domingo, 29 de abril de 2012

Aula 06 - TIATIRA, A IGREJA TOLERANTE


Texto Básico:Apocalipse 2:18-25


"Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?" (2Co 6:14,15).

INTRODUÇÃO

Nesta Aula estudaremos sobre a carta de Jesus Cristo enviada à igreja em Tiatira. Apesar de ser a menos importante das sete cidades, a carta dirigida a igreja foi a mais extensa. Tiatira, ao contrário de Éfeso, possuía a maior das virtudes - o amor, mas a doutrina praticada por ela não foi validada por Cristo; era operosa, mas não fiel. A igreja era marcada por fé - havia confiança em Deus. A igreja era marcada pela perseverança (ou paciência triunfadora) - ela passava pelas provas com firmeza. O seu progresso espiritual era bastante notório - suas últimas obras eram mais numerosas que as primeiras. John Stott comentando sobre os predicados espirituais da igreja em Tiatira diz: "Tiatira não apenas rivalizava com Éfeso nas atividades do serviço cristão, como também demonstrou o amor que faltava em Éfeso, preservou a fé que estava em perigo em Pérgamo e compartilhava com Esmirna a virtude da resistência paciente na tribulação” (STOTT, John. O que Cristo pensa da Igreja, p. 59). Todavia, Tiatira foi reprovada por Jesus pelo fato de tolerar os falsos mestres e a falsa doutrina.

I. A IGREJA EM TIATIRA

1. A cidade de Tiatira. “Uma cidade da província romana da Ásia, a oeste do que atualmente é a Turquia Asiática. Ocupava uma importante posição em um ‘corredor’ baixo que ligava os vales do Hermo e do Caico. Abrigava uma guarnição de fronteira, principalmente sobre a fronteira ocidental do território de Seleuco I, da Síria (que a fundou, no século IV a.C.), e posteriormente, após haver mudado de mãos, na fronteira oriental do reino de Pérgamo. Com esse reino, passou para o domínio dos romanos, em 133 a.C. Porém, continuou sendo um ponto importante do sistema de estradas dos romanos, pois ficava na estrada vinda de Pérgamo até Laodicéia, e daí continuava para as províncias orientais. A descrição feita pelo Senhor Jesus em Ap 2:18 é apropriada para uma cidade famosa por seus trabalhos em bronze. As condições da promessa de Ap 2:26,27 podem refletir a longa história militar da cidade. Uma cidade bastante grande, por nome Akhisar, continua existindo no mesmo local” (O novo dicionário da Bíblia – Editora Vida).
Tiatira não era nenhum centro político ou religioso, sua importância era comercial. Era sede de várias associações importantes de comércio, tais como: lã, couro, linho, bronze, tintureiros, alfaiates, vendedores de púrpura. Uma dessas corporações vendia vestimentas de púrpura e é provável que Lídia, a primeira pessoa a ser convertida em Filipos, fosse uma representante dessa corporação em Filipos (At 16:14). Essas associações tinham fins tanto de mútua proteção e benefício como social e recreativo. Seria quase impossível ser comerciante em Tiatira sem fazer parte dessas associações. Não participar era uma espécie de suicídio comercial; era perder as esperanças de prosperidade. Cada associação tinha sua divindade tutelar. Em suas frequentes reuniões havia banquetes com comida sacrificada aos ídolos e que acabavam depois em festas cheias de licenciosidade.
O que os cristãos deviam fazer nessas circunstâncias: transigir ou progredir? Manter a consciência pura ou entrar no esquema para não perder dinheiro? Ser santo ou ser esperto? Qual é a posição do cristão? Se sair da associação, perde sua posição, reputação e lucro financeiro; se permanecer nessas festas, está negando Jesus. Alguém tinha que dar uma solução. E é nesse momento que o líder deve se apresentar como o anjo da igreja; isso não ocorreu em Tiatira. Então o inimigo se aproveitou da situação e ergueu a sua representante: “Jezabel”. Sua astúcia foi tão ebriático que logo se sobressaiu como profetiza e mestra na igreja. Ela insinuava que para vencer Satanás é preciso conhecer “as coisas profundas de Satanás”. O seu ensino enfatizava que não se pode vencer o pecado sem conhecer profundamente o pecado pela experiência. Faltou discernimento por parte do líder e de muitos membros da igreja para perceber que Jezabel era um instrumento usado por Satanás.
2. A igreja em Tiatira(Ap 2:18). A igreja em Tiatira foi a quarta(Ap 1:11) das sete igrejas da Ásia. Lídia, a vendedora de púrpura (lã tingida), a primeira pessoa convertida por Paulo na Europa, era de Tiatira (Atos 16:14). É bem provável que o evangelho tenha chegado a essa cidade através dela. Também não se pode descartar a influência da obra missionária de Paulo na organização e formação da igreja em Tiatira(cf At 19:10).
Essa igreja se destacava em vários sentidos. Não lhe faltavam “boas obras, [...] amor, [...] fé, [...] serviço e perseverança paciente”. Porém, a congregação havia tolerado doutrinas impuras em seu meio, e o resultado foi a prática de prostituição e idolatria. A igreja havia permitido que uma “mulher” por nome “Jezabel”, que se dizia profetiza, conduzisse servos de Deus ao pecado. A igreja não era criteriosa acerca da verdade, pois cedia seu púlpito sem qualquer critério àqueles que se diziam crentes, mas apresentavam falsos ensinos. Possivelmente, enfatizando o amor a ponto de esquecer a pureza da doutrina, a igreja de Tiatira tolerava esta falsa mestra e cedia o púlpito para ela. Foi um grave erro. Devemos sempre lembrar que a sabedoria de Deus é mais importante do que a paz com pessoas (Tg 3:17; Mt 10:34-38). O povo de Deus deve repreender e rejeitar falsos mestres (Ef 5:11; Rm 16:17-18; Gl 1:6-9; Tito 3:10-11).
Segundo estudiosos, era esse o problema de Tiatira: não havia perseguição física; o perigo estava dentro da igreja. Essa é também uma dolorosa realidade na igreja contemporânea. Multiplicam-se os falsos mestres e muitas são as igrejas que abrem suas portas e franqueiam seus púlpitos a aventureiros descomprometidos com a sã doutrina. Há muitas crendices no meio evangélico introduzidas por falsos mestres. As pessoas que são libertas do paganismo e deixam para trás seu misticismo grosseiro tornam-se prisioneiras de outras crendices nos redutos chamados evangélicos. Mantemos as pessoas prisioneiras de práticas absolutamente estranhas às Escrituras. Somos uma igreja que avilta a eficácia do sacrifício perfeito e completo de Cristo. Assistimos ao florescimento da igreja do sal grosso, do óleo ungido, do copo de água em cima do rádio, da cura pelo suor do corpo do “apostolo”, etc. Vemos crescer a igreja das campanhas, das novenas; a igreja que busca sofregamente os milagres e a prosperidade, mas não se deleita na salvação em Cristo Jesus. Vemos uma igreja que desengaveta as indulgências da Idade Média e vende a graça por dinheiro. Vemos multiplicar no Brasil igrejas que parecem mais empresas particulares, que abrem franquias como se abre uma loja comercial. Igrejas que fazem do evangelho um produto lucrativo e transformam os crentes em consumidores vorazes para abastecer os cofres de pregadores inescrupulusos. Somos uma igreja analfabeta na Palavra. Temos extensão, mas não temos profundidade. Temos muitos espetáculos grandiosos, mas não temos a Palavra. Temos muitos atores no palco, mas poucos pregadores fiéis nos púlpitos. Estamos precisando de um genuíno avivamento na igreja, um avivamento que traga de volta o povo de Deus à Palavra.

II. A IDENTIFICAÇÃO DO REMETENTE

“E ao anjo da igreja de Tiatira escreve: Estas coisas diz o Filho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo e os pés semelhantes ao bronze polido”(Ap 2:18).
1. Jesus é “o Filho de Deus”. Jesus escolhe aqui o título de Filho de Deus, que é superior ao título escolhido em Apocalipse 1:13 quando se denomina Filho do Homem. Jesus escolhe esse título ao falar com a Igreja de Tiatira por causa do paganismo deles, que pregavam Jesus como humano e desprezavam Sua natureza divina. O final dos tempos é marcado por vários falsos mestres que ensinam que Jesus Cristo seria apenas humano, negando sua natureza divina. Nessa carta, o Filho de Deus é retratado com os olhos como chama de fogo e os pés semelhantes ao bronze polido.
2. Jesus é Onisciente – “tem os olhos como chama de fogo”. Para a igreja de Tiatira que estava tolerando a impureza e caindo em imoralidade, Jesus se apresenta como aquele que tem os olhos como chama de fogo, que se referem à sua visão penetrante, que tudo sonda e conhece. Sim, o Senhor Jesus vê tudo, conhece tudo e sonda a todos. Nada escapa a seu conhecimento. Ele conhece as obras (Ap 2:19) e também as intenções (Ap 2:23). Cristo apresenta-se assim porque muitas práticas vis estavam sendo toleradas secretamente dentro da igreja. Mas ninguém pode esconder-se do olhar penetrante e onisciente de Jesus. Pedro não pôde apagar de sua memória o olhar penetrante de Jesus. Ele esquadrinha o coração e os pensamentos. No dia do juízo, ele julgará o segredo do coração dos homens.
3. Jesus é o Supremo Juiz – Ele tem “os pés semelhantes ao bronze polido”. Para a igreja de Tiatira que estava tolerando a impureza e caindo em imoralidade, Jesus não apenas tem olhos como de fogo (Ap 2:19), não apenas sonda nossa mente e coração (Ap 2:23), mas, também, tem os “pés semelhantes ao bronze polido”(Ap 2.19), que se refere à iminência de julgamento. O bronze reluzente transmitia a ideia de força e estabilidade. Isso fala de sua onipotência para julgar seus inimigos.
O Noivo da Igreja tem todo poder e toda autoridade nos céus e na terra (Mt 28:18). Ele tem todas as coisas debaixo de seus pés. Todas as coisas lhe estão sujeitas. Ele tem poder sobre as forças da natureza, sobre os demônios, sobre a enfermidade e sobre a própria morte. Nada escapa ao seu controle e ao seu domínio.
No dia do juízo, Cristo colocará todos seus inimigos debaixo de seus pés (1Co 15:25). Naquele dia, o Cordeiro estará irado (Ap 6:17). O Juízo de Deus sobre os ímpios começará a ser executado logo que o Senhor Jesus retirar sua Igreja daqui da Terra. Todavia, o juízo de Deus terá seu ponto alto e final no Julgamento do Trono Branco que acontecerá depois do Milênio e antes do estabelecimento do Estado Eterno. Neste dia todos os ímpios de todos os tempos comparecerão diante do Supremo Juiz para o acerto de contas final.

III. UMA IGREJA RICA EM OBRAS

A igreja em Tiatira tinha todas as qualidades para ser, no mínimo, como a igreja de Esmirna. Ela tinha muito crédito diante de Deus. Suas qualidades eram exteriores e interiores. Foi o próprio Jesus quem reconheceu essas qualidades: “Eu conheço as tuas obras, e o teu amor, e o teu serviço, e a tua fé, e a tua paciência, e que as tuas últimas obras são mais do que as primeiras” (Ap 2:19). Portanto, a igreja em Tiatira era:
1. Uma igreja amorosa, caridosa – “e o teu amor”. Faltava amor na igreja em Éfeso(Ap 2:4), mas Jesus viu esta qualidade boa em Tiatira.
2. Uma igreja trabalhadora, serviçal – “e o teu serviço”. A igreja de Tiatira estava trabalhando mais do que trabalhara no início de sua carreira, mas muito trabalho sem vigilância também não agrada a Jesus. Ação sem zelo doutrinário (em Tiatira) e zelo doutrinário sem ação (em Éfeso) não agradam a Jesus.
3. Uma igreja de fidelidade – “e a tua fé” . Jesus é Aquele que distingue dentro da igreja as pessoas fiéis e as infiéis (Ap 2:24). Na igreja em Tiatira havia três grupos: os que eram fiéis (Ap 2.24), os que estavam tolerando o pecado (Ap 2:20) e os que estavam vivendo no pecado (Ap 2:20-22). A igreja estava bem, estava em perigo e estava mal. Em uma mesma igreja há gente salva e gente perdida. Há joio e trigo. E Jesus sabe distinguir uns dos outros.
4. Uma igreja perseverante – “e a tua paciência”. A igreja era marcada pela perseverança ou paciência triunfadora; ela passava pelas provas com firmeza.
5. Uma igreja operante – “e que as tuas últimas obras são maiores do que as primeiras”. A igreja em Tiatira ao invés de esfriar tornou-se cada vez mais ativa no serviço a Deus. A fé que agrada a Deus é a fé ativa que se mostra pelas suas obras (Tiago 2:14-17). Os servos de Deus devem ser “sempre abundantes na obra do Senhor” (1Co 15:58), pois Deus nos criou para boas obras (Ef 2:10).
Por estas qualidades apresentadas poderíamos considerar a igreja em Tiatira completa, exemplar. Entretanto, sua falha estava no excesso de tolerância. Em sua disposição de amar, talvez tenha se confundido um pouco, chegando a aceitar o inaceitável - “Tenho contra ti que toleras Jezabel...” (Ap 2:20). Esta “mulher”, que se intitulava profetisa, não somente ensinava como também seduzia cristãos a praticarem a prostituição e comerem coisas sacrificadas aos ídolos – “...mulher que se diz profetiza, ensinar e enganar os meus servos, para que se prostituam e comam dos sacrifícios da idolatria”(Ap 2:20). Amar não significa tudo aceitar. Ainda hoje, o amor tem sido usado como escudo para esconder o mal e permitir o pecado. Quantos casais caem no erro em nome do amor? Quantos falsos profetas e falsos mestres são tolerados em nome do amor?
Atualmente há algumas denominações evangélicas fazendo o que está em Ap 2:19, mas, também dentro delas existem falsos mestres e pastores fazendo o mesmo o que está descrito em Ap 2:20, ou seja, fazendo o mesmo que a falsa profetiza Jezabel fazia. Alguém poderá perguntar: “será que vemos isso nas igrejas evangélicas?”. Sim, infelizmente! E isto não é só de agora. Podemos inferir através do seguinte texto dirigido à igreja em Colossos: “Exterminai, pois, as vossas inclinações carnais; a prostituição, a impureza, a paixão, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria” (Cl 3:5). Satanás sempre procurou destruir a igreja, mas parece que ele ainda não percebeu que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela”(Mt 16:18).

IV. JEZABEL, E AS PROFUNDEZAS DE SATANÁS

Digo-vos, porém, a vós os demais que estão em Tiatira, a todos quantos não têm esta doutrina, e não conhecem as chamadas profundezas de Satanás, que outra carga vos não porei” (Ap 2:24). Satanás estava presente e ativo na Ásia quando Jesus enviou as cartas às sete igrejas. Satanás tinha sinagogas em Esmirna (Ap 2:9) e em Filadélfia (Ap 3:9), e um trono em Pérgamo (Ap 2:13). Em Tiatira, ele tinha uma profetisa, por nome Jezabel, que incentivava as pessoas a conhecerem as “coisas profundas de Satanás”. Para servir a Deus num ambiente cheio da influência do diabo, o discípulo de Cristo teria que lutar e confiar em Deus, na certeza da recompensa aos vencedores. Quando uma igreja cresce em qualidade Satanás fará de tudo para descontinuar o crescimento dessa igreja. Ele a persegue de todas as maneiras.
A igreja de Tiatira estava crescendo (Ap 2:19), por isso Satanás procurou corromper seu interior, em vez de atacá-la de fora para dentro. A perseguição não era física, mas camuflada. Essa é a pior perseguição, pois é sutil e quase imperceptível.
1. A Jezabel de Tiatira. Jezabel (esse nome é provavelmente simbólico) era evidentemente uma mulher que foi aceita dentro da comunhão da igreja (Ap 2:20). Seu ensino provavelmente advogava certa medida de transigência com alguma atividade que era implicitamente pagã. É possível que isso fosse associação com clubes sociais ou corporações em que os negócios diversos estavam organizados. Essas corporações cumpriam muitas funções admiráveis, e seguir alguma atividade comercial era quase impossível para quem não pertencesse a uma dessas corporações; não obstante, suas reuniões estavam inseparavelmente ligadas com atos de adoração e imoralidade pagãs.
Provavelmente Jesus tenha escolhido esse nome por representar toda a maldade da mulher do rei Acabe, rei de Israel. Foi Jezabel quem introduziu em Israel o culto pagão a Baal e misturou religião com prostituição (1Rs 6:31). Ela não só perseguiu os profetas de Deus(1Rs 18:4), mas também promoveu o paganismo. A Jezabel de Tiatira agiu de maneira semelhante, seduzindo os cristãos às práticas de idolatria e prostituição (ou imoralidade sexual literal, ou impureza espiritual).
Acredita-se que a Jezabel de Tiatira era uma devota da deusa Diana (ou Artemis, seu outro nome), e que, possuindo beleza e o dom da liderança, seguida de gente influente na cidade, e que, atraída à causa crescente do cristianismo, juntara-se à igreja, insistindo no privilégio de ensinar e praticar prazeres licenciosos, alegando que a sua doutrina era inspirada. Esse tipo de procedimento infame é o que o diabo tem usado para tentar destruir a igreja do Senhor Jesus. Sempre que a igreja começa a crescer e glorificar o Senhor com almas redimidas, o diabo contra-ataca, enviando pessoas dele para criarem divisões, intrigas, doutrinas falsas, adultérios, roubos, mentiras, enfim, toda a sorte de sujeira do seu reino para dentro da igreja, para tentar desmoralizá-la perante a opinião pública. Quando tudo isso não alcança o seu objetivo, ele providencia a perseguição por parte das próprias autoridades. Mas, a recomendação de Cristo é: “resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”(Tg 4:7).
2. O ministério de Jezabel. A Jezabel de Tiatira parecia ser usada pelo Espírito Santo, com dom de profecia. Entretanto, havia outro espírito agindo nela. Tinha aparência de espiritualidade, mas vivia na carnalidade. Suas palavras podiam ser agradáveis, mas suas obras eram malignas (Ap 2:20-22). Certamente Deus fala através de profecias, mas nem toda profecia vem de Deus. As mensagens proféticas devem ser julgadas à luz da bíblia (1Co 14:29). Precisamos rejeitar toda palavra que não esteja de acordo com as Sagradas Escrituras, principalmente aquela que nos induz ao pecado. É provável que essa “Jezabel” tenha profetizado na igreja, defendendo veladamente os alimentos sacrificados aos ídolos e a prostituição, mas o Senhor, zeloso por seus servos, levantou João, o verdadeiro profeta, para desmascarar aquele engano.
Além de “profetizar”, Jezabel ascendera à categoria de mestra na igreja(Ap 2:20), só que o seu ensino induzia os crentes a se desviarem da verdade. A igreja abriu as portas para essa mulher. Ela subia ao púlpito da igreja, exercia a docência na igreja e induzia os crentes ao pecado. A igreja não tinha pulso para desmascará-la e enfrentá-la. A proposta de Jezabel era oferecer uma nova versão do cristianismo, um cristianismo liberal, sem regras, sem proibições, sem legalismos. Ela queria modificar o cristianismo para se adaptar à moralidade do mundo. Ela ensinava uma prática ecumênica com o paganismo. Ela ensinava a igreja que a maneira de vencer o pecado era conhecer “as coisas profundas de Satanás” (Ap 2:24).
Assim como a Jezabel do Antigo Testamento havia corrompido o povo de Deus com imoralidade e idolatria, também a Jezabel de Tiaira ensinava que os cristãos podiam envolver-se com tais práticas sem pecar. É possível que incentivasse os cristãos a se afiliarem as associações de profissionais em Tiatira, um compromisso que envolvia o culto ao deus ou deusa da associação e a participação em festivais nos quais se consumiam coisas sacrificadas aos ídolos.
O ensino dela era que não há mérito em vencer um pecado sem antes experimentá-lo. O argumento dela é que, para vencer a Satanás, é preciso conhecê-lo e que o pecado jamais será vencido a menos que você tenha conhecido tudo por meio da experiência. O ensinamento perverso que estava por trás dessa falácia era: os pecados da carne podiam ser livremente tolerados sem prejuízo para o espírito. Mas a Bíblia diz que, nós os que para o pecado já morremos, não podemos viver no pecado (Rm 6:1,2).
Precisamos ficar atentos para esse tipo de pessoa dentro das igrejas. Não podemos nos iludir com aparência ou eloqüência dela, nem ficar impressionados com suas “profecias”, mas devemos observar seu modo de vida, pois seu exemplo pode influenciar muitos servos de Deus, levando-os ao pecado.
3. O tempo da misericórdia. O Senhor disse: “dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua prostituição, e não se arrependeu” (Ap 2:21). Tempo é oportunidade. Em todas as cartas temos a marca do amor de Cristo pela igreja e até pelos falsos. Até Jezabel teve sua oportunidade de arrependimento. Porém, não quis aproveitá-la. Enquanto o juízo não vem, pode-se pensar que Deus seja tolerante com o pecado, mas não é isso. Trata-se do tempo da misericórdia que antecede o julgamento e a sentença.
4. Consequências do pecado(Ap 2:21-23). Durante algum tempo, a falsa profetiza Jezabel esteve confortável na igreja de Tiatira, até que veio sobre ela o juízo de Deus e a consequência do seu pecado. Uma vez que Jezabel não queria arrepender-se, o Senhor lhe daria uma cama de tribulação em lugar de seu leito de lascívia. A Nova Versão Internacional diz que ela ficaria doente. Os que com ela cometeram adultério também seriam prostrados numa cama de grande tribulação, caso não se arrependessem das obras que a suposta profetiza incitava. Então, todas as igrejas saberiam que o Senhor está atento a todas as coisas e recompensa a cada um segundo as suas obras. A idolatria, a prostituição e o adultério não ficarão impunes, a não ser que haja arrependimento.
5. Purificação da igreja. Poderíamos perguntar: por que Deus permite a presença de pessoas assim na igreja? Mas, o Senhor está perguntando por que nós permitimos? Ele disse ao líder da igreja: “Tenho contra ti que toleras Jezabel...”. Era responsabilidade de o líder extirpar aquele mal do meio da congregação. Cabe ao líder zelar pela saúde doutrinária de sua comunidade eclesiástica e não confundir amor com omissão. Os crentes fracos devem ser ajudados, mas os que ensinam falsas doutrinas devem ser afastados do grupo. Não se pode tolerar a presença do lobo dentro do aprisco.
6. Perseverança dos salvos (Ap 2:24,25). Daqueles que não se contaminaram com os referidos pecados, o Senhor esperava perseverança. De nada adianta ser um cristão temporário, que se desvia diante da primeira tribulação. Precisamos ser perseverantes até a vinda do Senhor. O advérbio “até” nos dá idéia de continuidade, insistência, e fidelidade, a despeito das circunstâncias. Os que assim viverem, praticando a vontade do Pai, serão por Ele recompensados.
7. A recompensa dos vencedores (Ap 2:26-28). O vencedor em Tiatira era o cristão fiel que guardava firmemente as obras do cristianismo autêntico. Sua recompensa consistiria em reinar com Cristo no milênio. Teria “autoridade sobre as nações” e as regeria “com cetro de ferro”. A “brilhante Estrela da Manhã” é o Senhor Jesus(Ap 22:16). Assim como a “estrela da manhã” aparece no céu antes de o sol nascer, Cristo aparecerá como Estrela da manhã para arrebatar sua igreja ao Céu antes de vir como o Sol da justiça para reinar sobre a Terra(1Ts 4:13-18; Ml 4:2). O vencedor recebe, portanto, a promessa de que participará do arrebatamento. Amém!

CONCLUSÃO

O Senhor reconheceu realidades boas dentro da igreja em Tiatira: muito trabalho, amor pelos pobres, demonstrações de fé, obras assistenciais de grande tamanho, etc. Mas, também, Jesus viu problemas nela. Não basta a Igreja ter estas qualidades, tem que haver temor do Senhor, respeito pela sua Palavra, santificação dos seus membros, ensinamento de renuncia pelo mundo, busca do Reino dos céus, unidade do corpo de Cristo.
Um dos grandes enganos de Satanás é induzir os crentes a pensar que precisam buscar novidades para terem uma experiência mais profunda com Deus. Não precisamos buscar fora das Escrituras inovações, modismos. Tudo está feito. O banquete da salvação está preparado e completo. O que precisamos é tomar posse da vida eterna, reconhecer o que Deus já nos deu, apropriarmo-nos das insondáveis riquezas de Cristo. A provisão de Deus para nós é suficiente para uma vida plena até a volta de Jesus (Ap 2:25). Precisamos permanecer firmes e fiéis, conservando essa herança até o fim. Amém?

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

William Macdonald – Comentário Bíblico popular (Antigo Testamento).

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 50.

O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.

Comentário Bíblico Beacon – CPAD.

Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.

Rev.Hernandes Dias Lopes – Ouça o que o Espírito diz às Igrejas.






















domingo, 22 de abril de 2012

Aula 05 - PÉRGAMO, A IGREJA CASADA COM O MUNDO


Texto Básico: Apocalipse 2:12-17

“Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo”(1João 2:15,16)

INTRODUÇÃO

Nesta aula estudaremos a respeito da carta de Jesus enviada ao pastor da igreja em Pérgamo. Havia um perigo que estava assaltando a essa igreja: a linha divisória entre a verdade e a heresia. Manter-se fiel ao Senhor em meio à sociedade idólatra de Pérgamo não era nada fácil. Porém, mesmo passando por muitas perseguições, os crentes de Pérgamo eram fiéis e não negaram a fé em Jesus. A despeito de sua fé inabalável, faltava-lhes um dom indispensável na igreja: o dom do discernimento bíblico e espiritual para combater os falsos ensinos. Alguns membros da igreja toleravam os pseudomestres e práticas contrárias à Palavra de Deus. Sustentavam a “doutrina de Balaão” e defendiam a “doutrina dos nicolaítas” (Ap 2:14-15). A palavra para a igreja em Pérgamo é dura. Aqueles que seguirem as falsas doutrinas e, consequentemente, incorrerem em frouxidão cultual e moral, enfrentarão a espada da boca de Cristo (Ap 2:16). Essa espada está ligada ao derramamento do furor da ira de Deus sobre os ímpios, os não salvos.
A carta do Senhor Jesus endereçada à igreja em Pérgamo, também, é um alerta à igreja contemporânea sobre o perigo que ela corre caso se misture com o engano doutrinário e com a imoralidade do mundo, e esqueça-se de sua missão como agência do Reino de Deus. Essa carta é endereça a você, a mim, a nós. Não é uma mensagem diante de nós, mas a nós.
Como a igreja contemporânea pode permanecer na verdade sem se misturar com as heresias e com o mundanismo? Como uma igreja que é capaz de enfrentar o martírio pode permanecer fiel diante da tática da sedução? Manejando bem a Espada do Espírito – a Palavra de Deus – subjugaremos os ardis de Satanás.
I. PÉRGAMO, O TRONO DE SATANÁS.
Satanás não apenas habitava na cidade de Pérgamo, mas lá estava seu trono. O trono de Satanás é marcado pela pressão e pela sedução. Onde Satanás reina predomina a cegueira espiritual; floresce o misticismo; propaga-se o paganismo, a mentira religiosa, bem como a perseguição e a sedução ao povo de Deus. Em Pérgamo estava um panteão, onde vários deuses eram adorados; isso atentava contra o Deus criador. Em Pérgamo as pessoas buscavam a cura através do “poder” da serpente; isso atentava contra o Espírito Santo, de onde emana todo o poder. Em Pérgamo estava o culto ao imperador, onde as pessoas queimavam incenso e o adoravam como Senhor; e isso conspirava contra o Senhor Jesus, o Rei dos reis e Senhor dos senhores.
1. Pérgamo, a cidade dos livros e da ignorância espiritual. O único livro do Novo Testamento que cita a cidade ou a igreja em Pérgamo é o Apocalipse. A cidade de Pérgamo foi construída sobre uma colina, cuja altura chegava a 300 metros acida da região que a circundava, sendo, portanto, uma fortaleza natural. Com a ajuda dos romanos, Pérgamo ganhou independência dos selêucidas em 190 a.C., e passou a fazer parte do império romano a partir de 133 a.C. Durante mais de 200 anos, foi a capital da província romana da Ásia. Era uma cidade sofisticada, centro da cultura e da educação grega, com uma biblioteca de aproximadamente 200 mil volumes (era a maior biblioteca fora de Alexandria, Egito). Foi o povo de Pérgamo que começou a usar peles de animais para fazer pergaminho, substituindo o papiro.
Apesar se ser considerada a cidade dos livros era também o centro da ignorância espiritual. Nela existiam quatro seitas idólatras principais - a Zeus, Dionísio, Asclépio (figura de uma serpente) e Atenas. Por ser o centro dessas seitas malignas, Pérgamo tinha o nome de cidade “onde está o trono de Satanás”(Ap 2:13). O principal deus dessa cidade, Asclépio (o deus da cura e da medicina), tinha como símbolo uma serpente, que fora entronizada na cidade de Pérgamo por uma mulher chamada Nicágora, que era como uma espécie de bruxa, feiticeira. Como Asclépio (a serpente) era considerado o deus que curava as enfermidades, muitas pessoas, de todas as partes do mundo, iam procurar nele o alívio de seus males; então se adorava a serpente Asclépio; por isso o Senhor diz: “onde está o trono de Satanás”.
Até hoje em dia, médicos e farmacêuticos têm um símbolo de uma serpente enrolada; umas são com duas cabeças, outros com uma cabeça chegando a beber de uma taça; pode-se ver isso no escudo desses profissionais.
Hoje em dia, a cidade de Pérgamo já não existe, foi totalmente varrida. Abaixo do lugar onde ficava Pérgamo que era um planalto, há um vilarejo que recorda o nome de Pérgamo e que se chama Bérgama.
2. A igreja em Pérgamo. É provável que a igreja de Cristo em Pérgamo tenha sido implantada quando da estada de Paulo em Éfeso(At 20:31). Essa igreja encontrava-se inserida numa cidade marcada pela idolatria, onde o trono de Satanás estava estabelecido (Ap 2:12). Embora cercada pela adoração a Satanás, e tendo o imperador romano como um deus, a igreja em Pérgamo recusava-se a renunciar à sua fé, mesmo quando os adoradores de Satanás martirizaram o fiel Antipas, um de seus membros (Ap 2:13).
Não era fácil ser cristão em Pérgamo; os crentes estavam sujeitos a sofrer uma grande pressão a fim de transigir e abandonar a fé de Cristo. Nunca é fácil nos colocarmos com firmeza contra as intensas pressões e tentações da sociedade, mas a alternativa é a morte (Ap 2:11). Procure cooperar tanto quanto possível com as pessoas, mas evite qualquer aliança, sociedade ou participação que possa levar as práticas idolátricas e imorais. Saiba que Jesus Cristo está de olho no comportamento dos seus fiéis – “eu sei as tuas obras...”.
Pérgamo significa casado, portanto a igreja precisa lembrar-se que está comprometida com Cristo; é a noiva de Cristo e precisa se apresentar como uma esposa santa, pura e incontaminada.

II.  A ESPADA DE DOIS GUMES

A igreja em Pérgamo conservava o nome de Cristo, pois não havia renegado a fé (2:13). No entanto, o Senhor dirige-se a ela em termos de juízo fulminante. Ele é aquele que tem “a espada afiada de dois gumes” (2:12). Trata-se da Palavra de Deus(Hb 4:12), com a qual ele julgará os malfeitores na congregação(cf Ap 2:16).
1. A espada afiada de dois gumes. A espada representa autoridade e o poder para julgar e castigar. Cristo não apenas está no meio da igreja (Ap 1:13), mas ele está andando, em ação investigatória, no meio dela (Ap 2:1). Assim como os romanos usavam a espada para impor sua autoridade e seus juízos, a espada de Jesus, com dois gumes afiados, representa a suprema autoridade e o supremo juízo de Deus. Ela também pode representar a futura separação entre os crentes e os incrédulos. Os incrédulos jamais poderão experimentar a eterna recompensa de viver no Reino de Deus.
Há muitos males que atacam a igreja: esfriamento, perseguição, heresia, imoralidade, presunção e apatia. Mas Cristo se apresenta para cada igreja como o remédio para seu mal. Para a igreja de Pérgamo que estava se misturando com o mundo, que estava em conflito entre a verdade e o engano (Ap 2:14), Jesus se apresenta como aquele que tem a espada afiada de dois gumes, que exerce juízo e separa a verdade do engano. A Palavra de Deus - que é a Espada do Espírito (Ef 6:17; Hb 4:12) -, é a única arma poderosa contra as heresias, modismos e apostasias.
2. Manejando bem a espada do Espírito. A “espada do Espírito” é a Palavra de Deus(Ef 6:17). Ela é a arma ofensiva do crente, para uso na guerra contra o poder do mal. Sem ela não há nenhuma possibilidade de vitória contra as mentiras, que chegam travestidas de verdades; as heresias, os misticismos e modismos que insistem brotar em nossas igrejas locais. Não é à toa que Satanás tem feito todos os esforços possíveis para subverter ou destruir a confiança do crente na Palavra. A recomendação do apóstolo Paulo a Timóteo foi que seus esforços teriam de estar concentrados em se tornar um obreiro que não tem de que se envergonhar, e fazer isso como alguém que “maneja bem a Palavra da verdade”(2Tm 2:15). Isso significa ministrar as Escrituras corretamente, seguir à risca.
Hoje em dia, infelizmente, três quartos do tempo do culto são dedicados ao louvor, o que tem causado grande prejuízo espiritual ao povo de Deus. Vivemos o tempo do “louvorzão” e da “palavrinha”. Desta feita, a maioria dos que cristãos dizem ser está sem habilidade de manejar a Espada do Espírito, ou seja, está despreparado para a guerra.
Enquanto soldados de Cristo, militando o bom combate aqui na terra, estamos sujeitos às tentações e males dentro e fora da igreja. Portanto, temos de andar de acordo com as leis do Espírito, lutando sempre com as armas espirituais disponíveis a nós, dentre elas, a Palavra de Deus - a espada do Espírito (ler Ef 6:11-18).
Esta é a única arma que Jesus usará em sua segunda vinda. Com ela, ele aniquilará o poder do anticristo e também destruirá os rebeldes e apóstatas. A mensagem da verdade se tornará a mensagem do julgamento. Deus nos fará responsáveis por nossa atitude em face da verdade que conhecemos. Jesus diz que sua própria palavra é que condenará o ímpio no dia do juízo (João 12:47,48). A palavra salvadora tornar-se-á juiz; a espada benfazeja transformar-se-á em carrasco.
III. O DESTINATÁRIO
A carta foi destinada ao anjo da igreja - “E ao anjo da igreja que está em Pérgamo...”(Ap 2:12). Quem é esse anjo? Alguns intérpretes pensam que são seres celestiais enviados como mensageiros de Deus. Outros crêem que sejam anjos guardiões, um para cada congregação. Entretanto, a interpretação mais consistente, bíblica e historicamente, é que "anjo" aqui deve ser entendido como o pastor da igreja. Isso mostra que o líder é o responsável perante o Senhor, que estabeleceu uma hierarquia ministerial para a sua Igreja (1Co 12:28; At 15:6,22; Ne 8:5).
1. Um pastor numa cidade infernal. A igreja em Pérgamo se encontrava numa situação difícil. Por todos os lados, os vizinhos praticavam idolatria e davam honra aos governantes romanos. Os cristãos não abandonaram a verdade do Senhor, o único verdadeiro Soberano. Mas, tanta influência de falsas doutrinas teve um impacto negativo na igreja, poluindo a congregação com doutrinas falsas que incentivavam os irmãos a praticaram idolatria e imoralidade. Jesus chama a igreja ao arrependimento para evitar o castigo divino – “Arrepende-te, pois, quando não em breve virei a ti, e contra eles batalharei com a espada da minha boca”(Ap 2:16).
Cristo não apenas conhece as obras da igreja e suas tribulações, mas também conhece a tentação que assedia a igreja, conhece o ambiente em que ela vive. Cristo sabe que a igreja está rodeada por uma sociedade não cristã, com valores mundanos, com heresias bombardeando-a a todo instante.
Apesar de Pérgamo ser uma cidade infernal, o Senhor queria que o líder da igreja nessa cidade permanecesse ali e desse fiel testemunho de Cristo, mesmo que isso resultasse na mais cruenta morte como foi a de Antipas. O autêntico cristão é cônscio de que a perseguição faz parte da caminhada, já que Cristo nos advertiu nesse sentido (Mt 5:11,12; Lc 11:48,51; 21:12; Mc 4:17; João 15:20). Não devemos temê-la, cientes de que a venceremos pela fé em Cristo (1João 5:4). A Igreja sempre prevalecerá.
2. O testemunho e a perseverança de um pastor – “... reténs o meu nome e não negaste a minha fé...” (Ap 2:13). Jesus elogia a perseverança do pastor e dos cristãos de Pérgamo, que foram fiéis à fé de Jesus, mesmo sob perseguição intensa. Ser fiel a Deus no meio das bênçãos é muito fácil. Agora, Ele espera que sejamos fiéis também no momento da dificuldade. Nossa fidelidade deve ser incondicional. Se Deus nos abençoar, seremos fiéis; se ele não nos abençoar em determinada situação, devemos continuar sendo fiéis.
Devemos imitar a perseverança do pastor e dos discípulos em Pérgamo, mantendo firme a nossa fé, mesmo se encararmos ameaças e perseguições. Servimos um Deus puro, e devemos manter e defender a doutrina pura que ele revelou. Qualquer doutrina que incentiva a idolatria ou a imoralidade vem do diabo, logo, deve ser evitada.
Para aqueles que perseveram até o final receberão a recompensa. Na carta à igreja em Pérgamo, a bênção para o vencedor é descrita em três partes. Jesus disse que os vencedores:
a) Comerão do Maná escondido (Ap 2:17). O maná escondido refere-se ao banquete permanente que teremos no Céu. Aqueles que rejeitam o luxo das comidas idólatras nesta vida terão o banquete com as iguarias de Deus no Céu. No deserto, Israel recebeu o maná - o pão de Jeová (Êx 16:15); era alimento celestial (Sl 78:24). Jesus é o maná dado pelo Pai (veja João 6:31-58). Ele sustenta os fiéis e lhes dá vida. No tribunal de Cristo, receberemos o maná escondido, e Jesus será para nós nosso alimento e deleite por toda a eternidade.
b) Receberão uma pedrinha branca (Ap 2:17). A pedrinha branca pode incluir vários significados, conforme os costumes da época. Pedras brancas foram usadas para indicar a inocência de pessoas acusadas de crimes; Jesus inocenta os seus seguidores fiéis. Pedras brancas foram dadas a escravos libertados para mostrar sua cidadania; os fiéis não são mais escravos do pecado, pois se tornaram cidadãos da pátria celestial (Fp 3:20). Era usada também como bilhete de entrada em festivais públicos; a pedrinha branca é símbolo de nossa admissão no céu, na festa das bodas do Cordeiro (ler Ap 19:6-9). Também foram dadas aos vencedores de corridas e aos vitoriosos em batalha; os fiéis são vencedores que receberão o prêmio (2Tm 4:7-8).
c) Receberão um novo nome (Ap 2.17). Um nome novo, frequentemente, sugeria uma nova direção na vida, especialmente de uma pessoa abençoada por Deus (exemplos: A Abrão, foi dado um novo nome: Abraão; Sarai, foi alterado para Sara; A Jacó, foi dado o nome de Israel). Em Isaías 62:2-4, Desamparada e Assolada recebem nomes novos. “Desamparada” significa “meu prazer está nela”, e “Assolada” significa “desposada”, indicando que Deus tinha renovado seu concerto com Jerusalém. Veja, também, Ap 3:12.
Portanto, receberemos um novo nome, pois pertencemos à família de Deus, seremos herdeiros de Deus e entraremos na cidade santa pelas portas!
3. Antipas, a fiel testemunha – “... Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás abita”(Ap 2:13). Antipas significa contra todos. Ele se levantou contra todos e contra todas as falsas doutrinas que foram aparecendo. Acabou morrendo, assim como todos os que seguiram suas pisadas. Apesar de não termos informações adicionais sobre Antipas o mesmo é chamado de “minha testemunha”, sendo que a palavra grega é a mesma de Apocalipse 1:5 (mártir). É possível que tal homem tenha comprovado sua fidelidade ao colocar-se contrário à cultura pecaminosa de Pérgamo. Segundo Tertuliano, “Antipas foi colocado dentro de um boi de bronze, e este foi levado ao fogo até ficar vermelho, morrendo o servo de Deus sufocado e queimado." Ele resistiu à apostasia até a morte. Agora, caberia o atual pastor da igreja em Pérgamo dar continuidade a luta de Antipas. Sua missão era semelhantemente árdua, pois teria de confrontar os que detinham a doutrina de Balaão e sustentavam o ensino dos nicolaitas.
IV. AS HERESIAS DE PÉRGAMO
Ao estudar a Igreja de Esmirna, vimos que Satanás usou de sua primeira estratégia para banir os cristãos da face da terra: a perseguição física. Porém, Satanás aprendeu que, quanto mais perseguia os cristãos, mais a Igreja prosperava e permanecia. Portanto, perseguir não foi uma estratégia bem sucedida por parte do inimigo. Agora Satanás muda a estratégia, não mais violenta e ostensiva, e dá um golpe muito forte, e infelizmente de muita inteligência: Satanás passa a contaminar a Igreja para tentar extingui-la; sutilmente, provocava a união do paganismo com o cristianismo. Na igreja em Pérgamo, havia crentes que permaneciam fiéis, enquanto outros estavam se desviando da verdade.
Hoje, como aconteceu na igreja em Pérgamo, a perseguição é camuflada. Satanás, sutilmente, está usando pessoas de dentro da igreja (falsos mestres e falsos pastores) para persegui-la, com disseminação de falsas teologias, falsas doutrinas, falsos ensinos. A proposta agora não é substituição, mas mistura; não é apostasia aberta, mas ecumenismo. Alguns membros da igreja começaram a abrir a guarda e a ceder diante da sedução do engano religioso. Em uma mesma igreja há gente fiel às Escrituras, disposta a sofrer por Cristo e gente que transige com a sã doutrina, que se entrega às novidades do mercado da fé e que se desvia da verdade. Peçamos a Deus o dom de discernimento, ele é indispensável nestes últimos dias da Igreja.
A seguir, as duas figuras mostradas na carta à igreja em Pérgamo que provam a entrada do paganismo na igreja (Ap 2:14,15).
1. Doutrina de Balaão. Em Pérgamo, enquanto havia gente disposta a morrer por Cristo, alguns crentes estavam seguindo a doutrina de Balaão (Ap 2:14,15). O grande problema era que, enquanto uns sustentavam a doutrina de Balaão, os demais membros da igreja se calaram em um silêncio estranho. A infidelidade aninhou-se dentro da igreja com a adesão de uns, e o conformismo dos outros. A igreja tornou-se infiel.
A doutrina de Balaão sancionava o consumo de coisas sacrificadas a ídolos e a prostituição. A descrição da doutrina de Balaão refere-se à história do Velho Testamento (Nm 22-25; 31:16). No final dos 40 anos de peregrinação, os israelitas chegaram perto da terra prometida. Acamparam-se nas campinas de Moabe, e os moabitas e midianitas ficaram amedrontados. Balaque, rei de Moabe, chamou Balaão para amaldiçoar o povo, mas Deus frustrou todas as suas tentativas de falar contra os israelitas. Balaão desistiu de suas maldições, mas procurou outra maneira de vencer o povo de Israel. Deu o conselho de convidá-los a participarem de uma festa idólatra. Nesta festa, muitos israelitas se envolveram na idolatria e na imoralidade, e Deus mandou uma praga que matou 24.000 israelitas(Nm 25:9).
Balaão foi um falso profeta que prostituiu seus dons com o objetivo de ganhar dinheiro. Ele era do tipo de pessoa que prega em troca de lucro financeiro. O deus de Balaão era o dinheiro. Por ganância, aconselhou Balaque a enfrentar Israel não com um grande exército, mas com pequenas donzelas sedutoras. Aconselhou a mistura, o incitamento ao pecado. Aconselhou a infiltração, uma armadilha. Assim, os homens de Israel participariam de suas festas idólatras e se entregariam à prostituição. E o Deus santo se encheria de ira contra eles, e eles se tornariam fracos e vulneráveis. Assim está escrito: "Ora, Israel demorava-se em Sitim, e o povo começou a se prostituir com as filhas de Moabe, pois elas convidaram o povo aos sacrifícios dos seus deuses; e o povo comeu e inclinou-se aos seus deuses. Porquanto Israel se juntou a Baal Peor, a ira do Senhor se acendeu contra ele"(Nm25:1,3). Era o que acontecia em Pérgamo.
Portanto, a “doutrina de Balaão” refere-se a mestres e pregadores corruptos que, em Pérgamo, levavam suas congregações à transigência fatal com a imoralidade, a idolatria e o mundanismo; tudo por amor à promoção pessoal ou vantagem financeira. Segundo parece, a igreja em Pérgamo tinha mestres que ensinavam ser a fé salvífica em Cristo compatível com a prática da imoralidade.
O pecado enfraquece a igreja. A igreja só é forte quando é santa. Sempre que a igreja se mistura com o mundo e adota seu estilo de vida, ela perde seu poder e sua influência.
2. A doutrina dos nicolaitas. É impossível dizer ao certo qual era a doutrina dos nicolaítas. De acordo com vários estudiosos da Bíblia, os nicolaítas eram libertinos e ensinavam que quem estava debaixo da graça podia praticar a idolatria e cometer pecados sexuais. Os nicolaítas ensinavam que o crente não precisa ser diferente. Quanto mais ele pecar maior será a graça, diziam. Quanto mais ele se entregar aos apetites da carne, maior será a oportunidade do perdão. Eles faziam apologia ao pecado. Eles defendiam que os crentes precisam ser iguais aos pagãos. Eles deviam se conformar com o mundo. Por essa razão, Jesus odiava as obras dos nicolaítas e elogia os efésios por rejeitar esses ensinamentos (Ap 2:6). Infelizmente, a igreja em Pérgamo tolerava esses falsos mestres.
Deus condena a tolerância de falsas doutrinas. Às vezes, os homens valorizam tanto a unidade entre pessoas (dentro de uma congregação ou até entre congregações diferentes) que desvalorizam a doutrina pura de Jesus. Toleram falsos ensinamentos e até práticas proibidas, como a imoralidade e a idolatria, mas insistem na importância de manter uma “igreja unida”. Se persistir nesse erro, o próprio Jesus trará o castigo. A unidade entre discípulos é importante, mas a pureza da palavra é mais importante do que a paz entre homens (Tiago 3:17). Uma igreja que serve a Jesus necessariamente rejeitará falsos mestres e suas doutrinas erradas.

CONCLUSÃO

Pérgamo é aqui! Muitas igrejas estão passando por uma grande crise doutrinária! Estão sofrendo forte influencias de modismos doutrinários, como, por exemplo, “a quebra de maldição hereditária”, a “teologia da prosperidade”, etc., sem falar dos modelos “mercadológicos” de algumas neoigrejas pentecostais. Na questão moral é bastante assustador o que está ocorrendo. Inúmeros divórcios, envolvendo pastores, e pior ainda, estão ocorrendo com os motivos fúteis e escandalosos. A consequência disso é a banalização do divórcio entre os membros da igreja. Se os pastores podem, podemos também, afirmam alguns. Se eles não são disciplinados, não podem também nos disciplinar, declaram outros. Além da questão do divórcio, há os escândalos sexuais, que envolvem do adultério à pedofilia. Portanto, Pérgamo é aqui no Brasil!
Diante destes fatos escabrosos, a única saída está no arrependimento e abandono de tais práticas: “Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca” (Ap 2:16).
As Escrituras já previam que o mundo invadiria a igreja nos últimos dias. Por isso, o maligno tem alcançado tantos resultados no meio do povo que se diz crente. Entretanto, a mesma Bíblia que disse que isto aconteceria também afirmou que as portas do inferno não prevaleceriam contra a igreja. Temos pouca força, mas o Senhor prometeu que estaria conosco. Isto nos dá uma esperança, não nos permite que desanimemos diante de tanto desvio espiritual, diante de tanta apostasia.
Jesus está voltando, e para aqueles que conseguem ouvir e atender ao seu alerta, em vez de se irritarem diante das verdades aqui expostas, fica a promessa: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor, dar-lhe-ei do maná escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca, e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe” (Ap 2.17).
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
William Macdonald – Comentário Bíblico popular (Antigo Testamento).
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Revista Ensinador Cristão – nº 50.
O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.
Comentário Bíblico Beacon – CPAD.
Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.
Rev.Hernandes Dias Lopes – Ouça o que o Espírito diz às Igrejas.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

UM HOMEM TOLO É MUITO PERIGOSO


“Melhor é encontrar-se uma ursa roubada dos filhos do que o insensato na sua estultícia” (Pv 17.12).


Uma ursa, quando é roubada de seus filhos, fica muito violenta. Aproximar-se dela é colocar a vida em risco.  A ursa é brava, forte, rápida c violenta. Não é sensato tentar medir força com ela, nem é seguro enfrenta-la cara a cara. Pois o sábio diz que lidar com uma ursa roubada dos filhos é melhor do que se encontrar com um homem sem juízo, ocupado em sua estultícia.
O homem tolo é um laço de morte. Ele é assaz perigoso. Suas palavras são como uma armadilha. Suas atitudes são néscias e comprometedoras. Sua reação é intempestiva e violenta.
Não é prudente lidar com pessoas irresponsáveis. Não é sensato conviver com aqueles que vivem dissolutamente.
O primeiro degrau da felicidade é não darmos guarida aos conselhos perversos dos ímpios, afastarmos nossos pés do caminho dos pecadores e não nos envolvermos nos esquemas dos escarnecedores.
O apóstolo Pedro abandonou Jesus no Getsêmani, seguiu-o de longe até o pátio do sumo sacerdote, mas, quando se misturou com os escarnecedores, negou-o três vezes, e isso de forma vergonhosa.
O filho pródigo, enquanto vivia na casa do pai, estava protegido da dissolução, mas, ao rumar para um país distante, envolveu-se em muitas aventuras e gastou todos os seus bens, vivendo dissolutamente.
Não ande com os tolos. Não se ponha a caminho com os insensatos.


Rev. Hernandes Dias Lopes
Gotas de Sabedoria para a alma

domingo, 15 de abril de 2012

Aula 04 - ESMIRNA, A IGREJA CONFESSANTE E MÁRTIR


Texto Básico: Ap 2:8-11



“Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida”(Ap 2:10).



INTRODUÇÃO


“Esmirna” vem de “mirra”, uma erva amarga. Logo, “Esmirna” significa amargura, um nome bem característico para uma igreja que estava enfrentando perseguição. Esmirna foi uma igreja sofredora, perseguida, pobre, caluniada, que enfrentou a própria morte, mas foi uma igreja que só recebeu elogios de Cristo. Aliás, dentre as sete igrejas que receberam cartas, somente duas receberam elogios, a saber, Esmirna e Filadélfia. Sabemos que não há igreja local isenta de imperfeições, mas na carta endereçada à igreja em Esmirna não foram apresentadas pelo Senhor as suas imperfeições. Isso deve nos servir de lição: uma igreja pobre e perseguida não recebeu repreensões do Senhor, mas elogios, não porque era pobre e perseguida, e sim porque era fiel a Jesus.
A igreja de Esmirna representa todas as igrejas, em todos os tempos, que sofreram e sofrem agruras por causa do evangelho, da sua fé e fidelidade a Cristo Jesus. Ser cristão em Esmirna representava o risco de perder os bens e a própria vida. A fidelidade até a morte era a marca dessa igreja. Devemos aprender com essa igreja a sermos fiéis a Cristo e aos seus mandamentos.

I. ESMIRNA, UMA IGREJA MÁRTIR


1. Esmirna, uma cidade soberba. "Esmirna era a mais bela cidade da Ásia menor. Era considerada a coroa desse continente. Próspero centro portuário possuía um pitoresco cenário natural. Fazia fronteira com o mar Egeu, sendo ladeada por uma montanha circular chamada Pagos. Nela, havia templos pagãos e edifícios públicos que lhe davam a aparência de una coroa. As ruas bem pavimentadas e delineadas por arvoredos acentuavam-lhe a beleza... Séculos antes, Alexandre, o grande, determinara fazer de Esmirna a cidade-modelo da Grécia. Sua vida cultural florescia. Ela ostentava magnífica um monumento ao seu filho mais ilustre - Homero. Aqui, achava-se também o maior teatro da Ásia. Seu orgulho e beleza estavam gravados em suas moedas.... Todos os deuses eram abertamente adorados em Esmirna. Mas, nesta perversa cidade, havia um pequeno rebanho de Cristo... Em Esmirna não era fácil ser cristão. Muitos eram perseguidos e mortos por sua fé. Ser chamado cristão, aqui, era sobremodo perigoso" (Alerta Final, CPA D, pp. 95 e 96).

Na condição de centro religioso, em Esmirna eram adorados os deuses Cibele, Apolo, Asclépio, Afrodite e Zeus. O culto ao imperador, que incluía a queima de incenso à imagem de César, foi bastante difundido e praticado em Esmirna. Conforme Kistemaker, em 26 d.C. ela dedicou um templo ao imperador Tibério e se gabava de ser a principal no culto ao imperador (KISTEMAKER, Simon. Apocalipse. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 163-164).

“No ano 26 d.C, quando as cidades da Ásia Menor competiam pelo privilégio de construir um templo ao imperador Tibério, Esmirna ganhou de Éfeso”(STOTT, John. O que Cristo pensa da Igreja, p. 29). Para a igreja dessa cidade, Jesus disse: "Sê fiel até a morte".

Esmirna tinha um estádio onde todos os anos se celebravam jogos atléticos famosos dos quais participavam atletas procedentes de todo o mundo; os jogadores disputavam uma coroa de louros. Para os crentes fiéis dessa cidade, Jesus prometeu a coroa da vida.

2. A igreja em Esmirna. Não há registros específicos da chegada do Evangelho e da fundação da igreja em Esmirna, mas podemos sem problema inferir que ela tenha sido estabelecida por influência dos ensinos de Paulo, quando este esteve em Éfeso por ocasião de sua terceira viagem missionária. Perceba isto analisando o contesto de Atos 19.10: “Durou isto por espaço de dois anos, dando ensejo a que todos os habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor Jesus, tanto judeus como gregos”.  

Como na grande maioria dos casos, na medida em que foi estabelecida pela pregação do Evangelho, a igreja em Esmirna começou a provocar e a vivenciar algumas tensões, inquietações e desconfortos, que aos poucos se transformou numa violenta e cruel perseguição. Os crentes em Esmirna estavam sendo atacados e mortos. Eles eram forçados a adorar o imperador como se fosse Deus. Segundo relatos históricos, de uma única só vez 1.200 crentes foram lançados do alto do monte Pagos. Em outro momento, lançaram 800 crentes. Os crentes estavam morrendo por causa de sua fé e fidelidade a Deus.

Um dos mais notáveis bispos de Esmirna foi Policarpo (69-155 d.C), que morreu queimado numa fogueira. Diante do carrasco romano, não negou a fé em Cristo. William Hendriksen, assim descreve esse fato: “É possível que Policarpo fosse o bispo da igreja de Esmirna naquele tempo. Era um discípulo de João. Fiel até a morte, esse dedicado líder foi queimado vivo em uma fogueira no ano 155 d.C. Seus algozes pediram-lhe que dissesse: "César é Senhor", mas ele recusou a fazê-lo. Levado ao estádio, o procônsul instou com ele, dizendo: "Jura, maldiz a Cristo e te porei em liberdade”. Policarpo lhe respondeu: "Sirvo a Cristo há oitenta e seis anos, e ele nunca me fez mal, só o bem. Então como posso maldizer o meu Rei e Salvador?" [...]. Depois de ameaçá-lo com feras, o procônsul lhe disse: "Farei que sejas consumido pelo fogo". Mas Policarpo respondeu: "Tu me ameaças com fogo que queima por uma hora e depois de um pouco se apaga, mas tu és ignorante a respeito do fogo do juízo vindouro e do castigo eterno, reservado para os maus. Mas, por que te demoras? Faze logo o que queres [...J". Assim Policarpo foi queimado vivo em uma pira”(HENDRIKSEN, William. Mas que Vencedores, p. 72-73).

A promessa de Jesus é clara: "O vencedor de modo algum sofrerá a segunda morte" (Ap 2:11). “Podemos enfrentar a morte e até o martírio, mas escaparemos do inferno, que é a segunda morte, e entraremos no céu, que é a coroa da vida. Precisamos ser fiéis até a morte, mas a segunda morte não poderá nos atingir. Podemos perder nossa vida, mas a coroa da vida nos será dada”(Rev. Hernandes Dias Lopes).

3. Esmirna, confessante e mártir. A igreja em Esmirna era confessional e mártir. Diante do martírio foi exortada a ser fiel até a morte (Ap 2:10). Não é apenas fidelidade até o último instante da vida, mas, sobretudo, fidelidade até às últimas consequências.

Devemos não apenas viver pela fé, mas, se preciso for, devemos estar prontos para morrer pela fé. O martírio pode ser o cálice amargo que precisaremos beber. Os imperadores romanos, os déspotas e o anticristo podem até matar os crentes, mas estes jamais enfrentarão a morte eterna. Jesus disse: “O que vencer não sofrerá o dano da segunda morte” (Ap 2:11). Jesus está mostrando que não devemos ter medo dos homens. Mesmo que nosso sangue seja derramado; mesmo que selemos nossa fé com nosso sangue; mesmo que os homens nos despojem de todos nossos bens; mesmo que eles nos tirem nossa família e até nossa vida, eles jamais poderão nos roubar a vida eterna.

A salvação é uma dádiva de Deus que jamais poderá ser tirada de nós. Essa salvação é o melhor tesouro, é a pérola de grande valor. Que o digo o destemido apóstolo Paulo: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!”(Rm 8:35-39).

II. APRESENTAÇÃO DO MISSIVISTA


Cristo é o missivista. Ele valoriza tanto a Sua igreja que Ele se dá a conhecer no meio dela e não à parte dela. Hoje, muitas pessoas querem Cristo, mas não a igreja. Isso é impossível. A atenção de Cristo está voltada para a Sua igreja. Ela ocupa o centro da Sua atenção.

1. O Primeiro e o Último - “E ao anjo da igreja que está em Esmirna escreve: Isto diz o Primeiro e o Último”(Ap 2:8). Essa expressão aponta para a eternidade de Jesus Cristo. É essencialmente o mesmo que “Alfa e Ômega”, título dado ao Todo-Poderoso Deus (Ap 1:8), que representam a primeira e a última letra do alfabeto grego. Deus é o Alfa (Criador) e Ômega (aquele que faz novos Céus e nova Terra). Ele é Senhor de todos (no passado, presente e futuro), como sugerido pela expressão “que é, que era, e que há de vir” (Ap 2:8). A cidade de Esmirna tinha a pretensão de ser a primeira, mas Jesus diz: "Eu sou o Primeiro e o Último" (Ap 1:17). Jesus é o Criador, Sustentador e Consumador de todas as coisas como o Supremo Juiz (João 5:27; Rm 2:16; 2Tm 4:1). Ele cria, controla, julga e plenifica todas as coisas. Glórias sejam dadas ao seu glorioso nome! Portanto, os que se levantavam contra Esmirna já estavam julgados e condenados, a menos que se arrependessem de suas más obras.

2. Esteve morto e tornou a viver – “... foi morto e reviveu (Ap 2:8). Para a igreja de Esmirna, que estava passando pelo sofrimento, perseguição e morte, enfrentando o martírio, Jesus se apresenta como aquele que esteve morto e tornou a viver, mostrando que a morte não é o fim para aqueles que professam o nome do Senhor. O Jesus que venceu a morte é o remédio para alguém que está enfrentando a perseguição e a morte.

III. AS CONDIÇÕES DA IGREJA EM ESMIRNA


1. Tribulação (Ap 2:9,10). Com grande ternura, o Senhor diz a seus santos sofredores que tem pleno conhecimento da sua tribulação: “Eu sei as tuas obras, e tribulação...”(Ap 2:9). A igreja de Esmirna estava atravessando um momento de prova, e o futuro imediato era ainda mais sombrio. A igreja estava sendo espremida debaixo de um rolo compressor. A pressão dos acontecimentos pesava sobre a igreja e a força das circunstâncias procurava forçar a igreja a abandonar sua fé. Mas os cristãos não deviam temer nenhuma das coisas que teriam de sofrer em breve – “Nada temas das coisas que hás de padecer...”(Ap 2:10). Alguns seriam encarcerados e postos à prova por meio de uma tribulação durante dez dias (Ap 2:10). Esse período pode se referir a dez dias literais, a dez perseguições distintas sob os imperadores romanos que antecederam Constantino, ou dez anos de perseguição sob o imperador Diocleciano. Os cristãos, contudo, foram encorajados a ser fiéis até à morte(Ap 2:10), ou seja, a estar dispostos a morrer em vez de renunciar sua fé em Cristo. Receberiam, então, a coroa da vida, a recompensa especial reservada aos mártires.

Somos chamados a ser fiéis até às últimas consequências, mesmo em um contexto de hostilidade e perseguição. Hoje, Jesus espera de seu povo fidelidade na vida, no testemunho, na família, nos negócios, na fé. Não venda seu Senhor por dinheiro, como Judas. Não troque seu Senhor, por um prato de lentilhas, como Esaú. Não venda sua consciência por uma barra de ouro, como Acã. Seja fiel a Jesus, ainda que isso lhe custe seu namoro, seu emprego, seu sucesso, sua vida. Jesus diz que aqueles que são perseguidos por causa da justiça são bem-aventurados (Mt 5:10-12). O mundo perseguiu a Jesus e também nos perseguirá.

Cerca de cinquenta anos depois da carta à igreja de Esmirna, o seu pastor, Policarpo, foi queimado vivo, como mencionei anteriormente. Era um discípulo de João. Fiel até à morte, esse dedicado líder foi queimado vivo em uma fogueira em 23/02/155 d.C. Ele foi apanhado e arrastado para a arena. Historiadores relatam que os judeus colaboraram de bom grado com o martírio de Policarpo. Tentaram intimidá-lo com as feras. Ameaçaram-no com o fogo, mas ele respondeu: "Eu sirvo a Jesus há oitenta e seis anos, e ele sempre me fez bem. Como posso blasfemar contra o meu Salvador e Senhor que me salvou?". Os inimigos furiosos queimaram-no vivo em uma pira (fogueira onde se queimavam cadáveres), enquanto ele orava e agradecia a Jesus o privilégio de morrer como mártir.

Jesus conhece quem somos e tudo o que acontece conosco (Ap 2:9). Esse fato é fonte de muito conforto. Jesus conhece nossas aflições, porque anda no meio dos candelabros (isto é, no meio das igrejas). Sua presença nunca se afasta. Nosso Senhor não dormita nem dorme. Ele está olhando para você. Ele sabe o que você está passando. Ele conhece sua tribulação. Ele conhece suas lutas. Conhece suas lágrimas. Sabe que diante dos homens você é pobre, mas ele sabe os tesouros que você tem no Céu. Jesus sabe das calúnias que são atribuídas aleivosamente contra você. Conhece o veneno das línguas mortíferas que conspiram contra você. Sabe que somos pobres, mas, ao mesmo tempo, ricos. Sabe que somos entregues à morte, mas, ao mesmo tempo, temos a coroa da vida.

2. Pobreza. Ao contrário da igreja de Laodicéia, que era rica, Esmirna era uma igreja pobre materialmente. O próprio Jesus reconheceu a sua pobreza: “Conheço a tua [...] pobreza”(Ap 2:9).
A igreja de Esmirna era uma igreja pobre porque os crentes vinham das classes mais baixas. Pobre, também, porque muitos dos membros eram escravos. Pobres, outrossim, porque seus bens eram tomados, saqueados. Pobres, ainda, porque os crentes eram perseguidos e até jogados nas prisões. Pobres, finalmente, porque os crentes não se corrompiam. Era uma igreja espremida, sofrida, acuada.
Embora a igreja fosse pobre financeiramente, era rica em recursos espirituais. Não tinha tesouros na terra, mas os tinha no céu. Era pobre diante dos homens, mas rica diante de Deus. A igreja de Laodiceia considerava-se rica, mas Jesus disse que ela era pobre. A igreja de Esmirna era pobre, mas aos olhos de Cristo era rica (Ap 2:9); ela não tinha ouro nem prata na terra, mas tinha tesouros no céu; ela não tinha nada, mas possuía tudo; era desprovida de bens, mas enriquecia a muitos.
A riqueza de uma igreja não está na pujança de seu templo, na beleza de seus móveis, na opulência de seu orçamento, na projeção social de seus membros. Enquanto o mundo avalia os homens pelo ter, Jesus os avalia pelo ser. Pedro não tinha nenhuma moeda para dar uma esmola, mas era rico para Deus – “E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda”(At 3:6). A viúva pobre deu apenas duas pequenas moedas, mas, aos olhos Jesus de Cristo, deu mais do que as ricas ofertas dos ricos. Portanto, a verdadeira riqueza não é material, mas espiritual, conforme vimos exaustivamente no 1ºtrimestre de 2012.
3. Ataques dos falsos crentes. Os santos de Esmirna foram alvos de ataques implacáveis dos judeus. Havia uma forte e influente comunidade judaica em Esmirna. Como judeus, afirmavam ser o povo escolhido de Deus, mas, com seu comportamento blasfemo, mostravam que eram “sinagoga de Satanás”(Ap 2:9).
Os crentes de Esmirna estavam sendo acusados de coisas graves. Os judeus estavam espalhando falsos rumores sobre os cristãos. As mentes da população de Esmirna estavam sendo envenenadas. O diabo é o acusador. Ele é o pai da mentira. Aqueles que usam a arma das acusações levianas pertencem a "sinagoga de Satanás".
Segundo estudiosos, “os crentes passaram a sofrer várias acusações levianas: (a) canibais - por celebrarem a ceia com o pão e o vinho, símbolos do corpo de Cristo; (b) imorais - por celebrarem a festa do ágape antes da comunhão; (c) separadores de famílias - uma vez que as pessoas que se convertiam a Cristo deixavam suas crenças vãs para servir a Cristo; (d) ateus - por não se dobrarem diante de imagens dos vários deuses; (e) desleais e revolucionários - por se negarem a dizer que César era o Senhor.
No século I, os judeus foram os principais inimigos da igreja. Perseguiram a Paulo em Antioquia da Pisídia (At 13:50), em Icônio (At 14:2,5); em Listra, Paulo foi apedrejado (At 14:19). Quando retornou para Jerusalém, os judeus o prenderam no templo e quase o mataram. O livro de Atos termina com Paulo em Roma, sendo perseguido pelos judeus. Eles se consideravam o genuíno povo de Deus, os filhos da promessa, a comunidade da aliança, mas, ao rejeitarem o Messias e perseguirem a igreja de Deus, estavam se transformando em “sinagoga de Satanás”. Quem difama Cristo ou o degrada naqueles que o confessam promove a obra de Satanás e guerreia as guerras de Satanás.
4. Os crentes em prisão - “... Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados”(Ap 2:10). Alguns crentes de Esmirna estavam enfrentando a prisão. A prisão era a ante-sala do túmulo. Os romanos não cuidavam de seus prisioneiros. Normalmente os prisioneiros morriam de fome, de pestilências ou de lepra. Vistas de uma perspectiva mais elevada, as detenções tinham uma outra finalidade: "para que sejais provados". Os crentes estavam prestes a ser levados à bancada de testes. Deus estava testando a fidelidade dos crentes. Mas Deus é fiel e não permite que sejamos tentados além de nossas forças. Ele supervisiona nosso teste.
Em todas os aprisionamentos de cristãos sempre o diabo está por trás. Mas quem realiza seus propósitos é Deus. O fogo das provas só consumirá a escória, só queimará a palha, porém tornará você mais puro, mais digno, mais fiel. Jesus estava peneirando sua igreja para arrancar dela as impurezas. Nosso adversário nos tenta para nos destruir; Jesus nos prova para nos refinar. Precisamos olhar para além da provação, para o glorioso propósito de Jesus. Precisamos olhar para além do castigo, para seu benefício. O rei Davi disse: "Foi bom eu ter sido castigado, para que aprendesse teus decretos" (Sl 119:71). O Senhor não nos poupa da prisão, mas usa a prisão para nos fortalecer. Ele não nos livra da fornalha, mas nos purifica nela. Glórias a Deus!

CONCLUSÃO

A mensagem à Igreja em Esmirna consistia em que os crentes permanecessem fiéis durante as provações, porque Deus estava no controle de tudo e eles poderiam confiar em suas promessas. Jesus nunca disse que se formos fiéis a Ele jamais teremos problemas, sofrimentos ou perseguições. Na verdade, devemos ser fiéis a Ele durante nossos sofrimentos. Somente assim nossa fé poderá se mostrar genuína. Permaneceremos fiéis se conservarmos nosso olhar em Cristo e naquilo que Ele nos promete para esse momento e para o futuro(ver Fp 3:13,14; 2Tm 4:8).
Que a igreja de Esmirna nos sirva de exemplo e referencial de fidelidade a Deus, coragem e determinação. [...] Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte. (Ap 2.10c-11).

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

William Macdonald – Comentário Bíblico popular (Antigo Testamento).

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 50.

O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.

Comentário Bíblico Beacon – CPAD.

Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.

Rev.Hernandes Dias Lopes – Ouça o que o Espírito diz às Igrejas.