domingo, 29 de maio de 2016

Aula 10 – DEVERES CIVIS, MORAIS E ESPIRITUAIS


2º Trimestre/2016

Texto Base: Romanos 13:1-8

“Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus”.

 

Objetivo desta Aula: “Conscientizar que o crente tem deveres civis, morais e espirituais para com a sociedade na qual está inserido” (LBP).

 

INTRODUÇÃO

Nesta Aula, estudaremos o relacionamento do cristão como cidadão de dois mundos: terrestre e celeste. Teremos como texto base o capítulo 13 da Epístola aos Romanos. Em Romanos 12, o apóstolo Paulo abordou nosso relacionamento com Deus (Rm 12:1,2), com nós mesmos (Rm 12:3-8), com nossos irmãos (Rm 12:9-16) e com nossos inimigos (Rm 12:17-21). Agora, no capítulo 13, ele tratará de três aspectos importantes: o relacionamento com as autoridades (Rm 13:1-7), com a lei (Rm 13:8-10) e o comportamento do cristão diante da iminência da volta do Senhor Jesus (Rm 13:11-14). Após dar regras de como viver na igreja, o apóstolo agora explica no capítulo 13 de Romanos como os cristãos podem praticar o cristianismo no mundo secular, político e cotidiano. O cristão é um cidadão de dois mundos, de duas ordens, e Paulo parece dizer como disse Jesus: "Dai, pois, a César que é de César e a Deus o que é de Deus”' (Mt 22:21).

I. DEVERES CIVIS (Rm 13:1-7)

1. A natureza do Estado (Rm 13:1).Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus”.

O Estado é o agente organizador da sociedade. Não haverá nação sem uma sociedade organizada política, jurídica e administrativamente, sobre uma base territorial definida. Todavia, para se processar uma organização social não se fará com simples distribuição de flores, de sorrisos, de conselhos, isto porque interesses terão que ser contrariados. Daí a necessidade do agente organizador, que, no caso de uma nação, é o Estado que necessita da força coercitiva necessária, e esta vem do poder. Não haverá o Estado sem que haja o poder. O Estado no uso do poder constitui o governo, e este é que vai gerir os interesses da sociedade.

Para preservar a boa ordem da sociedade é preciso haver autoridades e sujeição a estas autoridades. De outro modo, teríamos um Estado de anarquia, no qual ninguém sobrevive por muito tempo. Qualquer governo é melhor que a ausência total de autoridade. Assim, Deus instituiu o governo humano, e nenhum governo existe fora da vontade divina. Isso não significa que Deus concorda com todos os atos de governantes humanos. Por certo, Ele não aprova corrupção, injustiça, brutalidade e tirania. Ainda assim, não há autoridade que não proceda de Deus.

Com relação à autoridade constituída, Paulo destaca três aspectos importantes:

a) A autoridade procede de Deus. Disse o apóstolo Paulo: “... porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus” (Rm 13:1). Paulo não defende aqui nenhuma forma específica de governo, mas afirma que esse governo é uma instituição divina. É Deus quem levanta e depõe reis. É ele quem coloca no trono aqueles que governam e os tira do trono. Ele é quem governa o mundo e faz isso mediante as autoridades constituídas. Deus é Deus de ordem, e não de desordem. Ele instituiu o governo, e não a anarquia.

b) O compromisso de obedecer à autoridade – “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores...” (Rm 13:1a). Neste texto de Romanos 13:1, ao mencionar "autoridades superiores", Paulo está referindo-se ao Estado, com seus representantes oficiais. A atitude que devemos ter em relação às autoridades é sujeição. O apóstolo ainda afirma: “é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência“(Rm 13:5).

Segundo Hernandes Dias Lopes, a obediência à autoridade não tem o caráter de resignada submissão inspirada por temor ou medo. Sua obediência não se dá só por medo das consequências. Você obedece por questão de consciência, pois aceita que a autoridade vem de Deus e, quando obedece à autoridade, obedece a Deus. Segundo William Macdonald, Paulo escreveu este capítulo 13 sobre a sujeição ao governo humano num período em que o infame Nero era imperador. Foram dias difíceis para os cristãos.

Os cristãos podem viver vitoriosamente numa democracia, numa monarquia constitucional e até mesmo sob um regime totalitário. Os governos humanos são apenas um reflexo dos homens que os constituem. Por isso, nenhum governo é perfeito. O único governo ideal e perfeito será o governo do Rei e Senhor Jesus Cristo, no Milênio.

c) A atitude de não resistir à autoridade (Rm 13:2) – “Por isso, quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação”. Paulo fala sobre uma resistência formal, planejada, proposital e sistemática. Aquele que se lança em batalha contra a autoridade legal, atrai sobre si castigo merecido. Essa sujeição, contudo, não implica obediência cega, tem limites. É simplesmente uma atitude de reconhecimento das pessoas que ocupam posição de comando numa sociedade juridicamente organizada.

A resistência que podemos ter não é ao princípio de autoridade, mas aos desmandos da autoridade. O cristão não tem a obrigação de obedecer às ordens do governo que o levem a pecar ou trair sua lealdade a Jesus Cristo (Atos 5:29). Nenhum governo tem o direito de dominar a consciência do individuo. Há ocasiões em que, ao obedecer a Deus, o cristão provocará a ira do homem. Nesses casos, deve estar preparado para arcar com as consequências sem se queixar. John Scott é enfático: "Se o Estado exige aquilo que Deus proíbe, ou então proíbe o que Deus ordena, então, como cristãos, nosso dever é claro: resistir, não sujeitar-nos, desobedecer ao Estado a fim de obedecer a Deus (1Rs 21:3; Dn 3:18; 6:12; Mc 12:17; At 4:19; 5:29; Hb 11:23). Contudo, em nenhuma circunstância, deve se rebelar contra o governo ou participar de complôs para derrubá-lo.

2. O propósito do Estado (Rm 13:3,4). “Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela. Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus e vingador para castigar o que faz o mal”.

Pelo texto supracitado, o Estado tem dois propósitos, ambos importantes, ambos fundamentais para o progresso e a paz da sociedade.

a) Promover o bem.  O ofício que Deus confiou ao Estado é o ofício que tem a ver com o bem e o mal. Paulo já disse que devemos detestar o mal e apegar-nos ao bem (Rm 12:9); que não devemos retribuir a ninguém mal por mal, mas fazer o bem perante todos os homens (Rm 12:17), e que não devemos deixar-nos vencer pelo mal, mas vencer o mal com o bem (Rm 12:21). Agora, ele descreve o papel que cabe ao Estado com respeito ao bem e ao mal. O papel do Estado é promover o bem e coibir o mal (Rm 13:4).

O objetivo do governo civil não é promover o bem-estar dos governantes, mas dos governados. Eles são ordenados e investidos de autoridade a fim de agir como pavor para os malfeitores e louvor para aqueles que fazem o bem. Se a autoridade é representante de Deus e se Deus é justo e bom, a autoridade precisa compatibilizar-se com o caráter de quem ela representa.

b) Castigar o que pratica o mal. Além de ser “ministro de Deus” para o nosso bem, o governante também serve a Deus aplicando castigo aos que transgridem a lei. Deus proíbe ao cristão aplicar vingança pessoal e ordena ao Estado fazê-lo (Rm 12:17,19). A autoridade deve ser austera no combate ao mal, pois liberdade sem restrição resulta em anarquia. O governo não pode ser complacente com a justiça, com o mal, com a anarquia, com as forças desintegradoras que tentam anarquizar a sociedade.

Cabe ao Estado o exercício da autoridade civil, a manutenção da ordem e a promoção do bem-estar público. Desta feita, o governo não pode agir com frouxidão no castigo do mal. Ele precisa punir exemplarmente os promotores do mal. Tem de reagir com rigor e firmeza contra toda forma de violência, crime, suborno e corrupção (Rm 13:4; Gn 9:6; Pv 17:11,15; 20:8,26; 24:24; 25:4,5).

3. A Igreja e o Estado (Rm 13:7). O fato de os cristãos serem cidadãos do Céu (Fp 3:20) não os exime das responsabilidades junto ao governo humano. Deve obediência ao Estado e obediência a Deus. Como cidadãos, as nossas obrigações principais para om o Estado são:

a) Políticas. Sendo um país governado por um regime democrático é dever de todo cidadão cumprir o seu papel, exercendo o direito de escolha de seus representantes e governantes. As obrigações legais impostas pela constituição de um país, desde que não sejam contrárias ou colidentes com a Bíblia Sagrada, que é a constituição do Reino de Deus, precisam e devem ser cumpridas. Biblicamente, a ideia de dividir a população da terra em povos e nações não foi do homem, mas, sim de Deus. Até onde sabemos não há qualquer veto bíblico ao processo de escolha de nossos governantes, inclusive pelo voto, e nenhuma proibição à prestação do serviço militar, muito menos de seguir a carreira militar.

b) Contributivas. Pagar impostos é um dever de todo o cidadão, e fazendo assim estamos obedecendo à orientação de Jesus: “Dai a César o que é de César...”(Lc 20:25). Exorta Paulo: “Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra” (Rm 13:7).

O apóstolo Paulo determina que o salvo, em primeiro lugar, como verdadeiro cidadão, leve em conta os seus deveres, cumprindo-os rigorosamente, a fim de que seja exemplo para os demais concidadãos, sejam eles crentes ou não. Começa pelo dever de pagamento de tributos, que, sem dúvida, é o que mais dói em cada cidadão, notadamente na época de Paulo, vez que era o ponto prioritário de todo o sistema de dominação do império de Roma. Lamentavelmente, são muitos os crentes, na atualidade, notadamente num país como o Brasil, que é o país de mais alta carga tributária do mundo, que tentam justificar, à luz da Bíblia, a sonegação de impostos, apelando, para tanto, para o altíssimo nível de corrupção do governo, para a evidente falta de aplicação dos recursos nas necessidades básicas da população. Tais argumentos, entretanto, se analisados à luz da Palavra de Deus, não têm qualquer efeito. Paulo é claríssimo: “por esta razão também pagais tributos, porque são ministro de Deus, atendendo sempre a isto mesmo. Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto” (Rm.13:6,7a).

O cumprimento de nossos deveres para com o Estado demonstra a qualidade de nossa vida cristã e engrandece o nome do Senhor Jesus e nos torna partícipes da manutenção da ordem publica e da promoção do bem comum.

II. DEVERES MORAIS (Rm 13:8-10)

1. A dívida que todos devem ter.A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei” (Rm 13:8). A primeira parte deste versículo significa, em essência: “paguem suas contas em dia”. Devemos livrar-nos de todas as dívidas, não negando, ignorando ou fugindo delas, mas pagando-as. Existe apenas uma dívida de que ninguém pode livrar-se, a dívida do amor. Orígenes, um dos personagens relevantes no início da igreja, dizia que “a dívida de amar é permanente e nunca a saldamos; por isso devemos pagá-la diariamente”.

A prática desenfreada de aquisição de bens tem sido uma das marcas de nossa era materialista. Isso tem trazido diversos problemas, inclusive para os servos de Deus, que não conseguem resistir a determinadas “promoções imperdíveis” oferecidas pelo comércio e adentram por endividamentos e financiamentos, sem mesmo avaliar se sua situação financeira comportará tais compromissos. Quando esquecemos de planejar nossas finanças e cedemos às pressões “urgentes”, para adquirir coisas supérfluas, corremos o risco de manchar o nome do Senhor e o nosso diante dos homens. O consumismo nos faz comprar coisa que não precisamos, com um dinheiro que não temos, para impressionar pessoas de que não gostamos. Isso é perigoso!

Aquele que cristão diz ser precisa ser disciplinado na administração das suas finanças a fim de honrar os seus compromissos. O ato de comprar parece simples e prazeroso, mas não é. Exige planejamento e reflexão. Jamais podemos comprar por impulso, sem pensar no quanto estamos gastando. Quem compra por impulso e não segue um planejamento, cedo ou tarde acabará tendo problemas financeiros. Devemos lembrar que honrar os nossos compromissos contratuais é um dever cristão e isto é bastante agradável a Deus, pois trará bom testemunho no meio em que vivemos. Você deseja ser bem sucedido financeiramente? Então:

a) Evite o desperdício e o supérfluo. É nossa tendência pensar que só entre os que têm muitos bens materiais há desperdício de recursos. A verdade, porém, é que entre a classe pobre há tantos ou mais pessoas que desperdiçam seus recursos de forma dissoluta. Na parábola de Jesus, aquele que menos tinha, foi quem não soube administrar sua porção. Na experiência diária vemos que crentes sem recursos, que vivem somente do seu ordenado, são muitas vezes aqueles que não sabem direcionar o seu dinheiro. Os pobres podem, nesse caso, ser tão esbanjadores como os ricos, levando-se em conta as devidas proporções. 

Em João 6:12 Jesus ordenou que seus discípulos recolhessem os alimentos que sobrara para que nada se perdessem. Algumas vezes o orçamento acaba porque gastamos com insensatez, com aquilo que não se deve ou não se pode gastar (Is 55:2; Lc 15:13,14).

b) Economize, poupe e fuja das dívidas. Se os membros das nossas igrejas fossem mais econômicos, seu dinheiro duraria mais. O mal de muitos é não saber direcionar o seu dinheiro, é não ter método no gastar. Se tiver muito, gastam tudo; quando não tem bastante, toma emprestado. Por isso a vida financeira de muitos evangélicos é uma pedra de tropeço diante dos incrédulos. Sejamos cuidadosos na maneira de gastar o nosso dinheiro, busquemos a direção do Senhor de nossas vidas, para que Ele nos ensine a usar o pouco que nos foi entregue. Economize comprando no estabelecimento que é mais em conta. Racionalize os gastos com água, luz, telefone, etc. (ler Gn 41:35,36; Pv 21:20). Abra uma conta-poupança e guarde um pouco de dinheiro, por menor que seja a quantia. Fuja das dívidas! 

2. O amor ao próximo é o cumprimento da lei“... porque quem ama aos outros cumpriu a lei” (Rm 13:8b). O termo usado para “amor” neste versículo significa uma afeição profunda, abnegada e sobre-humana entre duas pessoas. Esse “amor” sobrenatural não é despertado por nenhuma virtude na pessoa amada; é um amor completamente imerecido. Distingue-se de todas as outras formas de amor, pois é oferecido não apenas às pessoas amáveis, mas também aos inimigos. Certa vez Jesus disse: “Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5:44). Jesus exige que cumpramos normas diametralmente opostas ao nosso comportamento natural. Essa ética estabelecida por Jesus só pode ser seguida por pessoas que nasceram de novo, que entregaram todo o seu ser ao Senhor: “Porei no seu coração as minhas leis e sobre a sua mente as inscreverei” (Hb 10:16). Um incrédulo não pode manifestar esse amor divino. Na verdade, até mesmo o cristão não é capaz de demonstrá-lo com forças próprias. Esse amor só pode ser expresso pelo poder do Espírito Santo que habita nos cristãos.

O apóstolo diz que quem ama o próximo tem cumprido a lei (Rm 13:8b), ou pelo menos a parte da lei que ensina a amar nosso semelhante. Em Romanos 13:9, o apóstolo Paulo destaca os mandamentos que proíbem atos de desamor contra o nosso próximo: “Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás, e, se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”.

Ao contrário da imoralidade, o amor não explora o corpo do outro. Ao contrário do homicídio, o amor não tira a vida do outro. Ao contrário do furto, o amor não se apropria dos bens do outro. Ao contrário da cobiça, o amor nem sequer cogita desejar indevidamente a propriedade alheia.

- “e, se há algum outro mandamento”. Paulo poderia ter mencionado outros dois mandamentos: “não dirás falso testemunho” e “honra teu pai e tua mãe”. Todos eles podem ser resumidos no mesmo preceito: “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Trate o seu próximo com a mesma afeição, consideração e bondade com que você trata a si mesmo.

3. O amor não pratica o mal contra o próximo (Rm 13:10) – “O amor não faz mal ao próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor”. O amor não procura fazer o mal contra o próximo. Antes, busca ativamente o bem-estar e a honra de todos. O amor é benigno, e não maligno. O amor é altruísta, e não egoísta. O amor coloca sempre o outro na frente do eu. O amor respeita a vida do outro, por isso quem ama não mata. O amor respeita a honra e a família do outro, por isso quem ama não adultera. O amor respeita os bens e a propriedade do outro, por isso quem ama não furta. O amor respeita o bom nome do outro, por isso quem ama não se presta ao falso testemunho. O amor não deseja o que é do outro; antes, está contente com o que Deus lhe deu, por isso quem ama não cobiça. Portanto, quem age com amor cumpre as exigências da segunda tábua da lei.

III. DEVERES ESPIRITUAIS (Rm 13:11-14).

Depois de falar da conduta cristã em relação ao Estado e ao próximo, Paulo estabelece um fundamento escatológico para essa conduta. Duas verdades são destacadas: o discernimento do tempo em que vivemos (Rm 13:11,12a) e o discernimento da conduta apropriada que devemos ter nesse tempo (Rm 13:12b -14).

1. Consciência escatológica (Rm 13:11). “E isto digo, conhecendo o tempo, que é já hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto de nós do que quando aceitamos a fé”.

Encabeçando a lista dos deveres de natureza espiritual, Paulo apresenta um de natureza escatológica: “E isto digo, conhecendo o tempo, que é já hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto de nós do que quando aceitamos a fé”. A volta de Jesus e a nossa plena salvação estão agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé. Desta feita, os crentes devem estar alerta e vigilantes para não serem surpreendidos. Paulo sabe que a antiga natureza pecadora ainda irá, ocasionalmente, provocar problemas, por isso o apóstolo pede que os destinatários da Epístola se mantenham acordados. Permanecer muito tempo num estado de letargia espiritual, onde o pecado é tolerado e as boas obras não são praticadas, pode levar a um coma espiritual que nos transforma em seres irresponsáveis perante Deus. Passou a hora de dormir. É hora de acordar e levantar-se. Escrevendo aos efésios, Paulo diz: “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará” (Ef 5:14).

Cada dia que passa nos leva mais próximo ao instante da volta de Cristo, quando seremos conduzidos ao Céu para ficar ao seu lado para sempre. O tempo está se acabando, portanto, precisamos utilizar cada momento para vivermos uma vida correta diante de Deus e dos homens.

2. Discernimento da conduta apropriada que devemos ter nesse tempo em que vivemos (Rm 13:12b-14) - “Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz. Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências”.

Veja o argumento do Rev. Hernandes Dias Lopes, com relação a este aspecto exortativo do apóstolo Paulo, direcionado a todos os cristãos da igreja em Roma, bem como a todos os cristãos do tempo presente. Depois de explicar acerca do tempo, Paulo faz algumas exortações sobre como devemos viver nesse tempo. Paulo usa três imperativos nesta passagem: "deixemos", "revistamos" e "andemos". Estes três verbos governam o pensamento do apóstolo.

a) Deixemos as obras das trevas. "Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz" (13:12b). Não basta estarmos acordados, precisamos despojar-nos das obras das trevas. Não é suficiente apenas tirarmos as vestes noturnas, precisamos vestir-nos das armas da luz. Um soldado não vive de pijamas, ele se atavia com roupas próprias para o combate. A vida cristã não é um spa espiritual, mas um campo de batalha.

b) Andemos como filhos da luz. "Andemos dignamente como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes (Rm 13:13). Paulo passa da vestimenta adequada ao comportamento apropriado. Paulo lista aqui seis pecados, em três pares: trata da falta de controle nas áreas da bebida, do sexo e dos relacionamentos. Concordo com John Stott quando ele diz: "A falta de controle próprio nas áreas de bebida, do sexo e dos relacionamentos sociais contradiz totalmente um comportamento cristão decente”.

c) Revistamo-nos do Senhor Jesus. "Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências" (Rm 13:14). Em vez de viver premeditando como satisfazer os desejos da carne, o cristão deve revestir-se do Senhor Jesus Cristo, tornando-se semelhante a Ele. Todos os deveres cristãos estão incluídos no "revestir-se do Senhor Jesus", em ser como Ele, tendo aquela semelhança de temperamento e conduta resultante de estar intimamente unido a Ele pelo Espírito Santo. Essa união proíbe a tolerância para com toda inclinação pecaminosa. A salvação é do pecado e para a santidade. Devemos andar como Jesus andou, falar como Jesus falou, agir come Jesus agiu, sentir como Jesus sentiu. Jesus deve dominar-nos da cabeça aos pés!

É válido ressaltar que foram os textos de Romanos 13:13,14 que Deus usou para converter Agostinho a Cristo e à pureza. Quando Agostinho terminou de ler o versículo 14, entregou-se ao Senhor e, desde então, é conhecido historicamente como “santo” Agostinho.

CONCLUSÃO

As autoridades Eclesiásticas também são constituídas por Deus e precisam ser obedecidas. Existem crentes prontos a obedecer às autoridades civis e militares, porém, ignoram as eclesiásticas. A Bíblia Sagrada que manda obedecer às autoridades constituídas – “Sujeitai-vos, pois, a toda ordenança humana por amor do Senhor, quer ao rei, como superior, quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores...” -, é a mesma Bíblia que também diz: “Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles...” (Hb 13:17). Não importa quem seja o Pastor da Igreja, nem suas qualidades intelectuais, ou aparência física. Se nós cremos na Bíblia, se cremos que nossa igreja é aquela que Jesus chamou de “a minha Igreja” (Mt 16:18), se cremos que é Jesus quem dá pastores para Sua Igreja e, se cremos que o pastor prestará contas de seu governo ao Senhor, então devemos fazer o que a Bíblia ordena, no sentido da obediência e sujeição. Amém?

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Luciano de Paula Lourenço

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Guia do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards

Revista Ensinador Cristão – nº 66. CPAD.

Romanos – O Evangelho segundo Paulo. Rev. Hernandes Dias Lopes. Hagnos.

A Mensagem de Romanos. John Stott. ABU.

Maravilhosa Graça. José Gonçalves. CPAD.

Caramuru Afonso Francisco. O cristão e o Estado. PortalEBD_2006.

domingo, 22 de maio de 2016

Aula 09 – A NOVA VIDA EM CRISTO


2º Trimestre/2016

Texto Base: Romanos 12:1-12

“Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”(Rm 12:1).

 

Objetivo desta Aula: “Mostrar que a nova vida em Cristo consiste viver em santidade” (LBP).

INTRODUÇÃO

Nesta Aula, estudaremos o capítulo 12 da Epístola aos Romanos. Até o capítulo 11, Paulo tratou da doutrina; agora, tratará da ética. Após ter glorificado a Deus com um maravilhoso hino (Rm 11:33-36), o apóstolo Paulo passa para parte prática da epístola aos romanos, à aplicação do ensino e da doutrina no dia-a-dia dos crentes, no comportamento, na conduta, nas ações de cada servo de Deus enquanto estiver sobre a face da Terra. Aliás, o capítulo 12 ao 16 responde à pergunta: “como deve ser a vida diária dos que foram justificados pela graça?”. A Bíblia nunca ensina uma doutrina para torná-la simplesmente conhecida; ela é ensinada para que seja transferida para a prática. No capítulo 12, Paulo trata de nossos deveres em relação a outros cristãos, à comunidade, aos nossos inimigos, ao governo e aos irmãos mais fracos. Paulo mostra que após experimentar da graça divina não é mais possível viver segundo as normas ou a maneira de pensar deste mundo pecaminoso (Rm 12:1,2). Uma vida transformada tem relacionamentos transformados. Não podemos amar a Deus e odiar nossos irmãos; não podemos ter um relacionamento vertical correto se os relacionamentos horizontais estão errados. O apóstolo também mostra que como novas criaturas, pertencemos ao um corpo, o “Corpo de Cristo”. Cada membro desse Corpo recebeu dons e talentos e estes precisam ser usados com humildade, amor, sabedoria, contribuindo para o bem-estar de todos.

I. EM RELAÇÃO A MORDOMIA DA ADORAÇÃO CRISTÃ (Rm 12:1,2)

Trataremos neste tópico acerca da consagração pessoal do crente.

1. Uma exortação em forma de apelo. “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus...”(Rm 12:1). A parte prática da Epístola começa com uma convocação, um apelo, um chamado, uma convocação do apóstolo - “Rogo-vos” -, que, em outras versões, é “exorto-vos”; é a primeira palavra desta parte da Epístola aos romanos. No texto original grego é “parakaleo”, que tem o sentido de exortar, apelar, convocar, chamar, rogar, mas no sentido de chamado. A razão pela qual Paulo roga aos crentes judeus e gentios com esse tom de autoridade é porque Deus já lhes havia demonstrado sua copiosa misericórdia. Exortar é estimular, incentivar, dar estímulo por meio de algo. Paulo, após ter mostrado o maravilhoso plano de Deus para a salvação do homem e o Seu absoluto controle para o cumprimento de Suas promessas, lança um convite, um chamado aos crentes de Roma para que, diante do conhecimento deste propósito de Deus para os homens, passassem a viver de acordo com a vontade do Senhor.

2. Uma palavra concernente ao corpo (Rm 12:1) – “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”. Paulo apresenta uma exposição doutrinária, e em seguida uma exortação ética, interligando ambas pela conjunção “pois” (Rm 12:1). Nunca é demais ressaltar que Paulo sempre baseia o dever na doutrina. Mostra que o caráter é determinado pelo credo.

- “...que apresenteis o vosso corpo...”. O termo “apresenteis”, neste versículo, significa “apresenteis de uma vez por todas”. Paulo ordena uma entrega definitiva do corpo ao Senhor, como os noivos se entregam um ao outro na cerimônia de casamento. Esse sacrifico é descrito como “vivo” em contraste com os sacrifícios antigos cuja vida era tirada antes de ser apresentada sobre o altar; como “santo”, isto é, consagrado, separado e reservado para o serviço de Deus; e “agradável” a Deus”, como o ascender em sua presença da oferta aromática de outrora oferecida no ritual judaico.

A sociedade contemporânea idolatra o corpo. As academias de ginástica estão lotadas. Muitas pessoas gastam rios de dinheiro em cosméticos. Cultivam a beleza e também a força. Entretanto, a Palavra de Deus nos ensina não a cultuar o corpo, mas cultuar a Deus por intermédio do corpo.

Concordo com o Rev. Hernandes Dias Lopes, quando diz que antes da nossa conversão oferecíamos os membros do posso corpo ao pecado (Rm 6:12-14). Agora, oferecemos nosso corpo como sacrifício vivo a Deus. Não oferecemos mais um cordeiro morto no altar, mas nosso corpo vivo. Nosso corpo não é uma tumba como pensavam os gregos, é o templo do Espírito Santo, a morada de Deus. Foi comprado por alto preço e devemos glorificar a Deus no nosso corpo. O próprio Deus não vacilou em tomar um corpo humano e nele viver. Nosso corpo será ressuscitado e glorificado um Dia. Consequentemente, o culto racional ou espiritual que prestamos a Deus pela consagração do nosso corpo não é prestado apenas no edifício da igreja, mas na vida do lar e no local de trabalho.

Concordo com John Stott quando diz que nenhum culto é agradável a Deus quando é unicamente abstrato e místico; nossa adoração deve expressar-se em atos concretos de serviço manifestados em nosso corpo.

Glorificamos a Deus em nosso corpo quando contemplamos o que é santo, quando nossos ouvidos se deleitam no que é puro, quando nossas mãos praticam o que é reto, quando nossos pés caminham por veredas de justiça.

Paulo diz que a oferta do nosso corpo a Deus como sacrifício vivo, santo e agradável é nosso culto racional. A palavra, no original grego, carrega a ideia de razoável, lógico e sensato. Trata-se, portanto, de um culto oferecido de mente e coração, culto espiritual em oposição a culto cerimonial.

- “...por sacrifício vivo...”. Como pode o corpo tornar-se um sacrifício? Deixe que o olho não veja nada mau, e ele se tomará um sacrifício; permita que a língua não diga nada vergonhoso, e ela se tornará uma oferta; deixe que a mão não faça nada ilegal, e ela se tornará uma oferta em holocausto. Todavia, isso não será suficiente; precisamos ter a prática ativa do bem: a mão precisa ajudar o necessitado; a boca precisa abençoar em lugar de amaldiçoar; o ouvido precisa dar atenção sem cessar aos ensinamentos divinos. Pois um sacrifício não tem nada impuro; um sacrifício é a primícia de outras coisas. Portanto, que nós possamos produzir frutos para Deus com as nossas mãos, com os nossos pés, com a nossa boca e com todos os nossos outros membros (Lopes, Hernandes Dias. Romanos – O evangelho segundo Paulo).

3. Uma palavra concernente à mente (Rm 12:2) – “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.

Há duas palavras que regem esse versículo: conformação e transformação. O crente é alguém que não se amolda ao esquema do mundo, mas se transforma pela renovação da mente. "Mundo", aqui, não significa o universo, a Terra e nem mesmo seus habitantes e, sim, o sistema que impera em nossa sociedade e que é contrário a Deus. É nesse sentido que o Novo Testamento fala que antes de nos convertermos, nós andávamos "segundo o curso deste mundo", que "o mundo jaz no maligno" e que o diabo é "o príncipe deste mundo". Quem não segue a Jesus segue o mundo e seu príncipe e que tudo que ele pensa não está moldado por Deus e Sua Palavra (Rm 12:1,2, 1João 2:15-17, Ef 2:2).

Paulo nos ensina que quem se converteu está crucificado para o mundo e o mundo para ele. Em outras palavras, não dá para viver nos dois barcos. Não dá para ser cidadão de dois reinos. No reino de Deus não é permitida dupla cidadania. Nesta guerra não podemos ficar na neutralidade. É por isso também que ele afirma que não devemos nos conformar com este mundo, ou seja, tomar a forma do mundo ou nos amoldarmos a ele (Rm 12:1,2). Apontando na mesma direção, João nos afirma que não devemos amar o mundo nem o que nele há, porque não dá para amar a Deus e ao mundo ao mesmo tempo (1João 2:15-17).

Alguém disse, com propriedade, que "ou a igreja transforma o mundo ou o mundo deforma a igreja". Aqui não dá para haver convivência pacífica. Tristemente, temos visto que a filosofia mundana vai invadindo a igreja em termos de linguagem, vestuário, gírias, ritmos, bebida, namoro, costume, modismo, etc., e nem mais temos critério para discernir tudo isso – já virou cultura. Quando o cristão se deixa enganar pelas propostas desse mundo espiritualmente tenebroso, torna-se escravo de um sistema maligno que rouba, mata e destrói (João 10:10). Sua única saída é retornar imediatamente ao seio do Pai, por Jesus Cristo, nosso libertador (João 8:36).

O Rev. Hernandes Dias Lopes diz que o mundo tem uma fôrma. Essa fôrma é elástica e flácida; é a fôrma do relativismo moral, da ética situacional e do desbarrancamento da virtude; é um esquema que muda todo dia. O crente em vez de entrar nessa fôrma para ser conformado a ela, deve ser transformado de dentro para fora, pela renovação da sua mente. Em vez de viver pelos padrões de um mundo em desacordo com Deus, o crente é exortado a deixar que a renovação de sua mente, pelo poder do Espírito Santo, transforme sua vida harmonizando-a com a vontade de Deus. O crente não deve conformar-se com o mundo porque a fôrma do mundo muda todo dia: o errado ontem é certo hoje; o repudiado ontem é aplaudido hoje; o vergonhoso ontem é praticado à luz do dia hoje. Nós, porém, seguimos um modelo absoluto, que jamais fica obsoleto. Esse modelo é Jesus!

Alguém disse que se o mundo controlar a nossa maneira de pensar, seremos conformados; mas, se Deus controla nossa maneira de pensar, somos transformados. A transformação interior é a única defesa efetiva contra a conformidade exterior, com o espírito do tempo presente. Temos, assim, uma metamorfose gerada pelo Espírito Santo. Quando o nosso corpo é consagrado e nossa mente é transformada, nosso culto torna-se racional e experimentamos a boa, perfeita e agradável vontade de Deus. (Lopes, Hernandes Dias – Romanos – o evangelho segundo Paulo).

A nossa mente precisa estar constantemente ocupada com o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, de boa fama, virtuoso e que encerra louvor. Somente em Cristo temos real condição de sermos transformados para a adoração.

II. EM RELAÇAO À MORDOMIA DO EXERCÍCIO DOS DONS (Rm 12:3-8)

Trataremos neste tópico acerca do nosso serviço a Cristo por meio dos dons espirituais.

1. Exercitá-los com moderação e humildade. “Porque, pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não saiba mais do que convém saber, mas que saiba com temperança, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um”(Rm 12:3). Paulo adverte os crentes de que o orgulho exagerado não deve ter lugar em sua vida. Não devemos jamais ter um conceito exagerado de nossa importância nem ter inveja de outros. Precisamos entender que cada pessoa é singular e todos nós temos funções importantes a realizar para o Senhor. Devemos nos alegrar com o lugar que Deus deu a cada um na Igreja e procurar exercer nossos dons com todo o poder que Deus concede. Em outras palavras, tudo que temos, no sentido de capacidades naturais ou dons espirituais, deve ser usado com humildade para edificar o Corpo de Cristo. Se formos orgulhosos, não poderemos exercitar a nossa fé e os nossos dons em benefício dos outros.

2. Exercitá-los respeitando sua diversidade. Exorta o apóstolo Paulo: “Porque assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma operação, assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros. De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada...” (Rm 12:4-6).

Paulo apresenta o retrato da identidade do povo redimido de Deus. O novo povo de Deus é como um corpo humano: tem muitos membros, mas cada um tem um papel único. A saúde e o bem-estar do corpo dependem do funcionamento adequado de cada membro. No Corpo de Cristo: há unidade (um só corpo), diversidade (muitos) e interdependência (membros uns dos outros). Assim como nosso corpo não pode ser desmembrado, nós também somos membros uns dos outros. Os membros trabalham juntos para fazer todo o corpo funcionar e quando isso não acontece o corpo sofre.

A marca das obras de Deus é a diversidade, não a uniformidade. Na comunidade cristã, há muitos homens e mulheres das mais diversas origens, ambientes, temperamentos e capacidades. E não só isso, mas, desde que se converteram a Cristo, são também dotados por Deus de grande variedade de dons espirituais e ministeriais. Entretanto, graças a essa diversidade e por meio dela, cada um pode cooperar para o bem do todo. Assim como o corpo humano tem vários membros, Deus concedeu à Igreja vários dons. Somos diferentes uns dos outros para suprir as necessidades uns dos outros.

3. Exercitá-los com esmero e regularidade. Exorta o apóstolo Paulo: “... se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria” (Rm 12:6-8).

Nestes textos de Romanos 12:6-8, Paulo dá instruções acerca do uso de certos dons. Essa lista não abrange todos os dons; a intenção é que seja indicativa, e não exaustiva. Os dons mencionados aqui são divididos em duas categorias: dons de fala (profecia, ensino e exortação) e dons de serviço (servir, contribuir, liderança e mostrar misericórdia). É bastante óbvio que Paulo não estar falando de cargos, mas dos dons. Nem todo dom implica um cargo diferente. Muitos dos dons que Deus dá ao seu povo não exigem nenhum cargo.

Nossos dons diferem “segundo a graça que nos foi dada” (Rm 12:6). Em outras palavras, a graça de Deus concede dons diferentes a pessoas diferentes. Deus também dá a força ou capacidade necessária para usarmos os dons. Assim, temos a responsabilidade de usar essas aptidões concedidas por Deus como bons despenseiros.

III. EM RELAÇAO À MORDOMIA DA PRÁTICA DAS VIRTUDES CRISTÃS (Rm 12:9-21)

Neste tópico trataremos acerca de algumas características que todo cristão deve desenvolver ao se relacionar com outros cristãos e com não-cristãos.

1. Exercitar o amor (Rm 12:9,10).O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem. Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros”.

O amor a Deus e ao próximo é a essência do cristianismo, por isso é uma exigência bíblica. No evangelho de Lucas 10:27 o amor a Deus e ao próximo é um mandamento divino: “­Amarás ao Senhor teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo”. Aquele ou aquela que conhece a Deus, ama de forma verdadeira e perfeita. Quem não conhece a Deus, quem não tem o seu caráter regenerado, não pode amar; e sem amor é impossível viver uma vida plena - “Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor”(1João 4:8); sem amor, Jesus não o reconhece como seu discípulo: "Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros"(João 13:35).

Se somos participantes da Igreja de Cristo, se somos servos de Jesus neste mundo, devemos, acima de tudo, sermos instrumentos desse amor, pois se somos alvos do amor de Deus, devemos refletir esse mesmo amor através do nosso viver. O amor deve reger nossos relacionamentos. O amor é o sistema circulatório do corpo espiritual, permitindo que todos os membros funcionem de maneira saudável e harmoniosa.

John Stott diz que a receita do amor tem doze ingredientes:

a) Sinceridade – “O amor seja sem hipocrisia” (Rm 12:9a). O amor não é teatro; ele faz parte da vida real.

b) Discernimento – “Detestai o mal, apegando-vos ao bem” (Rm 12:9b). O cristão deve apegar-se ao bem e abominar o mal com todas as forças da sua alma. Precisa sentir aversão e repugnância pelo mal. Não pode ser uma pessoa amorfa, insípida, que fica sempre em cima do muro, sem se posicionar.

c) Afeição – “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal” (Rm 12:10a). Devemos amar nossos irmãos em Cristo como amamos os membros da nossa família de sangue.

d) Honra – “[...] preferindo-vos em honra uns aos outros” (Rm 12:10b). O amor na família cristã deve expressar-se em honra mútua, assim como em afeição mútua.

e) Entusiasmo – “No zelo, não sejais remissos; sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor” (Rm 12:11). A apatia não combina com a vida cristã. O crente precisa ser um indivíduo em chamas para Deus. Precisa arder de zelo pelas coisas de Deus. É alguém que serve a Deus com fervor. Aqueles que são mornos provocam náuseas em Jesus à semelhança da igreja de Laodicéia, que estão prestes a ser vomitados pelo Senhor.

f) Paciência – “Regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes” (Rm 12:12). O crente cruza os vales da vida com os olhos cravados na esperança da gloriosa volta de Cristo. Ele se alimenta de uma viva esperança, enquanto pacientemente enfrenta as tribulações com uma vida de oração perseverante.

g) Generosidade – “Compartilhai as necessidades dos santos” (Rm 12:13a). Isto pode significar tanto participar das necessidades e dos sofrimentos dos outros, como repartir os nossos recursos com eles. Davi diz: "Bem-aventurado o que acode ao necessitado; o Senhor o livra no dia do mal. O Senhor o protege, preserva-lhe a vida e o faz feliz na terra; não o entrega à discrição dos seus inimigos. O Senhor o assiste no leito da enfermidade; na doença, tu lhe afofas a cama" (Sl 41:1-3). Devemos ter uma terna compaixão pelos necessitados. A Bíblia diz: "...se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita, então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia" (Is 58:10).

h) Hospitalidade - “[...] praticai a hospitalidade” (Rm 12:13b). Se com os necessitados precisamos ser generosos, com os visitantes devemos ser hospitaleiros. O cristão não tem apenas seu coração e bolso abertos, mas também sua casa. Ele é hospitaleiro. O cristianismo é a religião do coração aberto, da mão aberta e da porta aberta.

i) Boa vontade – “Abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis” (Rm 12:14). O cristão deve desejar o bem até mesmo para aqueles que lhe desejam o mal. O Rev. Hernandes Dias Lopes diz que a língua do cristão não deve ser rogo e veneno, mas árvore frutífera e fonte que jorra água límpida. Suas palavras são medicina. O cristão deve tornar a vida das pessoas mais suave com suas palavras. Ele é um encorajador. Suas palavras aliviam o fardo; são azeite na ferida. Suas palavras são verdadeiras, boas, oportunas e encontram graça.

j) Simpatia – “Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram” (Rm 12:15). O amor nunca se mantém longe das alegrias e das dores dos outros. O Rev. Hernandes Dias Lopes afirma que o cristão não é solitário, mas solidário. Ele chora com o que sofre e alegra-se com o que se alegra. Trafega da festa de casamento para o funeral e do cemitério para um aniversario e solidariza-se com seus irmãos tanto em suas tristezas como em suas alegrias. O amor nunca se afasta das alegrias e das dores dos outros.

k) Harmonia – “Tende o mesmo sentimento uns para com os outros” (Rm 12:16a). Os cristãos devem viver em concordância uns com os outros. Devem ser unânimes entre si, nutrir os mais nobres sentimentos e praticar as mais excelentes atitudes entre si.

l) Humildade – “[...] em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde; não sejais sábios aos vossos próprios olhos” (Rm 12:16b). Entre os cristãos não há espaço para o esnobismo. O amor coloca o outro na frente do eu. O Rev. Hernandes Dias Lopes afirma que o cristão não pode aplaudir a si mesmo e colocar placas de honra ao mérito ao longo de seu caminho. Não é aprovado quem a si mesmo louva, diz a Palavra de Deus.

2. Exercitar o serviço cristão. Disse Paulo:Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor” (Rm 12:11). A vida cristã é uma vida de serviço, de um serviço em todas as áreas da vida, de um cumprimento de tarefas determinadas pelo Senhor e da qual prestaremos contas quando chegarmos à eternidade.

A palavra servir tem uma tonalidade de submissão. Entre os militares essa expressão é muito comum, como, por exemplo: “Estou servindo no Aeroporto Pinto Martins”. Outros militares falam: “Estou servindo em Fortaleza, Belém etc.”.  Dá a ideia de submissão a uma autoridade superior. Da mesma maneira os cristãos servem ou devem servir ao Senhor.

Na parábola dos dois servos, Jesus nos mostra, claramente, que cada salvo é um servo e que todo servo é alguém que tem de servir, que tem de prestar um serviço, serviço que deve ser “assim”, ou seja, segundo um modelo, um padrão estabelecido pelo Senhor. Ele disse: “Bem-aventurado aquele servo que o Senhor, quando vier, achar servindo assim”(Mt.24:46).

 Agora, pois, que é que o Senhor, teu Deus requer de ti, senão que temas ao Senhor teu Deus, que andes em todos os seus caminhos, e o ames e sirvas ao Senhor, teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma”(Dt 10:12). Estas palavras foram ditas ao povo de Israel e que se aplicam, literalmente, a todos nós que pertencemos à Igreja do Senhor.

3. Exercitar a resistência ao mal. Adverte o apóstolo Paulo: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12:21). O crente age transcendentalmente. Não é vencido pelo mal; ele vence o mal com o bem. O bem é o amor ao próximo e de modo geral a vontade de Deus. A primeira vitória sobre o mal é o amor. Abraão Lincoln dizia que a única maneira de vencer um inimigo é fazendo dele um amigo.

Estêvão, quando apedrejado, orou: "Senhor Jesus, não lhes imputes esse pecado" (At 7:60). A Bíblia diz que devemos abençoar os nossos inimigos e orar por eles. Se o nosso inimigo tiver fome, devemos dar-lhe de comer, se tiver sede, devemos dar-lhe de beber. O misericordioso perdoa as ofensas. Ele não registra mágoas. Ele não guarda rancor. Ele não armazena ira. Ele perdoa. Ele vence o mal com o bem. Quem não perdoa não pode ofertar, não pode adorar, não pode ser perdoado. Quem não perdoa adoece, é flagelado pelos verdugos da consciência e jamais receberá misericórdia. "O juízo é sem misericórdia para aquele que não exerce misericórdia" (Tg 2:13).

CONCLUSÃO

Somente os salvos tem uma nova vida em Cristo. A nova vida em Cristo consiste em viver separado do mundo de pecado, viver em santidade, não conformado com o mundo. Esta deve ser uma das características dos crentes salvos, porquanto esta é uma das exigências de Deus – “como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo”(1Pd 1:14-16). Na Igreja Primitiva os Cristãos eram ensinados a viver entre os pagãos, andando de forma diferente da deles; eram ensinados a viver no mundo, não deixando que o mundo vivesse neles. Hoje, por certo, não é diferente. Os que estão andando como salvos observam o ensino de Paulo: “Para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo”(Fp 2:15). Para viver como salvo é necessário o viver em Santidade. Você está vivendo?

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Luciano de Paula Lourenço

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Guia do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards

Revista Ensinador Cristão – nº 66. CPAD.

Romanos – O Evangelho segundo Paulo. Rev. Hernandes Dias Lopes. Hagnos.

A Mensagem de Romanos. John Stott. ABU.

Maravilhosa Graça. José Gonçalves. CPAD.

 

 

domingo, 15 de maio de 2016

Aula 08 – ISRAEL NO PLANO DA REDENÇÃO


 
2º Trimestre/2016

Texto Base: Romanos 9:1-5; 10:1-8; 11:1-5

 “Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!” (Rm 11:36)
 

Objetivo desta Aula: “Compreender a “sorte” de Israel no plano da salvação” (LBP).

 

INTRODUÇÃO

Nesta Aula, estudaremos os capítulos 9 a 11 de Romanos, os quais tratam das relações existentes entre judeus e gentios, e em especial abordam a posição singular do povo judeu no principal propósito de Deus: receber o Messias. Cada capítulo aborda um aspecto diferente da relação de Deus com Israel. O tema dominante é a incredulidade dos judeus, assim como os problemas daí resultantes. Os judeus foram escolhidos para receberem o Messias, independente das obras dos patriarcas, mas não foi somente isto; Deus desejava, também, que por intermédio deles, todas as famílias da Terra fossem abençoadas. Os judeus, porém, não compreenderam essa verdade, nem o plano da redenção de Deus, rejeitando, portanto, o Salvador. Como é que esse povo, privilegiado por Deus, pôde deixar de reconhecer o seu Messias? Já que o evangelho havia sido prometido nas Escrituras Sagradas (Rm 1:2), por que eles não o aceitaram? Para Paulo, a incredulidade dos judeus é muito mais do que um problema intelectual. Ele escreve sobre a tristeza e a angústia que sente em relação a eles (Rm 9:1ss.), sobre o seu ardente desejo e oração para que sejam salvos (Rm 10:1) e sobre a sua convicção de que Deus não os rejeitou (Rm 11:1s.). Eles rejeitaram o Messias, porém, Deus não os rejeitou e por sua misericórdia fez com que nós, ”zambujeiros”, fôssemos enxertados na oliveira (Rm 11:17). A Igreja, o povo da nova aliança, é composta por judeus e gentios que creem em Jesus Cristo como Senhor e Salvador.

I. A ELEIÇÃO DE ISRAEL DENTRO DO PLANO DA REDENÇÃO (Rm 9:1-29)

Dentro do seu propósito de salvar o homem, ante a rebeldia gentílica, Deus promoveu a formação de uma nação, de um povo que, a exemplo dos demais povos, teria população (Gn 12:2; 15:4,5; 17:1,2), território ((Gn 15:7; 17:8) e governo (Êx 19:6), a fim de que pudesse ser vista e observada por toda a humanidade. Deus, assim, mostra seu intento em cumprir a promessa feita no jardim do Éden. Deus chama Abrão (cujo significado do nome é “pai da elevação”, “pai da exaltação”), tornado posteriormente em Abraão (cujo significado é “pai de multidões”) - “Ora, o Senhor disse a Abraão: sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. Far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção”(Gn 12:1-2). Ele atende ao chamado divino e, assim, mediante a obediência e fidelidade de Abraão é retomado o propósito divino para a realização do seu objetivo de salvação da humanidade.

A partir do instante em que Abrão creu em Deus e isto lhe foi imputado por justiça (Gn.15:6), o plano de Deus começou a se cumprir integralmente na vida deste patriarca. Notamos, pois, que, assim como a comunidade pós-diluviana fora constituída mediante a fé de Noé, também Israel teve, em seu nascedouro, a fé do patriarca Abrão que correspondeu ao chamado e à escolha da parte de Deus.

Não resta dúvida que Deus usou de sua soberania para escolher Abrão e a nenhum outro dos habitantes da Terra do seu tempo para dar início à formação de Israel, mas, também, não há qualquer dúvida que o plano não se realizou a não ser a partir do instante em que Abrão respondeu com a sua fé, com a confiança nas promessas divinas que o levaram a abandonar a sua casa e a sua parentela, atendendo ao chamado do Senhor.

Deus formou o Seu povo e, nesta formação, passaram-se cerca de quatrocentos anos, como, aliás, já havia sido predito ao próprio Abraão (Gn.15:13). Depois, Deus os libertou da escravidão no Egito, com mão forte (Ex.13:3; Dt.5:15) e, já liberto e tornada uma nação independente na comunidade das nações, o Senhor lhes propôs um pacto, segundo o qual Israel seria uma nação sacerdotal, a propriedade peculiar de Deus entre os povos, pacto que foi aceito e firmado (Ex.19:5-9). É por isso que Israel é chamado de “o povo eleito do Senhor”, expressão, aliás, que tem sido alvo de calúnias e de antipatia ao longo dos séculos, notadamente nos últimos anos, em que tem se intensificado um sentimento antissemita na comunidade internacional, sentimento este que é um dos mais claros sinais da manifestação do espírito do anticristo no planeta, às vésperas do Arrebatamento da Igreja.

1. O anseio de Paulo e a incredulidade de Israel. O apóstolo Paulo deixa claro o grande apreço que ele tinha por seus compatriotas. Ele os chamava de “meus irmãos” (Rm 9:3). Mas os judeus não acreditavam que Paulo os amava. Então, o apóstolo reforça seu argumento: “Em Cristo digo a verdade, não minto (dando-me testemunho a minha consciência no Espírito Santo” (Rm 9:1). Aqui, Paulo afirma seu amor pelos israelitas, evocando o testemunho de Cristo e do Espírito Santo. Sua confissão de amor por seus compatriotas não é uma retórica vazia nem uma vanglória hipócrita, dissimulada e fingida, mas uma realidade insofismável. Ele desejava profundamente que todos os judeus, assim como ele, entendessem o plano perfeito da salvação revelado em Jesus Cristo. Porém, eles endureceram o entendimento e não se dispuseram a crer que Jesus Cristo era o seu Messias tão esperado. Essa incredulidade do povo judeu trouxe profunda tristeza a Paulo: “tenho grande tristeza e contínua dor no meu coração” (Rm 9:2). Os judeus, irmãos e compatriotas de Paulo segundo a carne, ainda estavam aferrados à sua tradição religiosa, sem Cristo e sem salvação, e isso provocava no apóstolo grande tristeza e incessante dor, por ver o seu povo ainda endurecido ao evangelho da graça.

A angústia do apóstolo em face da incredulidade de Israel é ainda mais intensa quando ele considera os privilégios inigualáveis que Deus concedeu a seu povo. Paulo descreve que o povo judeu pertencia à nação escolhida por Deus que, como tal, havia testemunhado sua glória, recebido seus concertos e sua lei, prestado o seu culto e recebido suas promessas (Rm 9:4,5). Os ancestrais desse povo haviam sido o grande povo de Deus e o próprio Cristo tinha sido judeu, no cumprimento de todas as promessas. Entretanto, Cristo era mais que judeu, Ele era e é Deus, que reina “sobre todos, Deus bendito eternamente”. Foi neste ponto que os judeus se confundiram. Portanto, mesmo tão favorecido por Deus com todas estas bênçãos, Israel fracassou em reconhecer Cristo como seu Salvador; isto causou profunda tristeza em Paulo.

A tristeza profunda e a dor contínua do apóstolo Paulo o levam a fazer uma ousada confissão: “Porque eu mesmo poderia desejar ser separado de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne” (Rm 9:3). Ele desejou ser apartado de Cristo para que seus irmãos fossem reconciliados com Cristo. Desejou ser maldito para que seus compatriotas fossem benditos. Desejou ir ao inferno para que os seus irmãos fossem ao céu. O sentimento de Paulo, aqui, nos lembra de Judá que, como substituto de seu irmão Benjamim, disse: “Agora, pois, fique teu servo em lugar do moço por servo de meu senhor” (Gn 44:33); faz-nos lembrar das palavras emocionantes de Moisés ao interceder pelo povo: “Agora, pois, perdoa o seu pecado; se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito” (Êx 32:32).

2. Os eleitos e as promessas de Deus. Deus quis escolher, por Sua soberana vontade, quem formaria o Seu povo, tanto que escolheu a Abrão, a Isaque e a Jacó sem que, em tal escolha, houvesse qualquer participação humana. No entanto, a escolha feita dependia para a sua concretização da observância, por parte do escolhido, do atendimento ao chamado divino. Em Romanos 9:13 Paulo argumenta: “Como está escrito: Amei Jacó e aborreci Esaú”. Este versículo não significa que Jacó e seus descentes foram eleitos para salvação eterna, enquanto que Esaú e seus descendentes foram eleitos para condenação eterna. Trata-se, antes, da eleição dos descentes de Jacó para serem o canal da revelação e benção de Deus para o mundo. Observe que, segundo os capítulos 9-11, a maioria dos descentes de Jacó deixou de cumprir a sua vocação e, portanto, acabou sendo rejeitada por Deus (Rm 9:27,30-33; 10:3; 11:20). Além disso, aqueles que não eram “amados” (isto é, os gentios) obedeceram a Deus pela fé e se tornaram “filhos do Deus vivo” (Rm 9:25,26). Deus escolheu a Jacó e não a Esaú, por um ato Seu de soberana vontade, mas Esaú, de livre e espontânea vontade, desprezou a bênção da primogenitura, tornou-se um fornicário e profano, não se arrependendo do que fizera, ainda que tenha tido remorso e, com lágrimas, procurado rever a bênção perdida (cf. Hb.12:16).

A eleição, portanto, provém de Deus e é soberana, mas a perda da bênção oferecida indistintamente a todos é consequência do mau exercício do livre-arbítrio pelo homem. Foi, aliás, exatamente o que ocorreu com Israel. Embora escolhido por Deus e, de livre e espontânea vontade, tenha aceito viver conforme os preceitos provenientes do Senhor, Israel cedo fracassou neste seu propósito, tendo, a partir da primeira geração adulta do êxodo, aquela mesma que havia firmado o compromisso com o Senhor no monte Sinai, deixado de observar o pacto, endurecendo o seu coração continuadamente; ao longo da história, Israel mostrou-se um povo obstinado (Ex.32:9; Dt.9:6; Ez.3:7).

É oportuno dizer que a eleição para a salvação é cristocêntrica, isto é, a eleição de pessoas ocorre somente em união com Cristo. Deus nos elegeu em Cristo para a salvação (Ef 1:4). Ninguém é eleito sem estar unido a Cristo pela fé. E esta eleição para salvação em Cristo é oferecida a todos (João 3:16,17; 1Tm 2:4-6; Tt 2:11; Hb 2:9), e torna-se uma realidade para cada pessoa consoante seu prévio arrependimento e fé, ao aceitar o dom da salvação em Cristo (At 20:21; Rm 1:16; 4:16). Mediante a fé, o Espirito Santo admite o crente ao corpo eleito de Cristo (a Igreja) (1Co 12:13), e assim ele torna-se um dos eleitos. Daí, tanto Deus quanto o homem tem responsabilidade na eleição (cf. Rm 8:29; 2Pd 1:10,11).

- Promessas. Deus fez pactos com Israel, tendo-lhes prometido que seria propriedade peculiar dentre os povos, um reino sacerdotal e um povo santo (Êx.19:5,6). Ora, sabemos que o Senhor é fiel e, por isso, cumpre as Suas promessas. O argumento de Paulo em Romanos 9:6-13 revela que as promessas de Deus relativos à nação de Israel não falharam, conquanto a nação judaica como um todo não tenha respondido ao Evangelho. À primeira vista pode parecer que a Palavra de Deus haja faltado aos judeus, mas não foi isso que aconteceu, foram os seres humanos que erraram. A circunstância de Israel ter rejeitado a Cristo em nada abala a fidelidade divina. Portanto, daí se infere que as promessas de Deus em relação a Israel que ainda não foram cumpridas têm de ser cumpridas e, portanto, fatos devem ocorrer para que estas promessas se cumpram integralmente.

A existência de promessas a cumprir em relação a Israel é uma das evidências de que a história humana não se esgota com a volta de Cristo e o Arrebatamento da Igreja, o povo de Deus que substituiu ao Israel étnico. Após o arrebatamento, deve, então, haver o cumprimento das promessas divinas com relação a Israel, promessas, aliás, que estavam bem vivas na mente dos discípulos do Senhor no dia da ascensão (Atos 1:6). Esta certeza é dada, também, pelo apóstolo Paulo, na sua discussão a respeito de Israel. De forma explícita diz: “porque não quero, porém, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel até que a plenitude dos gentios haja entrado” (Rm 11:25). Portanto, após o Arrebatamento da Igreja, que é o instante em que se termina o período de entrada dos gentios na oliveira, Deus Se voltará, uma vez mais, a Israel, o Israel étnico, a fim de cumprir as promessas feitas em relação a esta nação que formou, cumprimento que se deve antes à Sua fidelidade que a eventuais méritos dos judeus.

3. Eleição, justiça e soberania de Deus.Assim que, quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós; mas, quanto à eleição, amados por causa dos pais. Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (Rm 11:28,29). Paulo diz que a eleição de Israel é irrevogável porque é decreto divino. Mesmo sendo os judeus indiferentes ao evangelho, não importa, os conselhos divinos são incondicionais (Rm 11:29).

Deus escolheu Israel para ser o Seu povo e isto se deve exclusivamente à Sua soberania, pois, como Senhor de todas as coisas, não deve satisfação a pessoa alguma. Não podemos, portanto, tentar discutir ou debater porque Deus escolheu Israel e não uma das tribos aborígenes da América para ser o Seu povo, a Sua propriedade peculiar dentre os povos, pois tamanha discussão seria uma tolice sem precedentes, como, aliás, alinhava o apóstolo em Rm 9:20,21.

II. O TROPEÇO DE ISRAEL DENTRO DO PLANO DA REDENÇÃO (Rm 9:30-10:21)

1. Tropeçaram em Cristo (Rm 9:30-33).Mas Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça. Por quê? Porque não foi pela fé, mas como que pelas obras da lei. Tropeçaram na pedra de tropeço, como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço e uma rocha de escândalo; e todo aquele que crer nela não será confundido”.

Paulo afirma que os judeus buscaram a justificação pelos méritos das obras, mediante a observância da lei, e não alcançaram essa justiça, ao passo que os gentios que não a buscavam, encontraram-na, ou seja, a justiça que decorre da fé. A justificação que os judeus buscavam não decorria da fé, mas das obras da lei. Assim, eles tropeçaram em Cristo e desprezaram seu sacrifício. Cristo tornou-se para eles pedra de tropeço e rocha de escândalo (veja 1Pd 2:4-8). Para os judeus, o Cristo crucificado era “escândalo”(1Co 1:23) que os irritava e os levava à indignação. Jesus não era o que eles esperavam, logo eles não o reconheceram. Eles tropeçaram na pedra de tropeço (Rm 9:33). Por isso, perderam o único meio para a salvação.

A “pedra” fez com que eles tropeçassem; ouviram falar a respeito de Cristo, mas não entenderam. Portanto, tropeçaram no único que poderia salvá-los.  Segundo o Rev. Hernandes Dias Lopes, Jesus é pedra de esquina ou pedra de tropeço; é o rochedo da nossa salvação ou rocha de escândalo. Israel fracassou em reconhecer Cristo como seu Salvador. Enquanto confiasse nas obras, Israel não poderia abraçar a Cristo. Tinha de ser um ou outro. Não havia como ser ambos.

Algumas pessoas ainda hoje tropeçam em Cristo porque a salvação pela fé parece não fazer sentido para elas. Elas preferem tentar abrir caminho até chegarem a Deus, ou esperam que Ele simplesmente ignore os pecados que praticam. Cristo pede humildade e muitos não estão dispostos a se humilhar perante Ele. Ele exige obediência, mas muitos se recusam a colocar sua vontade à disposição de Cristo. Portanto, para os judeus e para todos que, por orgulho, preferem ser reconhecidos por agir por conta própria do que confiar em Cristo, este ainda representa um obstáculo.

John Stott argumenta que só há duas possibilidades: uma é colocar nossa confiança em Cristo, fazer dele o alicerce de nossa vida e construir sobre esse fundamento; a outra é esfolar as canelas na pedra, tropeçar e cair. Aqueles que não encontrarem em Cristo sua rocha de refúgio se arruinarão ao tropeçar na pedra de tropeço (Rm 9:33).

2. Tropeçaram na Lei. Os ensinamentos de Paulo eram extremamente ofensivos para os judeus inconversos. Eles o consideravam um traidor e inimigo de Israel. Mas, em vez de condená-los como ímpios e irreligiosos, o apóstolo dá testemunho de que eles têm zelo por Deus e na prática da lei – “Porque lhes dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento” (Rm 10:2). Paulo sabia muito bem disso através da sua própria experiência. Entretanto esse zelo era mal direcionado e sem entendimento. O problema deles não era mornidão espiritual, mas fervor fora da verdade, zelo sem entendimento. E zelo sem entendimento é fanatismo.

Os judeus estavam tão ocupados em obedecer à lei que seu zelo os impedia de realmente entender os caminhos de Deus para a salvação. Como já tinham uma opinião formada, não podiam entender os caminhos de Deus, ou seja, que a justiça lhes seria concedida através da fé em Jesus Cristo, e que “o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê” (Rm 10:4).  Se os judeus houvessem crido em Cristo, teriam compreendido essa verdade. Em sua morte, Cristo pagou a pena da lei que os homens transgrediram. Quando um pecador recebe o Senhor Jesus Cristo como seu Salvador, a lei não pode mais condená-lo. Graças à morte de seu Substituto, o pecador está morto para lei. Deixa de lado as tentativas fúteis de obedecer à lei perfeitamente e obter a justificação por meio dela.

O que manteve Israel fora do privilégio da salvação não foi ausência de religiosidade, mas religiosidade fora da verdade. O que faltou a Israel não foi sinceridade, mas discernimento. Concordo com John Stott quando ele diz que sinceridade não basta, pois sempre existe a possibilidade de alguém estar sinceramente equivocado. Portanto, o zelo não é suficiente em si mesmo. Se não for combinado com a verdade, pode fazer mais mal que bem. Esta era a situação do apóstolo Paulo antes de seu encontro com Cristo. Ele foi um implacável perseguidor da igreja. Fez isso por zelo. Entrava nas casas e nas sinagogas em Israel e fora de seus limites para açoitar os crentes, forçá-los a blasfemar, encerrá-los em prisões e dar seu voto para matá-los. E fazia tudo isso com o propósito de agradar a Deus. Porém, esse zelo estava baseado num entendimento errado da Palavra de Deus, e o mesmo acontecia com todos os demais judeus, que queriam alcançar a justiça divina obedecendo à lei e aos seus rituais. Tropeçaram na Lei.

3. Tropeçaram na Palavra. A tristeza constante de Paulo era que nem todos do povo de Israel deram ouvidos ao Evangelho (cf. Rm 10:16). Isaias profetizou que isso aconteceria ao perguntar: “Senhor, quem acreditou na tua pregação?” (Rm 10:16; cf. Is 53:1). A pergunta exige a resposta: “Não muitos”. Quando a primeira vinda do Messias foi anunciada, poucos creram (cf. João 1:12). A rejeição do Evangelho pela maioria dos judeus abriu as portas para os gentios. Deus advertiu que ele poria em Israel ciúmes com um povo que não é nação (os gentios) e, com gente insensata e idólatra, provocaria os israelitas à ira (Rm 10:19; cf. Dt 32:21). Usando uma linguagem ainda mais ousada, Isaías diz que o Senhor foi achado pelos gentios que nem sequer o estavam procurando e revelou-se aos que não ao perguntavam por Ele (Rm 10:20; cf. Is 65:1). Os gentios como um todo não procuravam Deus, pois estavam envolvidos com suas religiões pagãs. Porém, muitos deles atenderam ao chamado quando ouviram o Evangelho. Em termos comparativos, os gentios se mostraram mais abertos para o Evangelho que os judeus. Finalmente, com base em Isaias 65:2, Paulo explica que Deus foi bondoso com o seu povo, estendendo pacientemente suas mãos para chamá-lo (Rm 10:21). Porém eles só o desobedeceram, e discutiram com Ele. O convite de Deus havia sido rejeitado, e as suas dádivas recusadas (Rm 10:21)

Com vimos, a desobediência de Israel foi castigada pela recepção que Deus deu aos gentios (embora isso estivesse nos seus planos há muito tempo). Mas Ele ainda aceitaria o seu povo, se pelo menos se voltasse a Ele. Deus permanece fiel às suas promessas, a despeito dos israelitas terem sido infiéis para com Ele. Deus ainda continua com as suas mãos estendidas.

III. A RESTAURAÇÃO DE ISRAEL DENTRO DO PLANO DA REDENÇÃO (Rm 11:1-32)

1. Israel e o remanescente. Sempre houve ao longo da existência de Israel, um remanescente fiel aos ditames de Deus. Observe que toda a geração do Êxodo pereceu no deserto, porque não creu em Deus; mas isto não ocorreu com Josué e Calebe, que ingressaram na Terra Prometida, embora pertencessem àquela geração. E por quê? Por um simples motivo, porque creram em Deus e nas suas promessas, ao contrário do restante, que se manteve incrédulo (Nm.14:24; Dt.1:36,38; Hb.3:19).

Na sua obstinação em desobedecer aos ditames de Deus, Israel sofreu progressivas sanções da parte do Senhor, pois Deus corrige a quem ama e castiga a quem quer bem (Hb.12:5-11), numa escalada já prevista na lei de Moisés (Dt 28:15-68), escalada esta que foi rigorosamente cumprida por Deus que chegou a tirar o povo da própria Terra Prometida para Babilônia (2Cr.36:15-21), sem falar na integral destruição das dez tribos do Norte (cf. 2Rs.17:1-18). No entanto, apesar de todos os seus pecados, em Israel sempre houve um remanescente fiel, ou seja, pessoas que, ainda que anônimas e despidas de poder político, social ou econômico, serviam a Deus com sinceridade, cumprindo a Sua Palavra.

Este remanescente fiel, que sempre existiu em cada geração, é o que constitui o verdadeiro e genuíno Israel. Este remanescente existiu mesmo nos períodos mais negros da história de Israel, como nos dá conta o apóstolo Paulo, ao mencionar a existência dele no macabro reinado de Acabe e sua ímpia mulher Jezabel, período em que praticamente Deus deixou de ser a divindade adorada pelo povo que o substituiu por Baal e Asera (cf. Rm 11:4).

Com relação à Igreja, também, isto não é menos verdadeiro. Somos o “Israel de Deus” (Gl 6:16), no âmbito espiritual, e, portanto, nesta expressão do apóstolo, está presente a ideia de que só pertence à igreja aquele que for “filho da promessa”, ou seja, aquele que, por fé, tiver crido em Cristo Jesus e “andar conforme esta regra” (cf. Gl 6:16).

É bom ressaltar que nós, dispensacionalistas, cremos que a Igreja sucedeu Israel durante a presente era da Igreja, entretanto, Deus tem uma época futura em que Ele restaurará o Israel nacional para a administração da bênção divina ao mundo. Jeremias declara que Israel jamais deixará “de ser uma nação” (Jr 31:35-37). Paulo, em apenas um sermão, refere-se três vezes a Israel como uma entidade ininterrupta (Atos 13:17,23,24). Portanto, a falaciosa teologia da substituição – que ensina que a igreja substituiu Israel - não tem nenhuma sustentação bíblica.

Ressalto, ainda, que o remanescente de Israel alcançará, a exemplo dos que fazem parte da igreja, a vida eterna porque obedecerão a Deus, aceitando a Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador e, portanto, Deus mostrará que Seu plano não falhou e que todos foram encerrados debaixo da desobediência, para que todos os que atenderam ao chamado divino sejam alcançados por Sua misericórdia (Rm 11:32). Esta visão privilegiada de todo o sentido da história só poderia mesmo ter levado o apóstolo Paulo ao êxtase e à glorificação do nome do Senhor, pelo Seu tão grande amor, como se vê no lindo e inspirado hino de adoração que encerra a parte dogmática da epístola aos romanos (Rm 11:33-36).

2. Israel e o enxerto gentílico. Os judeus perderam a oportunidade de salvação, enquanto povo, no exato instante em que rejeitaram o Messias (João 1:11,12). No entanto, essa rejeição operada gerou uma bênção para nós, gentios, pois, através dela, pudemos ter livre e independente acesso à graça de Deus por meio de Cristo Jesus, como bem argumenta Paulo: “… pela sua transgressão, veio a salvação aos gentios, para pô-los em ciúmes” (Rm 11:11b). Mas Paulo levanta uma questão:porventura, tropeçaram, para que caíssem?” (Rm 11:11a).  Ou seja, tropeçaram de modo a cair e nunca mais ser restaurados? Paulo nega essa ideia com veemência: ”De modo nenhum!” (Rm 11:11a). O propósito de Deus é restaurador. Sua intenção é que, como resultado da queda de seu povo escolhido, a salvação possa chegar aos gentios e, assim, provocar os “ciúmes” de Israel. Esses “ciúmes” visam a conduzir Israel de volta a Deus no devido tempo (Zc 12:10-14).

Portanto, foi graças ao tropeço de Israel que os gentios entraram como “enxerto” no plano da salvação, como bem argumenta o apóstolo Paulo:E, se as primícias são santas, também a massa o é; se a raiz é santa, também os ramos o são” (Rm 11:16). “E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles e feito participante da raiz e da seiva da oliveira” (Rm 11:17). Somos como zambujeiros enxertados no lugar dos judeus, e, assim, participamos da raiz e da seiva da oliveira (Rm 11:15-19).

Compreendendo melhor as duas metáforas acima...

- A primeira metáfora trata das primícias (Rm 11:16). Aqui, o apóstolo Paulo quer dizer que, assim como o primeiro fruto, Abraão, é santo para Deus, também são santos seus descendentes. Todos os descendentes de Abraão, a despeito de sua falta de fé e santidade pessoal, encontram-se ainda de uma forma especial consagrados a Deus. O Senhor ainda os considera como seus. Obviamente a palavra “santa”, no versículo 16, não significa “moralmente puro”, mas é usada para descrever a separação especial dos judeus do mundo para servir a Deus.

- A segunda metáfora refere-se à oliveira (Rm 11:17). Aqui, a “raiz” remete a Abraão, Isaque e Jacó. Os “ramos” naturais são todos os descendentes de Abraão, Isaque e Jacó. Os “ramos” naturais que têm permanecido na árvore são a pequena parte de Israel, o remanescente que tem crido em Jesus Cristo. Os “ramos” naturais que foram quebrados são a maioria de Israel que rechaçou a Jesus como seu Messias. Os “ramos” silvestres que foram enxertados são os gentios que receberam a Jesus. A “oliveira” em sua totalidade é a Igreja de Jesus Cristo composta por crentes tanto judeus quanto gentios. Na visão de William Macdonald, a “oliveira” representa a linhagem privilegiada por Deus ao longo dos séculos.

Portanto, o fracasso de Israel abriu a oportunidade para a formação de um novo povo de Deus formado por todos os povos da terra, inclusive pelos Judeus, e com aquelas mesmas três características que Deus queria do povo de Israel: um povo seu, especial, eleito, ou escolhido por Ele; um reino sacerdotal; um povo santo. Por causa da rebeldia de Israel o Senhor Deus não alcançou, com ele, estes três objetivos, porém alcançou, nesta dispensação da Graça com a Igreja, conforme afirmou Pedro: “Mas vós sois a geração eleita, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para sua maravilhosa luz; vós que, em outro tempo, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus...”(1Pd 2:9). Compare 1Pedro 2:9 com Êxodo 19:5,6 e perceba a similitude do que Deus queria com Israel e do que Ele alcançou com a Igreja. Ela é a sua propriedade peculiar, ou seu povo especial; ela é um povo santo; ela é seu reino sacerdotal, proclamando suas virtudes, ou o seu poder a todos os povos.

Mas Paulo adverte os “ramos” silvestres, os gentios crentes, contra o orgulho: “não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. Dirás, pois: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado” (Rm 11:18,19). Eles não devem gloriar-se por terem sido “enxertados”, nem se gloriar contra os “ramos” que foram quebrados, uma vez que não são eles que sustentam a “raiz”, mas a “raiz” é que os sustenta. Paulo diz que os “ramos” (os judeus) foram arrancados pela incredulidade e os “ramos” silvestres (os gentios) foram “enxertados” mediante a fé, sem mérito algum. Por isso, não há espaço para a soberba, mas motivos para temor (Rm 11:20).

Cada cristão, portanto, deve valorizar a sua posição diante de Deus. O que Deus fez conosco é de uma grandeza infinita. Quem vacilar pode ser cortado por Deus assim como aconteceu com Israel. Pense nisso!

3. Israel e a restauração futura (Rm 11:25-32). Num futuro mui breve, Israel será plenamente restaurado: espiritual e territorialmente. A rejeição de Israel é temporária, em virtude de sua eleição consubstanciada através da aliança do Sinai, pela qual Israel será sempre o povo de Deus – “Porque eu sou contigo, diz o Senhor, para te salvar, porquanto darei fim a todas as nações entre as quais te espalhei; a ti, porém, não darei fim, mas castigar-te-ei com medida e, de todo, não te terei por inocente”(Jr 30:11). A misericórdia do Senhor, demonstrada ao povo de Israel, trará a compaixão de Deus aos filhos de Abraão (Rm 9:27; 11:30,31).

A Visão do vale dos ossos secos, em Ezequiel 37, está relacionada com o futuro de Israel. Veja algumas fases da visão do vale de ossos secos, retratadas pelo Pr. Caramuru Afonso Francisco:

a) ruído seguido de um reboliço, com junção dos ossos, cada osso ao seu osso (Ez 37:7). Nesta primeira fase, há a reunião do povo de Israel num só lugar, o que ocorreu a partir do início do movimento sionista e das imigrações por ele patrocinadas, do final do século XIX até o instante da declaração de independência de Israel. É o fim da suspensão do pacto palestiniano e a repatriação de Israel à terra de Canaã.

b) vinda de nervos sobre os ossos, crescimento da carne e extensão da pele sobre eles por cima (Ez 37:8). Nesta segunda fase, a reunião do povo se organiza politicamente e nasce um Estado, um país na comunidade internacional. É o que ocorre com Israel a partir de 1948, quando, então, passa a ter um lugar no mapa mundial. Retoma o Senhor o pacto palestiniano com Israel e as circunstâncias tornam viável tanto a restauração do pacto davídico, pois ressurge um governo judeu independente e próprio, como também se criam condições para a reconstrução do templo, o que porá fim à suspensão do pacto mosaico.

c) sopro para que venha o espírito sobre Israel e ele torne a viver (Ez 37:9,10). Nesta terceira fase, Israel será, de novo, enxertado na oliveira, porque voltará a crer em Deus, aceitando a Cristo como seu único e suficiente Salvador, ou, pelo menos, o seu remanescente, quando, então, se cumprirá a profecia mencionada pelo apóstolo Paulo em Romanos 11:26. Isto somente ocorrerá quando Israel reconhecer a Cristo como o Messias, o que acontecerá no final da Grande Tribulação, sete anos depois do glorioso arrebatamento da Igreja, na batalha do Armagedom (cf. Zc 14:1-9; Ap 19:11-21).

Vencido o Anticristo pelo Senhor Jesus na batalha do Armagedom, Israel, que terá no momento decisivo se voltado ao Senhor e O reconhecido como o Messias, verá cumpridas as promessas que ainda faltam.

Jesus será entronizado como Rei de Israel, cumprindo-se, assim, a promessa do pacto davídico, de que o reinado da casa de Davi perduraria para sempre sobre a nação de Israel. Israel, durante o reino milenial de Cristo, cumprirá o papel de propriedade peculiar de Deus dentre os povos, nação sacerdotal e povo santo e tudo isto, como diz Paulo, “porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (Rm 11:29).

No Milênio, Israel ocupará todo o território bíblico prometido por Deus a Abraão. Jerusalém será a capital do mundo, e a nação de Israel será a nação mais importante da Terra – “E virão muitos povos, e dirão: vinde e subamos ao monte do Senhor, à casa de Deus de Jacó; para que nos ensine o que concerne aos seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor”(Is 2:3).

Israel foi expulso pelos romanos em 70 d.C., sob a permissão de Deus, mas não para sempre! Deus havia dito que os traria de volta à sua terra e restabeleceria as suas cidades. Veja a profecia inexorável de Ezequiel 37:21-25:

21. Dize-lhes, pois: Assim diz o Senhor JEOVÁ: Eis que eu tomarei os filhos de Israel de entre as nações para onde eles foram, e os congregarei de todas as partes, e os levarei à sua terra.

22. E deles farei uma nação na terra, nos montes de Israel, e um rei será rei de todos eles; e nunca mais serão duas nações; nunca mais para o futuro se dividirão em dois reinos.

23. E nunca mais se contaminarão com os seus ídolos, nem com as suas abominações, nem com as suas prevaricações; e os livrarei de todos os lugares de sua residência em que pecaram e os purificarei; assim, eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus.

25. E habitarão na terra que dei a meu servo Jacó, na qual habitaram vossos pais; e habitarão nela, eles, e seus filhos, e os filhos de seus filhos, para sempre; e Davi, meu servo, será seu príncipe eternamente.

O Senhor, em sua fidelidade, começou a cumprir estas palavras diante de nossos olhos! Hoje, Israel é uma potência econômica, científica e militar. No dia 14/05/2016, Israel comemorou 68 aniversários, com um dos maiores Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do planeta. Não existe nenhuma outra nação na Terra que se possa orgulhar de feitos e desenvolvimentos tão rápidos e tão notáveis! E isto, estando rodeado de inimigos por todos os lados.

Diríamos que para Israel, hoje, só falta cumprir o finalzinho de Ezequiel 37:8: “...mas não havia neles espírito”. Israel hoje existe como nação soberana, tem sua base territorial, seu governo próprio, tem vida física, social, política, mas não tem vida espiritual, continua privada da comunhão com Deus. Mas esta situação será mudada em breve - “Então, me disse: Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel; eis que dizem: Os nossos ossos se secaram, e pereceu a nossa esperança; nós estamos cortados. Portanto, profetiza e dize-lhes: Assim diz o Senhor JEOVÁ: Eis que eu abrirei as vossas sepulturas, e vos farei sair das vossas sepulturas, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel. E sabereis que eu sou o SENHOR, quando eu abrir as vossas sepulturas e vos fizer sair das vossas sepulturas, ó povo meu. E porei em vós o meu Espírito, e vivereis, e vos porei na vossa terra, e sabereis que eu, o SENHOR, disse isso e o fiz, diz o SENHOR” (Ez 37:11-14).

CONCLUSÃO

Israel é a Nação mais amada e, ao mesmo tempo, a mais odiada do mundo, por Satanás e pelos seus súditos. Temos motivos para amar Israel, pois, foi através desta Nação que: (a) Deus mostrou ao mundo a sua grandeza, poder e glória (Rm 9:17). Desde Moisés até os nossos dias quem olhar para Israel e sua história tem que reconhecer o poder de Deus; (b) a Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus, foi dada à humanidade. Israel foi receptáculo dos segredos divinos. O apóstolo Paulo pergunta aos irmãos de Roma: "Qual é logo a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, em toda a maneira, porque, primeiramente, as palavras de Deus lhes foram confiadas" (Rm 3:1,2); (c) Deus trouxe Seu Filho ao mundo. Jesus disse para a mulher samaritana: “...porque a salvação vem dos judeus” (João 4:22). Estes três objetivos cumpridos por Deus através da Nação de Israel devem justificar o nosso amor e nossas orações por Jerusalém e por Israel. “Orai pela paz de Jerusalém! Prosperarão aqueles que te buscam” (Salmo 122:6).

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Luciano de Paula Lourenço

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Guia do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards

Revista Ensinador Cristão – nº 66. CPAD.

Romanos – O Evangelho segundo Paulo. Rev. Hernandes Dias Lopes. Hagnos.

A Mensagem de Romanos. John Stott. ABU.

Maravilhosa Graça. José Gonçalves. CPAD.

Comentário Bíblico do Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco. PortalEBD_2006.