domingo, 27 de julho de 2014

Aula 05 – O CUIDADO AO FALAR E A RELIGIÃO PURA


3º Trimestre/2014

 
Texto Base: Tiago 1.19-27

 
“.... Mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar” (Tg 1:19).

 

INTRODUÇÃO

Zenão – um pensador antigo – disse: “temos dois ouvidos, mas apenas uma boca; assim podemos escutar mais e falar menos”. Tiago adverte: “Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar” (Tg 1:19). Quanto menos falar, menos risco a pessoa tem de tropeçar. Alerta o sábio Salomão: “No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente” (Pv 10:19). Falar é uma necessidade básica, e ouvir é uma responsabilidade vital para aqueles que desejam construir relacionamentos saudáveis e maduros. Todavia, precisamos falar o necessário, na hora certa e de forma eficaz, sem “jogar conversa fora”.

I. PRONTO PARA OUVIR TARDIO PARA FALAR (Tg 1:19,20)

“Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus”.

A comunicação é a chave para um relacionamento saudável. Dependendo da maneira como nos comunicamos, podemos dar vida ou matar um relacionamento. Portanto, esteja pronto para ouvir e prudente no falar.

1. Pronto para ouvir (1:19). “Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir...”. Aqui, trata-se de uma ordem incomum, dada quase em tom de humor. É como dizer: “apressem-se em ouvir!”. O termo "pronto", no grego, é “táxys”, de onde vem nossa palavra táxi (rápido). O táxi é um carro de serviço. Ele deve estar sempre disponível. Seu objetivo é atender o cliente, sempre. Se vamos usar um táxi, é porque temos pressa. Não podemos esperar. Assim ocorre também com a comunicação. Devemos ter rapidez para ouvir. Significa que devemos estar prontos para ouvir a Palavra de Deus, bem como todo conselho e admoestação justos. Devemos nos sujeitar ao ensino do Espírito Santo.

O rev. Hernandes Dias Lopes – em seu livro “Tiago (transformando provas em Triunfo)” – disse que é preciso que estejamos prontos para ouvir a voz de Deus, a voz da consciência, a voz de nosso próximo. Hoje estamos perdendo o interesse em ouvir, e o resultado disso é a família em desarmonia, é a sociedade fragmentada. Se nós estivéssemos prontos para ouvir, com a mesma disposição que estamos prontos a falar, certamente haveria menos ira e mais encontros abençoadores e saudáveis entre nós.

Hoje, estamos substituindo relacionamentos por coisas. Os pais já não têm mais tempo para os filhos. Eles estão muito ocupados e não podem mais ajudar os filhos nos deveres da escola, nem ouvir o que os filhos têm a dizer sobre suas fantasias de criança ou suas angústias da adolescência.

O diálogo está morrendo entre marido e mulher. Os casamentos estão acabando, o índice de divórcio está crescendo espantosamente, porque os cônjuges estão correndo atrás do urgente e deixando o que é importante de lado; estão valorizando coisas e não relacionamentos; estão substituindo pessoas por coisas.

Temos de ouvir com os ouvidos, com os olhos e com o coração. Precisamos disponibilizar tempo e atenção para os outros. As pessoas são mais importantes que as coisas.

2. Tardio para falar (1:19). É surpreendente como Tiago insiste em tratar do nosso modo de falar! Adverte-nos a ser cuidadosos em nossas conversas. O que Tiago quer dizer com “tardio” é que devemos refletir primeiro, e não falar de imediato. É preciso saber a hora de falar e também o que falar. O que temos a dizer é verdadeiro? É oportuno? Edifica? Transmite graça aos que ouvem? Geralmente falamos antes de pensar, de ouvir, de orar, de medir as consequências. Devemos ter muito cuidado com isso, pois: "a morte e a vida estão no poder da língua..." (Pv 18:21). As palavras podem dar vida ou matar.

Salomão teria concordado plenamente com Tiago. Ele disse: “O que guarda a boca conserva a sua alma. Mas o que muito abre os lábios a si mesmo se arruína” (Pv 13:3). Por isso, Davi orava a Deus e pedia: "Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; vigia a porta dos meus lábios!" (Sl 141:3). Muito transgride quem fala para depois pensar, fala sem refletir e fala mais do que o necessário. Diz o sábio Salomão: “Na multidão de palavras não falta transgressão, mas o que modera os seus lábios é prudente” (Pv 10:19); “Até o tolo, quando se cala, é tido por sábio” (Pv 17:28). Quem fala demais acaba caindo em pecado. Precisamos, pois, estar atentos sobre o que falamos, como falamos, quando falamos, com quem falamos e por que falamos.

3. “Tardio para se irar” - Controle a sua ira. “Mas todo o homem seja... tardio para se irar. Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus”. O verdadeiro crente deve saber se controlar tanto verbal quanto emocionalmente, deve saber lidar com a palavra e também com a ira.

Quem se irrita com facilidade não produz a justiça que Deus espera de seus filhos. Quem perde a calma transmite uma impressão equivocada do cristianismo. A maior demonstração de força está no autodomínio, e não no domínio sobre os outros. Diz Salomão: “Melhor é o longânimo do que o valente, e o que domina o seu espírito do que o que toma uma cidade” (Pv 16:32). Em geral, a ira humana é desgovernada, destruidora e pecaminosa; é obra da carne, e não opera a justiça de Deus. A Palavra de Deus não proíbe o crente de ficar indignado, irado, contra o pecado, a injustiça (Lc 19:45), entretanto, estabelece limites para o nosso temperamento não se achar descontrolado, deixando-nos impulsivamente irados – “irai-vos e não pequeis...” (Ef 4:26). Diz o sábio Salomão: “Retém as suas palavras o que possui o conhecimento, e o homem de entendimento é de precioso espírito” Pv 17:27).

Caim não soube controlar suas emoções, sua tempestividade, por isso cometeu grave crime – “...E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o seu semblante” (Gn 4:5). Caim irou-se, não dominou sua ira, e esta o levou à prática do homicídio – “...e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel e o matou” (Gn 4:8). Caim, um homem descontrolado pela ira!

Precisamos aprender a lidar com nossos sentimentos. Um indivíduo temperamental provoca grandes transtornos na família, no trabalho, na igreja e na sociedade. O cristão, que é templo do Espírito Santo, tem de levar a sua mente cativa a Cristo (2Co 10:5) e manifestar o fruto do Espirito Santo: o domínio próprio (Gl 5:22).

II. PRATICANTE E NÃO APENAS OUVINTE DA PALAVRA (Tg 1:21-25)

1. Enxertai-vos da Palavra (Tg 1:21). “Pelo que, rejeitando toda imundícia e acúmulo de malícia, recebei com mansidão a palavra em vós enxertada, a qual pode salvar a vossa alma”.

Para que a Palavra de Deus seja enxertada efetivamente no coração do crente, primeiramente é necessária que ele desaposse de seu coração toda impureza e maldade - " despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade"(ARA). A Palavra de Deus é comparada a uma semente, e o coração do homem, a um solo. Antes de lançarmos a semente precisamos preparar a terra. Jesus falou de quatro tipos de solo: o solo endurecido, o superficial, o congestionado e o frutífero (Mt 13:3-9). Antes de acolhermos a Palavra, precisamos remover a erva daninha da impureza e da maldade. Também é requerida uma atitude correta para receber a Palavra: "... recebei com mansidão a palavra em vós enxertada...". A mansidão é o oposto da ira (Tg 1:19). É necessário adubar o terreno para que a semente frutifique. A Palavra deve ter raízes profundas em nossa vida; senão, seremos destruídos quando as tempestades derem de ímpetos contra nós. Tiago fala ainda acerca do resultado da recepção da Palavra: "... a qual pode salvar a vossa alma". Quando nascemos da Palavra, ouvimos a Palavra, recebemos a Palavra e praticamos a Palavra, podemos ter garantia da salvação.

2. Praticai a Palavra (Tg 1:22-24).E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não cumpridor, é semelhante ao varão que contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e foi-se, e logo se esqueceu de como era”.

Não basta receber a Palavra enxertada; é preciso também obedecer-lhe. De nada adianta ter uma Bíblia ou mesmo lê-la como um livro qualquer. Devemos traduzir a Bíblia em ações. Suas palavras devem se materializar em nosso modo de viver. Ao ler as Escrituras, devemos sempre permitir que elas mudem nossa vida para melhor. Professar grande amor pela Palavra de Deus ou considerar-se um grande estudioso da Bíblia não passará de um modo de se enganar se o conhecimento crescente não nos tornar cada vez mais semelhante a Jesus.

Quem é “ouvinte da Palavra”, mas não muda seu comportamento, “é semelhante ao varão que contempla ao espelho o seu rosto natural”. Ou seja, vê a própria imagem de relance no espelho toda a manhã e depois se esquece completamente do que viu. Ele não tirou proveito nenhum do espelho e do fato de ter se olhado nele. Claro que alguns elementos de nossa aparência não podem ser mudados, mas pelo menos podem nos tornar mais humildes! E, quando o espelho nos diz que é hora de lavar o rosto, fazer a barba, pentear os cabelos, ou escovar os dentes, devemos atender. De outro modo, é inútil ter o espelho.

É fácil ler a Bíblia de forma descuidada ou por obrigação sem nos tocarmos pela leitura. Vislumbramos o ideal de Deus para nós, mas nos esquecemos rapidamente dEle e continuamos a viver como se já fôssemos perfeitos. Nossa presunção impede o progresso espiritual. (1)

3. Persevere ouvindo e agindo (Tg 1:25).Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar” (ARA).

Neste texto, Tiago mostra aquele que considera, atentamente, a Palavra de Deus e tem por hábito colocá-la em prática. Para ele, a Bíblia é a lei perfeita, a lei da liberdade, porque é somente obedecendo à lei de Deus que a verdadeira liberdade pode ser encontrada (compare com João 8:31,32). Ao obedecer, esse indivíduo descobre a verdadeira libertação do modo de pensar carnal. A verdade o liberta. Esse indivíduo colhe os benefícios das Escrituras. Não se esquece daquilo que leu. Antes, procura colocar a leitura em prática na vida diária. Como cristãos, nós somos salvos pela graça de Deus, e a salvação nos liberta do controle do pecado. Como crentes, nós somos livres para viver como Deus nos criou para viver. Naturalmente, isso não quer dizer que somos livres para fazer o que quisermos (cf 1Pe 2:16; Gl 5:13) – agora somos livres para obedecer a Deus. A obediência simples como a de uma criança traz bênçãos inestimáveis para a alma. O indivíduo será bem-aventurado no que realizar.

III. A RELIGIÃO PURA E VERDADEIRA (Tg 1:26,27)

Em Tiago 1:26,27, vemos um contraste entre a falsa religião e a religião pura e sem mácula. O termo “religião” representa os padrões de comportamento associados à crença religiosa e diz respeito às manifestações exteriores, e não ao espírito interior. Refere-se às expressões da crença no culto e no serviço, e não à doutrina em que a pessoa crê.

1. A falsa religiosidade.Se alguém entre vós cuida ser religioso e não refreia a sua língua, antes, engana o seu coração, a religião desse é vã” (Tg 1:26).

A religião pura e verdadeira vai muito além de doutrinas e ritos. Hoje há um grande abismo entre o que professamos e o que vivemos; entre o que dizemos e o que fazemos; entre a nossa profissão de fé e a nossa prática de vida; entre o cristianismo teórico e o cristianismo prático. Esse distanciamento entre verdades inseparáveis, essa falta de consistência e coerência, dá à luz uma religião esquizofrênica e farisaica.

Tiago aponta o sério risco de se viver uma religião descomprometida, mística, teórica, descontextualizada, sem praticidade e sem pertinência histórica. Ele diz que não basta o ritual bonito, a liturgia pomposa, a exterioridade irretocável. É preciso celebrar a liturgia da vida. Para tanto, ele coloca o prumo de Deus em nós e questiona-nos: somos verdadeiros religiosos ou não? Como saber se somos? No controle da língua.

Tiago afirma que a língua é como animal selvagem. Se for controlada e refreada de modo apropriado, poderá ser usada para o bem. Mas seus poderes de destruição serão enormes, se for deixada a seu bel-prazer. A pessoa que deixa de controlar sua língua acaba enganando o próprio coração na questão da veracidade de sua religião. Ele é um mero “ouvinte” da Palavra e, quando falha em colocar em prática aquilo que ouve, mostra que sua religião é vã: vazia, inútil e infrutífera. Pode observar todas as cerimônias religiosas e, desse modo, parecer extremamente piedoso, mas está apenas enganando a si mesmo.

Miriã e Arão, um casal sem o controle da língua. Dando um salto bíblico de mais de 3.400 anos, falemos de Miriã e de Arão, irmãos de Moisés, que não souberam dominar a língua e murmuraram contra Moisés – “E falaram Miriã e Arão contra Moisés, por causa da mulher cuxita, que tomara, porquanto tinha tomado a mulher cuxita” (Nm 12:1). Miriã, como líder da rebelião, só não morreu por causa da intercessão de Moisés. Porém, ficou temporariamente leprosa.

A língua funciona como aferidora do coração. Ela é como uma radiografia que revela o que está em nosso interior. Não há coração puro se a língua é impura. Não há língua santa se o coração é um poço de sujeira. Não há cristianismo verdadeiro sem santidade da língua. Se o coração estiver certo, a língua mostrará isso.

A língua desenfreada é apenas um exemplo da “religião vã”. Qualquer comportamento incoerente com a fé cristã é vão. Conta-se a história do dono de um mercantil que fingia ser um homem piedoso. Morava num apartamento em cima do comércio e, todas as manhãs, gritava para seu assistente no andar de baixo:

-  João!

-  Sim, senhor.

-  Já misturou água no leite?

-  Sim, senhor.

-  Já mudou a data de vencimento da manteiga?

-  Sim, senhor.

-  Já requentou o pão de ontem?

-  Sim, senhor.

-  Então suba aqui para fazer o devocional!

Tiago diz que uma religião como essa é vã, falsa. Deus não se contenta com rituais; seu interesse maior é pela vida de piedade prática.

2. A verdadeira religião (Tg 1:27). “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo”.

A religião verdadeira não é um simples ritual, não é misticismo ou encenação, mas é ter uma vida separada para Deus. É guardar-se incontaminado do mundo, ou seja, do sistema de valores pervertidos, corruptos, sujos, imorais e inconsequentes.

A religião que agrada ao Senhor é rechaçar o mal ainda que mascarado de bem. O mundo é atraente, ele arma um cenário encantador para nos atrair. Contudo, o mundo jaz no maligno(1João 5:19).

O verdadeiro religioso tem compaixão dos necessitados (Tg 1:27). Tiago associa, dentro da comunidade cristã, a verdadeira religião com práticas adequadas, e mostrando que a fé verdadeira está associada não apenas à fé, mas com o que fazemos para espelhar nossa fé. O cuidado dos necessitados não é o conteúdo do cristianismo, mas sua expressão. A preocupação prática da religião de uma pessoa é o cuidado pelos outros. A religião é a prática da fé, é a fé em ação. Palavras não substituem obras (Tg 2:14-18; 1João 3:11-18).

3. Guardando-se da corrupção do mundo (Tg 1:27). Tiago, também, menciona outro aspecto da verdadeira religião: “... guardar-se da corrupção do mundo”. Para nos protegermos da corrupção do mundo, precisamos nos comprometer com o sistema ético e moral de Cristo, e não com o do mundo. Não devemos nos adaptar ao sistema de valores do mundo, baseado no dinheiro, no poder e no hedonismo. A verdadeira fé não significa nada se estivermos contaminados com estes valores. Não podemos amar o mundo nem ser amigo dele. Não podemos nos conformar com o mundo para não sermos condenados com ele.

Observe a exortação de João: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1João 2:15-17).

A Bíblia diz que “Demas amou o presente século”, ou seja, amou o mundo - abandonou deliberadamente e conscientemente a sua fé, apostatou-se (2Tm 4:10).

Estamos fisicamente no mundo, mas não espiritualmente nele (João 17:11-16). Estamos no mundo não para que ele nos contamine, mas para sermos nele instrumentos de transformação. No mundo somos embaixadores de Deus, somos ministros da reconciliação; somos sal, luz e perfume de Cristo (Mt 5:13,14; 2Co 2:15).

CONCLUSÃO

Concluindo esta Aula, devemos avaliar nossa fé com as seguintes perguntas: leio a Bíblia com o desejo humilde de receber a repreensão e o ensino de Deus e de ser transformado por Ele? Anseio por aprender a refrear a minha língua? Como reajo quando alguém começa a contar uma piada imprópria? Minha fé se manifesta em atos de bondade para com aqueles que não têm como retribuir?

Nos dias em que vivemos, em que "tudo é relativo", é preciso lembrarmos que o falar do crente deve ser sim, sim, não, não, e o que sai disto é de procedência maligna (Mt 5:37). Equivocam-se os faladores da atualidade que acham que suas palavras não são levadas em conta pelo Reto e Supremo Juiz. Não só nossas ações, mas também nossas palavras são levadas em conta diante de Deus. Tenhamos muito cuidado com o que falamos, pois tudo está sendo anotado perante o Senhor - “Mas eu vos digo que de toda palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no Dia do Juízo” (Mt.12:36). Que possamos dizer como Jó: “Nunca os meus lábios falarão injustiça, nem a minha língua pronunciará engano” (Jó 27:4). Que os nossos ouvidos estejam prontos para ouvir, a nossa língua para falar sabiamente e a nossa vida para praticar tudo quanto aprendemos do Evangelho. Que este seja o compromisso de todos os cristãos, na presença de Deus, neste mundo!

 ------------

Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – M. Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 59 – CPAD.

(1) William Macdonald - Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento. Mundo Cristão.

Douglas J. Môo. Tiago. Introdução e Comentário. Vida Nova.

Rev. Hernandes Dias Lopes – Tiago (Transformando Provas em Triunfo). Hagnos.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Silas Daniel & Alexandre Coelho – Tiago – Fé e Obras. CPAD.

 

 

 

 

 

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Aula 04 – GERADOS PELA PALAVRA DA VERDADE


3º Trimestre/2014

 
Texto Básico: Tiago 1:9-11,16-18

 
“Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva e que permanece para sempre” (1Pe 1:23).

 

INTRODUÇÃO


Nesta Aula, trataremos de três assuntos importantes. Primeiro - com base Tiago 1:9 – 11 -, trataremos sobre a forma como os cristãos devem encarar a pobreza e a riqueza. Estas condições sociais são enfatizadas por Tiago como circunstâncias transitórias da vida, como situações efêmeras, e também como conjunturas em meio às quais o cristão deve aprender a estar sempre satisfeito. Os cristãos verdadeiros, gerados pela Palavra da verdade e por estarem ligados pelo Evangelho, devem saber se relacionar com o outro independente da sua condição econômica e social. Segundo – com base em Tg 1:16,17 -, trataremos acerca de Deus como a fonte de todo bem verdadeiro. Terceiro - com base em Tg 1:18 -, trataremos acerca do maior de todos os dons que o Senhor nos concede: o de sermos gerados de novo pelo poder da Palavra de Deus.
 
I. A RELAÇÃO ENTRE OS POBRES E OS RICOS DA IGREJA (Tg 1:9-11)

A Bíblia jamais ensina que a riqueza em si é um mal. O próprio Deus deu a Salomão tanto a riqueza como a sabedoria (1Rs 3:12,13). Tudo depende de como a riqueza é adquirida, como é usada e qual o lugar que ela ocupa no coração de quem a possui. À luz das Escrituras Sagradas, o pobre é convidado a gloriar-se em Cristo pela sua nova posição de filho de Deus e pelo que tem permanente no Céu; enquanto o rico, no encontro com o Evangelho de Cristo, é convidado por Cristo a se humilhar para compreender a natureza passageira da sua riqueza.

1. Os pobres na igreja do primeiro século. A história da igreja e os estudos mostram que a igreja do primeiro século era composta de irmãos de condição muito pobre financeiramente. A maioria vinha das classes mais humildes da sociedade; havia ricos, mas poucos. Se Tiago está escrevendo para cristãos judeus na Palestina e Síria, muitos deles, ou quem sabe todos, deviam ser pobres. Temos noticias de uma grande fome que aconteceu por volta daquela época, e é possível que os cristãos, que padeciam no ostracismo, tenham sofrido de modo particularmente severo (veja Atos 11:28,29).

A pobreza, a carência, é uma das situações na vida em que o cristão é muito tentado. Ele é tentado pela falta daquilo que lhe é essencial para sua subsistência; ele também é tentado pela cobiça, pela inveja, pelo ressentimento ao ver outras pessoas receberem aquilo que ele não tem e não pode ter. Então, o irmão carente – materialmente falando - é muito provado por causa de sua situação.

A orientação de Tiago em 1:9 é que o cristão, cuja posição social e econômica é realmente baixa, deve gloriar-se na sua dignidade - “glorie-se na sua dignidade” (Tg 1:9) -, ou seja, não é pecado ser pobre, embora as igrejas neopentecostais ensinam que a vontade de Deus é que nós sejamos ricos e prósperos financeiramente. Este ensino é falso; não há em lugar nenhum do Novo Testamento esse tipo de ensino. Uma pessoa pode ser pobre e digna, especialmente se ela é cristã, se ela ama a Deus; se ela é discípula de Jesus Cristo, existe uma certa dignidade nisso. É claro que o “gloriar-se”, neste contexto, não significa a vanglória arrogante de alguém considerada poderosa, mas o alegre orgulho possuído pela pessoa que valoriza aquilo que Deus valoriza.

A palavra “dignidade” (“exaltação”, ARC) é usada em outros lugares do Novo Testamento como descrição do reino celestial ao qual Cristo foi elevado (Ef 4:8) e de onde desce o Espírito Santo (Lc 24:49). Pela fé, agora os crentes pertencem ao reino celestial como cidadãos (Fp 3:20) e também aguardam do Céu o Senhor Jesus, que transformará o “nosso corpo de humilhação“ em “corpo da sua glória” (Fp 3:21). Podemos afirmar, então, que “dignidade” inclui o gozo atual que o crente tem em seu “status” espiritual exaltado e também a esperança de participar do glorioso e eterno reino de Cristo.

É justamente esta combinação do “status” atual e da herança futura que Tiago destaca em Tiago 2.5: “Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam?”. É claro que Tiago não é da Teologia da Libertação, que diz que Deus fez uma opção preferencial pelos pobres; aqui, ele está constatando uma realidade de que através da história o número de cristãos que vem das camadas mais humildes da sociedade é muito maior do que aqueles que vieram de entre os ricos, nobres, poderosos, influentes, intelectuais e os fazedores de opiniões deste mundo. É só ler a história da igreja que veremos que isso é uma verdade. Então há uma dignidade que os irmãos humildes se lembrem disso, e que Deus os recebe em seu reino.

2. Os ricos na igreja Antiga.E o rico, na sua insignificância, porque ele passará como a flor da erva(Tg 1:10). No início existiam poucos ricos na igreja; muitos que eram detentores de posses vendiam suas propriedades para serem repartidos com os pobres. Também, por serem cristãos, estavam sujeitos a todo tipo de assédio da classe dominante do governo local: havia prisões, arrestamento de bens, tortura e morte. E os judeus - não cristãos - proprietários de muitos bens negligenciavam as obrigações que pesavam sobre eles (Lv 19:10; 23:22; Dt 15:1-18; 1Tm 6:9,17-19). Por causa disso, e pelas suas atitudes, eles eram frequentemente repreendidos por Deus (Am 2:4-8; Lc 6.24; 18.24,25).

Tiago diz que os ricos são como a flor da erva, aquela flor bonita que existe nas campinas, mas que com o calor do sol se secam, se murcham; assim, os ricos passarão na sua insignificância. Portanto, não cobicem as riquezas, diz Tiago para aqueles crentes pobres do primeiro século; não fiquem com inveja dos ricos porque eles passarão num instante e vocês são herdeiros do reino que Deus tem reservado àqueles que O amam.

A lição aqui é que não devemos permitir que as alterações da nossa situação financeira influenciem o nosso compromisso com Deus. Se somos pobres, se temos uma condição humilde, gloriemo-nos nisso, demos graças a Deus por isso. Contudo, se temos condição de progredir, que o façamos; mas se não, lembremos que Deus nos tem reservado um tesouro ainda muito maior e infinitamente muito melhor. E se temos alguma riqueza material aqui neste mundo, lembremos que ela é passageira! Recentemente, o mundo passou por uma crise financeira, que veio de repente, de um dia para o outro muitos milionários ficaram na miséria, entre eles cristãos. Nos Estados Unidos, pessoas venderam suas mansões por míseros dólares, mansões que valiam milhões de dólares, para ter alguma coisa para sobreviver. O mundo está cheio de histórias de pessoas que eram riquíssimas, eram tranquilas financeiramente, mas que no dia seguinte amanheceram pobres sem absolutamente nada.

Se a nossa felicidade e estabilidade espiritual vão depender da oscilação da nossa situação financeira ou do sistema financeiro mundial, então nunca seremos cristãos perseverantes. Nós não devemos depender dessas coisas. Devemos, sim, colocar a nossa confiança em Deus e aguardar nEle e nEle ter o nosso conforto apenas. Esta é a orientação de Tiago.

3. Perante Deus, pobres e ricos são iguais. “O rico e o pobre se encontram; a todos o Senhor os fez”(Pv 22:2). “O que oprime o pobre insulta àquele que o criou, mas o que se compadece do necessitado o honra”(Pv 14:31). Não há predileção entre o rico e o pobre. Ambos foram criados por Deus. São gêmeos com aparências díspares.

Num texto que lembra bastante as denúncias dos profetas do Antigo Testamento, Tiago pronuncia julgamento sobre os ricos (Tg 5:1-6). E, da mesma forma que os “pobres” nos salmos, os cristãos devem olhar para o Senhor com paciência e perseverança, a fim de receberem livramento (Tg 5:7-11).

Contudo, nem Tiago nem os profetas condenam os ricos pelo simples fato de serem ricos. Tiago, por exemplo, enumera os pecados específicos pelos quais “o rico” será julgado: um egoísta acúmulo de dinheiro (Tg 5:2,3); luxo sem sentido (Tg 5:5); fraude contra o trabalhador (Tg 5:4); e perseguição ao justo (Tg 5:6). O fato de que Tiago não condena o rico, só porque ele é rico, provavelmente também é demonstrado em Tg 1:10,11, onde é possível que o “rico” seja um “irmão” em Cristo.

Portanto, jamais se pode avaliar a espiritualidade de uma pessoa pelo que ela possui de bens materiais. O pobre ao ser provado deve dizer: mas quão rico eu sou! O rico ao ser provado pelas glórias do mundo deve dizer: quão vulnerável eu sou! Cada um deve olhar para a sua vida na perspectiva da eternidade.

II. DEUS SÓ FAZ O BEM (Tg 1:16,17)

1. Não erreis (Tg 1:16). “Não erreis, meus amados irmãos”. Este versículo atua como uma transição entre Tg 1:12-15 e 17-18. Atribuir a Deus o intento maligno de tentar as pessoas é um assunto sério. Tiago quer ter a certeza de que seus leitores não se “enganarão” nesta questão. Muitas vezes, as pessoas que caem em pecado culpam Deus em vez de assumir a responsabilidade. Perguntam ao Criador: “Por que me fizeste assim?”. Proceder assim é enganar-se a si mesmo. Tudo o que Deus faz é bom. Na verdade, Ele é a fonte de “toda dádiva e todo dom perfeito” (Tg 1:17).

Como expusemos na Aula 02, de uma maneira que não sabemos explicar, Deus não é responsável pelos atos pecaminosos de suas criaturas; por isso, elas darão conta de seus atos pecaminosos junto a Deus; por isto, Deus não é injusto quando Ele as conduz para a condenação. A Bíblia responsabiliza o ser humano pelo pecado e pela decisão errada que ele comete. Não deixemos que a nossa fé venha esmaecer nem por um minuto, em pensar que a graça de Deus, que a soberania de Deus, nos dá uma desculpa para o pecado. Nós somos responsabilizados pelas Escrituras por todas as nossas ações. Portanto, “não erreis, meus amados irmãos”.

2. Toda boa dádiva e todo dom vêm de Deus. Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto...” (Tg 1:17). Tudo o que Deus nos dá é bom. Toda boa dádiva procede das Suas mãos. Ele, muitas vezes, nos dá não o que pedimos, mas o que precisamos. Seriamos destruídos se Deus deferisse todas nossas orações. Muitas vezes pedimos uma pedra, pensando que estamos pedindo um pão; pedimos uma serpente, pensando que estamos pedindo um peixe. Deus, então, é tão bondoso, que não nos dá o que pedimos, mas o que necessitamos. Elizabeth George registra uma sublime mensagem sobre os paradoxos da oração:

Pedi a Deus força, para que eu pudesse alcançar êxito. Fui enfraquecido, para que pudesse aprender a humildade para obedecer...

Pedi saúde, para que eu pudesse fazer grandes coisas. Fiquei enfermo, para que pudesse fazer coisas melhores...

Pedi riquezas, para que eu pudesse ser feliz. Foi me dada a pobreza, para que eu pudesse ser sábio...

Pedi poder, para que eu pudesse ter o louvor dos homens. Recebi fraqueza, para que eu sentisse a necessidade de Deus...

Pedi todas as coisas, para que pudesse desfrutar a vida. Foi me dada a vida, para que eu pudesse desfrutar todas as coisas...

Não recebi nada do que pedi, mas tudo de que precisava.

Quase que a despeito de mim mesmo, minhas orações não respondidas foram respondidas. Eu sou, dentre todos os homens, o mais ricamente abençoado (George, Elizabeth. Tiago – Crescendo em sabedoria e fé).

3. A origem de tudo o que é bom está no Pai das luzes.Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação” (Tg 1:17). De Deus só pode vir o bem. Todo o bem que temos e experimentamos vem lá do alto, do Pai das luzes, que é imutável.

Note que Tiago chama Deus de “Pai das luzes”; na Bíblia, a palavra pai significa, por vezes, criador ou fonte (cf. Jó 38:28). Assim, Deus é o Criador ou a fonte das luzes. Mas o que são essas luzes? Sem dúvida, compreendem os corpos celestes: o sol, a lua e as estrelas (Gn 1:14-18; Sl 136:7). Deus é a fonte de toda forma de luz existente no universo, “em quem não pode existir variação ou sombra de mudança”. Deus é diferente de todos os corpos celestes criados por Ele. Enquanto estes estão sempre mudando, Deus permanece imutável.

É possível que Tiago tenha pensado não apenas no brilho declinante do sol e das estrelas, mas também em sua mudança de posição em relação à Terra, à medida que esta realiza sua rotação.

Os corpos celestes são caracterizados por variações. A expressão “sombra de mudança” pode significar sombra provocada por uma mudança. Neste caso, talvez se refira às sombras que incidem sobre a Terra por seu movimento em torno do sol. Deus é totalmente diferente; nele não há variação, não há sombra provocada por mudança. A sua criação gira, move, muda de posição; todavia, o Pai das luzes é imutável no seu propósito de nos fazer o bem. Ele não muda, ou seja, não é aquele que um dia nos ama, outro dia está com raiva de nós e nos manda a tentação para nos destruir, não. Seu propósito é imutável. Nele não há variação, nem mudança de sombra como existe nos luzeiros que Ele criou.

III. PRIMÍCIAS DE DEUS ENTRE AS CRIATURAS (Tg 1:18)

“Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas”.

1. Algo que somente Deus faz. Um exemplo maravilhoso das boas coisas que Deus nos dá é o nascimento espiritual, a regeneração. Nós somos salvos porque Deus decidiu nos tornar “primícias das suas criaturas” (seus próprios filhos). O nosso nascimento espiritual não se dá por acidente, nem porque Deus tinha que fazê-lo. Ser gerado de novo (2Co 5:17) é um presente para todos os crentes (veja João 3:3-8; Rm 12;2; Ef 1:5; Tt 3:5; 1Pedro 1:3,23; 1João 3:9), é uma ação realizada exclusivamente por Deus através do Santo Espírito; Ele limpa o homem dos seus pecados (Is 1:18), dando-lhe perdão e implantando-lhe um novo caráter.

2. A Palavra da verdade. A Palavra da verdade é o Evangelho, as Boas Novas da salvação (Ef 1:13; Cl 1:5; 2Tm 2:15). Como um proeminente exemplo das boas dádivas divinas, Tiago menciona o fato de que Deus “nos gerou pela palavra da verdade”.

Ele nos gerou é uma descrição do novo nascimento. Por meio do nascimento espiritual, nos tornamos seus filhos. Isto Ele fez a partir de sua determinação espontânea e gratuita, “segundo o seu querer”. Ou seja, Ele não foi obrigado a nos salvar por algum mérito nosso. Ele nos salvou segundo o seu livre querer. Não tínhamos como merecer, conquistar e nem comprar o amor de Deus por nós. Ele o expressou de forma inteiramente voluntário. Que motivo extraordinário de adoração!

O instrumento através do qual Deus realiza este nascimento espiritual é o Evangelho, a Palavra da verdade. Fomos gerados pela Palavra da Verdade, que salva a nossa alma (Tg 1:21). Assim como o nascimento natural vem pelo relacionamento do pai e da mãe, o nascimento espiritual vem por meio da Palavra e do Espírito (1Pedro 1:23). As Escrituras Sagradas, expressas na forma oral ou escrita, participam de todas as conversões autênticas. Sem a Bíblia não conheceríamos o caminho para a salvação. Aliás, nem saberíamos que Deus nos oferece a salvação!

Assim, a despeito de todas as circunstâncias difíceis da vida, podemos aplicar essa verdade afirmando que somos filhos de Deus, as primícias entre as criaturas do Senhor. Os destinatários da Epístola de Tiago, que sofriam grandes provações e tentações, precisavam saber dessa verdade.

3. O propósito de Deus. Tiago diz que o principal propósito de Deus é fazer da pessoa regenerada primícias das suas criaturas - “... para que fôssemos como que primícias das suas criaturas”.

No Antigo Testamento, as primícias eram a colheita do melhor fruto (Lv 23:10,11; Êx 23:19; Dt 18:4). Os cristãos para os quais Tiago escreveu faziam parte dos primeiros convertidos da Dispersão cristã. Por certo, todos os cristãos são como que primícias das criaturas de Deus, mas a expressão aqui se refere, primeiramente, aos cristãos judeus para quem Tiago escreve.

No Antigo Testamento, as primícias eram oferecidas a Deus em gratidão por sua generosidade e em reconhecimento a tudo que vem dele e pertence a Ele. Assim, todos os cristãos devem se apresentar a Deus como sacrifícios vivos (Rm 12:1,2).

Tiago compara os destinatários originais de sua Epístola aos primeiros feixes de cereal da colheita de Cristo. Serão seguidos de outros ao longo dos séculos, mas foram separados como padrão para mostrar os frutos da nova criação. Um dia, o Senhor encherá toda a terra de outros como eles (Rm 8:19-23). A colheita completa se dará quando o Senhor Jesus voltar para reinar sobre a terra.

Apesar de Tiago 1:18 se referir, originalmente, aos cristãos do século I, todos nós que honramos o nome de Cristo podemos aplicar perfeitamente esta passagem à nossa vida.

CONCLUSÃO


Todo aquele que é gerado pela Palavra da verdade possui um comportamento irrefragável de um verdadeiro filho de Deus, diante de um mundo de tanta desigualdade em todas as áreas da vida. O seu relacionamento íntimo com Deus e a aplicação das Escrituras Sagradas à sua vida diária, faze-o suportar, com alegria, todas as situações adversas. Ele é “ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade” (1Tm 3:15). Ele é cônscio do seu maior desafio: fazer o Evangelho ser conhecido num mundo dominado por relacionamentos distorcidos.

------

Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – M. Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 59 – CPAD.

William Macdonald - Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento. Mundo Cristão.

Douglas J. Môo. Tiago. Introdução e Comentário. Vida Nova.

Rev. Hernandes Dias Lopes –  Tiago (Transformando Provas em Triunfo). Hagnos.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Silas Daniel  & Alexandre Coelho – Tiago – Fé e Obras. CPAD.

 

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Aula 03 – A IMPORTÂNCIA DA SABEDORIA HUMILDE


3º Trimestre/2014

 
Texto Base: Tiago 1:5; 3:13-18

 
“Não desamparares a sabedoria, e ela te guardará; ama-a e ela te conservará” (Pv 4:6)

 

INTRODUÇÃO

Tiago escreveu a Epístola que leva o seu nome com dois objetivos precípuos: Primeiro, confortar as igrejas, destinatárias de sua Epístola, que passavam por grandes tribulações. Os cristãos no século primeiro estavam sujeitos a todo tipo de assédio da polícia local: havia prisões, arrestamento de bens, tortura e eventualmente a morte. Existiam problemas financeiros. No capítulo cinco, Tiago faz menção a injustiças cometidas pelos patrões ricos opressores. Ele consola os cristãos que trabalhavam nos campos desses senhores, proprietários de terras. Em fim, era uma igreja muito sofrida e que precisava de conforto, precisava de consolo da parte de Deus.

Segundo, corrigir algumas deficiências na fé e na prática desses irmãos. Aparentemente esta comunidade - tudo indica de judeus convertidos ao cristianismo -, não tinha ainda compreendido plenamente todas as implicações do evangelho. Eles não estavam enfrentando as tribulações e o sofrimento da maneira correta. Por isso que Tiago tem de dizer para eles como eles deviam passar pelo sofrimento. Quando lemos a Epístola toda de Tiago temos a impressão que aqueles irmãos tinham uma compreensão deficiente da doutrina fundamental do cristianismo, que é a doutrina de que somente somos justificados pela fé, sem as obras da lei. Para eles, se você é justificado pela fé em Cristo Jesus, o que você faz ou como você vive isso não vai ter muito impacto em seu relacionamento com Deus. Isto é o que em Teologia nós chamamos de antinomianismo, ou seja, a ideia de que a fé e a graça excluem as obras, atitude, comportamento e o andar diante de Deus. Então Tiago Tg 2:14-26, confronta essa compreensão errada, e afirma que a fé salvadora sempre vem acompanhada da evidência. Desta feita, fé e obras são dois lados de uma mesma moeda: a fé sendo a raiz da salvação e as obras sem fruto dela; onde tem uma vai ter a outra; onde falta uma a outra também falta.

Nesta Aula, vamos aprender com Tiago como viver com sabedoria humilde neste mundo, no meio das provas. “Ele inicia a temática em tom de exortação, enfatizando a necessidade da sabedoria divina como condição básica de levar a igreja a viver a Palavra de Deus com alegria, coerência, segurança e responsabilidade (Tg 1:5). E isso tudo sem precisar fugir das tribulações ou negar que o crente passa por problemas”. “Como servos de Deus, somos chamados por Ele para uma vida que espelhe decisões e práticas advindas de uma sabedoria espelhada na sabedoria divina”. (1)

I. A NECESSIDADE DE PEDIRMOS SABEDORIA A DEUS (Tg 1:5)

“E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada”.

Todos nós carecemos de sabedoria. A Bíblia não oferece respostas específicas para as inúmeras questões que surgem ao longo da vida; não resolve os problemas de forma explícita, mas nos fornece os princípios gerais. Precisamos de sabedoria para aplicá-los aos desafios da vida diária. A sabedoria espiritual consiste, portanto, na aplicação prática dos ensinamentos de Jesus às situações do quotidiano.

1. A sabedoria que vem de Deus.E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus”. Quando estamos sendo provados, precisamos de sabedoria para não desperdiçar as oportunidades que Deus está nos dando para chegarmos à maturidade. A sabedoria nos ajuda a entender como usar as provas para nosso bem e para a glória de Deus. Sabedoria é olhar para a vida com os olhos de Deus. Há pessoas que têm erudição, mas não sabem viver a vida nem fazer escolhas corretas.

Há uma sabedoria que vem de Deus e outra engendrada pelo próprio homem. A sabedoria do homem vem da razão, enquanto a sabedoria de Deus vem da revelação. A sabedoria do homem desemboca no fracasso, a sabedoria de Deus dura para sempre. A Bíblia traz alguns exemplos da tolice da sabedoria do homem: Primeiro, a torre de Babel parecia ser um projeto sábio, mas terminou em fracasso e confusão (Gn 11:9). Segundo, pareceu sábio a Abraão descer ao Egito em tempo de fome em Canaã, mas os resultados provaram o contrário (Gn 12:10-20). Terceiro, o rei Saul pensou que estava sendo sábio quando colocou a sua armadura em Davi (1Sm 17:38,39). Quarto, os discípulos pensaram que estavam sendo sábios pedindo a Jesus para despedir a multidão no deserto, mas o plano de Cristo era alimentá-la por meio deles (Mt 14:13,16). Quinto, os especialistas em viagens marítimas pensaram que era sábio viajar para Roma e por isso não ouviram os conselhos de Paulo e fracassaram (At 27:9-11).

Portanto, “a sabedoria que vem de Deus é o meio pelo qual o ser humano alcança o discernimento da boa, agradável e perfeita vontade divina (Pv 3:1-5; Rm 12:1,2). Sem esta sabedoria, o ser humano vive à mercê de suas próprias iniciativas, dominado por suas emoções, sujeitando-se aos mais drásticos efeitos das suas reações” (LBM).

2. Deus é o doador da sabedoria. Deus é a fonte da sabedoria; Ele é o doador. Ele dá - “a todos” - generosamente a sabedoria necessária para que possamos viver neste mundo de forma que o agrademos e sejamos também referenciais para as pessoas que nos cercam. A generosidade de Deus é ilimitada. A generosidade de Deus não conhece limites na terra: é para todos. A generosidade de Deus não conhece limites no céu: Ele dá liberalmente. A acolhida de Deus é garantida (1:5): Deus não rejeita aquele que o busca (Sl 66:20).

3. Peça a Deus sabedoria. “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto...”. Aqui, Tiago orienta a todos os que não têm sabedoria para buscá-la, em Deus, por meio da oração. Devemos rogar ao Senhor a sabedoria de que precisamos e Ele certamente a dará como um presente divino, “e não o lança em rosto”, ou como diz na linguagem popular, “não joga na nossa cara”. Deus é o detentor da sabedoria que nos é necessária em todos os momentos, e Ele faz questão de que a tenhamos.

Perceba que há uma conexão natural entre Tg 1:4 e Tg 1:5. No verso 4 Tiago diz que o alvo de Deus é que nós não devemos ser deficientes de nada, de que não tenhamos necessidade de nada – “Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma”. E aí ele acrescenta no verso 5: “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus...”.  Percebe-se, então, que ele está continuando o assunto. O propósito de Deus é que não tenhamos nenhuma deficiência. E uma dessas deficiências é a sabedoria. Sabedoria que é mencionada aqui não é aquela sabedoria teórica que nós acumulamos em nossos estudos seculares, mas é a sabedoria prática, aquela que é mencionada no livro de Salmos e Provérbios – “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Sl 111:10; Pv 1:7; 15:33).

Sabedoria é você tomar as decisões certas e encaminhar a sua vida à luz do temor de Deus, fazer o que é certo. Sinceramente, é isso o que mais nos falta no meio das provações. Nós não tomamos decisões, diante dos problemas, como se faz no mundo, como os descrentes tomam. Por exemplo, se a sua empresa está com problemas, está com dificuldades, então um homem que não conhece a Deus ele vai usar de recursos ilícitos, ele vai burlar a lei, ele vai fazer negócios escusos e errados para salvar a sua empresa; mas, o cristão não pode fazer isso, ele tem que achar uma solução que está de acordo com a Palavra de Deus. Se você tem um problema com seu filho, se a sua filha tem um relacionamento com o seu namorado fora dos padrões bíblicos, morais, as pessoas do mundo não têm problema com isso, mas nós temos porque somos cristãos. Como é que vamos lidar com um filho problemático e difícil? Lá no mundo isso é fácil, mas nós não podemos tomar qualquer decisão e segui qualquer caminho quando a dificuldade bate à nossa porta. Quando estamos enfrentando o inimigo e certas dificuldades, lá no mundo as pessoas agem de forma brutal, mas um cristão não pode fazer isso. Como, então, enfrentarmos essas coisas? É aqui que precisamos de sabedoria. É o que mais precisamos no meio das provações, para achar o caminho correto, para nos comportar de uma maneira que glorifique o nome de Deus.

Tiago diz que se alguém tem falta dessa sabedoria peça a Deus. É claro que o que está por detrás aqui dessa orientação é a história de Salomão no Antigo Testamento, quando Deus apareceu a Salomão e lhe deu permissão para lhe fazer um pedido e Salomão pediu, acima de tudo, sabedoria para governar o povo de Deus; e Deus se agradou daquele pedido e concedeu a Salomão não somente sabedoria, mas inclusive tudo aquilo que ele não tinha pedido, a saber, riquezas e poder sobre os seus inimigos. O Deus de Salomão é o mesmo nosso. E Tiago, então, encoraja aos cristãos a pedir sabedoria com os seguintes argumentos:

a) que Deus dá liberalmente. Ou seja, Ele dá de maneira abundante. Ele não mede a sabedoria que nos dá literalmente. Mas Ele derrama com graça e abundância sobre nós.

b) que Deus “não lança em rosto”. Por exemplo, se você vai tomar um empréstimo financeiro a um amigo, o amigo pode lançar no teu rosto que no mês anterior ele já te emprestou dinheiro. Deus não faz isso conosco; Ele não lança em rosto. Quando nos chegamos a Ele para lhe pedir sabedoria, Ele não vai dizer assim: “eu já te dei sabedoria!”; “Você já me pediu isso!”; “Lá vem você de novo!”; “Por que estás aqui outra vez?”. Não! Deus não lança em nosso rosto as nossas faltas. Mas, Ele nos acolhe como sendo a primeira vez e liberalmente nos concede, como Tiago afirma no final do verso 5: “e ser-lhe-á dada”.

Aqui está a promessa de que Deus tem prazer em dar sabedoria aos seus filhos quando estamos passando por grandes dificuldades, por grande provação e vivemos em meio de grandes tentações. Podemos, então, nos socorrer de Deus pedindo-lhe sabedoria.

É uma pena que nós deixamos para fazer isso depois; primeiro nós planejamos tudo, como vamos resolver os nossos problemas, e depois de tudo planejado nós chegamos para Deus e dizemos: “Deus, eu vou fazer desta maneira, se o Senhor puder abençoar eu agradeço”. Mas, não é isso que Tiago nos instrui. Nós temos que, em todo tempo, a primeira coisa que temos que fazer é orar quando as dificuldades batem à nossa porta.

II. A DEMONSTRAÇÃO PRÁTICA DA SABEDORIA HUMILDE (Tg 3:13)

“Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras” (ARA).

1. A sabedoria colocada em prática. Em Tg 3:13, Tiago trata da diferença entre a verdadeira sabedoria e a falsa. O autor não se refere à soma de conhecimentos de uma pessoa, mas a sua vida no dia-a-dia. O que conta não é ter o conhecimento, mas saber aplicá-lo. Tiago conclama os servos de Deus a demonstrarem sabedoria divina através de ações concretas. A pessoa sábia manifesta a vida de Cristo, uma vida na qual o fruto do Espírito é evidente (Gl 5:22,23). Como bem diz o pr. Eliezer de Lira, “a sabedoria é a virtude que devemos buscar e cultivar em nossos relacionamentos neste mundo (Mt 5:13-16)”. Portanto, a sabedoria de Deus é prática; ela muda a vida e produz bons frutos para a glória de Deus. Quem não produz frutos, produz galhos.

2. A humildade como prática cristã. Na concepção de Tiago, sabedoria e humildade devem andar juntas. O sábio tem atitudes humildes, não arrogantes. Da mesma forma que a sabedoria de que precisamos encontra sua fonte em Deus, a humildade nos faz ser sempre mais dependentes de Deus. Curiosamente falando, a obediência a Deus é uma demonstração de humildade, e não de arrogância. A desobediência a Deus e aos seus preceitos mostra o quanto podemos ser arrogantes, mas a dependência de Deus e a humildade demonstram o quanto somos obedientes a Ele. (2)

Humildade é uma condição necessária para todo aquele que quer viver como salvo. Os cristãos no princípio da Igreja foram ensinados que o orgulho, a altivez, a soberba eram coisas do mundo e que “... Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes...”(Tg 4:6). Neste mesmo sentido ensinou, também, o Apóstolo Pedro, dizendo: “... revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”(1Pedro 5:5). Também escreveu Paulo: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo”(Fp 2:3).

Pelo que se pode observar, entre os crentes da igreja do primeiro século não havia sentimentos de grandeza, orgulho, soberba, superioridade – “E era um o coração e a alma da multidão dos que criam...” (Atos 4:32).

Portanto, para andar como salvo é necessário andar em humildade. Contudo, existem muitas ideias erradas sobre o verdadeiro sentido da humildade. Vamos considerar o que não é humildade.

– Humildade não é pobreza. Normalmente quando alguém quer se referir a um irmão muito pobre costuma-se dizer: “é um irmão muito humildezinho”. Porém, nem todo pobre é humilde, bem como nem todo rico é soberbo, ou orgulhoso. Existem pobres revoltados pelo simples fato de serem pobres. Não se conformam, têm inveja dos ricos. Humildade e inveja são dois sentimentos que não podem habitar juntos.

– Humildade não é ausência de cultura. Costuma-se dizer: “aquele irmão é muito humilde, nem ler ele sabe”. Todavia, para ser orgulhoso, altivo, soberbo, não precisa saber ler. Nem todo analfabeto é humilde e nem todo letrado e sábio tem que ser altivo e soberbo. Existe uma nova geração de obreiros que possuem vários diplomas de curso superior, são muito culto, escritores, porém muitos destes deixaram a verdadeira humildade, por isso correm o risco de nem estar vivendo como salvos.

– Humildade não é aparência exterior. Não é pela aparência exterior que identificamos uma pessoa humilde. Alguém pode dizer: Ele é muito humilde, não liga para nada, anda mal vestido, não tem vaidade”. Isto pode ser desleixo, falta de higiene, mau gosto no vestir. Humildade não é alimentar-se e vestir-se mal, podendo alimentar-se e vestir-se bem. Humildade não é ter um carro velho, podendo ter um novo. Humildade não é morar num barraco, podendo morar numa casa confortável.

Portanto, a verdadeira humildade manifesta-se de dentro para fora, não é, apenas, aparência exterior.

3. Obras em mansidão de sabedoria.Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras” (Tg 3:13). Se um homem for sábio e inteligente, demonstrará esses atributos num condigno proceder, juntamente com um espírito humilde resultante da sabedoria. O Senhor Jesus - a encarnação da verdadeira sabedoria -, não era orgulhoso nem arrogante, mas manso e humilde de coração (Mt 11:29). Assim, as pessoas verdadeiramente sábias podem ser distinguidas pela humildade autêntica. Alguém disse que “mansidão não é fraqueza, mas poder sob controle”. Uma pessoa que não tem controle pessoal ou domínio próprio não é sábia. Mansidão é o uso correto do poder, assim como a sabedoria é o uso correto do conhecimento.

III. O VALOR DA VERDADEIRA SABEDORIA E A ARROGÂNCIA DO SABER CONTENCIOSO (Tg 3:14-18).

A verdadeira sabedoria – a sabedoria divina – não é contenciosa nem facciosa e nem beligerante. A sabedoria do homem leva à competição, rivalidade e guerra (Tg 4:1,2), mas a sabedoria de Deus conduz à paz. Essa paz é produzida pela santidade e não pela complacência ao erro. Não se trata de paz que encobre o pecado, mas da paz fruto da confissão de pecado.

1. Sabedoria verdadeira e a arrogância do saber. Não é incomum ver pessoas de destacável conhecimento secular tornarem-se arrogantes no trato com outras que as cercam, pelo fato de serem bem dotadas intelectualmente e de um saber bastante destacável. Todavia, isto não é aceitável aos olhos de Deus. É necessária sabedoria humilde para convivermos com pessoas intelectualmente menos favorecidas. O acúmulo de conhecimento não pode obstruir nossa vida espiritual de tal forma que nos tornemos arrogantes. Sabedoria é o uso correto do conhecimento. Uma pessoa pode ser culta e tola; pode ter muito conhecimento e não saber se relacionar com as pessoas; pode ter muito conhecimento e não saber viver consigo e com os outros. Sabedoria é também olhar para a vida com os olhos de Deus.

É bom enfatizar que Tiago não condena pessoas que estudam e que se valem de seus conhecimentos ao longo de suas vidas, “mas coloca em cheque o hábito de algumas pessoas acharam-se superiores a outras porque possuem conhecimento. Estudar é muito bom, e nos torna pessoas mais capacidade para servir a Deus e ao próximo com muitos talentos, mas não pode nos tornar pessoas altivas. A soberba é tão duramente condenada por Deus que Ele resiste ao soberbo, mas dá graça ao humilde. Portanto, usufruamos do conhecimento que Deus nos permite ter, mas busquemos acima de tudo aproveitar esse conhecimento de forma sábia e com humildade”. (4)

2. Atitudes a serem evitadas.Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins” (Tg 3:16). Pensamentos errados produzem atitudes erradas. Uma das causas do porquê deste mundo estar tão bagunçado é que os homens têm rejeitado a sabedoria de Deus e age de acordo com a sua suposta inteligência. Tiago 3:14,16 lista duas características próprias de pessoas arrogantes: inveja e sentimento faccioso. São evidências da falsa sabedoria. São atitudes a serem evitadas pelos salvos em Cristo.

a) Quanto à inveja. O homem com sabedoria terrena é caracterizado pela inveja e ambição egoísta de seu coração; seu objetivo maior é beneficiar a si mesmo. O invejoso é implacável com seus concorrentes, orgulha-se da própria “sabedoria” que lhe trouxe sucesso. Porém, Tiago afirma que isso não é sabedoria, mas apenas vanglória infundada. É uma negação prática da verdade segundo a qual a pessoa genuinamente sábia também é genuinamente humilde.

Não é incomum que haja inveja entre as pessoas, mas pior ainda é quando esse sentimento da carne (Gl 5:21) encontra abrigo no coração dos servos de Deus. E justamente aqui encontra-se o desafio de Tiago; ele alertou para o perigo de se cobiçar ofícios espirituais na igreja (Tg 3:1). Existe sempre o risco de a liderança da igreja ser entregue a um homem com sabedoria terrena. Devemos permanecer atentos e não permitir que os princípios do mundo nos orientem nas questões espirituais. De acordo com Tiago, essa falsa sabedoria é “terrena, animal e demoníaca (Tg 3:15). Estes três adjetivos expressam, propositalmente, uma degeneração progressiva:

- Terrena” . É a sabedoria deste mundo (1Co 1:20,21). A sabedoria do mundo diz: promova a você mesmo; você é melhor do que os outros. Os discípulos de Cristo discutiam quem era o maior dentre eles. A sabedoria do mundo exalta o homem e rouba a Deus da sua glória (1Co 1:27-31; ler Atos 12:21-23). O invejoso, em vez de alegrar-se com o triunfo do outro, alegra-se com seu fracasso. Ele não apenas deseja ter como o outro tem, mas tem tristeza porque não tem o que é do outro; ou seja, o invejoso ele não quer um cargo igual ao seu, ele quer o seu cargo, a sua função.

- Animal” (ou “não-espiritual”). Que está em oposição à nova natureza que temos em Cristo; é uma sabedoria totalmente à parte do Espírito de Deus. Essa sabedoria escarnece das coisas espirituais. O mundo está cada vez mais secularizado; as coisas de Deus não importam; a Palavra de Deus não governa a vida familiar, econômica, profissional e sentimental das pessoas.

- “Demoníaca” . Que se presta a ações que remetem ao comportamento de demônios, e não de homens. Essa foi a sabedoria usada pela serpente para enganar Eva, induzindo-a a querer ser igual a Deus e fazendo-a descrer de Deus para crer nas mentiras do diabo. As pessoas hoje continuam crendo nas mentiras do diabo (Rm 1:18-25). O diabo se transfigura em anjo de luz para enganar as pessoas. Pedro revelou essa “sabedoria” quando tentou induzir Cristo a fugir da cruz (Mc 8:32,33).

b) Quanto ao sentimento faccioso. É outra característica de quem alega ter a sabedoria e não consegue demonstrá-la na prática. A falsa sabedoria manifesta-se através de um sentimento faccioso. Há grandes feridas nos relacionamentos dentro das famílias e das igrejas. A palavra que Tiago usa, erithia, significa espírito de partidarismo. Subentende a inclinação por usar meios indignos e divisórios para promover os próprios interesses. Era a palavra usada por um político à cata de votos. As pessoas estão a seu favor ou estão contra você. Tiago, então, propõe à igreja um desafio àqueles que afirmavam ter a verdadeira sabedoria: eles precisavam observar a verdadeira sabedoria que vem do Céu.

Paulo alertou os crentes de Filipos sobre o perigo de estarem envolvidos na obra de Deus com motivações erradas: vanglória e partidarismo (cf Fp 2:3). Essa exortação é bastante atual!

CONCLUSÃO

A verdadeira sabedoria é humilde e faz parte da nova natureza do crente. Só pode tê-la quem é nascido de novo, regenerado. Tiago não está tratando de uma sabedoria oriunda do aprendizado secular, não; está, sim, tratando da sabedoria das Escrituras, que é Espírito e Vida. É resultado de uma intima relação com Deus, por meio do Seu filho Jesus e pela força do Espírito Santo. Por isso, então, esta sabedoria não pode ser negociada. Ela vem exclusivamente de Deus, por meio do estudo e da exposição das Escrituras Sagradas.

------ 

Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – M. Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 59 – CPAD.

William Macdonald - Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento. Mundo Cristão.

Douglas J. Môo. Tiago. Introdução e Comentário. Vida Nova.

Rev. Hernandes Dias Lopes –  Tiago (Transformando Provas em Triunfo). Hagnos.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Silas Daniel  & Alexandre Coelho – Tiago – Fé e Obras. CPAD.

(1) Alexandre Coelho  - Fé & Obras. CPAD

(2) ibidem.

 (4) Alexandre Coelho  - Fé & Obras. CPAD