domingo, 25 de novembro de 2012

Aula 09 – HABACUQUE – A SOBERANIA DIVINA SOBRE AS NAÇÕES


4º Trimestre_2012

 
Texto Básico: 1:1-6; 2:1-4

 
“Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a vexação não podes contemplar; por que, pois, olhas para os que procedem aleivosamente e te calas quando o ímpio devora aquele que é mais justo do que ele?” (HC 1:13)

 

INTRODUÇÃO


O Livro de Habacuque, embora esteja distante de nós há mais de 2.500 anos, sua mensagem é atual, e sua pertinência, insofismável. Os tempos mudaram, mas o homem é o mesmo. Ele ainda é prisioneiro das mesmas ambições, dos mesmos descalabros morais, da mesma loucura. O profeta Habacuque começa seu livro questionando o caráter de Deus, mas o conclui orando a Deus por uma intervenção na vida do Seu povo. A crise, em vez de nos levar a correr de Deus, deve nos induzir a correr para Deus. A crise é uma oportunidade para nos voltarmos para Deus (ler Jl 2:12-16). Deus ainda continua transformando vales em mananciais. Ele ainda continua voltando-se da Sua ira para a Sua misericórdia.

Ao longo do livro de Habacuque, deparamo-nos com uma das mais notáveis declarações doutrinárias: “O justo, pela sua fé, viverá” (Hc 2:4). Poucos versículos da Bíblia têm participado com tão profundo efeito no desenvolvimento da teologia e da proclamação da fé. A doutrina da justificação pela fé é a pedra de esquina da nossa salvação. Essa foi a base da teologia do apóstolo Paulo (Rm 1:17; cf Gl 3:8). Essa foi a bandeira da Reforma Protestante no século 16. Somos salvos não pelo que fazemos, mas pelo que Deus fez por nós. O alicerce da salvação não são nossas obras para Deus, mas a obra de Deus por nós. A única boa obra perfeita, totalmente agradável a Deus, que nos leva para o céu é aquela feita por Cristo na cruz do Calvário, ao derramar Seu sangue para nos resgatar e nos purificar de todo pecado.

I. O LIVRO DE HABACUQUE


O livro de Habacuque é  único no seu gênero por não ser uma profecia dirigida diretamente a Israel, mas sim um diálogo entre o profeta e Deus. Habacuque queria saber por que Deus não fazia algo a respeito da iniquidade que predominava em Judá. Deus lhe responde, então, que enviaria os babilônios para castigar a Judá. Esta resposta deixou o profeta ainda mais confuso: “Por que Deus castigaria seu povo através de uma nação mais ímpia do que ele”? No fim, Habacuque aprende a confiar em Deus, e a viver pela fé de maneira como Deus o requer: independentemente das circunstâncias.

1. Contexto histórico. Habacuque profetizou no final do período do reino de Judá. O Reino do Norte, por não ouvir os profetas de Deus, sucumbira ao poderio militar da Assíria havia mais de cem anos, pois em 722 a.C. a orgulhosa cidade de Samaria fora entrincheirada durante três anos e, por fim, caiu impotente diante da supremacia militar dessa poderosa potência estrangeira. O Reino do Norte durou apenas 209 anos. Durante todo esse tempo, endureceu sua cerviz e andou longe dos caminhos de Deus. O cativeiro sem volta foi sua herança. A ferida sem cura foi seu legado.

O Reino do Sul alternou entre caminhadas na direção de Deus e escapadas perigosas para distanciar-se do Eterno. Quando reis piedosos ascendiam ao poder, havia conserto, e o povo dava ouvidos aos profetas e se arrependia de seus pecados, mas, quando reis ímpios e idólatras governavam, o povo era oprimido e ainda se desviava da presença de Deus.

As lições da queda do Reino do Norte não foram suficientes para abrir os olhos de Judá, nem as reformas religiosas realizadas pelo rei Josias no ano 621 a.C. tiveram profundidade suficiente para evitar a tragédia do cativeiro. Logo após a morte de Josias, Jeoaquim resistiu fortemente à pregação do profeta Jeremias, queimou os rolos do Livro e lançou o profeta na prisão (Jr 36:5,22,23). Nesse mesmo tempo, o mapa da política internacional estava passando por grandes mudanças. A poderosa Assíria tinha caído nas mãos dos babilônios em 612 a.C. O Egito, outra superpotência da época, marchou com seus carros blindados para o norte da Síria, em Carquemis, atravessando o território de Judá para enfrentar o exército caldeu. Nessa encarniçada peleja, Faraó Neco sucumbe também ao poderio militar da Babilônia em 605 a.C. Nesse mesmo ano, Nabucodonosor, o opulento rei da Babilônia, que governou esse majestoso império e construiu a gloriosa cidade com seus muros inexpugnáveis e seus jardins suspensos, cercou a cidade de Jerusalém. Estava lavrada a sorte desse reino que desprezava a Palavra de Deus, oprimia os fracos e aviltava a justiça. Foi nesse tempo de ascensão galopante da Babilônia, da queda repentina da Assíria e do Egito, do encurralamento de Jerusalém, que Habacuque aparece.

2. Vida pessoal de Habacuque. Nada sabemos acerca da família, da procedência e da posição social de Habacuque. Apenas temos a declaração de que ele era profeta. Seu nome só é citado duas vezes e apenas no seu próprio livro (Hc 1:1;3:1).

O nome Habacuque, segundo os estudiosos, significa "abraço ardente". Habacuque tanto se agarrou a Deus buscando resposta para suas íntimas e profundas indagações quanto abraçou o povo, levando-lhe a consoladora verdade de que o inimigo opressor seria exemplarmente julgado por Deus. Enquanto o povo da aliança triunfaria sobre a crise e viveria pela fé, os soberbos caldeus seriam eliminados sem jamais serem restaurados.

Habacuque foi contemporâneo de Jeremias. Ele sofreu as mesmas pressões, as mesmas angústias e viu os mesmos perigos. Habacuque viveu durante os últimos dias de Judá. A maior parte dos estudiosos situa o seu ministério antes de 605 a.C, quando a Babilônia, sob o governo de Nabucodonosor, tornou-se uma potência Mundial (cf Hc 2:6-20).

3. Estrutura e mensagem.

a)  Estrutura. O livro de Habacuque pode ser dividido em três partes distintas:

O capítulo primeiro fala de uma sentença, um peso, uma mensagem difícil de ser entendida e mais difícil ainda de ser engolida. Nesse capítulo, o profeta escancara as tensões da sua alma e expressa sem rodeios os dilemas que assaltam seu coração. Dois grandes conflitos são vividos por Habacuque. O primeiro é o prevalecimento do mal e a aparente inação e demora de Deus. Suas orações não são respondidas com a urgência que as endereçou ao céu. O segundo conflito é a resposta surpreendente da sua oração. A resposta de Deus deixou o profeta mais alarmado e esmagado que o seu silêncio. Deus disse a Habacuque que os caldeus sanguinários, truculentos e expansionistas estavam vindo contra Judá não ao arrepio da sua vontade, mas em obediência ao seu chamado.

O segundo capítulo fala de uma visão. O profeta deveria escrever a visão num outdoor para todos lerem. A visão que Deus revela anuncia que o soberbo vai perecer, mas o justo vai sobreviver à crise, pois ele viverá pela fé. Os caldeus, por pensarem que seu poder emanava de suas próprias mãos e de seus ídolos mudos, cairiam, sem jamais serem levantados, mas o povo de Deus, que vive pela fé, seria restaurado.

O terceiro capítulo fala de um cântico. O profeta, que começa o livro chorando, termina-o cantando. Seu cântico não é em virtude da mudança circunstancial. As circunstâncias continuavam cinzentas, mas a verdade de Deus enchera sua alma de esperança. Deus descortinara para o Seu profeta o Seu propósito, mostrara a ele Sua soberania, e agora, em vez de questionar a Deus, Habacuque clama por avivamento e se alegra em Deus, a despeito da situação.

b) Mensagem. Habacuque é um profeta suigeneris em seu estilo. Ele difere de todos os outros na sua abordagem. Todos os outros profetas ergueram a voz, em nome de Deus, para confrontar o povo e chamá-lo ao arrependimento. O profeta Amós convocou as nações estrangeiras e, sobretudo, o povo de Deus a arrepender-se de suas atrocidades. O profeta Jonas foi à capital da Assíria, à impiedosa cidade de Nínive, e pregou em suas ruas sobre a subversão que desabaria sobre ela. O profeta Naum profetizou a queda da Assíria, e o profeta Obadias, a queda de Edom. Contudo, Habacuque não confrontou o povo, mas a Deus. Em vez de falar à nação da parte de Deus, ele falou a Deus da parte da nação; em vez de chamar a rebelde Jerusalém ao arrependimento, ele cobrou de Deus Sua inação diante das calamidades que saltavam aos seus olhos. Ao contrário dos outros profetas, Habacuque não se dirige nem a seus patrícios nem a um povo estrangeiro: seu discurso é feito apenas para Deus. O maior problema de Habacuque não era fazer um  diagnóstico da doença de sua nação, mas um estudo do comportamento de Deus. O que mais lhe causou espanto não foi a derrocada moral da sua gente, mas a demora e o silêncio de Deus diante da calamidade do Seu povo. As queixas de Habacuque não são dirigidas contra os pecadores, mas contra o Santo. Habacuque teve dificuldade de compatibilizar o caráter santo de Deus com a sua aparente inação diante do prevalecimento do mal.

O profeta, com grande confiança e coragem, levou suas reclamações diretamente a Deus. Por que existe o mal no mundo? Por que os ímpios parecem ser vitoriosos? Habacuque declara que esperará para ouvir as respostas de Deus às suas reclamações. E o Senhor lhe respondeu com uma avalanche de provas e predições. O Senhor começa a falar e diz ao profeta que escreva sua resposta claramente para que todos tomem conhecimento e compreendam. Pode transparecer, Deus diz, que os ímpios triunfam, mas no final serão julgados, e a justiça prevalecerá. O juízo pode não surgir rapidamente, mas virá. As respostas de Deus preenchem o capitulo 2 de Habacuque. Com perguntas respondidas e uma nova compreensão do poder e do amor de Deus, ele se regozija em quem Deus é e naquilo que Ele fará - "Todavia, eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação. Jeová, o Senhor, é minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas" (Hc 3:18,19).

O exemplo de Habacuque deve nos encorajar quando lutamos para passar da dúvida para a fé. Não devemos ter medo de formular nossas perguntas a Deus. O problema não está no Senhor ou em seus caminhos, mas em nossa limitada compreensão a seu respeito. Ele quer que venhamos à sua presença com nossas lutas e dúvidas, porém, suas respostas podem não ser o que esperamos.  Ele é a nossa força e o nosso refúgio. Podemos ter a confiança de que o Senhor nos amará e guardará para sempre a comunhão que desfrutamos com Ele. Vivemos por meio de nossa confiança nEle, não pelos benefícios, felicidade ou sucesso que possamos experimentar nesta vida. Nossa esperança vem do Senhor.

II. HABACUQUE E A SITUAÇÃO DO PAÍS


1. O clamor de Habacuque. O que ocorria em Judá ia de encontro ao conhecimento que Habacuque possuía a respeito do Deus de Israel. Mas como é possível Aquele que é Justo e Santo tolerar tamanha maldade? (cf 1:13). O profeta expressa sua perplexidade na forma de lamentos: “Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás?.." (Hc 1:2). Habacuque via a sua própria terra, Judá, sem lei e cheia de tirania. Os justos eram oprimidos (Hc 1:4,13). O povo vivia em pecado aberto (Hc 1:3;2:4,5,15,16). Adoravam ídolos (Hc 2:18,19). Oprimiam os pobres (Hc 1:4,14,15). Habacuque sabia que esses pecados estavam levando Jerusalém a sofrer uma invasão por um inimigo forte. O profeta não ficou estático diante do descalabro moral da nação. Ele não só gritou aos ouvidos do povo da parte de Deus, mas também ergueu sua voz ao céu a favor do povo. O profeta não podia ficar passivo diante da corrida desenfreada do mal em sua nação. Ele não se contentava em ser um pregador; ele precisava também ser um intercessor. Ele não apenas bombardeava o povo com sua voz, mas também bombardeava os céus com suas orações.

Mas, a oração de Habacuque se esbarra no silêncio de Deus (Hc 1:2a). O profeta, então, clama: "Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás?..". A voz do profeta parece não alcançar os céus. Os ouvidos de Deus parecem fechados ao clamor do profeta. Os céus continuam em silêncio diante do seu grito desesperador. Muitas vezes, o silêncio de Deus é mais perturbador do que as circunstâncias mais ruidosas. É bom esclarecer que não são apenas os homens ímpios como Saul (1Sm 28:6) e os rebeldes filhos de Judá nos dias de Isaías (Is 1:15) e de Jeremias (Jr 11:14) que têm suas orações não respondidas por Deus, mas, também, homens piedosos como Jó (Jó 30:20) e Davi (Sl 22:2) não encontram resposta para suas orações. Como a mulher siro-fenícia clamou a Jesus (Mt 15:23) e nenhuma palavra lhe foi dada a princípio, assim muitas orações ascendem do coração do povo de Deus sem encontrarem resposta imediata. Ainda hoje, o silêncio de Deus perturba a nossa alma inquieta.

A demora de Deus em responder à sua oração aflige mais o profeta do que o avanço do mal entre seu povo. Não é fácil lidar com a demora de Deus. Marta e Maria enviaram uma mensagem a Jesus, informando-lhe que Lázaro estava enfermo. Jesus, em vez de partir imediatamente em direção ao seu amigo, na aldeia a Betânia, demorou-se ainda mais dois dias para sair do local onde estava (João 11:6). Quando Jesus chegou em Betânia, Lázaro já estava morto e sepultado havia quatro dias. Marta ficou engasgada com a demora de Jesus e expressou a ele toda a sua dor e frustração (João 11:21). Ainda hoje, deixamos vazar do nosso peito, cheio de dor, os gemidos da nossa alma, dizendo: "Até quando, Senhor?".

2. A descrição do pecado. Assim o profeta Habacuque resume o quadro desolador do seu povo: “iniquidade e vexação: destruição e violência; contenda e litígio” (Hc 1:3). Habacuque viu sua nação cavando a própria sepultura. Ele viu seu povo atolado num pântano de corrupção, violência e impunidade. Ele faz um diagnóstico da sociedade, e o resultado que vê é sombrio. Não se tratava de uma doença qualquer, mas de uma enfermidade mortal. A violência vista por Habacuque era tão vasta quanto aquela descrita por Moisés nos dias que precederam o dilúvio (Gn 6:11).

O pecado é o opróbrio das nações. Uma nação nunca é forte se está entregue à iniquidade. O homem é apanhado pelas próprias cordas do seu pecado. O que derruba uma nação não é tanto o inimigo externo, mas a corrupção interna. Os historiadores dizem que o Império Romano só caiu nas mãos dos bárbaros porque já estava podre por dentro. Jerusalém não caiu nas mãos dos caldeus; ela foi entregue (Dn 1:1,2). Billy Graham corretamente afirma: "Nenhuma grande nação jamais foi vencida, até se haver destruído a si própria”.

Hoje, não raro, a igreja confronta com rigor os pecados daqueles que estão fora dela, enquanto tolera em seu meio aquilo que é explicitamente ofensivo à santidade de Deus e contrário às Escrituras. A falta de confrontação do mal dentro da própria igreja, tacitamente, dá permissão aos transgressores para continuarem na prática do seu pecado (1Co 5:1-13).

3. O colapso da justiça nacional. Os problemas de Judá eram causados por líderes que não obedeciam à lei. Os ricos exploravam os pobres e escapavam do castigo subornando os oficiais. A lei era ignorada ou distorcida, e ninguém parecia se importar. Os tribunais eram corruptos, os oficiais só se interessavam em ganhar dinheiro, e a admoestação de Êxodo 23:6-8 era completamente desconsiderada.

- Habacuque diz: " [ . . . ] a justiça nunca se manifesta..." (Hc 1:4). A justiça nos tribunais era uma piada, porquanto o dinheiro, e não a justiça, determinava o resultado dos julgamentos e os decretos dos reis. A justiça não se manifestava por duas razões: por fraqueza dos magistrados ou por conivência deles com os esquemas de opressão. Naquele tempo, Judá estava sendo governada por homens maus. A liderança da nação estava rendida aos crimes mais execráveis. Quando a liderança se corrompe, o povo geme (Pv 29:2).

- Habacuque prossegue no seu diagnóstico do colapso da justiça e da decadente sociedade de Judá, e diz: "[...] porque o perverso cerca o justo..." (Hc 1:4). O justo estava nas mãos dos bandidos, e nada podia fazer para livrar-se dessa situação opressora. Havia um esquema criminoso em curso sob a omissão de uns e a aprovação de outros para violar o direito do justo, para oprimir o fraco e explorar o necessitado. Não havia a quem recorrer. Os poderes constituídos estavam infiltrados pelo mal e blindados contra toda sorte de resistência dos justos. A justiça não podia prevalecer porque os maus sabiam como cercar o justo por todos os lados, de modo que não pudesse receber o que lhe era devido. O erro judicial era a ordem do dia. Mediante processos fraudulentos, os ímpios enganavam o justo, pervertendo todo o direito e toda a honestidade. Considerando que Deus não punia o pecado de imediato, os homens pensavam que poderiam continuar nele impunemente (cf. Ec 8:11). A corrupção da justiça é o caos em qualquer nação; é o mergulho na desordem total e o ponto final nas esperanças dos pobres.

- Habacuque termina sua análise, dizendo: "[...] a justiça é torcida" (Hc 3:4). As decisões eram dadas contrárias ao direito. Observe que a justiça não era torta; ela era torcida. E, se era torcida, era torcida por alguém. Os juízes estavam de mãos dadas com os poderosos para oprimir os fracos. Esse foi o pecado que levou o Reino do Norte ao colapso. Judá não aprendeu a lição, por isso estava cometendo o mesmo erro fatal e enfrentaria o mesmo destino amargo.

Nos dias de Habacuque, como nos dias de hoje, grandes problemas de injustiça podem ser encontrados entre o povo de Deus. As grandes nações da nossa época, no mundo em geral, estão também marcadas por profunda decadência moral, espiritual e legal. A justiça é exigida com rigor para com os pobres e indefesos, mas torcida pelos poderosos a seu favor.

III. A RESPOSTA DIVINA


O profeta estava inquieto com o silêncio de Deus; mas ficou mais desesperado quando Deus começou a falar. A resposta de Deus não era exatamente o que Habacuque queria, mas Deus não subordina Seus projetos ao querer humano. Deus cumpre a Sua Palavra não apenas quando esta é a nosso favor, mas também quando ela é contra nós.

1. O juízo divino é anunciado. Habacuque estava inconformado com o silêncio de Deus ao seu clamor (Hc 1:2). Ele apresentou a Deus em oração uma causa urgente, mas a resposta imediata não veio. Às vezes, temos pressa de ouvir uma resposta, mas nenhuma voz ecoa do trono de Deus para acalmar o nosso coração. Mas, Deus que está no controle de todas as coisas, apenas aguardava o tempo oportuno para agir e mostrar a razão de sua intervenção.

Quando Deus respondeu à oração de Habacuque, ele ficou bastante aflito, pois a resposta veio de forma jamais imaginada pelo profeta. Deus não está sujeito ao nosso programa. Ele não obedece às nossas agendas. Seus caminhos são mais elevados do que os nossos (cf Is 55:8). Quando Deus estendeu Seu braço para agir, trouxe não a restauração de imediato, mas a disciplina. A ação de Deus veio na contramão da expectativa e da vontade do profeta. Deus trouxe os caldeus para serem a vara da Sua disciplina sobre Judá. Habacuque se queixava da apatia de Jeová e do Seu silêncio nos negócios de Judá. Porém, se o que o profeta queria era ação divina, ele a teve. O Deus que trabalha em silêncio nunca deixou de agir.

Todavia, a ação de Deus trouxe desvanecimento, e não alento imediato ao profeta. Habacuque ficou mais chocado com a ação de Deus do que com Sua inação. Deus vai usar os pagãos para julgar o Seu próprio povo. Os contemporâneos de Habacuque presumiam que Jeová protegesse os Seus e castigasse os incrédulos. Hoje, ainda, há muitos cristãos que pensam que Deus é sempre bom para os crentes e sempre punidor dos não-crentes. Pensam também que Ele dá conseguimento aos Seus planos somente por meio dos crentes.

Ninguém poderia crer que Deus entregaria Jerusalém nas mãos de um povo idólatra. Ninguém poderia crer que Deus entregaria os vasos sagrados do Templo para serem profanados nos templos pagãos da Babilônia (Dn 1:1,2). Deus usa quem quer para aplicar a disciplina a seu povo. Deus usa até mesmo os pagãos. Ele usa gente fora da igreja. Ele não está limitado às pessoas. Ele usa quem quer e quando quer e não deve nada a ninguém por isso.

2. Deus não permanece silencioso; Ele responde às orações (Hc 1:5,6). A marcha tenebrosa dos caldeus contra Judá era a resposta divina às orações de Habacuque. Quando a lei de Deus é violada, é tempo de clamar  pela intervenção de Deus (Sl 119:162). Habacuque pedira a intervenção divina. Ela veio. Quando o povo se arrepende, Deus envia a restauração; quando endurece a cerviz, Deus envia o juízo. Quem não escuta a voz da graça, recebe o chicote da disciplina. Habacuque queria ver a justiça, e ela chegou, só que por meio da disciplina de Deus.

IV. DEUS RESPONDE PELA SEGUNDA VEZ


1. A espera de Habacuque (Hc 2:1). No item anterior, à luz de Hc 1:1-6, vimos que Habacuque  colocou diante de Deus sua causa e cobrou dEle uma posição compatível com Seu caráter santo e Seus atributos majestosos. Agora, o profeta conversa consigo mesmo e encoraja a si mesmo para esperar a resposta de Deus. Ele resolve se colocar no seu observatório e esperar pela revelação que Deus haveria de dar à sua questão. Ele não apenas ora, como também aguarda uma resposta. Suas orações são específicas, e ele aguarda uma resposta específica. Ele não apenas fala com Deus, mas também espera ouvir a voz de Deus. Oração não é um monólogo, mas um diálogo. Quem fala, precisa ter os ouvidos atentos para ouvir. Pela oração, os olhos da nossa alma são abertos. Nunca nos tornamos tão lúcidos como quando nos colocamos de joelhos diante do Pai. Deus deu resposta às grandes queixas de Habacuque. Quanto ao seu povo, Deus o disciplinaria pelas mãos dos caldeus. Quanto à Babilônia, Deus a julgaria pelo seu orgulho.

2. A visão. Em resposta à sua oração, Habacuque recebe uma visão de Deus acerca da condenação inexorável do ímpio e da salvação miraculosa do justo. Habacuque chegou a pensar que Deus estivesse passivo e inativo diante da violência entre o Seu povo e contra o Seu povo, mas Deus estava trabalhando para julgar os ímpios e salvar os justos. Quando Deus parece estar inativo, Ele está trabalhando; quando Deus parece silencioso, Ele está nos preparando uma resposta eloquente que acalma os vendavais da nossa alma.

Eis algumas características dessa visão:

a) É uma visão recebida (Hc 2:2). A visão vem a Habacuque como resposta à sua oração. Ele não gerou nem concebeu essa visão nos refolhos da sua alma nem na subjetividade do seu coração. Essa visão veio do céu, veio de Deus. Ela foi revelada ao profeta. Hoje, muitos pregadores trazem ao povo visões subjetivas, engendradas no sacrário do seu próprio coração enganoso, e fazem errar o povo de Deus, furtando-lhes a Palavra.

b) É uma visão para ser perpetuada (Hc 2:2). Deus manda Habacuque escrever a visão e gravá-la sobre tábuas. Deus estava trazendo uma revelação permanente. A visão deveria ser bem legível e acessível a todos. Essa visão não era destinada apenas ao profeta, mas também às gerações futuras. Era uma mensagem universal que todos deveriam conhecê-la.

c) É uma visão para ser divulgada (Hc 2:2). Essa visão deveria ser lida pelos transeuntes. Deveria estar disponível e com acesso facilitado até para aqueles que passassem correndo. Essa visão deveria estar nos outdoors de Jerusalém, ao longo de todas as ruas, avenidas e estradas da vida. Habacuque deveria tornar-se agora o publicitário do céu, o marqueteiro de Deus, o propagandista do céu. Hoje, devemos usar todos os recursos mais rápidos, mais amplos e mais eficazes, para que mais pessoas possam receber a mensagem divina. Não podemos prescindir da página impressa, dos recursos da tecnologia eletrônica. Precisamos pregar a Palavra por meio da televisão, do rádio, da internet, da literatura. A mensagem que recebemos é a mais importante e urgente do mundo. Proclamemo-la a todos os povos!

3. O justo viverá da fé (Hc 2:4). Este texto tornou-se o lema da cristandade. Ele é a chave de todo o livro de Habacuque e o tema central de todas as Escrituras. Martyn Lloyd-Jones diz que há somente duas atitudes para a vida neste mundo: a da fé e a da incredulidade. Ou vemos nossa vida mediante a crença que temos em Deus, e as conclusões que daí deduzimos, ou nossa perspectiva se baseia numa rejeição de Deus e das negações correspondentes. Podemos afastar-nos do caminho da fé em Deus, ou viver pela fé em Deus. Conforme o homem crê, assim ele é. A crença da pessoa determina seu procedimento. O justo viverá pela fé, enquanto o ímpio vive confiante em si mesmo. O ímpio aqui representa os caldeus arrogantes (Hc 2:4,5). Eles estavam inchados de orgulho pela sua força, pelo seu poderio militar, pela sua capacidade de guerrear, vencer e escravizar. Os caldeus que Deus os suscitara para disciplinar Judá seriam completamente extirpados e destruídos. Fora Deus quem, para um propósito especial, os suscitara; mas eles receberam a glória e se ensoberbeceram como sendo de seu próprio poder. Então, Deus suscitou o Império Medo-Persa, que destruiu por completo os caldeus. O relato do colapso irremediável da Babilônia está muito bem descrito em Isaías 14:3-23.

O soberbo confia em si; o justo coloca sua confiança em Deus. O soberbo espera na sua força; o justo vive pela fé. O soberbo está destinado à morte; o justo é liberto dela pela fé. A grande e poderosa Babilônia esmagaria o pequeno Judá, mas Judá permaneceria para sempre, e Babilônia seria riscada do mapa.

Em fim, viver peia fé significa crer na Palavra de Deus e ser-lhe obediente, independentemente de como nos sentimos, do que vemos ou de quais possam ser as consequências. Alguém disse muito bem que ter fé não é crer apesar das evidências, mas sim obedecer apesar das consequências, descansando na fidelidade de Deus.

CONCLUSÃO


Habacuque nos ensina que as rédeas da História estão nas mãos de Deus. Ele nos adverte que o mesmo Deus que está assentando no alto e sublime trono governa a vida do seu povo e, não somente do seu povo, mas de todas as nações. Deus é o Senhor da história, precisamos nos conscientizar desta verdade. Ele pune quando quer, usando quem quer. E não é apenas o seu tempo que não é o nosso tempo, os seus instrumentos também não são os nossos instrumentos. Todos nós somos cientes do desmonte do maior império mundial de todos os tempos, o bloco soviético. Mais de um terço da população mundial estava subjugado ao poder comunista. Parecia um regime inabalável, um bloco sem fissuras. De repente, desabou. Em alguns países levou anos. Em outros, meses. Em outros, semanas. Em alguns, apenas dias. Mas o que parecia impossível sucedeu em pouco tempo. O império soviético acabou quando chegou o momento de Deus. Somente Deus tem a soberania sobre as nações.

O cálice da ira de Deus pode demorar a encher-se, mas, quando transborda, o juízo é iminente e inevitável. É impossível escapar das mãos de Deus. O homem pode burlar as leis e corromper os tribunais da Terra, mas jamais engana Aquele que se assenta no alto e sublime trono. O homem pode esconder seus crimes e sair ileso dos julgamentos humanos, porém jamais o culpado será inocentado diante dAquele que sonda os corações (Ex 34:7). O princípio de Deus é: “Arrepender e viver” ou : “Não se arrepender e sofrer”.

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

William Macdonald – Comentário Bíblico popular (Antigo Testamento).

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.

Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.

Revista Ensinador Cristão – nº 52 – CPAD.

A Teologia do Antigo Testamento – Roy B.Zuck.

Comentário Bíblico Beacon, v.5 – CPAD.
Habacuque (Como transformar o desespero em cântico de vitória) – Rev. Hernandes Dias Lopes

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

“NADA NESTE MUNDO DE DEUS ESTÁ ACIMA DOS ERROS E DAS PAIXÕES HUMANAS”.

A presidente Dilma Rousseff, provocada a se manifestar sobre o julgamento da Ação Penal 470 – MENSALÃO – durante a sua viagem ao exterior, em entrevista ao Jornal El Pais, disse que: “Decisões do Supremo devem ser acatadas, mas, “nada neste mundo de Deus está acima dos erros e das paixões humanas” (fonte: http://saraiva13.blogspot.com.br/2012/11/brasil-politica-dilma-rousseff-respeita.html).
- ...”nada neste mundo de Deus...”. A presidente Dilma não é ateia? Não tem jeito, dentro do ser humano há algo que suspira por Deus, que não se desprende daquele que O criou, que O formou: seu espírito.
O salmista chama o ateu de “néscio”, ou seja, “ignorante”, “sem conhecimento”. Somente quem não tem conhecimento, quem é ignorante é capaz de dizer “Não há Deus” (Sl 14:1; 53:1). O ateísmo nada mais é que o resultado da plenitude de cegueira espiritual, que satanás tem colocado na mente dos incrédulos (2Co 4:4).
O primeiro passo para a construção de um pensamento ateísta está na consideração de que o ser humano é um ser independente de Deus. Ao negar que seja possível o compartilhamento entre Deus e o ser humano, em negar que o ser humano, para ser livre, precisa estar em comunhão com Deus, o ser humano abre espaço para criar e desenvolver o pensamento ateísta que, no entanto, outra coisa não é senão a ignorância, o desconhecimento da verdadeira condição do ser humano e do real significado de sua liberdade.
A partir do século XIX cresce com grande intensidade o pensamento ateísta, no sentido do chamado “ateísmo ativo ou forte”, que é a negação da existência de Deus, negativa esta veemente que encontrará seu esplendor nos pensamentos de Karl Marx e Friedrich Engels, no chamado “materialismo histórico”, que deu ensejo aos regimes comunistas, onde o ateísmo era adotado oficialmente pelo Estado, como também de Friedrich Nietzsche(1844-1900), que afirma que Deus havia morrido.
Segundo Marx e Engels, a ideia de Deus era apenas uma forma de as classes sociais dominantes na sociedade criarem uma justificativa, uma ilusão para a sua dominação, para a sua exploração. Deus, assim, não existiria e, uma vez as classes sociais dominadas e exploradas perceberem esta situação, certamente se revoltariam contra os dominadores, através da “revolução”.
Entretanto, como se demonstrou claramente ao longo do século XX, esta postura ateísta não correspondeu à realidade. A negação explícita de Deus não trouxe ao ser humano qualquer vantagem. A exploração perdurou e, junto a ela, veio a manutenção e intensificação de um vazio existencial, de uma frustração de vida que levou os povos sob regimes comunistas a uma insatisfação cada vez maior que os levou, inclusive, a se movimentar pela derrubada destes regimes e sua pronta rejeição. Até mesmo onde os regimes comunistas ainda vigoram, na atualidade, vemos o crescimento cada vez maior de movimentos religiosos, como acontece na Coréia do Norte e na China, a demonstrar a sede que o ser humano tem de Deus. O profeta Amós profetizou que no final dos dias o ser humano sentiria “fome” de ouvir a Palavra de Deus: “Eis que vem dias, diz o Senhor Deus, em que enviarei fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor” (Am 8:11).
Desejo sobremaneira que a presidente Dilma esteja com fome, fome de Deus, fome de ouvir a Palavra de Deus.
Luciano de Paula Lourenço

domingo, 18 de novembro de 2012

Aula 08 – NAUM – O LIMITE DA TOLERÂNCIA


4º Trimestre_2012

 
Texto Básico: Naum 1:1-3,9-14

 

“O Senhor é tardio em irar-se, mas grande em poder, e ao culpado não tem por inocente...” (Na 1:3).

 

INTRODUÇÃO


Naum profetizou a destruição de Nínive, capital da Assíria e maior cidade do mundo naqueles dias. A profecia de Naum complementa o livro de Jonas, no qual lemos que o povo de Nínive se arrependeu. Contudo, na época de Naum, os assírios voltaram a praticar as antigas perversidades e, portanto, atraíram sobre si a ira divina.

Enquanto no livro de Jonas vemos o agir da misericórdia de Deus para com aqueles que se arrependem de seus erros, em Naum vemos o agir de Deus contra o ser humano que extrapola os limites estabelecidos por Ele. Deus concedera aos ninivitas uma chance para se arrepender, o que fizeram depois de ouvir a mensagem profética. Porém, retornaram aos seus pecados e suas consequências trouxeram-lhes a destruição. Há um limite para as pessoas, cidades e nações após o qual não existe retorno; a Assíria ultrapassou este ponto.

Naum significa "consolação". Quando ele profetizou para Judá, o Reino do Norte (Israel) já tinha sido levado cativo pelos assírios. Sua profecia é para Nínive, a nação que décadas antes foi visitada por Jonas, que a advertiu de seus pecados e do iminente juízo divino. Desta vez, Deus usa Naum para informar-nos que os anos de brutalidade dos assírios chegará ao fim.

A paciência de Deus nunca deve ser erroneamente interpretada como fraqueza. O pecado coletivo ou individual não ficará impune. Definitivamente, Deus decreta todos os eventos da história. Naum anunciou a destruição iminente de Nínive como o justo castigo de Deus.

I. O LIVRO DE NAUM


O Livro de Naum é uma clássica repreensão ao militarismo cruel e desenfreado dos assírios contra os inimigos. Antigos registros assírios de suas vitórias militares exaltam a forma em que penduravam as peles dos inimigos sobre tendas e muros. Quer se tratasse de prática comum, quer não, o fato revela a mentalidade desse povo cruel. Além disso, desprezavam o Deus de Israel, o Senhor que controla todas as coisas.

1. Contexto histórico. Naum profetizou antes da queda de Nínive em 612 a.C. O texto, Naum 3:8-10, refere-se à queda de “Nô” ou “Nô-Amom” (isto é, a cidade egípcia de Tebas) como evento passado, ocorrido em 663 a.C, provavelmente por volta desta última data, durante a reforma promovida pelo rei Josias (cerca de 630 – 620 a.C). O rei assírio, Assurbanipal, foi quem destruiu a cidade egípcia de “Nô”.

O livro de Naum nos fornece uma chave importante para a compreensão da história passada, presente e futura. Os acontecimentos não se sucedem como mero acaso, mas cada detalhe da história é determinado pela vontade, propósito e poder de Deus. Nos textos, Naum 1:2-8 e especialmente Naum 1:2-3, aprendemos que o governo divino da história está de acordo com o caráter de Deus da aliança. Por toda parte e individualmente, ele exige submissão exclusiva. A rejeição de Deus e de sua lei levam não apenas às consequências necessárias do caos na sociedade e na natureza, mas também inevitavelmente provoca seu desagrado pessoal, resultando na justa retribuição. Naum trata da retribuição divina aos feitos dos assírios e suas maldades. Deus julgou seu povo por causa de seus pecados, mas também julgaria seus opressores por suas maldades e atrocidades.

a) Origem do profeta. Naum faz parte daquele grupo de profetas que não apresentam uma biografia. Nada se sabe a respeito de Naum, a não ser que era proveniente de Elcós (Na 1:1). Contudo, Elcós ainda não pôde ser definitivamente identificada. A tradição identifica-a com Al-kush, na Assíria, cerca de 80 km ao norte de Mossul e declara que, quando Naum nasceu, os seus pais se encontravam no exílio. Outros consideram que a cidade natal de Naum era Elcesi, na Galiléia. A tentativa de ligar Naum à Galiléia poderá ter origem no fato de a cidade de Cafarnaum, que significa “aldeia de Naum”, se situar na Galiléia.

b) Nínive. A história de Nínive é resumida por Naum na seguinte frase: “Cidade de Derramamento de Sangue” ou “Cidade ensanguentada  (Na 3:1). Os assírios estavam entre os povos mais cruéis da história. As crônicas de Assurbanipal II (885-860 a.C.) narram suas próprias atrocidades:

·   “Esfolei todos os homens importantes (da cidade de Suru) que tinham se revoltado, e revesti o pilar com a pele deles; alguns eu emparedei no pilar, outros empalei no pilar em estacas e uns prendi com estacas em volta do pilar; muitos, já na fronteira de minha terra, esfolei e estendi a pele pelos  muros; e cortei os membros dos oficiais, dos oficiais do rei, que tinham se rebelado. Levei Aiababa para Nínive. [...] No meio da grande montanha, matei-os, com o sangue tingi de vermelho a montanha, que ficou como lã vermelha, e com o que restou deles manchei as valas e precipícios das montanhas”.

É por isso que Naum disse que Nínive era “cidade ensanguentada”. Esta cidade ficou gravada na consciência das pessoas quase unicamente por estar ligada a assassinato, sangue, repressão, violação dos fracos, guerra e terror de toda sorte. Nínive era a capital da raça de homens provavelmente mais imorais, ferozes e diabolicamente atrozes que já existiram no mundo inteiro.

Ninive ficava localizada no lado oriental do rio Tigre, em frente à moderna povoação de Mossul, no norte do Iraque. Era altamente fortificada por muralhas e fossos e era a capital do Império Assírio na parte final de sua história. Contudo, a origem da cidade remonta aos dias de Ninrode, o “poderoso caçador em oposição a Jeová. . . . [Ninrode] saiu para a Assíria e pôs-se a construir Nínive” (Gn 10:9-11). Portanto, Nínive teve um mau começo. Ficou especialmente famosa durante os reinados de Sargão, Senaqueribe, Esar-Hadom e Assurbanipal, no período final do Império Assírio. Por meio de guerras e conquistas, enriqueceu-se com despojos e ficou famosa por causa do tratamento cruel e desumano que seus governantes infligiam à multidão de cativos.

Os ninivitas adoravam um grande panteão de deuses, muitos dos quais importados de Babilônia. Seus governantes invocavam esses deuses quando saíam para destruir e exterminar, e seus gananciosos sacerdotes estimulavam suas campanhas de conquista, aguardando rica retribuição dos despojos. Guerrear era a principal ocupação dessa nação, e os sacerdotes eram fomentadores incessantes da guerra; eram sustentados principalmente pelos despojos das conquistas, dos quais uma porcentagem fixa era invariavelmente destinada a eles, antes de outros partilharem deles, pois esta raça de saqueadores era extremamente religiosa.

No auge de sua prosperidade, Nínive era cercada por um muro interior com cerca de 12 quilômetros de circuito, onde, de conformidade com pesquisas feitas, mais de 175 mil pessoas poderiam ter vivido. Segundo relato do profeta Jonas (Jn 1:2; 3:2), a população da “grande cidade” teria cerca de 120 mil pessoas, que não sabiam a diferença entre o certo e o errado.

2. Estrutura. O livro de Naum consiste numa série de três profecias distintas contra a Assíria, especialmente contra Nínive, sua capital. As três profecias correspondem aos três capítulos do livro:

-          O capítulo 1 contém uma descrição clara e marcante da natureza de Deus, especialmente de sua ira, justiça e poder, que tornam inevitável a condenação dos ímpios em geral, e a destruição de Nínive em particular.

-          O capítulo 2 prediz a condenação iminente de Nínive, e descreve, em linguagem vívida, como se daria o juízo divino.

-          O capítulo 3 alista, de modo breve, os pecados de Nínive, declarando que Deus é justo no seu juízo, e termina com um quadro do julgamento já executado.

3. Mensagem. Naum profetizou a destruição do império Assírio e de consolo para o povo de Deus, sabendo que Ele é soberano e que preserva a justiça no mundo.

A Assíria era a nação mais poderosa na terra. Orgulhosa de sua auto-suficiência e poderio militar, saquearam, oprimiram e mataram suas vítimas. Cem anos antes, Jonas pregara nas ruas da grande cidade de Nínive; o povo ouvira a mensagem de Deus e convertera-se do mal. Porém, nas gerações seguintes, o mal reinava novamente, e o profeta Naum pronunciou o juízo sobre esta nação má. Nínive é chamada de cidade sanguinária (Na 3:1) e cruel (Na 3:19), e os assírios são julgados por sua arrogância (Na 1:11), idolatria (Na 1:14), assassinatos, mentiras, traições e injustiças sociais (Na 3:1-19). Naum predisse que esta nação orgulhosa e poderosa seria totalmente destruída por causa dos seus pecados. O fim veio em 50 anos.

Neste juízo da Assíria e sua capital, Nínive, Deus julga um mundo pecador. E a mensagem é clara: A desobediência, a rebelião e a injustiça não prevalecerão, mas serão severamente castigados por um Deus justo e santo que governa sobre toda a Terra.

Portanto, qualquer pessoa que permaneça arrogante e resista a autoridade de Deus enfrentará sua ira. Nenhum governante ou nação escapará impunemente por rejeitá-lo. Nenhum individuo poderá se esconder de seu juízo. Contudo, aqueles que sempre confiarem no Senhor estarão seguros para sempre.

II. TOLERÂNCIA E VINDICAÇÃO


1. Vingança – “O Senhor é um Deus zeloso e que toma vingança; o Senhor toma vingança e é cheio de furor; o Senhor toma vingança contra os seus adversários e guarda a ira contra os seus inimigos” (Na 1:2).

Somente o Senhor tem o direito de ser zeloso e praticar a vingança (Dt 4:24; 5:9). Pode parecer surpreendente associar a Deus os termos ciúme e vingança. Quando os homens são ciumentos e tornam-se vingativos, normalmente agem com um espírito egoísta. Mas Deus tem todo o direito de insistir em nossa completa submissão, e é absolutamente justo que Ele castigue os malfeitores que não se arrependem. Seu zelo e vingança não são misturados com egoísmo, como no caso dos seres humanos. Seu propósito é remover o pecado e restabelecer a paz no mundo.

Nínive era uma metrópole ímpia, imperialista e desonesta, com um desejo arrogante e inescrupuloso pelo poder e pela dominação, que se manifestava num impiedoso desejo por guerras(Na 3:1-4). Além de seus feitos militares, Nínive foi condenada por suas práticas comerciais impiedosas e por seu materialismo insaciável (Na 3:16). Naum proclamou a sua mensagem da vingança e retribuição divinas contra essa cidade pecaminosa (Na 1:14; 3:5-7). Nenhum poder terreno que tenha desafiado a lei de Deus poderia escapar do seu julgamento.

Entretanto, o juízo não é a palavra final de Deus. O julgamento retributivo de Deus é também redentor, na medida em que estende seus propósitos de amor e suas promessas da aliança ao seu povo (Na 1:15; 2:2). Ele destrói as forças do mal com o propósito de criar um mundo novo de liberdade (Na 1:13), paz e conforto duradouro. Ele “conhece os que nele se refugiam” e os protege (Na 1:7).

2. Longanimidade –O Senhor é tardio em irar-se, mas grande em força e ao culpado não tem por inocente...” (Na 1:3). Deus é compassivo e “tardio em irar-se”, pois a longanimidade divina espera o arrependimento do pecador (Rm 2:4-6). Todavia, quando está pronto para castigar, até a terra treme. O Senhor não permitirá que o pecado fique isento de punição para sempre. Quando as pessoas perguntam por que Deus não castiga o mal imediatamente, devemos ajudá-las a compreender que se Ele agisse dessa maneira, nenhum de nós estaria aqui. Todos nós devemos ser gratos ao Senhor pela sua longanimidade, por dar tempo para que as pessoas se convertam a Ele.

III. O CASTIGO DOS INIMIGOS


1. Quem são os “inimigos”? Os assírios eram os principais inimigos. Aliás, qualquer nação que se opõe aos princípios estabelecidos por Deus, exarados em sua Palavra, é considerada inimigo de Deus.

Veja a expressão de Deus contra os seus inimigos: “Eis que eu estou contra ti, diz o Senhor dos Exércitos, e queimarei na fumaça os teus carros, e a espada devorará os teus leõezinhos, e arrancarei da terra a tua presa, e não se ouvirá mais a voz dos teus embaixadores” (Na 2:13). Aqui é demonstrado que o próprio Deus colocou-se contra a Assíria, principalmente a sua capital Nínive. A brutalidade, crueldade e as atrocidades dos ninivitas eram de tal monta que o Todo-Poderoso lhes fez guerra. Já não havia mais oportunidade para o arrependimento! Agora, receberiam o suplício e a desgraça que os seus atos requeriam.

A Assíria e, principalmente, a sua capital, Nínive, é um exemplo para todos os governantes e nações do mundo hoje que desafiam os limites estabelecidos pelo Deus Todo-Poderoso. Ele é soberano até mesmo sobre aqueles que são aparentemente invencíveis. Podemos estar confiantes de que o poder e a justiça de Deus um dia vencerão todo o mal.

2. O estilo de Naum. Poético. Na curta profecia de destruição, Naum demonstra, por meio de linguagem poética e cheia de energia, que o Deus do povo a quem os assírios desprezavam era, na verdade, o artífice e controlador de toda a história humana. À sua justiça, até mesmo os maiores poderes terrenos devem se submeter em humildade e temor.

3. A consolação de Judá – “Assim diz o SENHOR: Por mais seguros que estejam e por mais numerosos que sejam, ainda assim serão exterminados, e ele passará; eu te afligi, mas não te afligirei mais. Mas, agora, quebrarei o seu jugo de cima de ti e romperei os teus laços” (Na 1:12,13).

Naum consola o povo de Deus, Judá, declarando que o Senhor destruiria os filhos da Assíria. A notícia de sua iminente destruição foi um alívio para Judá, que estava sujeita à dominação assíria. Judá não seria mais forçada a pagar tributos como um seguro contra invasões. Judá estava contente por saber que Deus ainda se encontrava no controle. A queda de Nínive ocorreu em 612 a.C, quando foi conquistada por uma coalizão dos babilônios, medos e citas. Suas ruínas só foram identificadas em 1845.

4. A Mensagem de “Boas-Novas” - “Eis sobre os montes os pés do que traz boas-novas, do que anuncia a paz! Celebra as tuas festas, ó Judá, cumpre os teus votos, porque o ímpio não tornará mais a passar por ti; ele é inteiramente exterminado”(Na 1:15).

Visto que Judá tinha assim sofrido por muito tempo sob a mão pesada da Assíria, a profecia de Naum a respeito da iminente destruição de Nínive era boas-novas. Naum escreveu como se a Assíria já tivesse sofrido a queda. Não haveria mais interferência por parte dos assírios; nada impediria os judeus de assistir ou de celebrar as festividades. Sua libertação do opressor assírio seria completa. Os assírios tramavam destruir Jerusalém e Judá, mas Deus não permitiria que tais planos fossem executados (veja Na 1:9).

Semelhantemente, os pregadores do Novo Testamento levam as boas-novas de libertação do poder de Satanás mediante a fé no Senhor Jesus Cristo (Rm 10:15). No tempo determinado, serão completamente destruídos o pecado, a enfermidade, a tristeza, o mundo e o próprio Satanás (ver AP 19-21).

CONCLUSÃO


Deus governa sobre toda a Terra, mesmo sobre aqueles que não o reconhecem. O Senhor é o Todo-poderoso, e ninguém pode frustrar seus planos. Deus vencerá qualquer um que tentar desafiá-lo e ultrapassar os limites estabelecidos por Ele. O poder humano mostra-se fútil quando é utilizado contra o Senhor.

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

William Macdonald – Comentário Bíblico popular (Antigo Testamento).

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.

Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.

Revista Ensinador Cristão – nº 52 – CPAD.

A Teologia do Antigo Testamento – Roy B.Zuck.

Comentário Bíblico Beacon, v.5 – CPAD.

 

 

 

domingo, 11 de novembro de 2012

Aula 07 - MIQUEIAS – A IMPORTÂNCIA DA OBEDIÊNCIA


4º Trimestre/2012

Texto Básico: Miquéias 1:1-5;6:6-8
 

 

INTRODUÇÃO


Miquéias, embora tenha sido um camponês procedente de uma pequena cidade, ergueu a voz para denunciar os pecados de Jerusalém, a imponente capital de Judá. Com coragem invulgar denunciou os esquemas de corrupção no palácio, no poder judiciário e nos corredores do Templo. Miquéias denunciou a aliança espúria e o amasio vergonhoso entre os políticos inescrupulosos e os religiosos avarentos. A religião e a política se uniram pelos mais sórdidos motivos para buscar os mais perversos resultados. O propósito desse conluio maldito foi uma implacável opressão aos pobres. Os camponeses perderam as terras, as casas, as famílias e até a liberdade. Os ricos criaram mecanismos criminosos para roubarem os fracos, os oprimidos e os pobres. Esses não tinham direito, nem vez, nem voz. Os tribunais estavam ocupados por homens corruptos que, mancomunados com os ricos, vendiam sentenças por dinheiro e prostituíam sua sacrossanta vocação. Miquéias, porém, não se impressionou com a magnificência dos palácios da cidade nem com suas torres imponentes. Ele não vendeu sua consciência como os sacerdotes avarentos nem se corrompeu como os profetas da conveniência. Antes, desmascarou a liderança corrupta, chamou o povo ao arrependimento e anunciou, em nome de Deus, o juízo inevitável que viria sobre toda a nação.

I. O LIVRO DE MIQUÉIAS


1. Contexto histórico. O profeta Miquéias era originário de uma cidade chamada de Moresete-Gate (Mq 1:14) no sul de Judá, área agrícola a 40 km ao sudoeste de Jerusalém. À semelhança de Amós, era homem do campo, e provinha com certeza de família humilde. Se Isaias, seu contemporâneo em Jerusalém, assistia ao rei e observava o cenário internacional, Miquéias, um profeta do campo, condenava os governantes corruptos, os falsos profetas, os sacerdotes ímpios, os mercadores desonestos e os juízes venais, que havia em Judá. Pregava contra a injustiça, a opressão aos camponeses e aldeões, a cobiça, a avareza, a imoralidade e a idolatria. E advertiu sobre as severas consequências de o povo e os líderes persistirem em seus maus caminhos. Predisse a queda de Israel e de sua capital, Samaria (Mq 1:6,7), bem como a de Judá, e de sua capital, Jerusalém (Mq 1:9-16; 3:9-12).

O ministério de Miquéias foi exercido durante os reinados de Jotão (750-735 a.C), Acaz (735-715 a.C) e Ezequias (715-686 a.C), período de expansão e domínio assírio no antigo Oriente Próximo. O reino do Norte de Israel foi gradualmente invadido pelos assírios, o que culminou com a queda da capital de Samaria em 722 a.C., em poder do rei assírio Salmaneser V (727-722 a.C.). Acaz, de Judá, aliou-se à Assíria e modelou o culto em Jerusalém conforme as práticas assírias (2Rs 16:7-18). Mais tarde, Ezequias, o filho de Acaz, revoltou-se e grande parte de Judá foi invadida pelo rei Senaqueribe, da Assíria, mas Jerusalém foi milagrosamente poupada (2Rs 18:17-19:37).

Durante esse período, estabelece-se em Israel e em Judá um enorme contraste entre os excessivamente ricos e os pobres oprimidos, devido à exploração da classe média de Israel (Mq 2:7,9) por donos de terra extremamente gananciosos (Mq 2:1-5). Os opressores eram apoiados por líderes corruptos políticos e religiosos de Israel (cap 3). Em razão dessa má liderança, toda a nação tornou-se moralmente corrupta e pronta para o julgamento (Mq 6:9-16; 7:1-7).

Deus levantou a Assíria para ser o chicote da sua ira contra o seu povo iníquo (Is 10:5-11). Como Miquéias havia profetizado (Mq 1:2-7), Samaria caiu em poder dos invasores assírios. Judá sentiu a força do julgamento divino quando Senaqueribe marchou através da Sefelá (cadeia montanhosa situada a oeste de Judá) até os portões de Jerusalém, como Miquéias também havia predito (Mq 1:8-16), mas seu propósito foi frustrado por intervenção sobrenatural de Deus (2Rs 18.13-19.36).

Foi nesse tempo de tensões e profundas mudanças no mapa político do mundo, nesse tempo de muitas e frequentes guerras, que Miquéias foi levantado por Deus como profeta em Israel, e, sobretudo, em Judá. Miquéias chegou a testemunhar a queda de Samaria e o cerco de Jerusalém, fatos esses que ameaçavam de destruição o povo do Senhor.

2.Estrutura e mensagem.

a) Estrutura. O livro de Miquéias consiste numa mensagem de três partes principais. Cada uma das partes marca o imperativo “Ouvi” (Mq 1:2;3:1;6:1).

·         Primeira parte, referente aos capítulos 1-3, registra a denúncia que o Senhor faz dos pecados de Israel e de Judá, e de seus respectivos líderes, e a iminente ruína destas nações e suas respectivas capitais.

·         Segunda parte, referente aos capítulos 4-5, oferece esperança e consolo ao remanescente no tocante aos dias futuros, em que a Casa de Deus será estabelecida em paz e retidão, e a idolatria e a opressão serão expurgadas da terra. Miquéias finalmente olhou para o futuro e vislumbrou a vinda do Messias, o Príncipe da Paz, aquele que implantaria seu reino não pela força da espada, mas pelo poder da sua cruz. Miquéias viu pela fé a chegada gloriosa do Reino de Cristo e o resplendor da igreja, a noiva do Cordeiro (cf Mq 5:2-15).

·         Terceira parte, referente aos capítulos 6-7, descreve a queixa de Deus contra seu povo, como se fora uma cena de tribunal. Deus apresenta a sua causa contra Israel. O justo remanescente de Judá estava prestes a passar por dias sombrios em consequência dos pecados da nação. No entanto, Miquéias proclama em alto e bom som, em favor destes, palavras de fé e esperança. O profeta olha para o além do triunfo temporário dos inimigos e vê o dia glorioso de sua restauração (Mq 7:8-13). “Levantar-me-ei” é uma afirmação de fé comparável à de Jó (ver Jó 19:25-27). Em seguida, há uma oração e promessa em favor dos filhos de Abraão (Mq 7:14-20). Miquéias roga a Deus que cumpra as Palavras dos versículos 8-13. O desejo de Miquéias era que Deus voltasse a cuidar de Israel, assim como o pastor cuida de suas ovelhas. Miquéias encerra o livro, com um jogo de palavras baseado no significado do seu próprio nome: “Quem, ó Deus, é semelhante a ti?” (Mq 7:18). Resposta: somente Ele é misericordioso, e pode dar o veredicto final: “Perdoado” (Mq 7:18-20).

b) Mensagem. O profeta Miquéias pregou três grandes mensagens:

·         Uma mensagem ameaçadora de juízo. Miquéias ergueu sua voz contra os pecados da cidade de Jerusalém e Samaria, anunciando o julgamento iminente por causa da violência, da injustiça social e de uma religiosidade fingida. Ele denunciou com veemência a opressão dos pobres pelos ricos. Ele desmascarou os profetas da conveniência e mostrou a desfaçatez dos sacerdotes que se vendiam por dinheiro. Ele pôs o dedo na ferida e diagnosticou os males crônicos que adoeciam a nação. Miquéias de forma contundente mostrou que o pecado atrai o juízo de Deus e os pecadores não ficarão impunes.

·         Uma mensagem de apelo ao arrependimento. Miquéias não apenas fez o doloroso diagnóstico, ele também ofereceu o remédio. Ele não apenas denunciou o pecado, mas também chamou o povo ao arrependimento. A saída para a nação não era fazer vista grossa ao pecado nem buscar alianças políticas para se proteger, mas se voltar para Deus em sincero arrependimento. O verdadeiro problema da igreja não é a presença ou ameaça do inimigo, mas a ausência e o distanciamento de Deus. O profeta Miquéias chama o povo ao arrependimento, mostrando-lhe que os desajustes sociais, a opressão política e a decadência moral eram resultado de uma religião errada. A nação está socialmente desarrumada porque sua relação com Deus está errada. Os males que assolam a sociedade são consequências do afastamento de Deus.

·         Uma mensagem de promessa de restauração. Miquéias não apenas deu o diagnóstico e o remédio, mas também prometeu a cura eficaz. Denunciar o pecado sem chamar o povo ao arrependimento produz desespero e não esperança. Onde há arrependimento há também restauração. Miquéias não é um profeta pessimista como pensam alguns estudiosos. Ele sempre oferece uma porta de saída, ele sempre anuncia o escape da graça. A misericórdia de Deus prevalece sobre sua ira. A graça de Deus é maior do que nosso pecado.

II. A OBEDIÊNCIA A DEUS


1. O conceito bíblico de obediência. Como eu disse acima, na estrutura do livro de Miquéias, cada uma das partes marca o imperativo “Ouvi” (Mq 1:2;3:1,9;6:1,2,9). O verbo hebraico empregado aqui é “shemá”. Mas este verbo não tem o sentido apenas de “ouvir, prestar atenção”, significando apenas uma comunicação ou informação, não. A expressão "ouvi" tem um sentido muito maior, mais imperioso: abarca a ideia tanto de "escutar com atenção” quanto de "obedecer''; significa acatar ordens de autoridade religiosa, civil ou familiar. Essa fraseologia é similar a de Isaias (Mq 4:1-5; Is 2:2-4), e é vista também nos ensinos de Jesus (Mt 11:15; 13:3). Portanto, a obediência deve ser precedida pela compreensão e pelo amoroso acatamento da mensagem divina (Mt 7:24,26). Somos conhecidos como crentes pela obediência a Deus e à Sua Palavra.

Obedecer de coração à Palavra de Deus é melhor do que qualquer forma exterior de adoração, serviço a Deus, ou abnegação pessoal. O culto, a oração, o louvor, os dons espirituais e o serviço a Deus não tem valor aos seus olhos, se não forem acompanhados pela obediência explícita a Ele e aos seus padrões de retidão.

A obediência é o que Deus requer do ser humano, é a sua única exigência (Dt 10:12,13). É uma das condições para termos nossas orações respondidas (1João 3:22). Obedecer é melhor do que sacrificar e o atender é melhor do que a gordura de carneiros (I Sm.15:22).

2. A desobediência das nações - “Ouvi, todos os povos, presta atenção, ó terra, em tua plenitude, e seja o Senhor JEOVÁ testemunha contra vós, o Senhor, desde o templo da sua santidade” (Mq 1:2). Miquéias dirige-se a todas as pessoas da terra, pois Deus é o Senhor de toda a Terra (Mq 4:2,3), e todas as nações devem prestar contas a ele.

Deus soberano, Adonai-Iavé, Criador e sustentador do universo, exige atenção e obediência de todos, em todos os lugares, pois não é uma divindade tribal, mas o Deus que está assentado num alto e sublime trono e governa sobre todas as nações.

A desobediência foi sempre a razão do fracasso de todos quantos decidiram servir a Deus (Dt 8:20; Dn 9:11; At 7:39). O pecado é desobediência e a desobediência gera a indignação e a ira divinas (Rm 2:8), a reprovação para toda a boa obra (Tt 1:16). Aos desobedientes é negado o repouso divino (Hb 3:18), bem como reservado um triste fim (1Pe 4:17).

3. A ira de Deus sobre o pecado (Mq 1:3-5). A idolatria, a imoralidade e a injustiça social foram uma tríade pecaminosa que atraiu a justa ira de Deus. O cálice da ira de Deus foi se enchendo até que os pecados do povo atraíram inevitavelmente o juízo divino.

Em Jerusalém, no Templo do Senhor, o culto a Deus era realizado conforme as prescrições divinas. Todavia, não tardou para que a idolatria de Samaria e a sedução dos deuses de outros povos também penetrassem pelas portas dessa cidade. No reinado de Acaz, ídolos abomináveis foram introduzidos dentro do templo do Senhor. A porta da casa de Deus foi fechada. A impiedade tomou conta da cidade. Com a apostasia veio, também, a opressão do inimigo. Com o abandono da lei de Deus, os ricos passaram a explorar os pobres. Os juízes se corromperam para dar sentenças injustas. Os profetas e sacerdotes abandonaram o ensino fiel da Palavra de Deus, e a nação afundou num pântano nauseabundo de apostasia, corrupção e maldade. O povo de Judá ia ao Templo, mas também fazia sacrifícios nos altos, redutos de idolatria e imoralidade.

O povo havia caído na rede mortal do sincretismo religioso. Foi o próprio Deus quem estabeleceu preceitos para regulamentar o culto. Portanto, o culto verdadeiro deve ser feito segundo as prescrições divinas, e não segundo o enganoso coração humano. A igreja contemporânea, de maneira semelhante ao povo de Israel à época de Miquéias, está introduzindo muitas práticas estranhas no culto. Essas práticas, oriundas do misticismo pagão, embora agradem o povo, são rejeitadas por Deus.

Veja o texto de Miquéias 1:3: “Porque eis que o SENHOR sai do seu lugar, e descerá, e andará sobre as alturas da terra”. Aqui, o texto sagrado denota que Deus é transcendente e também imanente. Ele não apenas está no Céu, mas, também, desce para andar sobre as alturas da Terra. Ele sonda os filhos dos homens. Ele diagnostica seus pecados. O Deus do Templo, da liturgia, é também o Deus de fora do Templo e do cotidiano. O Deus do Templo é também o Deus da criação. Miquéias levanta, então, sua voz para dizer que nada passa despercebido aos olhos de Deus. Ele a tudo vê e a todos sonda. Quando o profeta diz que Deus andará sobre as alturas da Terra, usa o mesmo verbo empregado para "pisar uvas, isto é, espremê-las com os pés, e representa o total esmagamento da desobediência idólatra".

A ira de Deus sobre o pecado é aterradora. Veja o texto de Miquéias 1:4: “E os montes debaixo dele se derreterão, e os vales se fenderão, como a cera diante do fogo, como as águas que se precipitam em um abismo”. Aqui, numa linguagem poética e dramática, Miquéias descreve a aparição de Deus, como juiz, para a cena do julgamento. Sua manifestação é majestosa e também aterradora. Diante dele os montes se derretem como cera diante do fogo. Tudo o que anteriormente parecia sólido e permanente assume, de repente, o aspecto de cera derretida. Os vales se fendem como as águas que se precipitam num abismo. Sua presença é irresistível, sua sentença irreversível e sua majestade incomparável. “Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb 10:31).

III. O RITUAL RELIGIOSO


Diante das profundas, irrefutáveis e eloquentes acusações ouvidas, o povo tenta buscar o favor de Deus. No entanto, em vez de tomar o caminho do arrependimento, busca o atalho da religião sem vida. O povo procura disfarçar sua injustiça clamorosa com rituais religiosos vazios. Miquéias acusa que os cultos eram rotineiros, mas não vinham do coração. Ele destaca três fatores importantes:

1. Os ritos sagrados sem santidade de vida são insuficientes (Mq 6:6) – “Com que me apresentarei ao SENHOR e me inclinarei ante o Deus altíssimo? virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano?”. O povo, convencido de sua culpa, pergunta se existe um meio de reaver o favor de Deus. Equivocadamente, o povo busca esse favor no sistema sacrificial. A solução procurada foi puramente formal. A religião meramente ritual não representa o culto verdadeiro, não agrada a Deus.

Os holocaustos eram sacrifícios legítimos e ordenados por Deus, mas precisavam ser oferecidos com a motivação certa e com vida certa. O povo queria oferecer holocaustos para ocultar seus pecados. O povo queria fazer a coisa certa, da maneira errada e com as piores motivações.

Alguém disse que “os sacrifícios eram facilmente usados como álibis da desobediência. Eles perceberam que a fumaça que subia do altar podia servir para ocultar os seus pecados. Apesar de autênticos atos cultuais, eles podem transformar-se em meio para não se prestar ao Senhor um culto verdadeiro”.

2. A ostentação religiosa sem piedade é nula (Mq 6:7) – “Agradar-se-á o SENHOR de milhares de carneiros. de dez mil ribeiros de azeite?". Se Deus não deseja determinado tipo de oferta (o holocausto), talvez a quantidade de sacrifícios o agrade: milhares de carneiros, dez mil ribeiros de azeite. O povo pensou que Deus estava interessado no tamanho da oferta. Eles ofereceram tudo (até aquilo que Deus proibira), com exceção da única coisa que ele pedia: o coração, com seu amor e sua obediência. Deus não se impressiona com ostentação. Ele não quer desempenho. Ele quer coração quebrantado, verdade no íntimo.

3. O sacrifício humano sem quebrantamento é inútil (Mq 6:7b) - "Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu corpo, pelo pecado da minha alma?". O povo pensava que podia agradar a Deus, imitando os povos pagãos e oferecendo no altar o próprio primogênito. Deus jamais aceita sacrifícios humanos, que eram procedimentos pagãos(costumeiros em Canaã) e que sempre desagradou ao Senhor (2Rs 23:10; Jr 32:35;At 7:43). A lei mosaica proibia terminantemente o sacrifício humano (Lv 18:21;20:1-5). Deus quer a vida e a obediência dos homens, não a sua morte.

IV. O GRANDE MANDAMENTO


“...que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus?”(Mq 6:8). Deus pede ao seu povo que transforme a religiosidade de ritos em religiosidade de vida; que transforme a liturgia ritualista em prática de justiça; que transforme o culto em obediência. Deus quer que o povo tenha uma conduta ética e moral, não as cerimônias religiosas. Deus exige do povo um triplo Mandamento: praticar a justiça; amar a misericórdia; andar humildemente com Deus. Este triplo mandamento não é mutuamente exclusivo, por isso não deve ser desmembrado. É possível praticar a justiça severa e inflexível sem misericórdia; também pode haver misericórdia sem justiça; não é raro o indivíduo professar que anda humildemente com Deus, mas oferece à justiça e à misericórdia pouco espaço em sua vida.

1. A prática da justiça (Mq 6:8). Não basta conhecer a justiça, é preciso praticá-la. Conhecê-la e violá-la é cometer um crime doloso. A justiça não pode estar presente apenas nos códigos de leis e na retórica dos tribunais, mas nas ações práticas do povo. Praticar a justiça no contexto de Miqueias é não acumular terras; é não explorar as famílias; é não distorcer a teologia, usando como legitimação ideológica; é não corromper os julgamentos; é não falsificar a Palavra de Deus.

2. A prática da misericórdia (Mq 6:8). A misericórdia é um passo além da justiça. A misericórdia oferece mais do que a justiça requer. A justiça concede o que o direito requer, a misericórdia concede o que o amor exige. A misericórdia não deve ser apenas praticada, mas também amada. Não basta fazer o que é certo, devemos fazê-lo com a motivação certa. A obediência sem amor desemboca em legalismo. Amar a misericórdia é defender o fraco, o pobre, o desprovido, o humilde, aquele que não tem vez nem voz numa sociedade que privilegia os poderosos.

3. O andar humildemente com Deus (Mq 6:8). A palavra hebraica “tsana”, traduzida por "humildemente", traz a ideia de uma aproximação modesta, com decoro. É curvar-se para andar com Deus. Se as duas primeiras instruções falam da nossa relação com os homens, esta fala da nossa relação com Deus.

- Essas três instruções são uma síntese de toda a lei de Deus. Não podemos cumprir as duas primeiras sem observar a terceira. Só podemos praticar a justiça e amar a misericórdia se andarmos humildemente com Deus. Nenhum de nós é capaz de fazer aquilo que Deus ordena sem antes nos achegarmos ao Senhor como pecadores quebrantados que carecem da salvação.

CONCLUSÃO


Diante do exposto concluímos que, o que agrada o coração de Deus é um servo obediente. As bênçãos de Deus ao povo de Israel estavam condicionadas à obediência aos mandamentos estabelecidos por Deus (cf Dt 28:1). A adoração aceitável implica em uma existência vivida em obediência aos mandamentos de Deus, cujos aspectos são morais e espirituais. Até o ritual e a forma divinamente ordenados, embora façam parte da adoração, devem ser acompanhados pelo movimento sincero do coração em direção a Deus. A adoração a Deus meramente ritualista é fútil.

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

William Macdonald – Comentário Bíblico popular (Antigo Testamento).

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.

Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.

Revista Ensinador Cristão – nº 52 – CPAD.

A Teologia do Antigo Testamento – Roy B.Zuck.

Comentário Bíblico Beacon, v.5 – CPAD.

Miquéias( A justiça e a misericórdia de Deus ) – Rev.Hernandes Dias Lopes.