente: “Venha o teu Reino, faça-se a tua vontade”(Mt 6:10).
b) O Reino de Deus futuro.E disse aos discípulos: Dias virão em que desejareis ver um dos dias do Filho do Homem e não o vereis. E dir-vos-ão: Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali! Não vades, nem os sigais, porque, como o relâmpago ilumina desde uma extremidade inferior do céu até à outra extremidade, assim será também o Filho do Homem no seu dia”(Lc17:22-24). O assunto tratado nesta passagem mostra o retorno de Jesus para estabelecer o seu Reino institucional, visível, na Terra. Quando Ele voltar a este mundo, quando Ele triunfar sobre reis e nações(Ap 11:15-18; 19:11-21), o Reino será visto com todo o seu poder e glória(Lc 14:24; cf Mt 24:30).
Aqui, o texto mostra que depois de responder aos fariseus que não acreditavam nos seus ensinamentos, que não criam que nele mesmo o reino de Deus estava presente, Jesus mudou de auditório. Ele aproveitou a oportunidade para continuar ensinando sobre o assunto da vinda do Reino de Deus, mas dirigiu-se aos discípulos, dirigiu-se aos seus seguidores. As palavras de Jesus necessitam de credibilidade.
No futuro, o Reino de Deus há de ser igualmente manifesto, quando o Senhor Jesus Cristo aprisionar o Diabo e instaurar os mil anos de paz tão esperados pelos salvos em Cristo. Nesse período, não haverá guerras, e o Senhor será o Rei de todos os homens. Até mesmo a natureza(fauna e flora) “espera” por esse glorioso Dia(Rm 8:19-23). Ninguém poderá, em sã consciência, duvidar da existência de Deus e de seu poder, pois quem quiser saber o verá ali, governando com a justiça que todos desejam. Vem Senhor Jesus!!
3. O governo do Reino. Um Reino se refere ao âmbito ou espaço em que a vontade de um Rei é feita. Quando não há um Rei governando, não há Reino. Isso é demonstrado no final do livro de Juízes, que diz: “Naqueles dias, não havia rei em Israel, porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos” (Jz 21:25). Assim, o Reino de Deus está onde a vontade de Deus é feita; pode estar em pessoas que faz a vontade de Deus. Por isso Jesus ensinou a orar: “Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu”(Mt 6:10). Assim como no céu a vontade de Deus é absoluta, assim ela também deve ser entre nós. O reino de Deus é o reino dos céus, um governo a partir dos céus, posto que “O Senhor tem estabelecido o seu trono nos céus, e o seu reino domina sobre tudo” (Sl 103:19).
É claro que haverá um momento em que o Reino de Deus será estabelecido em toda a sua plenitude, com o resgate do estado perfeito da sua criação (o projeto original do Reino de Deus) - quer no âmbito espiritual, quer no âmbito físico -, que foi destituída da glória de Deus(Rm 3:23). Mas ele já é uma realidade hoje em cada coração que decide fazer a vontade de Deus, negando-se a si mesmo, tomando sua cruz e seguindo a Jesus.
II. O REINO DE DEUS NAS ESCRITURAS
Não podemos ter a perspectiva da existência do Reino de Deus se não observarmos o que as Escrituras informam sobre ele. Juntando todas as referências ao reino nas Escrituras, podemos traçar seu desenvolvimento histórico em cinco fases:
Em primeiro lugar, o reino foi profetizado no Antigo Testamento. Daniel predisse que Deus suscitaria um reino que nunca seria destruído e que nem passaria para outro povo(Dn 2:44). Ele também previu a vinda de Cristo para exercer um domínio universal e eterno(Dn 7:13-14).
Em segundo lugar, o reino era descrito por João Batista, Jesus e os doze apóstolos como estando próximo(Mt 3:2; 4:17; 10:7). Em Mateus 12:28, Jesus disse: “Se, porém, eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós”. Em Lucas 17:21, ele disse: “...o reino de Deus está dentro de vós” ou no vosso meio. O reino estava presente na pessoa do Rei.
Em terceiro lugar, o reino é descrito numa forma interina. Após ser rejeitado pela nação de Israel, o Rei retornou ao Céu. Mesmo com a ausência do Rei, o reino existe hoje no coração de todos os que reconhecem o reinado de Jesus e seus princípios morais e éticos, incluindo o Sermão do Monte, que são aplicáveis a nós hoje. Essa fase interina do reino está descrita nas parábolas de Mateus 13.
A quarta fase do reino é o que poderíamos chamar de manifestação. Esse é o reinado de mil anos na Terra que foi descrito na transfiguração de Cristo quando ele foi visto na glória do seu reino que estava por vir(Mt 17:1-8). Jesus se referiu a essa fase em Mateus 8:11 quando disse: “... muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugar à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reinado dos céus”.
Em quinto lugar, a forma final será o Reino Eterno. É descrito em 2Pedro 1:11 como o “reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. Será o tempo no qual se cumprirá a profecia de Daniel em que os reinos deste mundo serão destruídos, o mal aniquilado, restabelecer-se-á a comunhão perfeita com Deus e o Senhor reinará com justiça para sempre. Não será o resultado da utopia socialista, do avanço dos conhecimentos científicos, da unificação dos credos em uma só religião mundial, nem de qualquer desenvolvimento moral da sociedade, mas do propósito original para a criação. Na presente manifestação do Reino de Deus, ser salvo implica a libertação do poder e dos valores do mundo, em Deus deter o poder de Satanás e dos demônios, mas em sua dimensão escatológica traduz a idéia da redenção do corpo – “o livramento da mortalidade” – em que o crente redimido assemelhar-se-á ao próprio Senhor em sua imortalidade. Nessa bendita Era o inimigo e os seus agentes já terão sido banidos para o lago de fogo. Haverá a plena ausência do mal e o pleno triunfo do bem. Será também a época em que a comunhão restaurada em sua plenitude terá como símbolo maior o banquete entre Cristo e a Igreja.
1. No Antigo Testamento. Embora a expressão Reino de Deus não aparece no Antigo Testamento, o Senhor é apresentado como o Rei de Israel (Is 43:15), da Terra e de todo o Universo (Sl 24; 47:7,8; 103:19). Estas e outras referências manifestam a prerrogativa soberana de Deus sobre a criação. Ele reina para sempre (Sl 29:10). Todavia é bom salientar, que o Reino de Deus não se confunde com Sua Soberania. Como disse anteriormente, Deus é Senhor de todas as coisas desde antes que elas existissem, pois Ele é eterno. Deste modo, o reino de Deus não se confunde com a soberania de Deus, pois é uma realidade que surgiu com a encarnação do Senhor Jesus.
2. Em o Novo Testamento. A mensagem central do Novo Testamento é o Reino de Deus ou Reino dos Céus. Este Reino foi anunciado por João Batista (Mt 3:2) e confirmado pelo ensino de Jesus Cristo (Mt 6:33).
a) Na pregação de João Batista. A sua mensagem era: “Arrependei-vos porque é chegado o Reino dos Céus”(Mt 3:2). O Rei apareceria logo, mas Ele não podia e nem reinaria sobre um povo que se apegasse a pecados. Eles tinham que mudar de direção e precisavam confessar e abandonar seus pecados. Deus estava chamando-os do reino das trevas para o Reino dos Céus.
b) No ensino de Jesus. No Novo Testamento, Jesus mostrou que o Reino de Deus havia chegado, e que todos eram convidados a ser participantes dele, desde que se arrependessem e aceitassem a mensagem do Evangelho.
A Bíblia afirma-nos que a mensagem de Cristo para o Seu povo, para quem viera (João 1:11), era o “Evangelho do reino de Deus” (Mc 1:14). Tratava-se de uma mensagem simples, “curta e grossa”, que dizia:
a) o tempo está cumprido. Jesus anunciava aos judeus que chegara o tempo determinado pela lei e pelos profetas para o surgimento do Messias. Jesus tinha vindo cumprir tudo quanto havia sido escrito a Seu respeito. Como nos ensina o apóstolo Paulo, havia chegado “a plenitude dos tempos” (Gl 4:4).
b) o reino de Deus está próximo. Aqui Jesus anuncia a novidade. O que havia sido prometido estava se cumprindo, mas, como Emanuel, ou seja, Deus conosco, Jesus vinha trazer ao Seu povo a proximidade do reino de Deus. O reino não havia chegado, mas estava próximo, ou seja, ele não se imporia sobre o povo de Israel, mas, a exemplo da lei, estava sendo oferecido, era tornado acessível a todos quantos o aceitassem.
c) Arrependei-vos. Jesus apresenta o mistério para que o reino de Deus, que estava próximo, se tornasse uma realidade na vida de cada um: o arrependimento dos pecados. O reino de Deus não era uma estrutura política, social ou econômica que seria imposta aos judeus, mas, pelo contrário, seria o estabelecimento de uma comunhão entre Deus e cada um dos israelitas. Para tanto, necessário se faria a remoção dos pecados. Jesus vinha para demonstrar a iniciativa divina neste empreendimento, mas para que o reino de Deus se instalasse, era necessário o arrependimento.
d) e crede no Evangelho. Havendo um arrependimento, o reino de Deus se instalaria se houvesse fé na mensagem. As duas coisas que deveriam ser feitas pelo povo judeu, portanto, seria o arrependimento de seus pecados e a fé na mensagem trazida pelo Senhor. O reino de Deus, porém, não se instalou na nação judaica, porque ela não recebeu o Senhor, não creu nEle nem em Sua mensagem. Ante a rejeição de Israel, a pregação do reino de Deus se estendeu também aos gentios (Mt 21:43; At 11:18; Rm 11:11), abrindo-se, então, uma oportunidade para que recebessem a Deus através de Jesus Cristo(João 1:12,13; Rm 9:30-33,10:11-25). Vive-se o momento da dispensação aos gentios, da oportunidade para que todos aceitem a Cristo como Salvador(Mt 24:14; 28:19;Mc 16:15).
3. Reino de Deus ou Reino dos Céus. “Disse, então, Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no Reino dos céus. E outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus”(Mt 19:23,24).
A expressão “reino dos céus” somente encontramos no evangelho de Mateus (31 vezes na Versão Almeida Revista e Corrigida), mas a expressão “reino de Deus” é encontrada em todos os quatro evangelhos. Para todo propósito prático não há nenhuma diferença – as mesmas coisas são ditas a respeito de ambos. Por exemplo, em Mateus 19:23, Jesus disse que seria difícil a um homem rico entrar no reino dos céus. Tanto Marcos (10:23) como Lucas(18:24) registram o que Jesus disse a respeito do reino de Deus(ver, também, Mt 19:24, que registra um aforismo semelhante usando “o reino de Deus”). Isto mostra que as expressões são equivalentes.
III. AS MANIFESTAÇÕES DO REINO DE DEUS
1. No passado.
O projeto de Deus sempre foi que o seu povo vivesse na terra dirigido e governado pelo céu. De Moisés a Samuel o governo de Israel foi a Teocracia, isso durou cerca de 450 anos; então, o povo de Israel rejeitou a teocracia e adotou a monarquia (1Samuel 8:4-7,19-22). A monarquia trouxe sérias consequências para Israel; a pior delas foi a divisão da nação. Quando o Senhor Jesus veio, Ele mostrou com a sua vida como é que se vive governado pelas leis do céu, fazendo toda a vontade de Deus, cumprindo os seus propósitos e assim, implantando o Reino de Deus na terra.
Há correntes teológicas que entendem ser a monarquia em Israel um fato tolerado pelo Senhor, visto que os planos divinos tinham por objetivo uma unidade das tribos de Israel, sob o comando direto de Deus, que falava por meio de seus profetas e organizava a sociedade pela lei de Moisés. Em que pese essas opiniões, o sistema monárquico abriu caminho para a vinda do Messias como Rei não apenas da nação, mas de todos os homens. E Deus deixou claro que o Messias viria da linhagem do rei Davi. O Senhor Jesus Cristo é da descendência de um rei, o que lhe legitima receber o trono de Israel: "Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai," (Lc 1:32)
2. No presente. O Reino de Deus tem uma dimensão presente, que se configura no cumprimento em Cristo de todas as promessas messiânicas do Antigo Testamento. A expressão “é chegado”, que aparece tanto em Mateus 4:17 como em 12:28, segundo pensam os eruditos, denota a idéia de “presença real”, agora, e não de proximidade, como algo apenas para o futuro. Ou seja, a presença pessoal do Messias na história implica a presença efetiva do Reino de Deus entre os homens. Ele se manifesta a partir do coração de cada um, daí onde se percebe que o Reino está presente é também possível sentir os seus efeitos. Jesus disse: “Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é conseguintemente chegado a vós o Reino de Deus” (Mt 12:28; Lc 11:20; Lc 17:20b, 21). A primeira mensagem de Jesus aos seus ouvintes assim com a de João, o batista foi: “Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos Céus” (Mt 3:2).
Tanto é uma realidade presente o reino de Deus que, desde já, o podemos ver (João 3:3), como, também nele entrar (Mt 19:24; 21:31;Mc 9:47; 10:15;10:23-25; Lc 16:16; João 3:5; At 14:22), algo que está entre nós, ainda que não com aparência exterior (Lc 17:20,21). Além disso, é justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm 14.17).
3. No futuro. O aspecto futuro do Reino de Deus está ligado ao reino milenar de Cristo sobre a terra por ocasião da sua segunda vinda em glória (1Co 15.23-25; Ap 20:1-6). Há aqueles que totalmente materializam o Milênio, e os que no todo o espiritualizam. Evitemos esses extremos. Essa época áurea do Milênio é ansiosamente aguardada pelo povo israelita (ler Lucas 2:38 e Atos 1:6,7). Jesus não lhes tirou esta esperança, apenas não revelou o tempo e a hora do seu cumprimento. É esta esperança que tem impulsionado o regresso dos judeus à sua pátria e também motiva o seu rápido progresso. O Milênio será a resposta aos milhões de orações do povo de Deus através dos tempos: “Venha o Teu Reino!”.
Durante o Milênio toda e qualquer oposição a Deus será neutralizada por Cristo(1Co 15:24-26). Ele preparará a Terra para o estabelecimento do Reino Eterno de Cristo sob Deus, conforme a palavra divina em Lucas 1:32,33.
A Forma de Governo, no milênio, será teocrática, isto é, Cristo reinará diretamente, através de seus representantes. A profecia inicial disto está em Gênesis 49:10. Outras referencias são Isaias 1:26 e Daniel 7:27.
No Milênio, todos os reinos do mundo estarão sob o senhorio de Cristo. Cumprir-se-á em sua plenitude Filipenses 2:10,11: “Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai”. Nesse Dia conheceremos a letra e a música da “Canção dos Reis da Terra”, cujo relato e tema estão no Salmo 138:4,5. Todos os reis e chefes de estado, sem exceção, cantarão essa canção. O Salmo 72:8-19 descreve com mais detalhes as glórias desse reino universal e teocrático de Cristo.
Com o estabelecimento do Milênio findará aqui na Terra toda e qualquer supremacia e predominância de nações, com exceção de Israel: “O Senhor será rei sobre a Terra; naquele dia um só será o Senhor, e um só será o seu nome”(Zc 14:9).
A Igreja integrará a administração de Cristo(1Co 6:2; Ap 2:26,27), todavia o Milênio será um reino proeminentemente judaico. Jesus reinará sobre Israel através de seus apóstolos, conforme sua promessa feita em Mateus 19:28, e reinará sobre os gentios certamente através da Igreja.. As passagens de Ezequiel 34:23,24; 37:24-25; Jeremias 30:9; Oséias 3:5 indicando que Davi reinará, certamente, apontam para o grande Filho de Davi, como é chamado nos evangelhos o Senhor Jesus(ver Isaias 16:5 e Lucas 1:32,33).
O Reino de Cristo sobre todas as nações será literal e universal. Ele vem para reger as nações como REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES. Sendo Ele o potentado único que regerá no Milênio, cabe-lhe bem a doxologia de 1Timóteo 1:17: “Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém”.
CONCLUSÃO
O “reino de Deus” está progressivamente se revelando. Começou a fazê-lo com a revelação da Divindade em Cristo Jesus, com a manifestação do Seu mistério, que é a Igreja, mas ainda o fará por intermédio do reino milenial de Cristo e, por fim, após o Juízo do Trono Branco, com a retirada dos atuais céus e terra, se manifestará em toda a sua plenitude, pois, como o reino de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito Santo, sua manifestação plena somente se poderá dar em “novos céus e nova terra onde habitam a justiça” (2Pedro 3:13).
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
William Macdonald – Comentário Bíblico popular(Novo Testamento).
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Revista Ensinador Cristão – nº 47.
O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.
Caramuru Afonso Francisco - Reino de Deus, a realidade trazida pelo Evangelho.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Lições do 3º Trimestre de 2011





No 3º Trimestre de 2011 estaremos estudando, através das Lições Bíblicas da CPAD, sobre o tema:
MISSÃO INTEGRAL DA IGREJA: Porque o Reino de Deus está entre vós”. As lições serão comentadas pelo pastor Wagner Gaby. Os assuntos serão os seguintes:
1- O projeto original do Reino de Deus
2- A mensagem do Reino de Deus
3- A vida do novo convertido
4- A comissão cultural e a grande comissão
5- O Reino de Deus através da Igreja
6- A eficácia do testemunho cristão
7- A beleza do serviço cristão
8- Igreja - Agente transformador da sociedade
9- Preservando a identidade da igreja
10- A atuação social da igreja
11- A influência cultural da igreja
12- A integridade da doutrina cristã
13- A plenitude do Reino de Deus

domingo, 19 de junho de 2011

Aula 13 - AVIVA, Ó SENHOR, A TUA OBRA

Texto Base: Habacuque 3:1-19

Ouvi, SENHOR, a tua palavra e temi; aviva, ó SENHOR, a tua obra no meio dos anos, no meio dos anos a notifica; na ira lembra-te da misericórdia”(Hc 3:2).
INTRODUÇÃO
O que é um avivamento? É o “retorno de algo à sua natureza e propósito”. Significa acordar e viver. Significa que os crentes mornos, cansados, despertem para uma nova vida espiritual e entrem outra vez em contato com "rios de água viva”(ler Is 44:3). Infelizmente, a maioria de nós experimenta aqueles momentos de apatia espiritual que tornam o avivamento necessário. Mas se vivêssemos continuamente na plenitude do Espírito de Cristo, como Deus deseja, o avivamento seria um estado permanente. O avivamento traz nova vida para a igreja. Isto é necessário, pois a tendência do homem é a de esquecer-se das coisas de Deus com o passar do tempo.
Pensamos sempre em acontecimentos espetaculares quando falamos em avivamento. Entretanto, o acontecimento maior e mais espetacular do avivamento é quando filhos de Deus que estavam mornos e cansados espiritualmente se tornam outra vez ardorosos pelo Senhor; quando em suas vidas começam a jorrar outra vez "rios de água viva"(João 7:38).
Deus sempre estabelece condições para que haja a renovação espiritual na vida de uma pessoa. Dentre elas, destacamos: Buscar a Deus; Submeter-se à Palavra do Senhor; Confessar os pecados; Arrepender-se; Mudar de vida.
I. BUSCANDO O AVIVAMENTO
A busca do aviamento deve ser uma constante na vida do povo de Deus. Nossa natureza carnal ainda não foi extirpada, ela continua em stand by, ou seja, a qualquer momento pode vir à tona se não houver uma rigorosa vigilância de nossa posição espiritual diante de Deus. Por isso Jesus alertou os seus discípulos: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca”(Mt 24:41).
Na Bíblia, foram registrados grandes avivamentos em que um grande número de pessoas voltou-se para Deus e desistiu de seu modo pecaminoso de viver. Os avivamentos foram liderados por alguém que reconheceu a crise espiritual da nação, superou o medo e tornou a vontade de Deus conhecida às pessoas. Destacamos alguns:
· Moisés (Êxodo cap. 35). Aceitaram as leis de Deus e construíram o Tabernáculo.
· Samuel (1Samuel 7: 2-13). Prometeram colocar Deus em primeiro lugar em sua vida e destruíram os ídolos.
· Davi (2Samuel cap. 6). Levaram a Arca da Aliança para Jerusalém e louvaram a Deus com cânticos e instrumentos musicais.
· Josafá (2Crônicas cap 20). Decidiram confiar somente na ajuda de Deus, e o desânimo deu lugar à alegria.
· Ezequias (2Crônicas cap. 29-31). Purificaram o Templo, livraram-se dos ídolos e levara os dízimos à Casa de Deus.
· Josias (2Crônicas cap. 34,35). Fizeram um compromisso de obedecer às ordens de Deus e remover as influências pecaminosas de sua vida.
· Esdras (Esdras cap. 9,10; Ageu 1). Pararam de associar-se com aqueles que os faziam transigir em sua fé, renovaram seu compromisso com os mandamentos de Deus e começaram a reconstruir o Templo.
· Neemias e Esdras(Neemias cap. 8-10). Jejuaram, confessaram seus pecados, leram a Palavra de Deus publicamente e prometeram por escrito(Neemias 9:38) servir novamente a Deus, de todo o coração.

1. O Livro da Lei é encontrado. O avivamento é necessário, pois a tendência do homem é a de esquecer-se das coisas de Deus com o passar do tempo. A história de Israel nos mostra exemplos desse fato. Josias, rei em Judá, decidiu reformar o templo do Senhor. Nessa reforma, o sumo sacerdote Hilquias encontrou o Livro da Lei perdido na casa do Senhor(ler 2Cr 34:8-17). Quando o rei Josias leu o Livro da Lei, rasgou suas vestes e conclamou o povo a um conserto com Jeová(ler 2Cr 34:19-33). Dessa forma, aconteceu um avivamento em Judá, quando o povo se arrependeu e retornou às práticas descritas por Deus em sua Lei. Aquele avivamento trouxe maravilhosos resultados ao Reino de Judá. Os judeus puseram-se, com temor e com o coração cheio de júbilo a celebrar as festas do Senhor (2Cr 35:18).
Não é de estranhar que em muitas de nossas igrejas, o ”Livro da Lei” de Deus esteja perdido. Não no mundo, mas na própria igreja, vemos a carência de que a pregação genuína e o ensino da Palavra de Deus sejam mais consistentes. Para que possamos ver o verdadeiro avivamento acontecer, precisamos retornar à Palavra. Nenhum avivamento é possível sem um retorno incondicional à Palavra de Deus.
2. Quando a Palavra de Deus é ensinada. Desde o Antigo Testamento, sempre vemos que os momentos de avivamento do povo de Deus são caracterizados por uma busca da lei do Senhor, por uma renovação no interesse e na observância das Escrituras. Todo e qualquer movimento que menosprezar a Palavra de Deus, que não der espaço ao estudo e ao ensino da Palavra, não é um verdadeiro avivamento espiritual, mas um movimento místico, que se misturará facilmente com manifestações sobrenaturais de procedência maligna.
Dizer que se está diante de uma igreja avivada sem que haja ensino, exposição e meditação na Palavra do Senhor, onde há uma seqüência interminável de cânticos, de "operações de maravilhas" (divulgações intermináveis de visões, de revelações, de diálogos intermináveis com demônios, de teatralizações, de sessões de exorcismo e de operações similares, carregadas de misticismo e histeria etc. etc.), é um engano, é mentira, é ilusão. Deus Se revela através da Sua Palavra e as operações e manifestações de poder existem para confirmar a Sua Palavra (Mc 16:20). Não há como se concordar com um “avivamento” que deixa de lado as Escrituras e se apegam a invencionices humanas. Sejamos vigilantes e não deixemos que o adversário, com seus ardis, que não podemos ignorar (2Co 2:10,11), venha a nos enganar e a nos golpear.
O avivamento no tempo de Esdras teve início com a volta incondicional de todos ao estudo e à obediência da Palavra de Deus (Ed 7:10) - “Porque Esdras tinha preparado o seu coração para buscar a Lei do SENHOR, e para cumpri-la, e para ensinar em Israel os seus estatutos e os seus direitos”. Esdras propôs no seu coração ensinar a Palavra de Deus para preservar a verdade, a retidão e a pureza entre o povo de Deus(ler Ed 10:10-12). A igreja, hoje, precisa de líderes como Esdras.
3. Os frutos do avivamento. O avivamento sempre resulta em frutos que denotam claramente mudança no padrão moral e espiritual das pessoas. Na época de Esdras e Neemias, como frutos do avivamento ocorrido no povo Deus, houve uma notória restauração moral e espiritual da nação judaica (ver Ne 8:1-18;0:1-38;10:29).
O avivamento liderado por Esdras conduziu a um firme compromisso do povo à vontade de Deus. O povo, uma vez dedicado, assim se manifestou: serviram fielmente ao Senhor, segundo os seus mandamentos(Ne 10:29); conservaram-se puros e separados do mundo(10:30,31; cf Tg 1:27); e sustentaram a obra de Deus, dando seu tempo, dinheiro e bens(10:32-39).
Podemos, ainda, dizer que o avivamento na vida do crente produz os seguintes frutos:
a) Mantém o crente afastado do mundo. Em Efésios 4:25-31 encontramos uma relação de vícios e práticas mundanas, emanadas do velho homem, que muitas vezes atingem sorrateiramente a vida do crente. Precisamos não somente abandonar, mas abominar estas coisas que entristecem o Espírito de Deus: "Não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas, antes, condenai-as". Pela renovação espiritual nos mantemos firmes no processo de despir-se do velho homem e revestir-se do novo (Ef 4:22-24).
b) Aprofunda o crente na Palavra de Deus. Quando somos renovados, nosso espírito é impelido pelas verdades eternas da Palavra (João 6:63), e nossa fé cresce abundantemente (Rm 10:17).
c) Perseverança nas orações. Uma igreja avivada não pára de orar, faz contínua oração. A história dos avivamentos mostra que sempre o povo foi levado a buscar ao Senhor, a orar, a jejuar e a adorá-lo na beleza da Sua santidade.
Diz a Bíblia que a igreja recém-nascida era uma igreja que perseverava na oração (At 2:42) e que todos viviam orando, desde os apóstolos (At 3:1) até os crentes mais jovens (At 12:12,13). Paulo afirmou que devemos orar em todo o tempo, sendo a oração o verdadeiro exercício que mantém o soldado de Cristo em forma para que use com eficácia da armadura de Deus (Ef 6:18). A oração é a forma pela qual nos comunicamos com Deus e, se temos comunhão com Ele, quereremos, sempre, orar.
d) Louvor a Deus(At 2:47). Um avivamento exalta o nome de Deus, coloca-o acima de tudo. Quando falamos em louvor, falamos em exaltação de Deus, em cânticos, hinos e salmos que enalteçam o Senhor e não o homem, que trazem enlevo à alma e ao espírito, e, por conseguinte, não agridem o corpo, nem promovem qualquer sentimento carnal. “Avivamentos” feitos com base em “louvorzões”, que suprimem a Palavra do Senhor, que promovam a sensualidade e a emoção, que agitem as pessoas e que se utilizem de ritmos criados para adoração ao diabo ou a seus agentes, que privilegiem o “eu” do crente em detrimento do Senhor, nunca podem ser verdadeiros e autênticos avivamentos.
e) Temor a Deus (At 2:43). Um verdadeiro avivamento não produz bagunça ou anarquia. É um ambiente de ordem e de decência, onde o nome do Senhor é glorificado e onde os incrédulos, ao invés de se escandalizarem, sentem a presença do Senhor. Um avivamento traz ao povo uma devida reverência às coisas de Deus, um respeito a tudo o que se relaciona com o culto.
II. O CLAMOR DO PROFETA HABACUQUE
O profeta Habacuque foi contemporâneo de Jeremias e viveu numa época de crescente deterioração moral e espiritual em Judá (o reino do sul). Ele sabia que o juízo de Deus se aproximava e viria por meio da invasão babilônica, ocorrida em 586 antes de Cristo. Ele não se conformava com a iniquidade do seu povo nem com o avanço de Nabucodonosor. É nesse contexto que aparece o famoso clamor por avivamento de Habacuque: “... aviva, ó SENHOR, a tua obra no meio dos anos, no meio dos anos a notifica; na ira lembra-te da misericórdia”(Hc 3:2).
“... NO MEIO DOS ANOS...”. É uma frase difícil de interpretar e muitos simplesmente a ignoram. Alguns estudiosos entendem assim: “Nestes últimos tempos de nossa história, faze a tua obra conhecida”. Esse é o momento mais adequado para que Deus traga o avivamento para o seu povo. É no meio dos anos que a frieza vem, que o desânimo e a incredulidade nos assaltam em meio à obra de Deus. É no meio dos anos que muitos crentes se acomodam com este mundo. E justamente nesse momento Deus traz o avivamento necessário para que seu povo permaneça fiel. Com o avivamento, Ele nos enche de amor por sua obra e Palavra, renovando-nos com seu Espírito e removendo os obstáculos humanos e espirituais que tentam impedir o prosseguimento de sua obra.
1. Um homem preocupado com o estado espiritual do seu povo. Habacuque, apesar de seus questionamentos, sempre demonstrou uma fé inabalável na soberania divina (Hc 2:4; 3:17-19). Como profeta de Deus, tinha ele consciência que o povo de Deus havia pecado, e, consequentemente, seria submetido ao juízo divino. Nestas circunstâncias, faz duas petições:
a) Pede a Deus que apareça entre o seu povo com nova manifestação de poder. Habacuque está ciente de que o povo não sobreviveria se o Senhor não interviesse com um derramamento de sua graça e de seu Espírito. Somente assim haveria verdadeira vida espiritual entre os fiéis.
b) Habacuque ora para que Deus se lembre da misericórdia em tempos de aflição e angústia. Sem a sua misericórdia, o povo haveria de perecer.
Hoje, com os alicerces da igreja sendo abalados, quando há aflição por todos os lados, imploremos ao Senhor que torne a manifestar sua misericórdia e poder para que haja vida e renovação entre o seu povo.
2. A restauração virá(Hc 3:3-16). Lembrando-se dos atos portentosos de Deus na história da nação, principalmente do êxodo do povo de Israel do Egito (Ex 14:1-31), o profeta roga ao Senhor que faça novamente as mesmas obras realizadas no passado. Habacuque estava ciente de que o mesmo Deus que viera com salvação no passado, voltaria em toda a sua glória. Todos quantos esperavam sua vinda viveriam e veriam seu triunfo sobre impérios e nações.
Mesmo em meio ao castigo divino derramado sobre Judá(Hc 3:16), o profeta opta por regozijar-se no Senhor. Deus seria a sua salvação e o manancial inesgotável de suas forças. Ele sabia que um remanescente fiel haveria de sobreviver à invasão babilônica. Essa convicção trouxe-lhe alegria e ânimo: "Todavia, eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação" (Hc 3:18).
3. Avivamento gera mudança de vida. Habacuque estava ciente de que o povo pecara contra o Senhor. Havia injustiças, violência e idolatria entre o povo de Deus (Hc 2:9-11,17-19). Desta feita, era necessária uma mudança de comportamento entre os filhos de Israel. Então, o profeta clama por um avivamento (Hc 3:2).
O avivamento é necessário, porque o pecado é excessivo, a religião é decadente e o julgamento é iminente(Hc 1:4; 2:18-20). O tempo do avivamento é hoje, agora – no meio dos anos. O modo do avivamento é pela oração. A esperança do avivamento está na misericórdia de Deus.
Somente um real e contínuo avivamento é capaz de restringir, deter e neutralizar na igreja a atual avalanche de secularismo, de mundanismo, de comodismo, de conformismo, de transigência com o erro, com o pecado e com o mal. Segundo o modelo bíblico, o reavivamento resulta em santidade do crente em toda a sua maneira de viver (1Pe 1:15). Se um avivamento não resultar nisso — nessa mudança de vida —, tudo não passará de mero entusiasmo, mecanicismo e emoção, como acontece com certos ‘avivamentos’ orquestrados pelos homens. O avivamento sob Esdras e Neemias, nesse sentido, obteve grandioso resultados (Ne 8; 9:1-38).
Portanto, à semelhança de Habacuque, clamemos a Deus para que a igreja destes últimos dias empenhe-se por uma vida de justiça, pureza e santidade e, assim, venha a desfrutar de um genuíno avivamento (1João 1:9).
III. CONSERVANDO A CHAMA DO AVIVAMENTO
Muitas pessoas foram batizadas com o Espírito Santo, viveram dias maravilhosos, foram usadas por Deus, mas depois se esfriaram na fé e se esqueceram da gloriosa experiência que tiveram. Para conservar uma vida renovada, cheia da graça divina, é preciso:
1. Leitura bíblica. A Bíblia Sagrada é o único padrão inerrante e infalível de avivamento. Uma vez que a Bíblia é a nossa única regra de fé e prática, é ela e somente ela que nos pode dar a direção certa deste assunto. A relação entre a Bíblia e o avivamento é tão intrínseca que é impossível um avivamento de verdade sem que a Bíblia faça parte dele.
A Bíblia foi, é e sempre será a espada do Espírito Santo em todo avivamento bíblico. Não existe verdadeira espiritualidade sem a Bíblia. Observando os avivamentos ocorridos na Bíblia e na história da igreja, notamos que os objetos do Espírito eram sempre persuadidos com e para a Bíblia. Avivamento onde a Bíblia não está presente não passa de um mero pentecostalismo convencional.
Estabilidade na vida espiritual é resultado de um conhecimento profundo da Palavra - “Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido”(Js 1: 8).
A conservação do avivamento só é possível quando a Igreja de Cristo se volta ao estudo sistemático e à obediência incondicional da Bíblia Sagrada.
2. Oração. O livro todo de Habacuque é um diálogo entre ele e Deus. É o único livro na Bíblia apresentado dessa maneira. Como profeta, Habacuque teve de alimentar e liderar o povo, mas, antes, teve de interceder pelo povo. Quantas vezes muitos dos líderes, que assumem posições de liderança, são "agentes" que se esquecem desse papel tão importante. No Novo Testamento, Pedro disse que estabeleceria para si duas prioridades: a Palavra de Deus e a oração. Essa é a primeira responsabilidade de um líder espiritual.
Os cristãos primitivos estavam sempre cheios do Espírito e renovados porque viviam em oração (At 4: 31). É triste ver como muitas igrejas estão perdendo o calor em suas mensagens porque o fervor da oração está desaparecendo. Muitos crentes estão se vendo confusos porque os bens materiais têm tomado o tempo da oração. Oração é questão de disciplina pessoal. Procure reservar alguns minutos, todos os dias, para estar na presença do Senhor.
3. Santificação. A santificação deve ocorrer em ‘todo o vosso espírito, e alma, e corpo’, conforme lemos em 1Tessalonicenses 5:23. Isso significa que devemos ser santos em nosso viver, e em nossa conduta, isto é, em nosso caráter, internamente, e em nosso proceder, externamente. Mantenhamo-nos, pois, separados do mundo pecaminoso. Não nos conformemos, pois, nem com a vida nem com o modo de pensar deste mundo (Rm 12:2).
4. Buscar constantemente a face de Deus. “Muitos, por estarem interessados apenas em milagres, curas e prosperidade material, já não buscam a Deus pelo que Ele é. Na verdade, não querem conhecera Deus, mas somente barganhar com o Senhor. A Bíblia, contudo, através do profeta Oséias, ensina-nos que devemos agir piedosamente: "Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor: como a alva, será a sua saída; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra" (Os 6:3). Que possamos ter fome e sede de Deus. Se nos achegarmos a Ele, certamente Ele a nós se achegará (Tg 4:8; Sl 24:3-6)”(pr. Elienai Cabral – LBM-CPAD).
CONCLUSÃO
O fogo arderá continuamente sobre o altar; não se apagará” (Lv 6:13). Que possamos nos colocar inteiramente nas mãos do Pai, orando como fez o profeta Habacuque: “Aviva, ó Senhor a tua obra no meio dos anos” (Hc 3:2) e obedecendo incondicionalmente a Palavra de Deus.
A chama do avivamento deve permanecer brilhante, pois Deus deseja que a Igreja cumpra sua missão aqui na Terra integralmente. “Uma igreja sem renovação espiritual constante cai na rotina, isto é, fica parada no tempo, no espaço e no trabalho. Ela pode até trabalhar, mas não avança, não progride, porque algum fruto que surja é destruído pelas contendas, inveja, ganância, desunião e outras obras da carne. Tal igreja não resiste, nem supera as rápidas mutações de comportamento da sociedade ímpia ao seu redor”. Que o Senhor Jesus desperte um grande avivamento na sua Igreja; estamos precisando urgentemente.

Com esta aula concluímos a série de estudos sobre o Movimento Pentecostal(as doutrinas de nossa fé). “Este foi um período especial onde comemorou-se o centenário das Assembléias de Deus no Brasil. Como igreja do Senhor não podemos deixar que a chama do genuíno pentecostalismo clássico venha apagar-se, pois precisamos cumprir integralmente, até a vinda do Senhor Jesus, a nossa missão(Mt 28:19,20)”. Amém!
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
William Macdonald – Comentário Bíblico popular(Antigo Testamento).
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Revista Ensinador Cristão – nº 46.
O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.
Comentário Bíblico Beacon – CPAD.
Caramuru Afonso Francisco - Avivamento espiritual, a Missão Dinâmica da Igreja.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Aula 12 - CONSERVANDO A PUREZA DA DOUTRINA PENTECOSTAL

Texto base: 2Tm 4:1-4; 2Pedro 2:1-3
"Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem" (1Tm 4.16).

INTRODUÇÃO
Conservar a pureza da doutrina pentecostal é, em primeiro lugar, aderir à doutrina dos apóstolos, ou seja, acolhê-la, passar a segui-la, crer nela. Doutrina esta que não é outra senão a mesma doutrina dada por Jesus em Seu ministério terreno (1Co 11:23; 1Pedro 1:12; 1João 1:5;2:7). A conservação, portanto, está intimamente relacionada com a observância da Palavra de Deus, com a adesão, isto é, a aceitação sem qualquer reserva ou modificação, do que está na Bíblia Sagrada. Adesão é o ato pelo qual alguém, antes alheio a um processo ou a um negócio, a ele se une por consentimento próprio, sem fazer qualquer ressalva ou reserva. Daí a figura do "contrato de adesão", aquele contrato que, já previamente feito, é aceito por alguém, que não pode alterar nenhuma de suas condições (como acontece, normalmente, nas instituições bancárias). Conservar a verdadeira doutrina pentecostal é, portanto, submeter-se às condições estabelecidas na Palavra de Deus para o homem, sem qualquer modificação do que ali consta. O verdadeiro crente pentecostal é aquele que aceita, sem reservas, o que está contido na Palavra de Deus.
I. FALSOS DOUTORES E PROFETAS
Um dos aspectos da conservação é a vigilância constante, a verificação de tudo quanto se apresenta aos nossos sentidos e à nossa mente, para impedir que alguma coisa venha a nos sair do alvo da nossa vocação, venha a nos distanciar da comunhão com o Espírito Santo, venha a perturbar a nossa vida cristã. Por isso, os conservadores sempre são pessoas cuidadosas, pessoas que não aceitam qualquer "novidade" antes de um profundo exame à luz das Escrituras Sagradas. O verdadeiro cristão não pode sair atrás de "novas coisas", de sinais ou de maravilhas, notadamente nos dias em que estamos vivendo. Quem o diz é o próprio Jesus que anunciou que, nos últimos dias, apareceriam sinais, prodígios, assim como falsos profetas e falsos mestres, seja fora da igreja, seja dentro da igreja, mas que não poderíamos nem sair atrás disto, nem dar crédito a isto (Mt 24:23-26). "Conservar" é "vigiar", é "estar atento" para as manifestações espirituais, discernindo aquilo que provém de Deus, daquilo que é ardil do adversário, ardis estes que jamais poderemos ignorar (2Co 2:11).
1. Uma avalanche de heresias. "Heresia" é todo e qualquer ensinamento, todo e qualquer preceito que não se coadune com a verdade de Deus, que se encontra revelada na Bíblia Sagrada. "Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evitá-o, sabendo que esse tal está pervertido e peca, estando já em si mesmo condenado"(Tito 2:10-11). Perceba a gravidade que representa uma heresia. O herege é aquela pessoa que embora conhecendo a verdade, desvia-se dela, abraçando uma doutrina falsa, ou uma doutrina contrária àquela revelada pela Bíblia Sagrada.
A falsa doutrina, ou "heresia de perdição", tem que ser combatida com a verdadeira doutrina. É exatamente aqui que as denominações evangélicas têm falhado. Por falta de conhecimento da Palavra de Deus, seus obreiros não conseguem identificar os falsos mestres. Assim, a doutrina bíblica vai sendo substituída pelas heresias, e os bons costumes estão sendo substituídos pelos maus costumes. O Espírito Santo vai sendo empurrado para fora das Igrejas, enquanto o mundo, o diabo e a carne vão ocupando e preenchendo os lugares que vão ficando vazios. Por falta de conhecimento da Palavra de Deus, muitos crentes, embora bem intencionados "... seguirão suas dissoluções, pelas quais será blasfemado o caminho da verdade"(2Pedro 2:2).
Devemos sempre ser cautelosos com tudo aquilo que se apresentar como "novo". Vivemos os dias das "novidades": "nova unção", "nova visão", "nova revelação". Tudo quanto se apresente como "novo" deve ser imediatamente rechaçado pelo servo de Deus. A Palavra de Deus permanece para sempre, a sã doutrina é imutável e, portanto, não cabe aqui falar em qualquer "novidade". Só se fala em novo quando se tem algo velho e quando se tem algo velho é porque este algo considerado velho está perto de se acabar (Hb 8:13). No entanto, o que Jesus instituiu não foi abolido, permanece para sempre, até porque o Senhor vive eternamente (Ap 1:17,18). Portanto, não há como se aceitar tudo o que se apresentar como "novo", pois isto será admitir que o que existe envelheceu, ficou velho, perto de se acabar, o que é algo gravíssimo, pois estaremos negando a origem divina das Escrituras, o próprio testemunho do Filho de Deus, o que representa a negação do próprio Deus e a nossa condenação eterna (1João 5:10-13).
A heresia está entre as obras da carne que Paulo listou em Gálatas 5:19-21: "Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza... idolatria, feitiçaria... heresias... e coisas semelhantes a estas... os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus"(Gl 5:19-21).
Contemplando e avaliando a galeria onde as heresias estão colocadas e a sentença de que o herege não herdará o Reino de Deus não se pode deixar de considerar o perigo que uma heresia representa para "uma Igreja". Paulo, falando sobre o herege, disse "evita-o".
2. Falsos mestres e falsos profetas. "E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição"(2Pedro 2:1).
Nestes tempos pós-modernos, o falso mostra-se tão bem vestido de verdadeiro, que, se possível fosse, enganaria até mesmo os escolhidos. São falsos milagres, falsos milagreiros, falsos ensinos, falsos mestres, falsas profecias e falsos profetas. As igrejas locais estão proliferadas de obreiros corrompidos e distanciados da verdade, como os mestres da lei de Deus, nos dias de Jesus(Mt 24:11-24), e o crente precisa estar informado sobre este fato.
Jesus adverte que nem toda pessoa que professa a Cristo é um crente verdadeiro e que, hoje, nem todo escritor evangélico, missionário, pastor, evangelista, professor, diácono e outros obreiros são aquilo que dizem ser. Muitos desses obreiros "exteriormente pareceis justos aos homens"(Mt 23:28). Aparecem "vestidos como ovelhas"(Mt 7:15). Podem até ter uma mensagem firmemente baseada na Palavra de Deus e expor altos padrões de retidão. Podem parecer sinceramente empenhados na obra de Deus e no seu reino, demonstrar serem grandes ministros de Deus, líderes espirituais de renome, ungidos pelo Espírito Santo. Poderão realizar milagres, ter grande sucesso e multidões de seguidores(ver Mt 7:21-23); 24;11,24; 2Co 11:13-15). Todavia, esses homens são semelhantes aos falsos profetas dos tempos antigos(ver Dt 13:3; 1Rs 18:40; Ne 6:12; Jr 14:14; Oséias 4:15), e aos fariseus do Novo Testamento, cujas vidas eram "cheias de iniquidade e de hipocrisia"(Mt 23:28).
Na época de Jeremias, o reino de Judá foi destruído por causa de falsos profetas que diziam às pessoas coisas que Deus não havia falado. A mesma coisa acontece hoje. Na sua falsidade eles ensinam rebelião contra a palavra verdadeira de Deus. Na sua interpretação errada da palavra de Deus eles caminham para a condenação, levando juntos aqueles que acreditam nos seus falsos ensinamentos. Portanto, tenhamos cautela e não sejamos ignorantes! Os nossos olhos podem ver o pregador mais poderoso do mundo, mas isto não significa nada.
Não devemos ficar impressionados quando o pregador só fala o que o povo quer ouvir: promessas de paz, promessas de prosperidade, promessas de milagres e curas. Numa época de crise e desemprego, muitos se aproveitam, pregando prosperidade e bênçãos, enganando até multidões. Que o povo de Deus não se engane! Que o povo de Deus não seja ignorante, mas conheça a santa Bíblia! Importa ouvirmos a pura e verdadeira Palavra de Deus, a qual nos orienta sobre os nossos pecados e sobre as nossas transgressões. Sejamos como os crentes de Beréia: "Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim" (Atos 17:11).
3. A falta do estudo bíblico no meio pentecostal. Os crentes evangélicos sérios, de forma especial os Pentecostais, conhecem muito pouco as verdadeiras doutrinas bíblicas. Lê-se pouco a Palavra de Deus e estuda-se muito menos. A maioria não freqüenta nossas Escolas Dominicais nem tampouco os cultos de ensino. Alimentam-se, tão somente, das mensagens ouvidas no domingo, as quais na maioria das Igrejas ficam "espremidas" entre um longo período de louvor e o término do culto.
Assim, a doutrina bíblica vai sendo, sem que se dê conta, substituídas pelas heresias, ou pelas doutrinas de homens; os bons costumes vão sendo substituídos pelos maus costumes; o Espírito Santo vai sendo "empurrado" para fora das igrejas, enquanto que o mundo, o diabo, com suas sutilezas, e a carne vão ocupando os lugares que vão ficando vazios.
Muitos crentes embora bem intencionados, mas, por falta de conhecimento bíblico vão se tornando presas fáceis das sutilezas de Satanás, caindo nas malhas dos "falsos profetas, lobos vestidos de ovelhas", na expressão usada por Jesus, dos "falsos doutores" referidos por Pedro, "dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios" na expressão usada por Paulo.
Caso você não concorde com o que eu disse...! Então responda para você mesmo: qual é a porcentagem do número de membros de sua igreja que freqüenta a Escola Dominical e os cultos de Ensino? Quantos dos membros de sua Igreja já fizeram, ou estão fazendo um curso de teologia, ainda que básico? Caso o número atinja, pelo menos, 50%, então, me perdoe, eu estou errado! Na sua Igreja tem um Curso de Teologia, além da Escola Dominical? Lembre-se, os crentes de Bereia não se deixam enganar e nem são vitimas das sutilezas de Satanás!
Atualmente, nas igrejas ditas evangélicas, há muitas "meninices". Vivemos uma época de muitos modismos. Tudo se espiritualiza, isto ao arrepio da doutrina sadia e simples da Palavra de Deus. Fala-se em rir, rugir, cair, pular, dançar de poder, "nova unção", "risada santa", "vômito santo", "o dom de lagartixa", "o cair pelo Espírito", "o sopro santo", "o aviãozinho", "adoração a anjos", " coreografia a anjos", "o paletó ungido", " unção de lenços, carteiras de trabalho e outros objetos", " sessão de descarrego", " rosa ungida", " túnel de luz", "o corredor dos trezentos", "corrente dos setenta", "sal grosso", "a ingestão das ervas amargas", "sono santo" e outras inúmeras inovações que têm aparecido nos últimos tempos, inovações estas que, muito propriamente, foram denominadas pelo jornalista evangélico Jehozadak Pereira de "neobesteiras". Todas são práticas que misturam feitiçaria, meninice, despreparo espiritual. Isto acontece por falta de leitura e estudo da Palavra de Deus, ou por deturpação da mensagem e conteúdo do Livro Santo.
II. A SUTILEZA DE SATANÁS NO FIM DOS TEMPOS
Sutileza
é a arte de agir sem ser notado, ou de conseguir um objetivo sem ter que revelar a verdadeira intenção, apenas insinuando, ou despertando a curiosidade da possível vitima. É usar de astúcia, de artimanha, de artifícios enganadores.
A primeira vez que esta palavra surge nas Escrituras é, precisamente, em relação a Satanás, que é apresentado como a serpente, a "mais astuta de todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito" (Gn 3:1).
1. Os ardis de Satanás. Satanás desde a sua primeira aparição no relato bíblico já é apresentado como sendo um ser que tem a capacidade de quase não ser percebido, que tem uma grande sensibilidade para perceber ou sentir as coisas com antecedência e, desta maneira, elaborar coisas muito engenhosas, que tem grande capacidade de insinuação e que, assim agindo, consegue atingir os seus objetivos. Jamais devemos ignorar os ardis de Satanás(2Co 2:11).
a) Usando de sutilezas ele enganou Eva, no Paraíso. Em nenhum momento Satanás usou sua força para obrigar a mulher a pecar. Ele não foi rude, não foi ameaçador, não levantou a voz com Eva. Quem age com sutileza age com inteligência, procurando angariar a confiança, dando credibilidade às suas palavras. Às vezes procura passar a idéia de inocência procurando levar a vitima a se considerar como superior.
É com sutileza que agem os estelionatários, hoje, conseguindo enganar tantos incautos. Eles se apresentam sempre com a aparência de muita educação e humildade. Foi assim, muito gentil e com voz aveludada que Satanás se aproximou de Eva, dirigindo-lhe uma pergunta aparentemente nada comprometedora: "... É assim que Deus disse: não comereis de toda árvore do jardim?". Diante de tanta amabilidade Eva aceitou o diálogo, porém, não mostrou firmeza, pois, em sua resposta não correspondeu aquilo que, de fato Deus havia dito. Nossas dúvidas e inseguranças na Palavra de Deus tornam Satanás mais ardiloso.
Falseando a Palavra, Eva respondeu: "... do fruto das árvores do jardim comeremos, mas, do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais". Agora Satanás estava em condições de contraditar o próprio Deus, pois, sentiu que já tinha o controle sobre a mulher. Mais uma vez, com muita sutileza, lançou dúvidas quanto à veracidade da Palavra do próprio Deus: "... certamente não morrereis". Uma maneira muito sutil de afirmar que Deus havia mentido. Não tendo havido nenhuma reação por ter ouvido que a Palavra do Criador não era verdadeira, então Satanás com maior sutileza deu sua cartada final despertando, agora, a soberba e o desejo de ser como Deus: "Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal"(Gn 3:1-5). Sem qualquer ameaça, sem nenhuma palavra forte, apenas na sutileza, Satanás já estava com a mulher na "palma de sua mão".
b) Usando de sutilezas Satanás procurou enganar a Igreja Primitiva. Com Eva ele teve que falar, pessoalmente. Na Igreja Primitiva ele procurou infiltrar-se através de seus instrumentos, aqueles que a Bíblia denomina de falsos obreiros.
O Senhor Jesus advertiu contra esse perigo. Disse Jesus: "Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores"(Mt 7:15). Acautelar significa ficar de sobreaviso, prevenido, para não ser pego de surpresa. O Senhor Jesus sabia que eles viriam, por isto afirmou: "que vêm até vós". Ele não disse: "que poderão vir". Ele afirmou que viriam! E vieram! Não perderam tempo! Vestir-se de "ovelha" seria a forma de poder agir, livremente, com sutileza.
Os Apóstolos advertiram contra esse perigo das sutilezas de Satanás. "E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade"(2Pedro 2:1-2). O Senhor Jesus falou em "falsos profetas" que seriam como "lobos vestidos de ovelhas", Pedro identificou-os com "falsos doutores". Oremos e vigiemos(Mt 26:41) para que não venhamos a cair nas muitas ciladas do Diabo.
2. Palavras persuasivas. "E digo isto para que ninguém vos engane com palavras persuasivas"(Cl 2:4). Neste versículo, Paulo adverte os colossenses que eles não se poderiam deixar enganar por "palavras persuasivas", expressão que é própria do apóstolo Paulo que não queria que sua pregação fosse confundida com os discursos proferidos pelos grandes oradores, que haviam se notabilizado pelo estudo da arte da retórica, que é a arte de falar bem, do convencimento através do uso da palavra, algo que era muito comum naqueles tempos.
É muito triste vermos, atualmente, pregadores buscando se formar e se aprimorar no conhecimento de técnicas que levem o povo à emoção, ao frenesi (delírio), em especial a chamada "neurolingüística", gastando horas e horas no aperfeiçoamento destas habilidades ao invés de buscarem a face do Senhor na oração, no jejum e na meditação da Palavra do Senhor. O resultado tem sido desastroso, porquanto há já centenas de pregadores que em nada se distinguem dos "gurus" e "mestres" de movimentos ligados direta ou indiretamente ao movimento Nova Era e, naturalmente, o povo não sente a presença do Senhor e é enganado por emoções e sentimentos que são causados por técnicas persuasivas, que nada têm a ver com a verdadeira manifestação da glória do Senhor. Tomemos cuidado para não sermos presas desses mestres do engano, dando ouvidos a espíritos enganadores (1Tm 4.1).
3. "Ninguém vos faça presa sua". "Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo" (Cl 2.8). Paulo muito se preocupou com a igreja de Colossos. Ela estava sendo invadida por doutrinas heréticas introduzidas por falsos pregadores e mestres. Ele recomendou aquela igreja "para que ninguém vos engane com palavras persuasivas". Satanás é o príncipe da sutileza, ele utiliza-se de todos os meios possíveis para induzir o povo de Deus ao erro. O desejo dele é levar o maior número de pessoas ao inferno. Para isso ele usa até mesmo líderes disfarçados de "homens de Deus".
Não nos esqueçamos que os falsos ensinos são sutilezas e, portanto, não são facilmente verificáveis. Não se trata de absurdos que abandonamos tão logo as ouvimos, mas ensinos e pensamentos que nos deixam intrigados, principalmente para aqueles que se encontram distraídos como era o caso de Eva e, pior, que não têm conhecimento da Palavra de Deus. Como igreja do Senhor, estejamos devidamente preparados, alicerçados na Palavra de Deus, para detectar e combater as muitas sutilezas de Satanás.
III. A IGREJA É A GUARDIÃ DA SÃ DOUTRINA
A doutrina Bíblica é a manifestação da vontade de Deus para o homem. Ela é a substância da fé. Ela produz um poderoso avivamento na vida daqueles que a amam, a lêem e meditam de dia e de noite, como ordenou o Senhor ao seu servo Josué, capitão e líder do povo de Israel: "Não se aparte da tua boca o livro desta lei, antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido"(Js 1:8).
Seguir a doutrina Bíblica é seguir a vontade de Deus para o homem e é por isso que muitos se têm levantado contra a doutrina, porque ela implica na renúncia do eu, na renúncia do ego, na renúncia de nós mesmos, sem o que é impossível seguir a Jesus (Mt 16:24).
1. A sã doutrina. A primeira nota característica que se escreve a respeito da Igreja Primitiva, a partir do dia de Pentecostes, foi o fato de que "perseveravam na doutrina dos apóstolos" (At 2:42). Nessa Igreja, o trabalho principal dos crentes era encher Jerusalém da doutrina (At 5:28). A preocupação dos apóstolos era orar e ensinar a Palavra de Deus à igreja, ou seja, dar doutrina (At 6:2,4). Desta feita, estava edificada "sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular" (Ef 2.20b). Os apóstolos transmitiram os ensinamentos de Jesus com fidelidade: "Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei" (1Co 11:23a -ARA); "... o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos..." (1João 1:1-3).
Com estas informações que nos vêm do texto sagrado, temos alguma dúvida por que a igreja prosperava, estava sempre avivada e a todo instante o Senhor acrescentava aqueles que haviam de se salvar (At 2:47)? Creio que não! A Igreja prosperava simplesmente porque dava o primeiro lugar, em sua atividade, à sã doutrina. Isto não quer dizer que a igreja não sofresse oposição, nem que não enfrentasse falsos ensinos e heresias, ao contrário, os cristãos foram martirizados por causa de suas profundas convicções doutrinárias; não abriram mão delas. Ninguém arrisca sua vida por algo em que não acredita fortemente. Os cristãos não negaram Cristo nem sua palavra; para eles, os fundamentos de sua fé eram nítidos. A Igreja somente poderá manter-se pura e ataviada para se encontrar com Jesus se preservar a ortodoxia bíblica doutrinária.
2. Examinando tudo. O contexto evangélico brasileiro tem sido marcado nesses últimos anos pelo superficialismo. A ausência de conhecimento bíblico tem trazido conseqüências desastrosas a muitas igrejas. Mas nem tudo está perdido, existem muitos que não se dobraram diante dos profetas de Baal. Precisamos resgatar o antigo interesse pelo estudo da Bíblia, seja na Escola Dominical ou nos cultos de ensino.
Paulo exortou a igreja de Tessalônica: "Examinai tudo. Retende o bem" (1Ts 5:21). Devemos avaliar o que ouvimos e reter o que é bom, genuíno e verdadeiro. O padrão pelo qual devemos provar toda pregação e todo ensino é a Palavra de Deus(ler Hb 5:14), ou mediante a revelação do Espírito Santo - o dom de discernimento (At 5:1-5). O crente não pode deixar-se levar pelos sinais e manifestações sobrenaturais, sem antes ter a certeza de que a sua origem é divina (1João 4:1-3).
3. Sólido mantimento. A Palavra de Deus, simbolizada pelo Pão, é um alimento sólido, básico, e nutritivo. A Bíblia nos fala de uma comunidade cristã que não havia crescido por falta de conhecimento da Palavra de Deus, como alimento sólido: "Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos da Palavra de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite e não de sólido mantimento. Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, porque é menino"(Hb 5:12-13).
Pelo tempo que aqueles crentes Hebreus estavam na Igreja, deveriam ser mestres, diz o escritor. No entanto, não haviam crescido, ou progredido, ou desenvolvido espiritualmente. Continuavam como se fossem novos convertidos, como "meninos inconstantes", como indoutos.
Todo crente necessita ler e estudar a Bíblia diariamente, para crescer no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo (2Pedro 3:18). A Palavra também nos diz em 1Pedro 2:2,3 que por mais maduros e por mais que tenhamos experimentado da bondade do Senhor, do seu poder, da sua unção, dos seus dons e de tudo o mais que Ele, por sua infinita misericórdia derrama sobre nós, precisamos ser como crianças inconformadas que choram e clamam por mais de Deus, como bebês choram por leite. E ainda nos diz que precisamos pensar na bíblia, e nos alimentar para crescermos fortes no Senhor.
O que mais se vê nos dias de hoje são crentes que oram em línguas estranhas, profetizam na vida das pessoas, pregam com tanto entusiasmo que impressionam a muitos, mas quando a tempestade vem, eles não resistem e caem por falta de alimento sólido, por não conhecerem as escrituras e nem o poder de Deus (que é revelado em sua própria Palavra).
A recomendação de Pedro é: "Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que, por ele, vades crescendo" (1Pe 2:2).
CONCLUSÃO
Portanto, conservar a pureza da doutrina pentecostal é manter sem alteração aquilo que o Senhor nos ensinou através da sua Palavra. É manter a simplicidade do Evangelho tal qual o encontramos nas Escrituras. É reconhecer a necessidade da busca do revestimento de poder e dos dons espirituais, a sua atualidade (pois Deus não muda) e aplicar estas dádivas divinas segundo os propósitos estabelecidos pelo Senhor e revelados na Bíblia Sagrada, que é a verdade (João17:17). Este é o verdadeiro "conservadorismo bíblico", tão criticado por muitos e confundido, inadvertidamente, com uma postura retrógrada e farisaica.
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
William Macdonald – Comentário Bíblico popular(Novo Testamento).
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Revista Ensinador Cristão – nº 46.
O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.
Geremias do Couto - E agora como viveremos? A resposta cristã parta tempos de crise e calamidade.
Caramuru Afonso Francisco - a sutileza de satanás no fim dos tempos.






segunda-feira, 6 de junho de 2011

Aula 11 - UMA IGREJA AUTENTICAMENTE PENTECOSTAL

Texto Base: Marcos 16:15-20; Atos 2:42-47

“Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”(Mt 28:19)


INTRODUÇÃO
Quais são os requisitos necessários para que uma igreja seja reconhecida como autenticamente pentecostal? Essa é uma pergunta pertinente, pois, em nossos dias, muitas igrejas são abertas com o adjetivo pentecostal. No entanto, nem sempre elas trazem a tradição pentecostal, com seus costumes, liturgia e características inerentes ao verdadeiro pentecostalismo.
Entendemos que uma Igreja autenticamente pentecostal preocupa-se com o bem-estar espiritual ensinando o caminho de Deus, evangelizando, pregando o Evangelho a toda a criatura e encaminhando-a para a comunhão com Deus. Ela cuida da alma e encaminha aqueles que carecem de conforto, orientação e afeto; e cuida do corpo físico, suprindo suas necessidades básicas. Na área social, a igreja genuinamente pentecostal tem um exemplo digno de ser seguido nos primeiros capítulos de Atos dos Apóstolos. O modelo que temos é o da Igreja Primitiva, a qual se estruturou de tal maneira que conseguiu conquistar a confiança e o respeito da sociedade(At 2:42,47; 4:32,35 e 5:13-14). Podemos classificar o perfil da igreja da época dos apóstolos, à luz dos primeiros capítulos do livro de Atos, em três áreas distintas, a saber: a marturia (o testemunho, a orientação espiritual, o evangelismo e a pregação e ensino da palavra); a koinonia (a formação da comunidade social) descrita em Atos 2:42,47; a diaconia (o serviço de atendimento social, descrito em Atos 6:1-10). Observando esse modelo a igreja estará cumprindo a sua missão integral. Assim sendo, crescerá de forma sadia.
I. EVANGELIZAÇÃO, MISSÃO PRIORITÁRIA DA IGREJA PENTECOSTAL
Quando os cristãos têm consciência que a tarefa primordial da Igreja é a evangelização, passam a entender que sua existência gira em torno desta missão dada a cada crente, que é membro do corpo de Cristo em particular (1Co 12:27). Assim, tudo quanto fizermos nesta vida, em qualquer setor ou aspecto, deve levar em consideração, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça (Mt 6:33). Todas as nossas ações, todo o nosso cotidiano deve ser criado e executado diante da perspectiva de que somos testemunhas de Cristo Jesus (At 1:8) e que devemos, portanto, testificar do Senhor, mostrar ao mundo, através de nossas boas obras, que Deus é nosso Pai, que somos filhos de Deus e, por meio deste comportamento, levar os homens a glorificar o nosso Pai que está nos céus (Mt 5:16).
1. O que é o Evangelho. Só entenderemos a importância da missão evangelizadora da igreja compreendendo o significado de evangelho.
· O evangelho é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê – “Porque não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê...”(Rm 1:16).
· O Evangelho é a mensagem de fé que pregamos – “Mas que diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé, que pregamos”(Rm 10:8).
· O Evangelho é a palavra da cruz, loucura para os que perecem, mas para os que são salvos, poder de Deus – “Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus”(1Co 1:18).
· O Evangelho é a notícia do perdão de Deus oferecido aos pecadores. As boas novas de grande alegria para todo o povo – “O anjo, porém, lhes disse: Não temais, porquanto vos trago novas de grande alegria que o será para todo o povo”( Lc 2:10).
2. O imperativo da evangelização. Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura”(Mc 16:15). Depois de ter consumado a obra da redenção do homem no Calvário (João 19:30), sacrifício aceito pelo Pai como nos prova a ressurreição(At 3:25,26; 13:29,20), Jesus, após ter passado quarenta dias dando prova da Sua ressurreição aos discípulos e falado a respeito do reino de Deus (At 1:3), explicitamente determinou qual seria a tarefa principal da Igreja. Mandou que o evangelho fosse pregado por todo o mundo a toda a criatura, uma ordem que estabeleceu um verdadeiro dever a todo cristão, a ponto de o apóstolo Paulo ter exclamado: “Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim se não anunciar o evangelho!”(2Co 9:16).
Essa ordem de Cristo é conhecida pelos estudiosos da Bíblia como a “Grande Comissão”, pois “comissão” significa “ato de cometer, encarregar, incumbir”. O verbo em Mc 16:15 está no modo imperativo, ou seja, trata-se de uma ordem, de uma determinação, de alguém que se apresenta como Senhor e, portanto, com autoridade de mando, a quem se apresenta como servo, ou seja, como alguém disposto a obedecer. Tanto assim é que o evangelho segundo Marcos termina com a afirmação de que, em cumprimento à ordem, os discípulos foram e pregaram por todas as partes (Mc 16:20).
Portanto, o assunto principal da Igreja é a salvação do homem na pessoa de Jesus Cristo. É para isto que ela existe. Assim sendo, não devemos nos perder em discussões inúteis e que não trazem proveito algum (1Tm 1:4-7; 6:3,5). O Senhor nos mandou pregar o Evangelho e não ficar discutindo filigranas (assuntos sem importância) doutrinário-teológicas ou nos perdendo em interpretações de aspectos absolutamente secundários das Escrituras, quando não de questões relacionadas com a cultura. “Ide, ensinai todas as nações”, diz o Senhor, é esta a função da Igreja, nada mais, nada menos que isto.
A melhor e mais impressionante forma de pregarmos o Evangelho é vivermos de acordo com o Evangelho, é termos uma vida sincera e irrepreensível diante de Deus e dos homens. É necessário que cada um de nós, com nossas vidas, “pregue o Evangelho”, que cada um de nós seja “… uma carta de Cristo e escrita não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração, conhecida e lida de todos os homens” (cf. 2Co 3:2,3).
Portanto, evangelizar não é somente entregar folhetos, bater de porta em porta, levar alguém até uma igreja ou subir em um púlpito ou pregar ao ar livre, não. Evangelizar é tudo isto e muito mais: é viver de acordo com a Palavra de Deus, é desfrutar de uma comunhão sincera e perfeita com o Senhor, a ponto de sermos vasos de honra em todos os lugares em que estivermos ou vivermos (2Tm 2:20,21).
3. O discipulado. Além de evangelizar, a Igreja tem outra tarefa fundamental: a de aperfeiçoar os santos, a de promover o ensino da sã doutrina a tantos quantos chegam aos pés do Senhor. É, também, um imperativo, uma ordem do Senhor(cf Mt 28:,19).
Discipular nada mais é que ensinar a Palavra de Deus aos novos convertidos, àqueles que aceitaram a Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador de suas vidas e fazer com que eles, que foram escolhidos por Deus, possam viver de tal maneira que dêem o fruto do Espírito, ou seja, tenham um novo caráter, uma nova maneira de viver que leve as pessoas a glorificar o nosso Pai que está nos céus, ou seja, vivam de tal maneira que suas ações os transformem em testemunhas de Jesus, em prova de que Jesus salva e, por isso, outras pessoas reconheçam o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, ou seja, o Evangelho (Rm 1:16).
Foi exatamente isto que Barnabé e Paulo fizeram na igreja de Antioquia, a primeira igreja formada por gentios na história da cristandade. Como estes crentes não partilhavam das promessas de Deus, como os judeus (Rm 9:4,5), havia necessidade de instruí-los nas Escrituras, para que aprendessem o que é servir a Deus. Tinham, sim, se convertido ao Senhor, como pudera ser atestado por Barnabé, que percebeu terem eles, realmente, nascido de novo, terem sido alcançados pela graça de Deus e terem o propósito do coração de permanecer no Senhor (At 11:23). Mas isto era insuficiente para que pudessem transformar o propósito em realidade.
Não basta pregar o Evangelho, é necessário que, uma vez as pessoas se decidindo por Cristo, sejam elas devidamente ensinadas na Palavra do Senhor, tenham conhecimento das Escrituras, sem o que não se tornarão discípulos de Jesus e quem não for discípulo de Jesus não entrará no Céu(vide Lc 14:27,33).
Portanto, o ensino é uma das tarefas principais da igreja, tão importante quanto a tarefa de evangelização, até porque é complemento necessário e indispensável da evangelização.
II. A MISSÃO EDUCADORA DA IGREJA PENTECOSTAL
1. Jesus e o ensino da Palavra.
Lucas, ao sintetizar o ministério terreno de Jesus, no início do livro de Atos dos Apóstolos, disse que Jesus, na Terra, veio “fazer e ensinar” (At 1:1). Prova bíblica de que o ensino foi uma das proeminentes funções de todo o ministério terreno de Cristo(cf Mc 2:1,2; João 3:3-21). Foi Ele quem ordenou aos discípulos: "Ide, ensinai todas as nações [...] ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado" (Mt 28.19, 20). Se Seu ministério se resumisse tão somente na pregação, ante a rejeição de Israel (João 1:11), teria havido um fracasso.
Jesus é o Mestre por excelência, é a Pessoa que deveria, como nenhuma outra, trazer conhecimento ao ser humano. Aliás, se houve um título que Jesus sempre aceitou foi o de Mestre (João 13:13), numa clara demonstração de que sempre quis ser reconhecido como tal. Ele ensinava com autoridade deixando a todos atônitos com a singular autoridade de sua doutrina(Mt 7:29).
O crente deve entender que o padrão de doutrina é o ensino de Cristo: “Se alguém ensina outra doutrina e não se conforma com as palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com a doutrina, que é segundo a piedade, é soberbo e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas” (1Tm 6:.3-4). Isso quer dizer que qualquer mensagem que não provém do Senhor Jesus Cristo e que não contém em si um veemente apelo à piedade e à santidade, é um evangelho diferente daquele que é apresentado no Novo Testamento.
Os pentecostais genuínos se dedicam ao ensino, tanto no sentido de pesquisar de forma correta as Sagradas Escrituras quanto no sentido de transmitir o resultado dessas pesquisas de forma didática. Jesus dedicou grande parte de seu ministério ao ensino, e uma igreja pentecostal deve fazer o mesmo.
2. O exemplo da igreja em Antioquia. A igreja em Antioquia priorizava a doutrina, o ensino da Palavra de Deus (At.11:22-26). Barnabé, ao verificar que havia conversão autêntica de muitos irmãos naquela igreja, tratou de buscar a Paulo e, durante todo um ano, houve o ensino da Palavra àqueles crentes. O resultado daquele ano de ensino não poderia ser melhor: os convertidos passaram a ter uma vida muito semelhante a de Jesus; passaram a ser diferentes dos demais moradores de Antioquia; passaram a ser provas vivas da transformação que o Evangelho produz nas pessoas.
Após terem sido ensinados na Palavra e terem mudado de vida, os moradores de Antioquia passaram a notar a diferença e, cumprindo o que disse Jesus a respeito do efeito das boas obras dos Seus discípulos, passaram a chamar os discípulos de “cristãos”, isto é, “parecidos com Cristo”, “semelhantes a Cristo” (At 11:26). Eram os homens glorificando ao Pai que está nos céus (Mt 5:16). Era o resultado do ensino da Palavra.
Portanto, não basta que a Igreja pregue o Evangelho, ou seja, proclame a Palavra de Deus, mas é preciso, também, que a Igreja “ensine as nações”, “faça discípulos”, cuidado este que era patente nos tempos apostólicos, a ponto de os apóstolos terem chamado para si esta tarefa, considerando, inclusive, não ser razoável deixar de se dedicar à oração e ao ensino da Palavra (At 6:2,4), sem falar dos conselhos que Paulo dá a Timóteo no sentido de jamais se descuidar com o ensino junto aos crentes (1Tm 4:12-16).
Muita meninice que vemos por aí se deve à ausência do ensino da Palavra de Deus. O crente permanece infantil quando tem uma compreensão inadequada das verdades bíblicas e pouca dedicação a elas(Ef 4:14,15). Por isso o ensino da Palavra de Deus é importante “Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente”(Ef 4:14).
3. A ortodoxia do ensino bíblico. A palavra ortodoxia significa “absoluta conformidade com um princípio ou doutrina bíblica”. Todo ensino bíblico-doutrinário tem de estar de acordo com a mensagem divina revelada na Bíblia Sagrada. A Bíblia Sagrada é colocada no lugar em que ela tem de estar: como a nossa suprema e inquestionável árbitra em matéria de fé e prática. Se a Bíblia o diz, é a nossa obrigação obedecê-la sem quaisquer questionamentos. Ela é soberana!
O pastor Silas Daniel em seu comentário “Sobre a ortodoxia, meios e fins”, disse: “Um dos sintomas da influência da mentalidade pós-moderna no meio cristão é a aversão que alguns cristãos manifestam hoje em relação à ortodoxia bíblica, isto é, à Verdade. Infelizmente, o cristão pós-moderno tem a tendência de ignorar, e até mesmo criticar, a importância da doutrina correta. O termo "verdade absoluta" causa em muitos arrepios. E a razão é simples: cansados das disputas teológicas intermináveis (a maioria em relação a doutrinas bíblicas secundárias) que marcaram os últimos séculos, muitos cristãos de hoje resolveram tomar uma atitude radical e tola: abraçar a idéia de que o que importa realmente são relacionamentos corretos e não doutrinas corretas. Porém, a idéia de que uma coisa é mais importante do que a outra é uma premissa absolutamente falsa. Ambas – relacionamentos corretos e doutrinas corretas – são importantes. E isso não é uma inferência particular. A própria Bíblia as trata como igualmente importantes, e a experiência da vida corrobora.
Alguém pode ser um primor de ortodoxia, mas um péssimo cristão em termos práticos, em termos de comportamento. Isso porque o fato de saber a verdade não impede a pessoa de errar. Vide o caso do rei Salomão. O homem mais sábio do mundo cometeu uma tolice, pecou absurdamente, mesmo sabendo, mais do que todos, que a sua atitude era reprovável diante de Deus.
Por outro lado, aquele que valoriza o comportamento correto em detrimento da ortodoxia esquece que é impossível termos um comportamento completamente correto se nos falta a compreensão da Verdade. É justamente por isso que, invariavelmente, aqueles que colocam relacionamentos acima de doutrina aceitam e reproduzem, às vezes inconscientemente, posicionamentos e comportamentos absolutamente equivocados.
Ou seja, ortodoxia e ortopraxia se completam. Para que haja real ortopraxia, é preciso ortodoxia; e para que a ortodoxia gere frutos, é necessário que ela seja encarnada na vida, se manifeste nas ações; é necessário que seja algo mais do que mero conhecimento; é necessário que se materialize em ortopraxia. Ortodoxia sem ortopraxia é verdade sem vida; já ortopraxia nem existe em sua plenitude sem ortodoxia, pois não há Vida se ignoramos a Verdade
“.[1]
III. A IGREJA PENTECOSTAL NÃO DEVE DESCUIDAR DO SERVIÇO SOCIAL E DA COMUNHÃO
A igreja, na sua dimensão local, é um grupo social. Além de ser um grupo social, foi feita por Deus para ser um grupo social que vive em meio aos demais, que não pode deles se separar. Como “astros no meio de uma geração corrompida e perversa” (Fp 2:15), como “luz do mundo” (Mt 5:14) e como “sal da terra” (Mt 5:13), a igreja local não pode, mesmo, se apartar do convívio com os demais homens, tanto que Jesus disse ao Pai que não pedia que os Seus discípulos fossem tirados do mundo, mas, sim, libertos do mal (João 17:15). Ora, se a igreja local é um grupo social que deve ser mantido, por vontade de Cristo, a cabeça da Igreja (Ef 1:22; 5:23), entre os demais homens, é evidente que deve, enquanto tal, exercer uma “missão social”, ou seja, deve, enquanto grupo, exercer um papel relevante no relacionamento com as demais pessoas da sociedade onde se encontra.
1. O Serviço social. A função de assistência social na Igreja é uma das suas pedras de toque e, sem dúvida, uma das formas mais poderosas de demonstrarmos ao mundo a nossa diferença e o amor de Deus que está em nossos corações.
Ao efetuar “ação social”, a Igreja mostra ao mundo que é um povo especial, zeloso de boas obras, a agência do reino de Deus na Terra. Comprova, com fatos (e contra fatos, não há argumentos), que Jesus ama e veio salvar a humanidade.
Uma das demonstrações de que a “ação social” da Igreja é uma necessidade é que Ele é a demonstração do próprio “amor ao próximo”, que Jesus considerou como sendo um dos dois mandamentos a que se resumia a lei e os profetas (Mt 22:39,40).
Sendo o amor uma característica indispensável para quem diz ser filho de Deus, é como se fosse o próprio DNA espiritual do cristão sincero e verdadeiro, devemos observar que este amor não é apenas a essência da comunhão entre Deus e o homem, o próprio núcleo da vida espiritual, mas é, como afirma Paulo, o primeiro “gomo” do fruto do Espírito (Gl 5:22), ou seja, necessariamente este amor tem de se traduzir em atitudes, em ações, tem de se manifestar fora do indivíduo.
Logicamente que a ação social da Igreja não se limita apenas ao “serviço social”, nem pode se circunscrever ao aspecto material. Por isso, não é desculpa a falta de recursos materiais para não se praticar atos de ação social. Quem não pode vestir, dar de comer ou dar abrigo a alguém, pode consolar, instruir, confortar, visitar. A bondade não consiste em dar presentes, mas na doçura e na generosidade do espírito.
2. Atender aos necessitados. “Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe fechar o seu coração, como permanece nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obras e em verdade”(1João 3:17,18).
Ajudar aos necessitados, tanto do ponto-de-vista material quanto espiritual, é um dos elementos do serviço cristão, é uma característica da igreja autenticamente pentecostal. Há quem pense que a assistência social não faz parte da missão da igreja, mas esse é um pensamento equivocado. Deus espera que socorramos os domésticos da fé, de forma que não haja em nosso meio pessoas necessitadas.
Podemos fazer muitas declarações ao Senhor e prometer-lhe obediência e amor. No entanto, é diante do nosso próximo que vamos mostrar se há mesmo amor, benignidade, bondade, etc, em nossos corações. De nada vale o nosso discurso se não há a prática de boas obras palpáveis(Tg 2:14-17). Os irmãos pobres estão na igreja em grande maioria, e Jesus disse que sempre haveria pobres sobre a face da Terra (João 12:8), não fugindo desta realidade nem mesmo aqueles que pertencem à igreja, como nos mostra o episódio que levou à criação do diaconato (At 6:1-3).
Nos textos de Deuteronômio 15:7-11, Deus manda que para os necessitados devamos ser: receptível, sensível, generoso, misericordioso e benigno.
3. Comunhão. A comunhão faz parte das práticas de uma igreja pentecostal. É a principal característica da Igreja. É a sua marca perante a humanidade. É a característica indispensável para que o Senhor possa realizar a sua obra através do seu povo. Pela comunhão, a Igreja mostra-se como um povo perante os demais seres humanos e, graças a ela, pode cumprir todas as tarefas determinadas a ela. Tanto assim é que o relato de Lucas a respeito da igreja primitiva termina com o cumprimento da principal missão da Igreja: “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar”(At 2:47 ).
A expressão “comunhão” é típica da Igreja, tanto que só é encontrada nas Escrituras Sagradas em o Novo Testamento e, mais especificamente, após a “inauguração” da Igreja a partir do Pentecostes subsequente à ascensão do Senhor Jesus. Seu primeiro aparecimento na Bíblia é em At 2:42, na primeira descrição deste novo povo de Deus, quando se diz que os crentes perseveravam na doutrina dos apóstolos e na “comunhão”. O segredo para o rápido crescimento da Igreja Primitiva, formada por dois povos, judeus e gentios, foi a comunhão entre os crentes. A Igreja somente progrediu mediante a comunhão e unidade de seus membros.
Enfatizando, Comunhão é o sentimento de unidade que leva os cristãos a se sentirem um só corpo em Cristo Jesus. Tendo como vínculo o amor, a comunhão cristã desconhece distinções sociais, culturais e nacionais. Agora somos um em Cristo. Não basta amar o próximo como a nós mesmos; temos de amá-lo como Jesus nos amou. O amor de Jesus por nós é o exemplo do amor que devemos expressar na comunhão diária com nossos irmãos em Cristo. O amor agápe, manifestado entre os irmão, é mais precioso do que a manifestação do dom profético, da sabedoria ou da fé. Pois somente através do amor é que podemos entender e nos relacionarmos adequadamente uns com os outros.
CONCLUSÃO
Diante do que foi exposto, podemos concluir que uma Igreja autenticamente pentecostal não é caracterizada somente pela manifestação do batismo com Espírito Santo e do falar em línguas estranhas. Ela evangeliza, discipula, ensina, comunga, socorre os necessitados e mantém os seus membros em comunhão, ou seja, cumpre sua missão de forma integral. Que venhamos, como igreja do Senhor, agir no poder do Espírito Santo a fim de cumprir integralmente a missão que nos confiou o Senhor Jesus.
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
William Macdonald – Comentário Bíblico popular(Novo Testamento).
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Revista Ensinador Cristão – nº 46.
O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.
Caramuru Afonso Francisco – Conservando o verdadeiro Pentecostes.
Caramuru Afonso Francisco - A missão social da Igreja
[1] http://silasdaniel.blogspot.com/2008/06/sobre-verdade-meios-e-fins.html

sexta-feira, 3 de junho de 2011

FRIDA VINGREN: UMA LIDERANÇA FEMININA PIONEIRA

Por Marcos José Martins


Além Gunnar Vingren e de Daniel Berg, muitos outros personagens construíram as bases das Assembléias de Deus no Brasil. Adriano Nobre, José Rodrigues, José Calazans, Nils Nelsons, Nils Kastberg, Samuel Nystrom entre outros foram grandes ícones deste período de implantação das Assembléias de Deus. Mas não podemos nos esquecer de Frida Strandberg[1]. A liderança desta mulher nos chama muita atenção, pois sua atuação foi de suma importância para a consolidação da Assembléia de Deus no Brasil. Frida nasceu em junho de 1891, no norte da Suécia, era de uma família de crentes luteranos (a Igreja Estatal Oficial na Suécia). Formou-se em Enfermagem chegando a ser chefe da enfermaria do hospital onde trabalhava. Tornou-se membro da Igreja Filadélfia de Estocolmo, onde foi batizada nas águas pelo pastor Lewi Pethrus, em 24 de janeiro de 1917.

Neste mesmo ano recebeu o batismo com o Espírito Santo e o dom de profecia e se sentiu vocacionada para a obra missionária sendo enviada pelo pastor Pethrus para o campo missionário brasileiro e, chegando a Belém/ Pará, se casou Gunnar Vingren em 16 de outubro de 1917. Contraiu malária em março de 1920 e quase morreu. Recuperada viu seu marido pegar a mesma enfermidade várias vezes. Depois de muitos anos no Pará, a família Vingren migra para o Rio de Janeiro, seguindo o mesmo processo da migração nordestina.Frida Vingren (nome de casada) desenvolveu grandes atividades evangelísticas, abriu frentes de trabalho em muitos lugares do Rio de Janeiro. As atividades de assistência social, círculos de oração e grupos de visitas ficaram sob sua responsabilidade. Também exercia a função de docência nas classes de Escola Dominical e ministrava Estudos Bíblicos. Era responsável – no inicio da obra no Rio de Janeiro – pela leitura devocional nas aberturas dos cultos, pela execução musical dos hinos – ela era organista e tocava violão – e, quando Gunnar Vingren se ausentava da Igreja em visita ao campo missionário, Frida substituía-o pregando e dirigindo os cultos e trabalhos oficiais.

Frida exerceu a direção oficial dos cultos realizados aos domingos na Casa de Detenção no Rio de Janeiro e era excelente pregadora, exercendo sob seus ouvintes grande carisma. Pregava e dirigia os cultos nos pontos de pregação da AD no Rio de Janeiro, em praças públicas e áreas abertas. Os cultos ao ar-livre promovidos no Largo da Lapa, na Praça da Bandeira, na Praça Onze e na Estação Central eram dirigidos por Frida, tendo Paulo Leivas Macalão como seu auxiliar direto[2].

Articulou-se como escritora de diversas matérias nos jornais oficiais[3] da AD, como os jornais Boa Semente, O Som Alegre e Mensageiro da Paz (este último agregou os dois primeiros). Ela escrevia mensagens evangelísticas e traduzia vários outros textos e hinos da língua escandinava. Foi também comentarista das Lições Bíblicas de Escola Dominical (hoje revista oficial da CGADB para a Escola Dominical) na década de 1930.

Além de excelente escritora, Frida sempre se dedicou à música. Cantava, tocava órgão, violão e compunha hinos de grande valor espiritual. Vinte e três hinos da Harpa Cristã são de sua autoria e alguns destes têm forte essência escatológica. Frida, ao que parece, não foi simplesmente uma colaboradora no processo de implantação da AD. Ela foi, juntamente com seu marido, a principal líder da Igreja entre 1920 e 1932. Alencar alega que“... Como Berg é inexpressivo na liderança e Vingren, doente, ficou pouco tempo efetivamente na liderança, fica a dúvida sobre quem de fato dirigia e dava “as cartas” nesta igreja em seus primeiros anos: Frida Vingren?”.[4]

O modelo de liderança de Frida Vingren, segundo relata Alencar, incomodou muito a liderança masculina da AD. Frida é o modelo de uma líder completa, numa época em que”as mulheres ainda não participavam da vida política do país nem mesmo como eleitoras, mas a AD permite que elas, excepcionalmente, sejam pastoras e ensinadoras. [O que incomoda então é a] influência de Frida Vingren? Com certeza. Ela prega, canta, toca, escreve poesia, textos escatológicos, visita hospitais, presídios, realiza cultos e – nada comum – dirige a igreja na ausência do marido (e… na presença também) [...] na foto dos missionários… que participaram da Convenção de Natal [Rio Grande do Norte, 1930] ela é a única mulher que aparece. Onde estão as esposas dos outros [missionários e pastores]?… Frida chega a escrever um texto no Mensageiro da Paz… disciplinando a conduta dos obreiros”.[5]

Frida é vista como uma mulher extraordinária. Ivar Vingren argumenta que”a esposa do irmão Vingren, foi também uma missionária fiel, perseverante e zelosa, que além do cuidado pela família, soube participar e ajudar no trabalho do seu esposo. Grande é a multidão de almas que ela ganhou para Jesus durante estes anos de luta junto com o seu esposo”.[6]

Frida, numa das cartas selecionadas na obra autobiográfica dos Vingren, expressa o seu esgotamento físico e seus sentimentos acerca de seu trabalho pioneiro no Brasil[7]. Ela enumera as dificuldades na categoria “tribulação”, sofrimento” e “agonia”. Mas tem muita esperança, quando contempla os sinais de Deus operando na Igreja e nas congregações. Ela declara que tem pagado o preço do trabalho, mas sabe que nada é em vão perante o Senhor.A missionária – dirigente dos trabalhos oficiais na AD do Rio de Janeiro (até então Missão Sueca) nesta mesma carta demonstra um sinal de frustração por ter de entregar a direção do Jornal “Mensageiro da Paz” aos líderes nacionais: “O Senhor sabe de tudo, eu não quero defender-me, pois não sou sem falta, mas aquele dia tudo se revelará [...] Agora, depois que entregamos a direção do jornal “Mensageiro da Paz”, eu pensei então que o nosso tempo aqui no Brasil talvez esteja terminado ou o Senhor talvez tenha alguma outra missão para nós cumprirmos [...] Para mim é como arrancar o coração do meu peito, quando penso em deixar o Brasil para talvez nunca mais volta”![8].

É difícil aceitar que Frida seja “sem falta”. Ela faz tudo e assume toda a responsabilidade da Igreja em São Cristóvão/ RJ além de cuidar das congregações ligadas a esta Igreja, dirigir o jornal e articular outros trabalhos acima citados. Ela tem um esgotamento físico que chega a atingir o sistema nervoso e alega sofrer do coração. Sinais claros de cansaço de uma pessoa que se dedica integralmente à obra da Igreja.

É complicado vê-la somente como colaboradora ou à sombra de Vingren. Frida desabafa quando diz que “Gunnar tem estado enfermo a tanto tempo, que faz muito [tempo] que ele nem tem podido participar do trabalho”.[9]

Por causa da enfermidade de Gunnar Vingren, este não teve o tempo e a energia suficiente para poder assumir o trabalho. Quem assume o trabalho integralmente é Frida, apesar de Samuel Nystrom – teórica e documentalmente – ser o segundo dirigente da Igreja na ausência de Gunnar Vingren.

É fato que Frida é uma mulher humilde que compreende seu papel de liderança e, sem soberba, relata como Deus, em uma revelação dada a uma irmã, a via quando ela auxiliava seu marido: ”Quando nós [Gunnar e Frida] saímos do Pará e viemos ao Rio de Janeiro, uma irmã no Pará teve uma visão. Ela viu como Gunnar estava ajuntando frutas maduras num grande pomar e ela me viu também num canto do pomar, trabalhando com uma bomba de água, que estava regando todas as árvores”[10].

Esta visão está muito próxima à lógica do ministério apostólico compreendido por Paulo. “Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento” (1 Co. 3.6). Gunnar seria Paulo? Frida, Apolo? A compreensão hermenêutica pentecostal pode nos abrir para essa possibilidade interpretativa. Mas, Frida nunca esteve “num canto do pomar”.

O fato é que Frida Vingren, com o agravamento da enfermidade de seu marido, foi preterida pela liderança nacional. Em 1932, por causa do estado de saúde de Gunnar, toda a família Vingren é obrigada a voltar à Suécia para cuidar da saúde de Gunnar. Neste mesmo ano, antes de viajar para a Suécia, o casal Vingren sofre com a morte de sua filha caçula. Frida perde o que lhe é mais precioso no período de dois anos (1932-1933). Perde sua filhinha, é forçada pelas circunstâncias explícitas (doença do marido) e implícitas (a oposição da liderança nacionalista e masculina) a deixar o trabalho eclesiástico por ela exercido e suportar a perda – por falecimento – de seu marido. Sete anos depois do falecimento de Gunnar, Frida também entra pelas portas das mansões celestiais e as obras de suas mãos a acompanharam e naquele dia tudo se revelará. “Então ouvi uma voz dos céus dizendo escreva: Felizes os mortos que morreram no Senhor… Diz o Espírito: Sim, eles descansarão das suas fadigas, pois as suas obras os seguirão” (Ap. 14.13).

Frida Vingren é o típico modelo de mulher pentecostal que exerceu o seu ministério pastoral na periferia do poder clerical. Dentro das AD se constituíram as sociedades eclesiais femininas como grupos de visitação, de oração, de louvor, assistência social; Frida é a origem. As mulheres exercem espaço na liturgia, na pregação, no culto, na educação bíblica, na assistência social e no serviço religioso, mas dificilmente o ministério pastoral.Frida (representando aqui o ministério feminino) é um protótipo de liderança silenciada e, infelizmente, marginalizada nas AD. Rosemary Ruether diz que “O ministério feminino baseado em dons carismáticos renasce continuamente na prática e também é continuamente marginalizado do poder nas instituições históricas das igrejas”.[11]

As mulheres pentecostais têm um papel fundamental na organização e manutenção das estruturas laicas das igrejas pentecostais, como podermos ver na biografia de Frida Vingren. Contudo, elas são marginalizadas, inferiorizadas e preteridas dentro das estruturas significantes de poder. Estão à margem e dificilmente, dentro do modelo patriarcalista das igrejas pentecostais clássicas, chegarão ao centro do poder.

A liderança nacional desde a 1ª. Convenção Geral das Assembléias de Deus do Brasil (caso Frida Vingren, por exemplo) tem feito de tudo para tirar de foco a discussão sobre o ministério feminino na Igreja. O Ministério de Madureira tem consagrado mulheres para o exercício do diaconato e para o ministério missionário.

As mulheres dos pastores presidentes – anteriormente consideradas “a esposa do pastor…” – agora têm sido reconhecidas como missionárias. O Ministério do Belém – ligado a CGADB, nem ao diaconato tem consagrado mulheres. As mulheres não são consultadas acerca das grandes decisões e iniciativas institucionais.
________________________Fonte: MARTINS, Marcos José. A dimensão escatológica da hinologia clássica pentecostal. São Bernardo do Campo: [s.n.], 2008. 110 p. Bibliografia — Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2008. (páginas 30 a 35 – Trabalho de Conclusão de Curso Bacharelado de Teologia)
[1] MELO, Vieira de. Frida Vingren. Site: vieirademelo.googlepages.com. Disponível em: http://vieirademelo.googlepages.com/fridavingren. Acesso em 01/11/2008. Conferir também: Jornal “Mensageiro da Paz”, n°1.453, junho 2006, CPAD.
[2] VINGREN, 1973. p. 122 a 124.
[3] ALENCAR, 2000. 161p. Conferir um estudo sobre os temas das matérias escritas por Frida Vingren nas páginas 72, 106 e o espaço concedido a escritos de mulheres na página 108.[4] Id., ibid., p. 55 e 56. O autor trabalha o estilo de liderança Gunnar Vingren – Frida Vingren.[5] Id., ibid., p. 56
[6] VINGREN, 1973. p. 198
[7] Id., ibid., p. 198 e 199.
[8] Id., ibid., p. 198 e 199. Este jornal, enquanto não passou para a direção dos líderes nacionais, só trouxe aflição para o casal Vingren. Gunnar e Frida trabalharam incessantemente para que o jornal fosse aceito nacionalmente e, quando conseguiram este feito juntamente com Samuel Nystrom, os líderes nacionais só sossegaram quando assumiram a direção do jornal. Conferir mais informações sobre essas tensões nas páginas 178-179 e 189.
[9] Id., ibid., p. 199.
[10] Id., ibid., p. 198.
[11] RUETHER, Rosemary Radford. Sexismo e religião: rumo a uma teologia feminista. São Leopoldo: Sinodal, 1993. p. 164
BIBLIOGRAFIA
ALENCAR, Gedeon Freire de. Todo poder aos pastores, todo trabalho ao povo, e todo louvor a Deus: Assembléia de Deus: origem, implantação e militância 1911-1946. 2000.
161 p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Curso de Pós-graduação em Ciências da Religião, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo/SP, 2000.RUETHER, Rosemary Radford। Sexismo e religiao: rumo a uma teologia feminista. São Leopoldo: Sinodal, 1993.
VINGREN, Ivar. Gunnar Vingren, o diário do pioneiro. Rio de Janeiro: CPAD, 1973.