domingo, 30 de agosto de 2015

Aula 10 – O LÍDER DIANTE DA CHEGADA DA MORTE


3º Trimestre/2015

 
Texto Base: 2Timóteo 4:6-17

 
“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2Tm 4:7).

 
INTRODUÇÃO

Na noite de 17 de julho de 64 d.C, um catastrófico incêndio estourou em Roma. O fogo durou seis dias e sete noites. Dez dos quatorze bairros da cidade foram destruídos pelas chamas vorazes. Pelo fato de dois bairros em que havia grande concentração de judeus e cristãos não terem sido atingidos pelo incêndio, Nero encontrou uma boa razão para culpar os cristãos pela tragédia. A partir daí a perseguição contra os cristãos tornou-se insana e sangrenta. Segundo estudiosos, faltou madeira na época para fazer cruz, tamanha a quantidade de cristãos crucificados. Os crentes eram amarrados em postes e incendiados vivos para iluminar as praças e os jardins de Roma. Outros, segundo o historiador Tácito, foram jogados nas arenas enrolados em peles de animais, para que cães famintos os matassem a dentadas. Outros ainda foram lançados no picadeiro para que touros enfurecidos os pisoteassem e esmagassem.

Na época em que explodiu essa brutal perseguição, Paulo estava fora de Roma, visitando as igrejas. Por ser o líder maior do cristianismo, tornou-se alvo dessa ensandecida cruzada de morte. Provavelmente, quando estava em Trôade, na casa de Carpo, foi preso pelos agentes de Nero e levado a Roma para ser jogado numa masmorra úmida, fria e insalubre. Foi dessa prisão que Paulo escreveu a epístola de 2Timóteo. É digno de destaque que, nesta epístola, Paulo não pede oração para sair da prisão nem expressa expectativa de prosseguir em seu trabalho missionário. O idoso apóstolo está convencido de que a hora de seu martírio havia chegado. Paulo não estava pesaroso com a partida, pois suas dores e sofrimentos, certamente, foram esquecidos, diante da certeza de que fez um bom trabalho e que cumpriu a missão para qual fora designado pelo Senhor.

Para o apóstolo Paulo a morte não era uma tragédia. Para ele, morrer era partir para estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor (Fp 1:23). Ele desejava, preferencialmente, estar com o Senhor - “Desejamos, antes, deixar este corpo, para habitar com o Senhor”(2Co 5:8). Somente aqueles que têm o Espírito Santo como penhor (2Co 5:5) podem ter essa confiança do além-túmulo. O penhor do Espírito é uma garantia de que caminhamos não para um fim tenebroso, mas para um alvorecer glorioso; caminhamos não para a morte, mas para a vida eterna, para habitação de uma mansão permanente. Aqueles que vivem sem essa garantia se desesperam na hora da morte. Na verdade, eles caminham para um lugar de trevas, e não para a cidade iluminada; caminham para um lugar de choro e ranger de dentes, e não para a festa das bodas do Cordeiro; caminham para o banimento eterno da presença de Deus, e não para o bendito lugar onde Deus armará seu “tabernáculo” para sempre conosco. Para o verdadeiro cristão, “o viver é Cristo, e o morrer é lucro”(Fp 1:21).

I. A CONSCIÊNCIA DA MORTE NÃO TRAZ DESESPERO AO CRENTE FIEL

A morte é a situação mais difícil que o ser humano pode enfrentar. Ela é o terrível legado que herdamos dos nossos primeiros pais, que desobedeceram ao Criador no Éden (Gn 2:15-17; 3:19; Rm 5:12). É o pagamento indesejado que o ser humano recebe por ter pecado (Rm 6:23). É o fim para o qual o ser humano caminha a passos largos (Ec 12:1-7). Mais do que isso, é o inimigo implacável que vem no encalço do ser humano para, no inevitável dia do encontro, deixá-lo prostrado (Lc 12:20). É o último inimigo a ser aniquilado (1Co 15:26). Contudo, para o crente fiel, a morte é “lucro”(Fp 1:21).

Que avaliação o apóstolo Paulo faz de sua jornada, agora, no crepúsculo da vida, a caminho do patíbulo? Se esse bandeirante do cristianismo fosse examinado pelas lentes da teologia da prosperidade, seria um fracasso. O maior pregador, missionário, teólogo e plantador de igrejas da história do cristianismo, está velho, jogado numa masmorra, pobre, cheio de cicatrizes, abandonado no corredor da morte. O grande apóstolo dos gentios está sozinho num calabouço romano, sem dinheiro, sem amigos, sem roupas para enfrentar o inverno, sofrendo as mais amargas privações. Como esse homem se sente? Como ele avalia seu passado, seu presente e seu futuro?

Destacamos alguns pontos fundamentais acerca da atitude do apostolo Paulo no momento em que se viu no corredor da morte. Em 2Timóteo 4:7,8, ele faz uma profunda análise do seu ministério e, antes de fechar as cortinas da sua vida, abre-nos uma luminosa clareira com respeito a seu tempo presente, passado e futuro. Diz o velho bandeirante da fé:

6. Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo.

7. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.

8. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.

1. Serenidade diante da morte (2Tm 4:6). Mesmo estando na antessala da morte e no corredor do martírio, Paulo não usa palavras de revolta nem de lamento. Ele estava consciente e sereno. O veterano apóstolo sabe que vai morrer. Mas não é Roma que tirará a sua vida; é ele quem vai oferecê-la. E ele não vai oferecê-la a Roma, mas a Deus. Paulo compara sua vida com um sacrifício e uma oferta para Deus. Ele disse: “Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está Próximo” (2Tm 4:6). Aqui, ele usa a figura da libação, um rito comum na religião judaica, para expressar sua disposição de dar sua vida pelo evangelho e pela igreja. No judaísmo, a libação era o derramamento de vinho ou azeite sobre a oferta do holocausto (cf. Ex 29:40,41; Nm 15:5,7,10; 28:24). Não era uma oferta pelos pecados, mas uma oferta de gratidão ao Senhor. O Rev. Hernandes Dias Lopes, citando Hans Burki, diz que a libação não era o sacrifício propriamente dito. Pelo contrário, era derramada sobre o animal a ser sacrificado (Nm 15:1-10). Paulo, portanto, entendia sua morte como oferenda derramada sobre o sacrifício da igreja (Fp 2:17) e derramada no mais verdadeiro sentido sobre o holocausto [sacrifício total] do Messias Jesus (Rm 8:32).

O grande avivalista americano do século 19, Dwight L. Moody, na hora da morte, disse às pessoas que o cercavam: - “Afasta-se a Terra, aproxima-se o Céu, estou entrando na glória”. O médico e pastor galês, Martyn Lloyd-Jones, depois de uma grande luta contra o câncer, disse para os seus familiares e paroquianos: - “Por favor, não orem mais por minha cura, não me detenha da glória”. O crente fiel comporta-se de forma sereno diante da morte.

2. A certeza da missão cumprida (2Tm 4:7). Paulo está passando o bastão para o seu filho Timóteo, mas, antes de enfrentar o martírio, relembra como havia sido sua vida: um duro combate. A vida para Paulo não foi uma feira de vaidades nem um parque de diversões, mas um combate renhido. O Rev. Hernandes Dias Lopes, citando Hans Burki, diz que Paulo lutou contra poderes sombrios da maldade; contra Satanás; contra vícios judaicos, cristãos e gentílicos; contra hipocrisia, violência, conflitos e imoralidades em Corinto; contra fanáticos e desleixados em Tessalônica; contra gnósticos e judaizantes em Éfeso e Colossos; e, não por último - no poder do Espírito Santo —, contra o velho ser humano dentro de si mesmo, tribulações externas e temores internos. Acima de tudo e em todas as coisas, porém, lutou em prol do evangelho - a grande luta de sua vida, seu bom combate. O apóstolo poderia morrer tranquilo porque havia concluído sua carreira, e isso era tudo o que lhe importava (At 20:24). Mas ele também deixa claro que nessa peleja jamais abandonou a verdade nem negou a fé. Não morre bem quem não vive bem. A vida é mais do que viver, e a morte é mais do que morrer, diz Hernandes Dias Lopes.

3. Paulo olhou para o futuro com esperança (2Tm 4:8). A gratidão do dever cumprido, associada à serenidade de saber que estava indo para a presença de Jesus, dava a Paulo uma agradável expectativa do futuro. Mesmo que o imperador o condenasse à morte e o tribunal de Roma o considerasse culpado, o reto e justo Juiz revogaria o veredito de Nero, considerando-o sem culpa e dando-lhe a coroa da justiça. Como num brado de triunfo diante do martírio, Paulo proclama: “Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda”.

Segundo William Macdonald, “a coroa da justiça é a grinalda que será dada aos cristãos que mostrarem justiça em seu serviço”. Nos jogos atléticos romanos, os vencedores recebiam uma coroa de louros. Símbolo de triunfo e honra, era o prêmio mais cobiçado da antiga Roma. Provavelmente, Paulo estava se referindo a isso quando falou de uma coroa. Esperando por Paulo, guardada para ele, estava uma recompensa: a coroa da justiça. Paulo receberia a sua recompensa do Senhor, justo Juiz. A recompensa de Paulo lhe seria dada no Dia da volta do Senhor. Esta coroa da justiça, esta recompensa, não será somente para Paulo. Ela está prometida a “todos os que amam a vinda de Jesus”. Que grande incentivo para Timóteo, para os crentes leais da sua igreja, e para todos os crentes em todos os tempos. Seja o que for que venhamos a enfrentar – desânimo, perseguição, ou morte -, nós sabemos que a nossa recompensa está com Cristo, na eternidade.

II. O SENTIMENTO DE ABANDONO

Paulo, certamente, foi a maior expressão do cristianismo. Viveu de forma superlativa e maiúscula. Pregador incomum, teólogo incomparável, missionário sem precedentes, evangelista sem igual. Viveu perto do Trono, mas ao mesmo tempo foi açoitado, preso, algemado e desolado. Tombou como mártir na terra, mas foi recebido como príncipe no Céu. Não foi poupado dos problemas, mas triunfou no meio deles. Como bem disse o rev. Hernandes Dias Lopes, o Céu não é aqui. Aqui não pisamos tapetes aveludados nem caminhamos em ruas de ouro, mas cruzamos vales de lágrimas. Aqui não recebemos o galardão, mas bebemos o cálice da dor.

1. O clamor de Paulo na solidão.Procura vir ter comigo depressa. Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica; Crescente, para a Galácia, Tito, para a Dalmácia. Só Lucas está comigo...” (2Tm 4:9-11).

Paulo, já idoso, anseia ter a companhia do jovem pastor Timóteo. Por isso, ele pede que Timóteo se esforce para chegar logo a Roma. O apóstolo sente-se profundamente solitário na prisão em Roma. Ele estava numa cela fria, necessitado de um ombro amigo. Ele, então, roga para que Timóteo vá depressa ao seu encontro. Pede para ele vir antes do inverno (2Tm 4:21), pois nesse tempo era impossível navegar. Roga a Timóteo que leve também Marcos. O gigante do cristianismo está precisando de gente amada a seu lado, antes de caminhar para o patíbulo. Sua comunhão com Deus não o tornava um super-homem. Dentro do seu peito, batia um coração sedento por relacionamento.

a) Demas o desamparou. Paulo passou a vida investindo na vida das pessoas e, na hora em que mais precisou de ajuda, foi abandonado e esquecido na prisão. Ser esquecido pelos que antes foram colegas na evangelização deve ser uma das mais amargas experiências no serviço cristão. Demas era amigo de Paulo, irmão na fé e parceiro de trabalho. Mas agora Paulo estava na prisão, os cristãos eram perseguidos e o clima politico era claramente desfavorável a eles. Em vez de ansiar pela vinda do Senhor, Demas preferiu amar o presente século e assim abandonou Paulo e foi para Tessalônica. Provavelmente o temor pela segurança pessoal, o levou a se tornar desleal.

Demas é mencionado apenas três vezes no Novo Testamento (Cl 4:14; Fm 24; 2Tm 4:10). Na primeira vez, era um cooperador; na segunda vez, seu nome é apenas mencionado; e, na última vez, ele é apresentado como um desertor. Começou bem a carreira, mas a encerrou mal. Hendriksen diz que o verbo [desamparou] usado por Paulo implica que Demas não apenas deixou o apóstolo, mas o deixou numa situação difícil. Demas foi atacado pela covardia naquele tempo de terror. Ele foi seduzido de volta ao mundo pelo amor ao dinheiro. Os momentos de adversidade revelam aqueles que realmente são amigos sinceros.

b) Só o médico amado ficou com Paulo. “Só Lucas está comigo...”.  Lucas era o único a manter contato com Paulo em Roma. Deve ter significado muito para o apóstolo ter o estímulo espiritual e a habilidade profissional desse grande homem de Deus. A presença de Lucas com Paulo na sua segunda prisão é um tocante testemunho da lealdade desse companheiro. Lucas já havia acompanhado Paulo em sua viagem a Roma e em sua primeira prisão (At 27). Paulo o chamara de médico amado (Cl 4:14) e colaborador (Fm 24). Feliz é o obreiro que no final da sua lida tem um amigo, como Lucas, para estar ao seu lado. Lucas escreveu tanto o Evangelho que leva seu nome como o livro de Atos.

2. A serenidade dos últimos dias.Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos” (2Tm 4:13).

Paulo precisava de amigos para a alma, livros para a mente e cobertura para o corpo. Ele tinha necessidades físicas, mentais e emocionais. As prisões romanas eram frias, insalubres e escuras. Os prisioneiros morriam de lepra e de outras doenças contagiosas. O inverno se aproximava, e Paulo precisava de uma capa quente para enfrentá-lo. Segundo estudiosos, essa “capa” era uma roupa externa grande, sem mangas, feita de uma única peça de tecido pesado, com um buraco ao meio por onde se passava a cabeça. Servia de proteção contra o frio e a chuva. Paulo tinha deixado a sua “capa” na casa de um homem chamado Carpo, aparentemente onde ele havia se hospedado, em uma de suas visitas a Trôade (provavelmente não a visita mencionada em Atos 20:6, pois esta tinha ocorrido vários anos antes).

Paulo também precisava de livros (feitos de papiro) e pergaminhos (feitos de peles). Estava no corredor da morte, mas queria aprender mais. Paulo precisava de amigos, de roupas e de livros. Precisava de provisão para a alma, a mente e o corpo. Essa atitude de Paulo é um eloquente testemunho de que o homem de Deus, quando está seguro no Senhor, não teme a morte ou quaisquer outras circunstâncias adversas.

3. Preocupações finais com o discípulo.Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras. Tu, guarda-te também dele, porque resistiu muito às nossas palavras” (2Tn 4:14,15).

Aqui, Paulo alerta Timóteo a respeito de “Alexandre, o latoeiro”. Paulo não dá nenhuma descrição de Alexandre, senão sua profissão. Ele trabalhava com cobre. O apóstolo também não descreve quais foram esses muitos males. Segundo estudiosos, Alexandre pode ter testemunhado contra Paulo no seu julgamento, causando desta forma muitos males ao apóstolo. Os informantes eram uma das grandes maldições de Roma naquela época. Buscavam obter favores e receber recompensas em troca de informações. Isso levou alguns historiadores a afirmar que foi Alexandre, o latoeiro, quem traiçoeiramente delatou Paulo, resultando em sua segunda prisão e consequente martírio. Alexandre se tornou inimigo do mensageiro [Paulo] e também da mensagem [evangelho]. Perseguiu o pregador e resistiu à pregação. Possivelmente, esse Alexandre morava em Trôade, onde Paulo fora preso, e, por isso, o apóstolo exorta a Timóteo que, ao passar por Trôade para pegar seus pertences, se guardasse desse malfeitor.

- “o Senhor lhe pague segundo as suas obras”. Quando Paulo diz estas palavras, não está expressando um espírito vingativo contra Alexandre, mas apenas entregando seu julgamento nas mãos de Deus, a quem pertence esse direito.

“O crente fiel sempre vai encontrar pessoas difíceis em sua caminhada, por isso, precisa estar preparado para lidar com toda a sorte de gente, boas e más”.

III. A CERTEZA DA PRESENÇA DE CRISTO

1. Sozinho perante o tribunal dos homens (2Tm 4:16). “Ninguém me assistiu na minha primeira defesa; antes, todos me desampararam. Que isto lhes não seja imputado”.

Paulo se arriscou pelos outros; mas ninguém compareceu em sua primeira defesa para estar a seu lado ou falar a seu favor. Nem Lucas, “o médico amado”, se encontrava na cidade, quando Paulo compareceu a audiência.

Segundo Hernandes Dias Lopes, mais perturbador que o frio gelado que se avizinhava pela chegada do inverno, era a geleira da ingratidão que Paulo tinha de suportar no apagar das luzes de sua jornada na terra. John Stott argumenta que, se Alexandre, o latoeiro, falou com deliberada malícia contra Paulo e o evangelho, os amigos de Paulo, em Roma, deixaram completamente de falar, e seu silêncio não se devia à malícia, mas ao medo. O verdadeiro amigo é aquele que chega quando todos já se foram. É aquele que está ao nosso lado, pelo menos para confortar-nos com o bálsamo do silêncio.

O verdadeiro amigo não nos abandona na hora da aflição. Jó fez uma dramática descrição desse abandono na hora de necessidade (Jó 19:13-16):

13. Pôs longe de mim a meus irmãos, e os que me conhecem deveras me estranharam.

14. Os meus parentes me deixaram, e os meus conhecidos se esqueceram de mim.

15. Os meus domésticos e as minhas servas me reputaram como um estranho; vim a ser um estrangeiro aos seus olhos.

16. Chamei a meu criado, e ele me não respondeu; cheguei a suplicar com a minha boca.

“Podem os amigos e companheiros nos abandonar nos momentos difíceis, mas Deus é fiel e jamais nos deixa sozinho”.

2. Sentindo a presença de Cristo (2Tm 4:17).Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que, por mim, fosse cumprida a pregação e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão”.

Paulo foi vitima do abandono dos homens, mas foi acolhido e assistido por Deus. Assim como Jesus foi assistido pelos anjos no Getsêmani enquanto seus discípulos dormiam, Paulo também foi assistido por Deus na hora de sua dor mais profunda.

O Rev. Hernandes Dias Lopes, citando Warren Wiersbe, escreve: Quando Paulo ficou desanimado com os coríntios, o Senhor foi até ele e o encorajou (At 18:9-11). Depois de ser preso em Jerusalém Paulo voltou a receber a visita e o estimulo do Senhor (At 23:11). Durante a terrível tempestade em que Paulo estava a bordo de um navio, mais uma vez o Senhor lhe deu forcas e coragem (At 27:22-26). Agora, naquela horrível prisão romana, Paulo voltou a experimentar a presença fortalecedora do Senhor, que havia prometido: “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hb 13:5).

Deus não nos livra do vale, mas caminha conosco no vale. Deus não nos livra da fornalha, mas nos livra na fornalha. Deus não nos livra da cova dos leões, mas nos livra na cova dos leões. Às vezes, Deus nos livra da morte; outras vezes, Deus nos livra através da morte. Em toda e qualquer situação, Deus é o nosso refúgio.

3. Palavras e saudações finais (2Tm 4:18).E o Senhor me livrará de toda má obra e guardar-me-á para o seu Reino celestial; a quem seja glória para todo o sempre. Amém!”.

Segundo Willian Macdonald, ao afirmar que o Senhor o livraria de toda má obra, o apóstolo Paulo não quis dizer que seria definitivamente liberto da execução. Ele sabia que a hora de sua morte se aproximava (cf. 2Tm 4:6). O que, então, ele quis dizer? Sem dúvida, que o Senhor o livraria de fazer qualquer coisa que maculasse seus últimos dias de testemunho. O Senhor o livraria de se retratar, de negar o nome de Jesus, de covardia ou de qualquer outra forma de colapso moral ou espiritual. Além disso, Paulo estava seguro de que o Senhor o levaria salvo para o seu “reino celestial”, ao Céu.

Numa última oportunidade de encorajar o jovem pastor Timóteo diante de tantas lutas, Paulo diz: “O Senhor Jesus Cristo seja com o teu espírito. A graça seja convosco”. Matthew Henry está correto ao dizer que nada nos deve deixar mais felizes que ter o Senhor Jesus Cristo com o nosso espírito; porque nele todas as bênçãos espirituais estão resumidas.  

A epístola de 2Timóteo não foi endereçada apenas ao pastor Timóteo; foi escrita a toda a igreja de Éfeso e consequentemente a nós, hoje. No último versículo, Paulo passa do singular – “o Senhor seja com o teu espírito” -, para o plural – “a graça seja convosco”. A presença do Senhor e a graça do Senhor nos bastam.

Assim como a graça, que é melhor que a vida, foi suficiente para Paulo e a igreja de Éfeso no passado, seja também nosso alento hoje, para prosseguirmos preservando o evangelho, sofrendo pelo evangelho, permanecendo no evangelho e pregando o evangelho. “Amém!”.

CONCLUSÃO

Paulo tinha consciência de que a morte física aniquilaria apenas o seu corpo, mas seu espirito e sua alma (o homem interior — 2Co 4:16) estavam guardados em Cristo Jesus. Um servo de Deus que se pauta pela obediência ao Senhor, vivendo em santidade, e fazendo a vontade divina, não se desespera, mesmo ante a iminência do dia final.

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Luciano de Paula Lourenço - Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 63. CPAD.

Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD

Guia do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards

Tito e Filemom – doutrina e vida, um binômio inseparável. Rev. Hernandes Dias Lopes. Hagnos.

1 Timóteo – o pastor, sua vida e sua obra. Rev. Hernandes Dias Lopes. Hagnos.

2 Timóteo – O testamento de Paulo à Igreja. Rev. Hernandes Dias Lopes. Hagnos.

Comentário do Novo Testamento – 1 e 2 Timóteo e Tito. William Hendriksen.

As Ordenanças de Cristo nas Cartas Pastorais. Elinaldo Renovato de Lima. CPAD.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Aula 09 – A CORRUPÇÃO DOS ÚLTIMOS DIAS


3º Trimestre/2015

Texto Base: 2Timóteo 3:1-4,14-16

 
“Mas estes, como animais irracionais, que seguem a natureza, feitos para serem presos e mortos, blasfemando do que não entendem, perecerão na sua corrupção” (2Pedro 2:12).

 

INTRODUÇÃO

O apóstolo Paulo estava preso num calabouço romano, na sala de espera do martírio. A fornalha da perseguição contra a igreja estava acesa. Paulo dá suas últimas recomendações a Timóteo, um pastor jovem, doente e tímido, sobre como enfrentar vitoriosamente a corrupção dos últimos dias.

Certamente, vivemos os últimos dias da Igreja. São dias difíceis, dias trabalhosos, em que o mundo sofre uma multiplicação do pecado (Mt 24:12) e, como consequência disto, só se vê aumentar o sofrimento do ser humano, a sua progressiva decadência moral e espiritual. Nunca houve, em toda a história da humanidade, uma época semelhante aos dias atuais onde é nítida a ausência de valores, principalmente aqueles que norteiam a dignidade do ser humano: o sentimento, o decoro, a vergonha, a moral, o caráter, o respeito e o temor a Deus, os quais constituem os verdadeiros alicerces para a vida individual e em sociedade.

Entretanto, apesar de toda a corrupção moral e espiritual que incendeia a sociedade atual, ainda se encontra sobre a face da Terra, ainda que não por muito tempo, a Igreja — a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido para anunciar as virtudes de Jesus Cristo (1Pe 2:9). Ela tem enfrentado todas estas circunstâncias e continua a dizer que a única solução, a única esperança para o homem é crer em Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador.

I. OS TEMPOS TRABALHOSOS

1. Nos últimos dias (Tm 3:1).Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos”.

O apóstolo Paulo, em sua afirmação a seu filho na fé, Timóteo, já no ocaso da sua vida, quando estava preso em Roma, na sua segunda prisão, faz questão de relembrar que a Igreja passaria por momentos difíceis, que ainda não tinham chegado no tempo do apóstolo, o que nos mostra claramente que Paulo não se referia, em absoluto, ao período de perseguição que se apresentava naquele instante, desencadeada por Nero, a primeira das “dez grandes perseguições” que haveria contra a Igreja durante o Império Romano (os “dez dias” de Ap.2:10). O apóstolo apontava para um período futuro na história da Igreja em que os tempos seriam “trabalhosos”.

Ao que parece estamos vivendo esses “últimos dias” referidos por Paulo, pois analisando com cuidado as suas palavras podemos observar que os “últimos dias” da história da Igreja, aqui na Terra, têm características diferentes dos “tempos trabalhosos” enfrentados por esta mesma Igreja em outros períodos da história, no passado, de forma especial, até o advento do chamado tempo pós-moderno.

Nos “tempos trabalhosos” dos “últimos dias Paulo não se refere a perseguições, mártires, prisões, mas de convulsões internas. Ou seja, convulsões dentro ou no seio da própria igreja local. Esses “tempos trabalhosos” seriam caracterizados por um período de apostasia cada vez mais intenso, bem como de uma crescente corrupção moral.

Em 2Tm 3:1-4, são descritas dezoito características de reprovação que iriam caracterizar uma boa parte das lideranças da “Igreja”, para depois afirmar que... os homens maus e enganadores irão de mau para pior, enganando e sendo enganados”(2Tm 3:13). Assim, olhando para a Bíblia, e olhando para o chamado “mundo evangélico” temos a impressão de estarmos vivendo aqueles “últimos dias” referidos por Paulo.

- Nestes “últimos dias”, o mundo tem menos acesso a Deus, porque o que impede a comunicação entre Deus e os homens é o pecado (Is 59:2) e estes “últimos dias” são dias em que o pecado está aumentando sobremaneira (Mt 24:12). Até mesmo as pessoas que tiveram um contato com o Salvador Jesus, que, uma vez receberam o amor de Deus derramado em seus corações (Rm 5:5), terão este amor esfriado, perderão este sentimento.

- Nestes “últimos dias”, o desamor é uma constante e, em virtude disto, os dias são repletos de violência, pois a vida humana é vilipendiada, já que não há amor a Deus e, consequentemente, não há amor ao próximo. O homem é menosprezado e se desenvolve, entre as pessoas, uma verdadeira “cultura da morte”.

- Nestes “últimos dias”, multiplica-se o pecado e, com ele, multiplicam-se os problemas. Sem dar guarida a Deus e ao seu amor, a humanidade acaba correndo de um lado para outro, como ovelhas desgarradas que não têm pastor (Mt 9:36), sem direção, sem qualquer orientação, o que faz com que surjam inúmeros problemas.

- Nestes “últimos dias”, os homens são amantes de si mesmos, sem amor para com os bons (2Tm 3:2,3). São pessoas que só pensam em si próprios e criam condições múltiplas para se servirem do próximo, aproveitarem-se dele e o explorarem o máximo possível.

- Nestes “últimos dias”, o homem não tem a menor preocupação em prejudicar o outro, desde que isto lhe seja conveniente e contribua para que atinja os seus objetivos, objetivos estes que dizem respeito somente a si próprio. A ganância, o prazer, o bem-estar próprio, a satisfação do seu ego, é só isto que é estimulado, incentivado e almejado pelo homem dos últimos dias. Vivemos dias em que toda a ferocidade humana é revelada ao seu próximo. Por isso, os homens são desobedientes a pais e mães, ingratos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, cruéis, obstinados e orgulhosos (2Tm 3:2-4). As pessoas agem em relação às outras como se estas fossem, há muito tempo, suas inimigas. Vivemos a época da insegurança e do medo indiscriminados.

- Nestes “últimos dias”, têm surgido no meio do povo de Deus, enganadores, pessoas que, tendo aparência de piedade, negam, com seus atos, a eficácia dela (2Tm 3:5). Os últimos dias, dizem-nos Pedro e Judas (2Pe 3:3 e Judas 18), são dias em que surgem os falsos mestres, que são os condutores de muitos pelo caminho da apostasia, ou seja, do afastamento deliberado da sã doutrina, do desvio espiritual.

- Estes últimos diassão dias em que os cristãos são tratados como mercadorias, em que há a mercantilização da fé, em que muitos se levantam não para servir a Deus, mas para levar os salvos ao seu próprio serviço, num ultraje nunca antes visto em toda a história da humanidade.

- Estes “últimos dias”, são dias de proliferação de falsas doutrinas, de doutrinas de homens e de demônios, de lutas pelo poder eclesiástico, de escândalos, onde há uma amizade com o pecado e com os deleites humanos e total menosprezo à santidade, à pureza e à sinceridade no propósito de adorar o Senhor.

Veja, a seguir, as dezoito características da humanidade durante os “últimos dias”, exaradas em 2Tm 3:1-4. Nós simplesmente as listamos e damos os sinônimos que explicam o significado de cada uma:

a) Amantes de si mesmos: egocêntricos, presunçosos, egoístas.

b) Avarentos: gananciosos.

c) Presunçosos: jactanciosos, cheios de palavras de orgulho.

d) Soberbos: arrogantes, presunçosos, dominadores.

e) Blasfemos: difamadores, profanos, briguentos, insolentes, grosseiros, arrogantes.

f) Desobedientes a pais e mães: rebeldes, insubordinados, descontrolados.

g) Ingratos: mal-agradecidos, não reconhecedores.

h) Profanos: ímpios, irreverentes, contrários às coisas santas.

i) Sem afeto natural: impiedosos, insensíveis, indiferentes.

j) Irreconciliáveis: implacáveis, contendores, briguentos.

k) Caluniadores: propagadores de notícias maliciosas e falsas.

l) Incontinentes: sem domínio próprio, de paixões descontroladas, dissolutos, devassos.

m) cruéis: grosseiros, sem prestígios.

n) Sem amor para com os bons: odeiam pessoas e coisas boas; são avessos a qualquer forma de bondade.

o) Traidores: traiçoeiros, pérfidos.

p) Obstinados: imprudentes, irredutíveis.

q) Orgulhosos: pretensiosos, presunçosos.

r) Mais amigos dos deleites do que amigos de Deus: aqueles que amam os prazeres sensuais, mas não a Deus.

2. Falsa aparência (2Tm 3:5). “Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te”.

Todos os problemas relatados em 2Tm 3:1-4 não estão descrevendo apenas um mundo ímpio, mas pessoas que se dizem cristãs. As pessoas frequentam a igreja, mas não mudam a vida. Elas fazem profissão e fé no cristianismo, mas suas ações falam mais alto que as palavras. Pelo mau comportamento, elas mostram que vivem uma mentira. Não há uma evidência do poder de Deus em suas vidas. Pode ter havido mudança, mas de fato nunca houve regeneração. O mundo está arruinado porque a espiritualidade está divorciada da vida.

Hernandes Dias Lopes, citando John Stott diz que, na história da humanidade, a religião e a moralidade têm estado mais distantes entre si do que juntas. As próprias Escrituras testificam esse fato de forma inconteste. Os grandes profetas éticos dos séculos VIII e VII a.C. apontaram os pecados de Israel e Judá nesse particular. Amós denunciou o crescimento da religião e da injustiça simultaneamente (Am 2:8). Isaías fez um diagnóstico parecido em Judá (Is 1:14-17). Jesus, em seu tempo, trouxe a lume a hipocrisia dos fariseus (Mt 23:25). Esta mesma falsa aparência ainda grassava entre as pessoas que Paulo está descrevendo em 2Tm 3:5. Evidentemente essas pessoas frequentavam a igreja, cantavam hinos, diziam "amém" às orações e colocavam dinheiro no gazofilácio. Tinham aparência e palavras piedosas, mas eram apenas máscaras, aparência externa sem realidade interna, religião sem moral, fé sem obras. É como se Paulo estivesse descrevendo uma espécie de cristianismo pagão.

Quando olhamos para alguns segmentos da igreja evangélica dos dias hodiernos, constatamos o mesmo problema: crescem em número, mas não em compromisso. Têm carisma, mas não caráter. Mostram números, mas não vida. As pessoas entram para a igreja, mas não são transformadas pelo evangelho. Há iniquidade associada ao ajuntamento solene.

Timóteo é exortado a se afastar de todas essas pessoas – “... destes afasta-te”. Paulo não está ordenando que Timóteo se afaste de todos os pecadores, porque, se assim fosse, precisaria sair do mundo (ler 1Co 5:9-11). Paulo está dizendo que Timóteo não deve ter comunhão com aqueles que se dizem crentes, mas vivem de forma desordenada ou hipócrita.

II. PAULO, UM EXEMPLO DE OBREIRO EM TEMPOS DIFÍCEIS

Tu, porém, tens seguido a minha doutrina, modo de viver, intenção, fé, longanimidade, caridade, paciência” (RC). “Tu, porém, tens seguido, de perto, o meu ensino, procedimento, propósito, fé, longanimidade, amor, perseverança”(AA).

Timóteo conhecia bem estes sete aspectos marcantes que caracterizavam esse servo do Senhor. Ele tinha seguido Paulo de perto e pôde testificar que era fiel a Cristo e à sua Palavra.

1. Um obreiro exemplar (2Tm 3:10). Tu, porém, tens seguido, de perto, o meu ensino...”. O apóstolo Paulo — outrora perseguidor do evangelho e dos seguidores de Cristo, fariseu respeitado, mas ignorante acerca da verdade e defensor ardoroso da Lei de Moisés — tornou-se um dos maiores exemplos de fé, amor e fidelidade ao cristianismo. Seu caráter era demonstrado por sua conduta exemplar. Em evidente contraste à situação daquela época de declínio dos costumes morais, religião inautêntica e propagação de falsas doutrinas, Timóteo é chamado a ser diferente. Timóteo estava rodeado de falsos mestres. Por isso, deveria seguir o exemplo fiel de Paulo.

2. Modo de viver/procedimento. “... modo de viver...”. O modo de viver, ou conduta, de Paulo era irrepreensível; era coerente com a mensagem que ele pregava. Às vezes, de brincadeira, ouvimos alguém dizer: “faça o que eu digo, mas não o que eu faço”. Não era assim com o apóstolo Paulo. Ele pôde apresentar sua vida como modelo de devoção a Cristo e sua causa. Toda a sua vida depois da conversão foi dedicada à tarefa de apresentar aos outros um esboço do que o cristão deve ser. Deus salvou Paulo com a finalidade de mostrar ao mundo, pelo exemplo de sua conversão, que o que fez na vida dele também pode e fará na vida de outros. E nós? Será que estamos servindo de exemplo àqueles que foram salvos pela sua graça? Que assim seja.

Precisamos de líderes que sirvam de modelo para os mais jovens. Precisamos de pessoas que falem a verdade e vivam a Verdade.

3. Propósito (intenção), fé, longanimidade, amor e paciência. “... propósito, fé, longanimidade, amor, perseverança”.

- O propósito de Paulo era se afastar da doutrina do mal e testemunhar o evangelho da graça, ainda que isso lhe custasse a própria vida (At 20:24).

- A fé pode significar a confiança de Paulo no Senhor ou sua fidelidade pessoal. Timóteo o conhecia como alguém completamente dependente do Senhor e ao mesmo tempo honesto e digno de confiança.

- A longanimidade de Paulo foi provada pela sua atitude em relação aos perseguidores e críticos e pelos sofrimentos físicos.

- Quanto ao amor, despojava-se de si mesmo para se dedicar ao Senhor e ao próximo. Quanto menos amado era, mais determinado estava a amar.

- Sua paciência diante das reações hostis sofridas por todos os recantos por onde passava era notória.

- Perseverar quer dizer literalmente “manter-se alegre diante das dificuldades”, e perseverança exige força e coragem.

III. O ENSINO DA PALAVRA DE DEUS EM TEMPOS DIFÍCEIS (2Tm 3:14-17)

14- “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido”. 15 - “E que, desde a tua meninice, sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus”. 16- “Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça”, 17 - “para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra”.

1. O valor do ensino bíblico. O ensino da Palavra de Deus, na igreja local, é indispensável e de fundamental importância, por isso deve ser contínuo. Depois da evangelização, vem o discipulado dos novos convertidos, mas o discipulado não deve ser visto como apenas algumas lições bíblicas. Ninguém deixa de ser discípulo pela idade ou por tempo de serviço. O discipulado cristão é para toda a vida. Na igreja do primeiro século o exercício deste ministério era contínuo. Diz o texto bíblico: "E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar..." (At 5:42). Sem o ensino, os crentes ficam sem o conhecimento indispensável ao seu crescimento na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo (cf. 2Pe 3:18).

Paulo não mediu tempo para ensinar os crentes da igreja primitiva. Ele foi um exemplo de dedicação e persistência no ensino das Escrituras. Ele disse: “como nada, que útil seja, deixei de vos anunciar e ensinar publicamente e pelas casas”(At 20:20). Em Trôade, ministrou aos irmãos até altas horas – “No primeiro dia da semana, estando nós reunidos como o fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir viagem no dia seguinte, exortava-os e prolongou o discurso até à meia-noite”(At 20:7,8). Nem o incidente que aconteceu com o jovem Êutico lhe arrefeceu o entusiasmo e o ardor doutrinário – “Subindo de novo, partiu o pão, e comeu, e ainda lhes falou largamente até ao romper da alva”(At 20:11). O ardor pelo ensino também aconteceu em Antioquia  - “todo um ano se reuniram naquela igreja e ensinaram muita gente”(At 11:26). Também em Corinto Paulo permaneceu “um ano e seis meses, ensinando entre eles a Palavra de Deus”(At 18:11b).

Pedro também era persistente e insistente no ensino: “Pelo que não deixarei de exortar-vos sempre acerca destas coisas, ainda que bem as saibais e estejais confirmados na presente verdade”(2Pe 1:12). Ele sabia que os crentes aos quais a sua carta foi enviada já possuíam certeza dos ensinos fundamentais, porém dava instrução contínua. Pedro sabia que em breve partiria para a glória(2Pe 1:14), e seu desejo era que, após a sua partida para estar com o Senhor, o ensino bíblico estivesse na mente de todos(2Pe 1:15).

O Israel do Antigo Testamento se apostatou da fé em Deus porque deixou de conhecer a Jeová. Por causa disso o Senhor destruiu Israel espalhando-o por todo o mundo. O Senhor lamentou essa situação: “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento”(Oséias 4:6). E conhecimento não se adquire sem um ensino persistente e inspirado pelo Espírito Santo. Vivemos dias em que este ministério nunca foi tão necessário. Quando o ensino não é cuidadoso, paciente e dedicado, há grande prejuízo para as novas gerações.

2. Combatendo o “espírito do Anticristo” com a Palavra de Deus. Apesar de o Anticristo surgir em carne e osso muito em breve, o espírito do Anticristo já está presente na terra, conforme 1João 2:18-19: "Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos, por onde conhecemos que é já a última hora. Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós”.

Em 1João 4:2-4, é confirmado que o espírito do anticristo já está presente hoje, e nos ensina como saber se um espírito é de Deus mesmo ou não: "Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus. E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo”.

O espírito Anticristo está presente neste mundo e podemos detectar a sua ação em todas as partes. Todos os seguimentos da sociedade estão batizados neste terrível espírito maligno. Ele está tomando conta de corações em todos os cantos deste mundo, inclusive de muitos que cristãos dizem ser.

Muitas “igrejas” que outrora eram sustentadas por verdades fundamentais das Escrituras, hoje se encontram totalmente rendidas aos ensinos deste espírito enganador. Pouco a pouco, comunidades inteiras vão se rendendo aos encantos do espírito do anticristo. Urge um avivamento!

Observe alguns dos “instrumentos” utilizados por Satanás nestes últimos dias contra o rebanho do Senhor:

a) O relativismo. Segundo o relativismo nada pode ser definitivamente certo, pois, a verdade está sujeita a fatores aleatórios, ou subjetivos. Assim, os princípios éticos e morais variam de lugar para lugar, pois, estão sujeitos às circunstâncias culturais, políticas e históricas. É claro que o relativismo contrasta com as verdades proclamadas pela Bíblia Sagrada. A Bíblia fala de valores absolutos e imutáveis válidos e aplicáveis em qualquer parte da Terra, pois, a doutrina bíblica se apoia em dois princípios: imutabilidade e universalidade. Por estes dois princípios a doutrina não sofre a ação do tempo e nem do espaço. Pelo princípio de imutabilidade é que nós estamos ensinando, hoje, a mesma doutrina bíblica que os apóstolos ensinaram; ela não mudou e nem mudará; ela é verdadeira e absoluta. Pelo Princípio da Universalidade, onde houver um homem, em qualquer lugar da terra, a doutrina bíblica é válida para ele. O que a Bíblia definir como sendo pecado, será pecado em toda a Terra. Assim, os princípios éticos e morais que o relativismo afirma mudar de lugar para lugar, pela Bíblia eles são imutáveis.

b) Leis infames. Os poderes legislativos vêm aprovando leis, de iniciativa do poder executivo, que vão de encontro os princípios morais exarados na Bíblia Sagrada. Isso é uma afronta ao Deus Todo Poderoso. O Brasil tem tomando um rumo perigoso. Os líderes da nação, em seus variados poderes, estão afrontando e escarnecendo da Lei de Deus. Leis infames e injustas que aprovam o que Deus condena estão tendo o apoio até do Judiciário. Leis que criminalizam e preveem a prisão daqueles que usam textos da Bíblia para falar contra o homossexualismo; leis que querem legalizar o uso de drogas e a prática do aborto. Certamente, nuvens negras baixam sobre nosso país. É hora de clamar e orar para que Deus tenha misericórdia de nossa nação.

CONCLUSÃO

Estudamos nesta Aula que o plano do adversário da Igreja é promover movimentos contrários à sã doutrina, de tal forma que a corrupção moral e espiritual encontre espaço no meio da comunidade cristã. Os "tempos trabalhosos" a que Paulo se referiu seriam acentuados nos últimos dias que antecedem a volta de Jesus. Desta feita, a igreja precisa se voltar para a Palavra de Deus, pois ela é o guia seguro para conduzir o crente neste mundo de trevas morais e espirituais.

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 Luciano de Paula Lourenço - Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 63. CPAD.

Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD

Guia do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards

Tito e Filemom – doutrina e vida, um binômio inseparável. Rev. Hernandes Dias Lopes. Hagnos.

1 Timóteo – o pastor, sua vida e sua obra. Rev. Hernandes Dias Lopes. Hagnos.

2 Timóteo – O testamento de Paulo à Igreja. Rev. Hernandes Dias Lopes. Hagnos.

Comentário do Novo Testamento – 1 e 2 Timóteo e Tito. William Hendriksen.

As Ordenanças de Cristo nas Cartas Pastorais. Elinaldo Renovato de Lima. CPAD.