domingo, 9 de julho de 2017

Aula 03 – A SANTÍSSIMA TRINDADE: UM SÓ DEUS EM TRÊS PESSOAS


3º Trimestre/2017

Texto Base: 1 Coríntios 12.4-6; 2 Coríntios 13.13

"Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" (Mt.28:19).

INTRODUÇÃO

A doutrina da Trindade é uma das mais difíceis doutrinas bíblicas, pois mostra, na sua exposição, a grande limitação da razão humana para compreender a essência e a estrutura de Deus, cujos pensamentos são muito mais elevados do que os nossos (Is.55:8,9). Esta doutrina bíblica somente pôde ser exposta claramente aos homens após a primeira vinda de Cristo, o Deus Filho, a este mundo e o envio do Espírito Santo para ficar com a Igreja até a volta de Jesus. Por isso, antes destes eventos, não havia tanta clareza quanto a triunidade do nosso Deus. Não espanta, pois, que os judeus não a compreendam, assim como todos quantos não têm o Espírito de Deus. Todavia é válido enfatizar que, embora não conste na Bíblia a palavra trindade, vamos encontrar, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, evidências desta relevante doutrina. Portanto, como nas outras doutrinas das Escrituras, necessitamos exercitar nossa fé e não a nossa razão, aceitando esta verdade bíblica, sem querer entendê-la plenamente.

I. CONSTRUÇÕES BÍBLICAS TRINITÁRIAS
O Pai, o Filho e o Espírito Santo, existem eternamente como três Pessoas distintas, mas as Escrituras também revelam a unidade dos três membros da Deidade. Cremos em um só Deus, eternamente subsistente em três Pessoas.

1. A unidade na Trindade (1Co.12:4-6). “Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos”. Observe que as três Pessoas da Trindade são mencionadas nestes versículos. Paulo mostra que apesar de haver vários dons do Espirito Santo na igreja, existe uma unidade básica, constituída de três partes, que abrange as três Pessoas do Ser divino. Neste texto, Paulo mostra a unidade da Trindade em diversidade de manifestações de cada Pessoa distinta. Ele declara que o Espirito é o mesmo, o Senhor é o mesmo e o Deus Pai é o mesmo. É a unidade na diversidade.

2. A bênção apostólica (2Co.13:3) - “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com vós todos. Amém!”. Esta é uma saudação trinitária. É a única benção do Novo Testamento que abrange todos os membros da Trindade. É chamada de benção apostólica, e é a base da bênção que, comumente, encerra todos os cultos cristãos há séculos. É a referência mais explícita à Triunidade Divina do Novo Testamento depois da fórmula do batismo nas águas dada pelo próprio Jesus e registrada por Mateus. Este texto da bênção apostólica é uma inegável demonstração de que a igreja, desde os seus primórdios, ao contrário do que dizem os adversários da doutrina da Trindade, cria e ensinava a doutrina da Trindade, ainda que não com este nome. Os cristãos já estavam conscientes dessa realidade divina desde muito cedo na vida da Igreja

Neste texto, o apóstolo Paulo põe em nítida posição de igualdade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, distinguindo-os claramente, mas, também, dizendo serem Eles um, já que mantém uma unidade entre a graça do Filho, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo. Nesta bênção apostólica, aliás, temos reproduzida a triplicidade da bênção arônica (cf. Nm.6:24-26) e até mesmo as características de cada Pessoa naquela antiga bênção sacerdotal. Trata-se de um texto sucinto, mas muito rico, que nos mostra, com uma propriedade que só se explica em virtude da inspiração do Espírito Santo para a redação das Escrituras, como se dá a Triunidade Divina, uma perfeita unidade, um único Deus, mas que é, ao mesmo tempo, Pessoas distintas umas das outras.

3. O Deus Trino e Uno revelado (Ef.4:4-6) - “Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos”.

A doutrina da Trindade ou Triunidade de Deus fala-nos que Deus é único, que só há um Deus, mas que, ao mesmo tempo, este único Deus - o Pai, o Filho e o Espírito Santo -  são três Pessoas, cada qual dotada de sensibilidade, de vontade e de intelecto. São três Pessoas, cada qual divina e distinta em seu ser, ofício e ministrações salvíficas, sem, contudo, constituírem-se em três deuses. Cada uma das Pessoas é Deus, mas também cada uma é o mesmo Deus, sendo, porém, Pessoas distintas.

Para tentar expressar em palavras esta verdade bíblica que, nitidamente, foge ao alcance de nossa mente, Tertuliano se valeu de conceitos da filosofia de seu tempo e afirmou que “havia uma substância, três pessoas”, ou seja, apenas um ser (é isto que significa a expressão “substância” na filosofia do tempo de Tertuliano), mas três núcleos de vontade, sentimento e entendimento. Esta expressão de Tertuliano, que somente iria despertar a atenção da igreja cristã em meio às discussões relacionadas com a doutrina de Ário, que negava a divindade de Jesus, logo após o término da perseguição romana, acabou sendo acolhida e sintetizada na célebre declaração de fé atribuída a Atanásio, que seria uma explicação da declaração aprovada no Concílio de Nicéia e que passou a fazer parte dos “credos”, a saber:

 “…adoramos um Deus em trindade, e a trindade em unidade: nem confundindo as pessoas e nem dividindo a substância. Pois há uma pessoa do Pai,  outra do Filho e outra do Espírito Santo. Mas a deidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo é apenas uma; a glória é igual, a majestade é coeterna. Tal como é o Pai, assim é o Filho, e assim o Espírito Santo; a saber, não criado, incompreensível, eterno. O Pai não foi feito de ninguém, nem criado e nem gerado. O Filho é apenas do Pai; nem feito e nem criado, mas gerado. O Espírito Santo é do Pai e do Filho: nem feito, nem criado, nem gerado, mas procedente.… E, contudo, não são três deuses, mas um só...De modo que em tudo, como acima se disse, deve-se adorar a Unidade na Trindade, e a Trindade na Unidade” (apud CHAMPLIN, R.N. Credo atanasiano. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.1, p.949).

As últimas palavras do credo de Atanásio revelam que Deus ao mesmo tempo é Uno e Trino. Uno no que diz respeito à divindade, pois só há um Deus; Trino, no que concerne à personalidade, pois são três santíssimas Pessoas distintas; nenhuma das três Pessoas é a outra.

Portanto, Trindade é o modo triúno em que Deus existe.

II. O DEUS TRINO E UNO

1. O Deus Trino e Uno. A Bíblia mostra-nos, com clareza, que o único Deus é, ao mesmo tempo, três Pessoas, denominadas de Pai, Filho e Espírito Santo. Não se trata do mesmo ser que, uma vez se apresenta como Pai, outra vez como Filho e outra, como Espírito Santo. Não, não e não! Se Deus fosse uma única Pessoa que Se apresentasse ora como Pai, ora como Filho e ora como Espírito Santo, como defendem os chamados “modalistas” (muito atuantes na atualidade em segmentos ditos “evangélicos”, como, por exemplo, o grupo formado em torno do conjunto “Voz da Verdade”), não se teria como entender passagens bíblicas como, por exemplo, o batismo de Jesus no rio Jordão ou, mesmo, a promessa de Jesus da vinda do Espírito Santo, já que, em tais textos bíblicos, há a simultaneidade de ações do Pai, do Filho e do Espírito Santo, o que destrói, por completo, a ideia do “modalismo”. Portanto, a Triunidade de Deus fala-nos que Deus é único, que só há um Deus, mas que, ao mesmo tempo, este único Deus são três Pessoas, cada qual dotada de sensibilidade, de vontade e de intelecto.

Não devemos confundir as Pessoas - Jesus não é o Pai, o Pai não é o Espírito Santo e o Espírito Santo não é Jesus -, mas não se pode dividir as substâncias. Pode parecer um pouco confuso, mas não é.

Deste modo, falarmos na “doutrina da Trindade”, não é, em absoluto, negar que só exista um Deus. Todo cristão sabe que só há um Deus, um único Deus (Dt.6:4; João 17:3; Rm.16:27; 1Tm.1:17; Jd.25), não só porque o Antigo Testamento já o dizia, mas, também, porque este foi o ensino de Jesus e dos apóstolos a respeito.

Não tem qualquer respaldo bíblico, portanto, o chamado “triteísmo”, que é a crença de que há “três Deuses”, a saber, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Não são três Deuses que concordam entre si e que estão sempre de acordo, mas se trata de apenas um Deus, de um único Deus. Sabemos que isto é complicado, pois equivale a dizer que 1=3, o que, para a mente humana, é um absurdo inconcebível. Todavia, se usarmos da razão como critério para entendermos esta doutrina, que diz respeito à própria essência e natureza de Deus, não chegaremos a lugar algum, pois nossa razão é deveras limitada para podermos compreender, na sua totalidade, quem é Deus e qual é a Sua estrutura.

A fim de compreender melhor, tomemos como exemplo o Sol, uma esfera formada de matéria, cheia de calor e cheia de luz. É evidente que em essência temos uma única esfera, o sol, que em realidade pode ser visto como constituído de três esferas distintas quanto aos seus atributos: quanto à substância, uma esfera de matéria; quanto à temperatura, uma esfera de calor e; quanto à luminosidade, uma esfera de luz. As três esferas são distintas, nas “relações” entre seus atributos, mas não são esferas diferentes. Atuam inseparavelmente e formam uma única esfera substancial que é o sol, o qual, conforme o modo como seja “interpretado”, apresenta-se como uma esfera de matéria, uma esfera de calor e uma esfera de luz, mas cada esfera se apresenta como uma função distinta. O calor que aquece e a luz que ilumina, embora propagando-se a uma grande distância do sol-matéria, mostram-se presentes na terra, atuam inseparavelmente; mesmo distantes, constituem uma unidade. E assim, podemos ver na unidade do sol, um vestígio da unidade que existe na Trindade de Deus. Conforme lemos no Salmos 84:11: “Porquanto o Senhor Deus é o Sol....”.

2. A Trindade está em toda a Bíblia. A doutrina da Santíssima Trindade não é exclusiva do Novo Testamento, é uma ampliação de uma verdade que se acha desde o Gênesis ao profeta Malaquias. Então, por que a rejeitam os judeus? Pelas mesmas razões que os levaram a repudiar a messianidade de Jesus Cristo: cegueira espiritual e dureza de coração (2Co.3:14-16).

a) A Trindade no Antigo Testamento. Algumas passagens do Antigo Testamento sugerem, ou implicam, a existência de Deus em mais de uma Pessoa. Quando não necessariamente em uma Trindade, pelo menos em duas pessoas. Vejamos alguns exemplos:

- No relato da criação (Gn.1:1) – “No princípio, criou Deus os céus e a terra”. Aqui, o termo “Deus” está no plural, enquanto o verbo “criou” se encontra no singular, a mostrar que, já na sua apresentação ao homem, Deus mostra-se como um Ser que é, ao mesmo templo, singular e plural. Não bastasse isso, vemos, no relato da Criação, que todas as criaturas foram criadas pelo “dizer de Deus”, ou seja, por Sua Palavra, que sabemos nós que é o Verbo, ou seja, o Filho (João 1:1; Cl.1:16,17; Hb.1:2,3), e pela sustentação do Espírito de Deus (Gn.1:2). Em Gênesis 1:26, lemos: “Também disse Deus [singular]: Façamos [plural] o homem à nossa [plural] imagem, conforme a nossa [plural] semelhança...”. O que é significativo aqui é a mudança do singular para o plural. Deus está usando um verbo e um pronome no plural, em referência a si mesmo. Alguns intérpretes acreditam que Deus está falando aqui de anjos, mas, de acordo com as Escrituras, os anjos não participaram da criação. A melhor explicação é que, já no primeiro capítulo de Gênesis, há uma indicação de pluralidade de Pessoas em Deus.

- No Juízo de Babel. Outra demonstração desta unidade plural ou desta pluralidade una que é o nosso Deus se encontra no instante do juízo de Babel, momento em que os gentios são rejeitados pelo Senhor por causa de sua rebeldia e de seu desafio contra a divindade. A Bíblia diz que o Senhor desceu para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam (Gn.11:5) e, ao descer, decide confundir a sua língua e dispersá-los por toda a terra - “Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro” (Gn.11:7). Quem desceu para ver a cidade? Deus, o único Deus. Entretanto, este único Deus se expressa como uma pluralidade: “desçamos e confundamos ali a sua língua”. Mais uma vez, mostra-nos a Bíblia de que o único Deus é um Ser plural.

- Na visão de Isaías, correspondente à sua chamada (Isaias 6:8). Em sua visão do trono de Deus, Isaías ouviu o Senhor perguntando: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?”. Aqui encontramos Deus usando o singular e o plural na mesma sentença. Muitos eruditos modernos tomam isso como uma referência ao Concílio Celestial. Mas, pediria Deus algum conselho às suas criaturas? Em Isaías 40:13,14, Ele parece refutar essa noção. Deus não necessita aconselhar-se nem mesmo com criaturas celestiais. Portanto, o uso do plural em Isaías 6:8, embora não especifique a Trindade, sugere que há uma pluralidade de seres no Pregador.

- Na promessa a respeito do nascimento do Messias (Isaias 7:14) - “Portanto o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel”. Aqui, o profeta Isaías chama o Messias de “Deus conosco” (Emanuel), ainda que a Ele se refira como um menino, sendo este menino, ao mesmo tempo, sinal do Senhor e concebido no ventre de uma virgem. Tal afirmativa era a antecipação da realidade que seria descrita pormenorizadamente pelo anjo Gabriel a Maria no anúncio do nascimento de Jesus (cf. Lc.1:30-35). Aqui, o anjo esclarece a Maria que por ela ter achado graça diante de Deus, ou seja, o Pai, viria sobre Maria a virtude do Altíssimo, isto é, o Espírito Santo, e ela conceberia, por obra e graça do Espírito, em seu ventre o Filho. Enviado pelo Pai, concebido pelo Espírito Santo, o Filho viria realizar a obra de redenção da humanidade. Poderíamos ter maior demonstração da Trindade Divina do que esta?

b) A Trindade no Novo Testamento. É no Novo Testamento que encontramos as mais claras e explícitas manifestações da Santíssima Trindade.

- No batismo de Jesus (Mt.3:16,17) – “E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”. Nesta passagem percebemos que enquanto o Filho era batizado, o Pai proclamava dos céus seu agrado para com o Filho, e o Espírito Santo descia sobre o Filho na forma de uma pomba, ungindo-O para a obra que Ele exerceria no mundo (Mt.3:16,17; Mc.1:10,11; Lc.3:21,22).

Estas passagens são provas irrefutáveis a respeito da Triunidade Divina. Sua clarividência em mostrar como as Pessoas divinas são distintas, embora Deus seja único, são a sempre presente pedra de tropeço para os “unitaristas” ou “modalistas”, que insistem em negar a realidade da Triunidade Divina e que se encontram na atualidade em segmentos ditos falsamente de “evangélicos” ou “cristãos”. Não há como negar que, no batismo de Jesus, as três Pessoas atuaram distintamente, sem qualquer confusão, embora sejam Elas o único e verdadeiro Deus. O Filho não é o “Espírito Santo”; o “Espírito Santo” não é a voz que vem do céu, que tampouco é o homem que está sendo batizado por João Batista.

- Nas últimas instruções de Jesus – “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre” (João 14:16). Este texto mostra claramente a Trindade Divina, senão vejamos: “Eu” - é Jesus quem está falando; Rogarei ao Pai” – o ”Pai” é a quem Jesus ia pedir; “Ele vos dará Outro Consolador” - este “Outro” é uma Terceira Pessoa. Quanto a esse “Outro Consolador”, poderia haver dúvida se Jesus não mencionasse o seu nome. Poderia ser Miguel, Gabriel ou um Querubim. Mas, para que dúvidas não houvesse, o Senhor Jesus disse quem seria esse “Outro”, deu o seu nome: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (João 14:26). Para nós, que pela misericórdia de Deus, podemos crer, aqui estão as Três Pessoas da Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, sem dúvida nenhuma.

- Na morte de Jesus (Mc.15:34) – “E, à hora nona, Jesus exclamou com grande voz, dizendo: Eloí, Eloí, lemá sabactâni? Isso, traduzido, é: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”. Aqui, há uma demonstração da Triunidade Divina. E o Espírito Santo? Também ali estava, pois, se não fosse por Ele, como o centurião teria reconhecido que Jesus era o Filho de Deus? (cf. Mc.15:39; João 16:8-11; 1João 4:2).

- Na Ressurreição de Jesus Cristo. Na ressurreição de Cristo, então, temos mais uma manifestação da Triunidade Divina. Jesus, o Filho, é ressuscitado. Quem O ressuscitou? Diz-nos a Bíblia Sagrada: o Espírito Santo (Rm.8:11). E por que o Espírito ressuscitou a Jesus? Porque o Pai se agradou do sacrifício do Filho (At.13:32; 17:31; Ef.1:20), entregando a Ele todo o poder nos céus e na terra (Mt.28:18).

- Na Ascensão de Jesus. O Filho sobe aos céus, para se assentar à destra de Deus, enquanto o Espírito Santo é enviado pelo Pai e pelo Filho para ficar com a Igreja até o dia do arrebatamento. Aliás, antes de subir aos céus, Jesus fez questão de demonstrar aos seus discípulos de que todo aquele que confessasse publicamente a fé em Jesus deveria ser batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt.28:19). Foi esta a fórmula empregada pelos discípulos desde o início dos batismos nas águas, o que se deu a partir do dia de Pentecostes (At.2:41), ou seja, no princípio da Igreja, bem antes, muito antes do Concílio de Nicéia ou de qualquer credo que tenha sido elaborado durante a história da Igreja.

Diante de tantas provas bíblicas, inequívocas, como querer negar a Trindade? Como, então, se dizer cristão sem aceitá-la? Diante de tão irrefutável prova, pode ainda restar mais alguma dúvida acerca da Triunidade Divina?

III. RESPOSTA ÀS OBJEÇÕES ACERCA DA TRINDADE

Nossa mente jamais conseguirá explicar adequadamente o que é a Santíssima Trindade. Aliás, foi o que certa vez disse Agostinho, um dos maiores teólogos do Ocidente. Disse Agostinho a respeito da Trindade:

“O Pai, o Filho e o Espirito Santo perfazem uma unidade divina pela inseparável igualdade de uma única e mesma substância. Não são, portanto, três deuses, mas um só Deus, embora o Pai tenha gerado o Filho e, assim, o Filho não é o que é o Pai. E o Espírito Santo não é o Pai nem o Filho, mas somente o Espirito do Pai e do Filho, igual ao Pai e o Filho e pertencente à unidade da Trindade. Creiamos que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um só Deus, criador e governador de todas as coisas. Tenhamos fé que o Pai não é o Filho, nem o Espírito Santo é o Pai ou Filho, mas que eles são uma Trindade de pessoas em relações mútuas. Entretanto, não são eles três poderes, ou três sabedorias, mas um só poder e uma só sabedoria, assim como constituem um só Deus e uma só essência. Como são inseparáveis em si, são também inseparáveis em suas operações. A Trindade atua inseparavelmente em tudo o que Deus faz. Quer ouçamos: ‘mostra-nos o Filho’; quer ouçamos: ‘mostra-nos o Pai’ o pedido encerra o mesmo significado, pois um não pode ser mostrado sem o outro. São, portanto, um, como Ele disse: ‘Eu e o Pai somos um’ (João 10:30). Procuremos entender essa verdade, implorando a ajuda daquele que queremos compreender. E, se a inteligência não for capaz de compreender, apegue-se à fé, até que brilhe nos corações aquele que disse pelo profeta: ‘Se não crerdes, não entendereis’ (Is.7:9)”.

Embora a palavra “trindade” não apareça no texto da Sagrada Escritura, por ser um termo teológico que representa um conceito bíblico, não significa que a doutrina não exista e nem quer dizer que não seja bíblico. Muitas outras palavras usadas pelos teólogos e cristãos não se encontram no texto bíblico, e nem por isso deixam de ser aceitas como expressão de uma verdade bíblica. A palavra “onisciência”, por exemplo, não está registrada nas Escrituras, contudo a Bíblia afirma que Deus é Onisciente.

A palavra “trindade” foi cunhada pelos primeiros estudiosos da Bíblia depois dos apóstolos, os chamados “pais da Igreja”, com especial destaque para Tertuliano, que viveu entre os anos de 155 e 222, um dos principais defensores da fé cristã em meio às perseguições tanto do Império Romano quanto dos intelectuais pagãos do seu tempo. Tertuliano, como, aliás, todos os chamados “pais da Igreja”, viram-se forçados a ter de enfrentar a questão da essência e da natureza de Deus, uma vez que os cristãos, assim como os judeus, proclamavam que havia um único Deus, mas também diziam que Jesus era Deus, assim como o Espírito Santo. Deste modo, tinham, a um só tempo, de enfrentar tanto as indagações dos judeus, que acusavam os cristãos de politeístas, ou seja, de crerem, ao exemplo dos gentios, em mais de um Deus, como também de mostrar aos gentios de que havia um único Deus, apesar de crerem no Pai, no Filho e no Espírito Santo.

Foi esta necessidade de defender os ensinos das Escrituras diante das objeções levantadas por judeus e gentios que fez com que os estudiosos e defensores da fé cristã se debruçassem sobre a Bíblia Sagrada e verificassem o que ela ensinava a respeito de Deus e das Pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Este estudo levou à formulação da “doutrina da Trindade”, que nada mais é do que uma sistematização, uma organização do que as Escrituras ensinam a respeito. Por isso, não é verdade que a “doutrina da Trindade” tenha sido criada pelos “pais da Igreja”, nem que tenha sido uma “inovação”, seja de Tertuliano, seja dos demais “pais da Igreja”, mas é o resultado de um estudo profundo da Bíblia para que se pudesse responder às críticas e às objeções tanto de judeus quanto de gentios.

Os seguidores da Teologia Unicista pregam que a doutrina da Trindade é uma invenção do Concílio de Niceia, por ordem de um imperador romano pagão. Isso, porém, não é verdade, pois, mais de cem anos antes desse Concílio, Tertuliano já havia formulado a doutrina da Trindade. Além disso, o referido Concílio reafirma a deidade de Jesus e a sua consubstancialidade com o Pai. A Teologia Unicista ensina que Jesus Cristo é o Pai encarnado, e que o Espírito Santo é Jesus Cristo também. Estes ensinamentos são o pilar dessa teologia. Vejamos se este ensino unicista está em harmonia com as Escrituras.

- É Jesus o Pai? Veja o que diz Isaias 9:6: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”. Este versículo não ensina que Jesus é o Pai; refere-se ao fato de que Jesus é o Pai da eternidade; em outras palavras, Jesus sempre existiu (João 1:1). Jesus não foi criado, não teve princípio (João 17:5). Aliás, o termo "Pai" não era o título que se costumava usar para dirigir-se a Deus no Antigo Testamento. Assim, este versículo não ensina que Jesus é o "Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”; em outras palavras, Jesus não é seu próprio Pai (cf. 1Pd.1:3). João 10:30 diz: "Eu e o Pai somos um".  Se Jesus tivesse querido dizer que ele é o Pai, teria dito: "Eu e o Pai sou um" ou "Eu sou o Pai", que seria a expressão gramatical correta. Jesus e o Pai são um em natureza e em essência, porque Jesus é Deus, como o Pai, mas não é o Pai.

- É Jesus o Espírito Santo? Os Unicistas gostam de usar o texto de 2Corintios 3:17 para provar que Jesus é o Espírito Santo. O texto diz o seguinte: "Ora, o Senhor é Espírito e, onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade". Só que o texto não diz que "Jesus é o Espírito". Se a passagem dissesse isto, talvez os Unicistas tivessem um ponto forte, mas como não diz isto, eles assumem que a palavra "Senhor" se refere a Jesus Cristo. O "Espírito", aqui, é chamado de Senhor no sentido de identificá-lo com Javé (Nome que se refere à Trindade) ou Deus, e não com Jesus, já que 2Corintios 3:16 diz: "Mas quando alguém se converte ao Senhor, o véu é retirado". Trata-se de uma referência a Êxodo 34:34: "Porém, vindo Moisés perante o SENHOR [Javé] para falar-lhe, removia o véu até sair; e, saindo, dizia aos filhos de Israel tudo o que lhe tinha sido ordenado". O contexto é sempre que determina a quem se está referindo quando a palavra "Senhor" é usada. Em 2Corintios 3:17 a palavra "Senhor" está referindo-se a Javé e não a Jesus, já que 2Corintios 3:16 e todo o contexto assim demonstra. Se os Unicistas estivessem sempre corretos ao interpretar "Senhor" como "Jesus", como ficaria Filipenses 2:11? O texto diz: "E toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai". Seguindo a linha de raciocínio dos Unicistas, teríamos de concluir erroneamente que: "E toda língua confesse que Jesus Cristo é o Jesus...". Isto não é o que este versículo está dizendo, mas o que está ensinando é que: "E toda língua confesse que Jesus Cristo é Deus”. Porém, não Deus Pai, porque no mesmo versículo diz: “...para a glória de Deus Pai".

Diante do que foi exposto podemos afirmar que Jesus não é o Pai nem tampouco o Espírito Santo; assim sendo, podemos concluir que os Unicistas têm um conceito equivocado da verdadeira natureza de Deus. Se Jesus não é o Pai, mas é Deus, e o Pai não é Jesus e é Deus, e o Espírito Santo não é Jesus e é Deus, e a Bíblia diz que somente há um Deus, então isto significa que dentro da unidade do único Deus existem três Pessoas distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo; e estas três Pessoas compartilham a mesma natureza e atributos; então, com efeito, estas três Pessoas são o único Deus.

Portanto, uma coisa é dizer "eu não entendo a doutrina da Trindade" e outra coisa é dizer que "a doutrina da Trindade é falsa", "pagã" e "antibíblica". A Bíblia faz uma advertência muito forte para esta classe de pessoas quando diz: "...é o anticristo esse mesmo que nega o Pai e o Filho"(1João 2:22); "... e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo” (1João 1:3). Aleluia!

CONCLUSÃO

Diante de tanta demonstração clara da presença da Trindade nas Escrituras Sagradas, não temos senão que reconhecer que esta é uma verdade bíblica incontestável. A Divindade existe em uma pluralidade, que Jesus é Deus, coexistente com o Pai desde a eternidade, e que o Espírito Santo é a terceira Pessoa da Divindade. Isto é notório de Gênesis até o Apocalipse. Cremos piamente nesta Doutrina Bíblica!

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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 71. CPAD.
Pr. Esequias Soares. A Razão de nossa Fé. CPAD.
Dr. Caramuru Afonso Francisco. A Santíssima Trindade, uma Verdade incontestável. PortalEBD_2006.
Pr. Claudionor Correa de Andrade. As verdades centrais da fé cristã. CPAD.

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